Misturas de produtos de limpeza podem gerar graves problemas de saúde, especialmente nas casas, no trabalho e em outros locais. A maior parte das vítimas de acidentes com esses produtos é de trabalhadores, como empregadas domésticas e outros profissionais de limpeza. Algumas combinações são terminantemente proibidas, já que podem resultar em substâncias tóxicas e perigosas à saúde, podendo inclusive levar até à morte, como alerta o Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro (CRQ-III).
Uma dessas combinações explosivas são da água sanitária e do álcool, que podem levar a queimaduras graves. “O clorofórmio (água sanitária) e o ácido clorídrico (álcool) são muito tóxicos e podem causar irritação, prejudicar o sistema nervoso central e afetar os pulmões, rins, fígado, olhos e pele. A cloro acetona era utilizada como gás lacrimogênio na 1ª Guerra Mundial e pode causar também queimaduras”.
O CRQ-III produziu um informativo especificamente sobre as misturas caseiras com produtos de limpeza. No documento são listadas as misturas mais frequentes e os riscos que cada uma representa à saúde – veja aqui.
“Misturar produtos de limpeza não vai economizar ou potencializar a ação de limpeza e é uma prática que pode prejudicar a saúde e até causar prejuízo. Portanto, é importante sempre ler o rótulo para trazer para dentro de casa as melhores práticas de uso”, esclarece o Conselho na cartilha.
‘Mistura explosiva’: jogo de tabuleiro explica substâncias
Para mostrar esses riscos, o CRQ desenvolveu o “Mistura Explosiva”, um jogo de tabuleiro criado exclusivamente para explicar a importância de se utilizar apenas saneantes aprovados pela Anvisa, a necessidade de se atentar aos rótulos e como a mistura de produtos, aparentemente inofensivos, pode dar origem a gases com capacidade tóxica. O objetivo é alertar a sociedade sobre a misturas de produtos de limpeza, pois são tóxicas ou ineficazes e também sobre o uso de produtos clandestinos e informais.
Para esclarecer a população sobre esses riscos, o Conselho realizou uma ação de conscientização na última terça-feira (4), o workshop ‘Limpando Conceitos, Clareando Ideias’, realizado na Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio de Janeiro, em parceria com a a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla).
A atividade já havia acontecido em Brasília e São Paulo e dessa vez reuniu também profissionais de limpeza, que são as pessoas mais expostas a esses riscos e que podem ajudar a replicar essa informação. O evento também teve como objetivo dar informações essenciais sobre os cuidados na apuração de fake news e o perigo do uso de saneantes clandestinos.
Somente químicos podem realizar misturas
A cartilha desenvolvida pelo Conselho orienta ainda a não misturar produtos se não for profissional da Química. “Profissionais da Química trabalham de forma séria na produção dos produtos de limpeza para que você tenha a proteção necessária quando for fazer a faxina”, alerta.
O conselheiro federal Jonas Comin falou da importância de os profissionais da Química como responsáveis técnicos pelo processo de fabricação dos produtos de limpeza – saneantes e como o Sistema CFQ/CRQs pode orientar a população.
“O profissional da Química é quem garante os requisitos de qualidade e segurança para toda a sociedade. E quando os meios de comunicação, os comunicadores e a própria população tiverem alguma dúvida sobre a área Química, podem procurar o CRQ-III ou o CFQ, nas redes sociais ou outros canais para obter informações em que podem confiar”, disse Comin.
Aumento de casos de intoxicação durante a pandemia
As ações surgiram com a percepção de mais casos de intoxicações por produtos de limpeza durante a pandemia. Com as recomendações de autoridades sanitárias sobre a limpeza e desinfecção de objetos e a maior permanência da população em casa, o número aumentou em 2020, em relação a 2018 e 2019, segundo a Nota Técnica nº 11/2020, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Um estudo sobre a informalidade no setor feito pela Abipla em 2021 constatou que 22% dos produtos de limpeza de uso doméstico utilizados, no Brasil, eram informais, ou seja, eram itens que não tinham inscrição ou registro na Anvisa, o que é obrigatório no País.
“No ambiente profissional, a informalidade chegava a 18%. Estudos internos da Abipla indicaram um sensível aumento no consumo destes produtos em 2022. Isso é um risco à saúde pública”, disse Paulo Engler, diretor da Abipla.
Fiscalização de produtos clandestinos e irregulares
Conselho Regional de Química e Abipla firmaram um termo de parceria para atuação conjunta em defesa da saúde pública, que inclui iniciativas para a elaboração de estudos, pesquisas, material de orientação e cursos para profissionais do setor, consumidores e formadores de opinião.
Além disso, é realizado um trabalho de valorização do profissional da área da química como responsável técnico em toda a cadeia produtiva de produtos de limpeza e saneantes e ações junto ao sistema de vigilância sanitária (federal, estadual e municipal) para intensificação das ações de fiscalização e combate aos produtos clandestinos e irregulares.
Para o presidente do CRQ-III, Rafael Almada, as ações no Rio alcançaram seus objetivos. “O Sistema CFQ/CRQs tem se empenhado em prestar um serviço de utilidade pública à sociedade brasileira, tanto no combate às fake news quanto no fornecimento de informações qualificadas”, disse Almada. Paulo Engler, da Abipla, disse que o evento “garantiu o cumprimento de função social do Conselho, que é esclarecer a sociedade sobre saneantes”.
Com informações da Assessoria do CRQ-III