Considerada a primeira causa de morte por doença em crianças (8% do total) e a segunda causa de óbito em geral, o câncer infantojuvenil (de 0 a 19 anos) responde por 7.930 novos diagnósticos a cada ano, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o triênio 2023-2025. Em 2020, foram registrados 2.280 óbitos pela doença nessa faixa etária.

Diagnósticos de câncer são sempre difíceis para o paciente e suas famílias, principalmente em casos de tumores infantojuvenis. Pensando nisso, o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantojuvenil (23 de novembro) foi instituído para estimular ações preventivas e educativas, promover debates, difundir a importância do diagnóstico precoce e apoio à famílias que passam por essa jornada.

A data também traz uma importante mensagem: os pais precisam ficar atentos aos sinais e sintomas, buscando apoio especializado em caso de suspeita para que a detecção da doença aconteça de maneira precoce e precisa.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), o câncer infantojuvenil é diferente de tumores em adultos, dentre outros aspectos, porque cresce mais rapidamente. No entanto, em geral, ele responde melhor ao tratamento e têm até 80% de chances de cura.

Apesar disso, no Brasil e em outros países da América Latina e do Caribe a média de cura seja de 55%, devido a vários fatores, incluindo diferenças sociais e econômicas regionais, conforme informações da Organização Pan-americana de Saúde (Opas/OMS).

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Os principais tipos de câncer infantojuvenil

De acordo com o Inca, os três tipos mais comuns na faixa etária até 19 anos são a leucemia aguda, linfoma e os tumores do sistema nervoso central. Conforme o Instituto OncoGuia, os cânceres mais comuns incluem neuroblastoma, tumor de wilms e tumores cerebrais.

Há ainda uma série de tumores mais raros, identificados exclusivamente nos primeiros anos da criança, como o retinoblastoma, que exigem atenção dos pais para que os sinais não passem despercebidos.

Conheça os principais tipos de câncer que afetam crianças e adolescentes:

Leucemia – é o tipo de câncer mais comum na infância. Acomete a medula óssea e outros órgãos fora da medula óssea, tais como sistema nervoso central, testículos e olhos;

Linfomas que atingem o sistema linfático – frequentemente afetam os gânglios linfáticos e os tecidos linfáticos, como amígdalas ou timo. Também podem afetar a medula óssea e outros órgãos.

Neuroblastoma – um tipo de tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal. É responsável por cerca de 6% dos cânceres infantis. Esse tipo de câncer ocorre em lactentes e bebês, sendo raro em crianças com mais de 10 anos;

Retinoblastoma – tumor que atinge a retina, ou seja, o fundo do olho. Representa cerca de 2% dos cânceres infantis. Geralmente ocorre em crianças na faixa etária de 2 anos de idade e raramente é diagnosticado após os 6 anos. Ao direcionar uma luz ao olho de uma criança, o normal é que a pupila apareça vermelha, devido ao sangue dos vasos do fundo do olho. No olho com retinoblastoma, a pupila tem o aspecto branco ou rosa. Este brilho branco no olho geralmente é percebido em fotos tiradas com flash;

Tumor do cérebro e sistema nervoso central – segundo tipo mais comum em crianças, representando 26% dos cânceres infantis. Existem muitos tipos de tumores cerebrais, com tratamento e prognóstico diferentes;

Tumor de Wilms – tem início em um dos rins, raramente afetando os dois órgãos. Mais frequentemente diagnosticado em crianças com idade de 3 a 4 anos. Representa 5% dos cânceres infantis.

Diferenças entre o câncer na criança e no adulto

Médicos alertam para a semelhança dos sintomas comuns da infância e adolescência

“Além de o câncer na faixa etária dos 0 aos 19 anos apresentar distinções na evolução natural, no diagnóstico e no tratamento em relação aos tumores em adultos, crianças e adolescentes têm demandas próprias que precisam ser reconhecidas e trabalhadas pelos profissionais de saúde, como afastamento escolar e, no caso dos jovens, a descoberta da sexualidade”, afirma o oncologista pediátrico Neviçolino Carvalho, presidente da Sobope.

Por isso, especialistas trabalham para que o diagnóstico seja o mais rápido possível. “Para isso, contamos com o apoio de profissionais de saúde da atenção básica e até mesmo dos familiares para identificar sinais e sintomas mais comuns, como febre prolongada por mais de sete dias, dor óssea, anemia, manchas roxas no corpo, dor de cabeça noturna seguida de vômito e alterações neurológicas que diagnosticamos com precisão em exames médicos”, complementa Carvalho.

Além de diferenças na evolução natural da doença, no diagnóstico e no tratamento, crianças e adolescentes em tratamento do câncer apresentam necessidades inerentes a essa fase da vida, como um vínculo maior com a família e com a escola, que prescindem do olhar do médico oncopediatra e de outros profissionais de saúde para que tenham qualidade de vida, e até mesmo a descoberta da sexualidade pelos jovens.

“Precisamos considerar que o tratamento de um câncer infantojuvenil leva de seis meses a dois anos e, sendo assim, há um comprometimento na realização de atividades cotidianas como ir à escola e praticar atividades físicas. Entre os adolescentes, soma-se a questão da descoberta da sexualidade, por exemplo, que demanda o acompanhamento com psicólogo especializado em câncer infantojuvenil”, reforça o presidente da Sobope.

Para Carvalho, o diagnóstico do câncer infantojuvenil não deve ser impeditivo para que as crianças e jovens tenham qualidade de vida, com as precauções necessárias. “Não vale mais a máxima de que se tem câncer é uma sentença de morte. Isso já ficou bem para trás e especialmente quando consideramos o câncer na faixa etária dos 0 aos 19 anos. Por isso, o acompanhamento familiar e de profissionais de saúde especializados é fundamental”, conclui ele.

Palavra de Especialista

Câncer infantil: ampliar as chances de cura é um pacto pelo futuro

Por Neviçolino Carvalho*

A luta da oncologia pediátrica, há décadas, é oferecer tratamentos eficazes com mínimas sequelas. Nenhuma outra especialidade alcançou melhorias tão significativas nas chances de cura como a oncologia pediátrica. Com o avanço tecnológico, continuamos a documentar novos desafios solucionados.

A realidade, porém, é que não podemos oferecê-lo de forma equitativa a todos. E são muitos os que necessitam de ajuda. Quando se trata de câncer infantojuvenil, a projeção para o triênio de 2023 a 2025 é de cerca de 8 mil novos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Em países de alta renda, a sobrevida global alcança 80%. Na maioria das vezes, os pacientes curados têm ampla capacidade de se tornarem adultos capazes de viver e desenvolver de forma plena seu papel integral na sociedade. Ou seja, seguem sua jornada de forma ativa.

Infelizmente, não é este o cenário em diversos países, em especial os de baixa e média renda. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que, em alguns destes, só 20% dos pacientes com câncer infantojuvenil são curados. No Brasil o índice de mortalidade é o dobro do registrado nos Estados Unidos.

Temos crianças que morrem antes de chegarem ao centro de referência. Ou não iniciam tratamento porque o estágio avançado da doença impede a intervenção. O Instituto Desiderata, em parceria com Inca, Sobope e Coniacc, levantou que até 7% das crianças e adolescentes no Brasil enquadram-se nesta situação.

Para reverter este quadro, precisamos de diagnóstico precoce, encaminhamento para centros especializados no menor tempo possível, recursos para diagnóstico e estadiamento precisos e tratamento conforme risco e disponibilização dos medicamentos e imunoterápicos comprovadamente eficazes.

É preciso prover suporte clínico para inúmeras intercorrências, cuidados paliativos para mitigar o sofrimento do diagnóstico à terminalidade, garantir acompanhamento dos sobreviventes, além de acesso às equipes multiprofissionais não médicas que dão suporte inquestionável na luta contra o câncer.

Ampliar a chance de cura engloba a articulação de setores da saúde e stakeholders, o que vai desde equipes médicas e multiprofissionais com expertise em oncologia até a sensibilização de gestores das esferas federal, estadual e municipal, a fim de que criem políticas públicas e garantam acesso a todas as ferramentas.

Precisamos de um grande pacto pelo futuro, para que as nossas crianças não nos deixem por falta de acesso ao diagnóstico e às terapias. Essa é uma causa de todos nós. E é hora de avançar!

*Neviçolino Pereira de Carvalho Filho é oncologista pediátrico e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE)

Com informações da Sobope, Inca e Oncoclínicas

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