A música no divã: como as letras podem revelar transtornos psíquicos

Assim como cinema e teatro, a música também pode radiografar sentimentos, angústias, emoções e desejos conflitantes

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“Eu perco o chão, eu não acho as palavras, eu ando tão triste, eu ando pela sala. Eu perco a hora, eu chego no fim. Eu deixo a porta aberta, eu não moro mais em mim. Eu perco as chaves de casa, eu perco o freio. Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio…” A bela e triste composição interpretada por Adriana Calcanhotto pode representar mais que um lamento e sim um claro sinal de depressão ao retratar alguém que se sente perdida, sem rumo, em frangalhos.

Já a música Dois, interpretada por Paulo Ricardo, mostra bem as oscilações de humor observadas em casos de bipolaridade. “Quando você disse: nunca mais,não ligue mais, melhor assim. Não era bem o que eu queria ouvir e me disse decidida: ‘saia da minha vida’. Que aquilo era loucura, era absurdo… E mais uma vez você ligou, dias depois, me procurou, com a voz suave, quase que formal e disse que não era bem assim, não necessariamente o fim de uma coisa tão bonita e casual…”

De acordo com especialistas, as letras das músicas podem representar as palavras não ditas dentro de um setting ou mesmo um alerta para familiares e amigos de que algo não vai bem com a pessoa que se sente espelhada em determinada canção. “Perceber o outro não é tão simples! A  exposição exagerada estampada nas redes sociais, impele à tirania da felicidade e, assim, as emoções são camufladas. Entretanto, estas relações líquidas, como muito bem tratou o genial sociólogo polonês Zygmunt Bauman, promovem uma superficialidade de contatos que estampam a fragilidade dos laços humanos”, analisa a psicanalista Rita Martins, mestre em Psicologia.

Segundo ela, do mesmo modo que o cinema ganhou seu espaço nos debates entre os profissionais da área de saúde mental, a música também pode radiografar sentimentos, angústias, emoções e desejos conflitantes. “Isso pode ser de grande valia sobretudo quando se trata de pacientes racionalizadores. Usar esta ferramenta mais lúdica no setting pode fazê-lo baixar a guarda, para assim emergir não só conteúdos manifestos, como latentes”, ressalta.

Alerta no teatro para depressão entre adolescentes
Rita afirma que o cinema é constantemente usado como ferramenta de debate junto aos alunos de psiquiatria, psicologia e psicanálise. “Imagens, situações e falas explicam a forte ativação de desejos inconscientes, bem como refletem comportamentos de determinada época e psicopatologias”, explica. Um exemplo recente que gerou bastante polêmica foi a série ‘Thirteen Reasons Why’, que aborda o suicídio de uma adolescente, assunto frequentemente silenciado pela sociedade.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, aproximadamente 121 milhões de pessoas estão depressivas no Brasil. Esses números colocam o país como líder no ranking de população depressiva entre outros 18 países, segundo a um estudo publicado pela revista BMC Medicine. Dessa estatística, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que 20% sejam adolescentes entre 11 e 19 anos.
No teatro, aliás, este tema ganha espaço. “A Gótica e o vampirismo”, espetáculo teatral para pais, filhos e professores, quer levar o público à reflexão sobre o tema automutilação e depressão entre adolescentes, problema grave e crescente no Brasil e no mundo. Estatísticas apontam que cerca de 20% dos adolescentes se automutilação e esta triste realidade pode leva-los à morte. O pior, é que a maioria dos pais não estão atentos para este fato.  Com encenações e coreografias o tema será abordado de maneira diferenciada na Arena Carioca Renato Russo, Ilha do Governador, nesta sexta-feira, dia 24, às 20 horas.  A direção é de Renata Antunes, com texto Alice Mota Melgaço. Os ingressos custam R$ 10.
Da Redação, com assessorias
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