A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, com uma estimativa de 8 milhões de novos quadros anualmente. Segundo a OMS, o Alzheimer é responsável por 70% dos casos de demência mundial. O alerta é que, até 2050, de acordo com a Alzheimer’s Disease International, o número de diagnósticos da doença pode ultrapassar 131 milhões.

As causas mais comuns de demência são a doença de Alzheimer (DA), demência vascular (quando falta sangue para o funcionamento adequado do cérebro) e fatores associados. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de pessoas enfrentam alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. A pasta declara ainda que surgem aproximadamente 100 mil novos casos por ano da doença.

O Alzheimer ganha ainda mais evidência durante a campanha de conscientização ‘Fevereiro Roxo’, que também alerta sobre outras duas doenças crônicas – Fibromialgia e Lúpus.  Embora comumente relacionada à idade, com sua prevalência dobrando a cada 5 anos a partir dos 60 anos, a patologia também pode acometer pessoas mais jovens.

Como aponta a Mayo Clinic, centro hospitalar e de pesquisa referência nos EUA, 5% dos casos de Alzheimer no mundo ocorrem em indivíduos com menos de 60 anos. A doença também pode aparecer de forma ainda mais precoce, com sintomas surgindo na quarta ou quinta década de vida

Entretanto, que o aparecimento da enfermidade em pessoas nessa faixa etária é extremamente raro e tem sua causa exata pouco conhecida. “Nesse contexto, pesquisas sugerem alguns padrões de herança familiar e correlação com alterações genéticas específicas que constituem fatores de risco para o desenvolvimento da doença, interagindo com fatores ambientais e entre si”, declara o médico Victor Falcão, geriatra e coordenador da equipe de Cuidados Paliativos da OTO Aldeota.

Independentemente da idade de início, a doença de Alzheimer é uma condição neuropsiquiátrica crônica bastante heterogênea em sua manifestação clínica. “É uma doença neurodegenerativa é insidiosa e progressiva, com considerável impacto na vida dos portadores, familiares e cuidadores. Estar atento a essa possibilidade, conhecer bem os sinais da doença de Alzheimer e o histórico da família permite identificação, tratamento e cuidados mais oportunos”.

Pacientes apresentam a perda de memória recente como queixa mais comum, com dificuldade crescente para reter novas informações, esquecimento de horários, endereços e nomes; prejuízos na linguagem com dificuldade de encontrar as palavras e erros de nomeação, com discurso verbal empobrecido; alterações na orientação temporal e espacial com redução do senso geográfico e dificuldades de localização, exemplifica.

Alterações comportamentais como desânimo, irritabilidade, apatia, agitação motora e sintomas psicóticos também são comuns em pessoas acometidas pela doença, segundo o médico.

Apesar dos constantes avanços tecnológicos na área da saúde, ainda não há cura para a doença de Alzheimer. No entanto, segundo o médico Victor Falcão, o diagnóstico precoce da doença associado ao início dos tratamentos disponíveis, aliado aos cuidados e atividades complementares com foco no paciente, em sua família e cuidadores pode proporcionar uma melhor qualidade de vida à pessoa com Alzheimer.

“Tão ou mais importante que o uso de medicamentos, é o enfoque multidisciplinar com a garantia de acesso ao suporte psicológico, fisioterapia, fonoterapia, terapia ocupacional, educador físico, dentre outros, com a introdução de atividades voltadas para o estímulo cognitivo, a preservação de autonomia e funcionalidade, a prática regular de atividade física e a sociabilização, que permitem proporcionar à pessoa com doença uma vida mais ativa e digna possível”, conclui o médico.

“Os dados corroboram para que tenhamos uma maior atenção sobre o tema. O Alzheimer é uma doença crônica incapacitante e irreversível, com relevante impacto econômico na assistência à saúde e na sociedade. A campanha Fevereiro Roxo lança luz sobre esse problema ainda pouco conhecido pela população em geral”, enfatiza o profissional.

Estudos confirmam eficácia dos aparelhos auditivos na prevenção à demência

Médico alerta sobre a necessidade de investigação e tratamento da surdez, que pode por ser fator de predisposição ao Alzheimer e outras doenças degenerativas similares

O que há muito tempo já vem sendo observado pelos médicos, cada vez mais ganha respaldo científico por meio de estudos publicados na mídia especializada. Mais uma vez, a comunidade médica internacional teve comprovações de que o uso de aparelhos auditivos pode, sim, ser decisivo para evitar quadros de demência, como o Alzheimer.

Artigo recente, publicado na revista científica The Lancet, destaca pesquisa realizada por cientistas ingleses, que analisou os dados de 440 mil pessoas do UK Biobank – banco de dados que contém informações biomédicas.

O levantamento concluiu que cerca de 25% desse universo apresentava alguma deficiência auditiva, mas apenas 11,4% utilizava aparelho auditivo – o que chamou atenção dos pesquisadores, especialmente após observarem que, nesse pequeno contingente, o risco de ter algum tipo de demência seria igual ao das pessoas com audição normal. Ou seja, não haveria uma propensão maior ou menor entre esse público.

Por outro lado, na análise das pessoas que têm deficiência auditiva e não fazem uso do aparelho, os cientistas concluíram que o risco de terem demência é 42% maior em relação aos demais.

O estudo também avaliou se fatores como solidão, isolamento social ou sintomas depressivos poderiam ter algum impacto na correlação entre perda auditiva e demência. Nesse aspecto, foram identificadas eventuais melhorias nas situações psicológicas e sociais dos indivíduos analisados. Mas, com pouco efeito na conexão entre demência e perda auditiva, motivo pelo qual os pesquisadores atribuíram, exclusivamente, ao aparelho auditivo o diferencial observado.

Para José Ricardo Gurgel Testa, otorrinolaringologista no Hospital Paulista, o estudo reforça o entendimento, já consensual entre os médicos, de que a perda auditiva, quando não tratada, pode contribuir para o agravamento do Alzheimer. A principal razão, segundo ele, estaria justamente no isolamento do convívio social, que afeta de sobremaneira as funções cognitivas.

“A necessidade de esforço para ouvir cria uma tensão capaz de interferir no funcionamento padrão do cérebro, e a condição tende a levar ao isolamento social, solidão, depressão e preocupação, gerando estagnação mental. A combinação desses fatores contribui para o esgotamento da energia mental, tirando a vitalidade necessária para funções cruciais, como lembrar, pensar e agir”, explica.

Conforme o especialista, a falta de estímulo sonoro ao cérebro afeta diretamente o desenvolvimento de funções cognitivas e da memória, pois o córtex auditivo, responsável por processar as informações e entender os sons, fica debilitado.

O som enviado para o cérebro chega desordenado e, no lugar de ativar áreas responsáveis pela compreensão de linguagem, ativa regiões do lobo frontal, relacionadas ao raciocínio, memória e tomada de decisão.

As pessoas que fazem uso de aparelhos auditivos, conforme o médico, não apresentam a mesma incidência no desenvolvimento de Alzheimer, pois o equipamento estimula as vias auditivas periféricas e centrais, beneficiando a cognição e melhorando a qualidade de vida.

“A surdez não deriva do Alzheimer, mas toda surdez pode ser reabilitada com aparelhos de amplificação sonora (aparelhos de surdez). O diagnóstico precoce e o tratamento imediato são importantes para que o declínio nas habilidades auditivas não comprometa a atividade cerebral. Também é importante passar por avaliações audiológicas regulares”, finaliza.

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