Onde você joga as caixas, frascos e cartelas de medicamentos que você não precisa mais ou perderam a validade? Na lata de lixo comum? Errado! Quando os remédios não utilizados ou vencidos precisam ser descartados e não parar na lixeira de casa ou do condomínio, em vasos sanitários ou pias, gerando riscos à saúde da população e ao meio ambiente. Lugar de remédio que não serve mais, bem como suas embalagens, é na farmácia.
Isso mesmo. Farmácias e drogarias disponibilizam dispensadores para a coleta desses medicamentos, permitindo que os consumidores descartem adequadamente os produtos, sem poluir o meio ambiente. Atualmente, cerca de 400 cidades (com mais de 500 mil habitantes), distribuídas nos 26 Estados brasileiros e Distrito Federal, contam com pontos de recebimento que coletaram em 2022 em torno de 260 toneladas de medicamentos.
Já são mais de 5.100 pontos de recebimento, entre farmácias e drogarias, para descarte de medicamentos domiciliares espalhados pelo Brasil. Segundo relatório de agosto de 2023 do Portal LogMed, esse serviço já atinge uma população de 127 milhões de pessoas.
“O mesmo relatório também aponta que no período de junho de 2021 a dezembro de 2022 mais de 261 toneladas de produtos foram recolhidas, contribuindo significativamente para a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade do planeta”, conta Valdomiro Rodrigues, consultor da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar).
Para ampliar a conscientização da população para a devida utilização deste serviço e mobilizar políticas públicas que possam ampliar os pontos de coleta, o núcleo Ciência na Saúde, do Grupo Mulheres do Brasil, criou a campanha nacional ‘Remédio: Não usou, descartou’.
“Descartar remédio vencido, ou que sobrou de algum tratamento, na pia, no vaso sanitário ou no lixo comum pode afetar o solo, a água e a vida de animais e vegetais. A ciência já nos mostrou que o uso desnecessário de remédios e o descarte inadequado, acabam trazendo prejuízos para o meio ambiente e para a saúde humana, por isso a maior consciência sobre este assunto é necessária”, alerta Soraya Smaili, farmacologista, professora da Unifesp e uma das coordenadoras da campanha.
Campanha ‘Remédio – Não usou, descartou’
A campanha foi lançada oficialmente em agosto de 2023, em São Paulo, e contou com a presença de diversas personalidades, entre cientistas, médicos, empresários, artistas e representantes de instituições de saúde parceiras e conectadas com o tema. Agora, a estratégia é mobilizar especialistas e artistas em um grande movimento nas mídias digitais, com vídeos e demais formatos de conteúdos educativos.
“Começando pela força do Grupo Mulheres do Brasil, já podemos contar com mais de uma centena de núcleos espalhados no Brasil e no mundo para começar a reverberar as nossas comunicações. Somado a eles, muitas instituições sérias conectadas com a ciência estão nos apoiando para fazermos uma mobilização igual à que tivemos com o movimento do Unidos pela Vacina, na época da pandemia pela covid-19”, comenta Luiza Helena Trajano, presidente do Mulheres do Brasil.
A mobilização conta com embaixadoras bastante conhecidas pelos brasileiros. Entre elas, estão Luana Araujo, Jaqueline Goes e Margareth Dalcolmo, cientistas e pesquisadoras que se tornaram referência em informação durante a pandemia de covid-19, além de Beth Goulart, atriz, escritora e diretora que participou da campanha do Ministério da Saúde sobre a importância da vacinação.
“Entendemos que precisamos sensibilizar a população sobre os impactos para a saúde e o meio ambiente quando os remédios de uso domiciliar são jogados em locais inadequados ao invés de serem direcionados para as farmácias, drogarias e unidades de saúde disponíveis, para impulsionar um melhor uso do sistema de coleta”, explica Dra Soraya.
Live lança movimento para descarte todo dia 7
As redes sociais vêm sendo amplamente usadas para disseminar informações e dicas sobre o descarte correto. Nesta quinta-feira (29), às 18h, Soraya Smaily, Margareth Dalcolmo e Luiza Trajano vão participar de uma live no instagram onde vão convidar a população a participar da campanha, recolhendo medicações sem validade ou fora de uso todo dia 7 de cada mês.
Também serão promovidos dois cursos de capacitação pela Unifesp: um para a população leiga e outro para profissionais da saúde que desejam se especializar no processo de descarte correto de medicamentos. Ambas as modalidades serão gratuitas e oferecerão certificados, disponibilizados na plataforma de educação à distância da universidade.
A campanha é liderada pelo Grupo Mulheres do Brasil e Ciência na Saúde, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Projeto ARIES (The Antimicrobial Resistance Institute of São Paulo), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), LogMed e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Para mais informações sobre os pontos de coleta e as ações da campanha, acesse o site oficial www.ciencianasaude.org.br/descartecorreto/ ou acompanhe as redes sociais do Ciência na Saúde e Grupo Mulheres do Brasil.
Logística reversa de medicamentos
O Brasil está entre os 10 países que mais consomem medicamentos no mundo. O trabalho de coleta desses medicamentos que não servem mais é coordenado pelo Sistema LogMed – Logística Reversa de Medicamentos Domiciliares Vencidos ou em Desuso e suas Embalagens. Este sistema congrega 17 instituições farmacêuticas conectadas ao tema, sendo acompanhado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
O Sistema Logmed é uma iniciativa conjunta dos principais elos do setor farmacêutico – indústria, distribuição e varejo – para garantir o correto descarte de medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso. O objetivo é estabelecer um ponto de recebimento para cada 10 mil habitantes nos municípios e estados contemplados pelo decreto.
A logística reversa de medicamentos é um processo em que o fluxo dos medicamentos descartados pelos consumidores é invertido, desde a compra até o descarte adequado. O processo abrange apenas medicamentos domiciliares de uso humano, vencidos e/ou em desuso, juntamente com suas embalagens. Produtos de home care, materiais de uso hospitalar, clínicas ou ambulatórios médicos não estão incluídos no Decreto nº 10.388.
O consumidor realiza o descarte dos medicamentos vencidos ou em desuso nas farmácias. Em seguida, os produtos são recolhidos pelos distribuidores, que são responsáveis por transportar os conteúdos dos dispensadores até pontos de armazenamento secundário. Posteriormente, a indústria farmacêutica se encarrega de levar os resíduos domiciliares de medicamentos até unidades de tratamento e destinação final adequadas do ponto de vista ambiental, como incineradores, coprocessadores ou aterros controlados aprovados pelas autoridades ambientais.
Como aproveitar?
Para se utilizar desse programa de dispensação adequada de medicamentos, os consumidores dever procurar farmácias que participam desse programa. As lojas participantes da rede têm estações de coleta para autoatendimento, que garantem o acondicionamento correto dos itens até seu destino final. Todos os anos, toneladas de medicamentos vencidos são recolhidos e descartados corretamente.
Não são todas as farmácias que possuem essas estações de coletas e que ainda existem muitas regiões que não é obrigatória essas estações, sendo que nos dois primeiros anos de implementação, ou seja 2021 a 2023, foram cobertos pelo decreto todas as capitais dos estados e municípios brasileiros com população superior a 500 mil habitantes.
“A logística reversa é uma conquista significativa para o meio ambiente e a saúde pública. Agora, os medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso podem ser gerenciados como resíduos não perigosos, desde o momento em que são descartados nas farmácias até o seu tratamento e destinação final ambientalmente adequada”, explica Valdomiro Rodrigues.
Expansão para cidades com mais de 100 mil habitantes
A partir de setembro de 2023, além dos municípios contemplados na etapa acima, foram incluídos municípios com população superior a 100 mil habitantes. A adesão das farmácias será opcional, desde que seja garantido pelo menos um ponto de coleta para cada 10.000 habitantes.
O Estado de São Paulo foi pioneiro nesse processo ao estabelecer uma parceria com o setor de medicamentos. Por meio da Cetesb e da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, o estado se comprometeu a instalar 2.852 pontos de coleta de medicamentos em 2023, garantindo um ponto de coleta para cada 10 mil habitantes em municípios com mais de 200 mil habitantes, abrangendo 41 municípios paulistas.
Atualmente, está em andamento a segunda fase da implementação do sistema de logística reversa. Essa etapa visa habilitar os prestadores de serviços de acordo com as diretrizes do Grupo de Acompanhamento de Performance (GAP). Ao final desse período, está contemplado uma análise completa do sistema de logística reversa por todos os elos da cadeia.
Além disso, estão previstas a elaboração de um plano de comunicação, a capacitação de líderes das entidades envolvidas e a instalação de pontos fixos de coleta de medicamentos descartados pelos consumidores, bem como a viabilização do processo de transporte em todas as etapas (distribuidor, operador, indústria etc.).
Qual é a responsabilidade das farmácias?
Segundo o decreto, a implementação completa em todos os elos da cadeia está prevista para a segunda metade de 2024. A responsabilidade das farmácias nesse processo é opcional, contanto que o setor garanta um ponto de coleta para cada 10 mil habitantes.
No entanto, ao optar pela adesão, é necessário disponibilizar um local visível para a instalação de um dispensador contentor (com dispositivo antirretorno) e sacos plásticos para que os consumidores possam descartar os medicamentos vencidos e/ou em desuso.
Os custos de aquisição desses equipamentos, assim como dos sacos resistentes, são de responsabilidade da farmácia, embora as indústrias parceiras possam patrocinar esses materiais mediante contrapartidas promocionais.
Além dos benefícios ambientais, a logística reversa traz vantagens para as farmácias. Elas têm a oportunidade de fidelizar seus clientes, construir uma imagem positiva como empresa sustentável e obter divulgação por meio da mídia.
“A Febrafar está orientando as farmácias de suas redes a participarem da logística reversa. A expectativa é que haja uma adesão expressiva em todo o país, devido à relação custo-benefício do programa para as farmácias participantes”, explica Valdomiro Rodrigues.
Com Febrabar e Ciência na Saúde