O mês de novembro ganha uma cor especial: o roxo, que simboliza a conscientização sobre a prematuridade e a importância de um pré-natal completo e cuidadoso. No Brasil, cerca de 10% dos nascimentos acontecem antes do tempo, representando um desafio tanto para a saúde dos bebês quanto para as famílias, que enfrentam a dor e o medo ao verem seus pequenos entre a vida e a morte em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIs).

Para aliviar essa tensão e proporcionar mais conforto a famílias e bebês, maternidades públicas e privadas adotam medidas que vão desde a oferta de polvos de crochê, até músicas clássicas e o ‘momento do soninho’ . Unanimidade praticamente na maioria delas, o Método Canguru, que permite pelo menos uma hora do bebê em contato com o calor do colo dos pais, logo nos primeiros momentos de vida, é um dos destaques.

Pele a pele, olhar e toque. Em minutos ou em algumas horas, o contato da mãe com o seu bebê recém-nascido fica eternizado pelo Método Canguru, uma Política Nacional de Saúde e preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuidado recomendável aos bebês prematuros, a estratégia consiste em garantir o contato pele a pele entre a mãe e o bebê – preso ao corpo da mãe por uma faixa, numa analogia da fêmea canguru com o seu filhote protegido na bolsa.

Segundo especialistas, os benefícios vão além do acolhimento e fortalecimento do vínculo entre mãe e filho já nos primeiros dias de vida. Há evidências científicas robustas dos benefícios como redução do tempo de internação e do risco de infecção hospitalar, já que é a mãe quem faz mais o manejo do bebê. A prática também reduz o estresse, estimula a amamentação e melhora o neurodesenvolvimento da criança.

Método Canguru foi fundamental na recuperação de gêmeos

Larryssa Rayanne, de 27 anos, e o marido aprovaram o método Canguru no nascimento dos gêmeos na Maternidade Escola da UFRJ (Fotos: Divulgação)

No Novembro Roxo, mês voltado para sensibilização da prematuridade, especialistas da Maternidade Escola do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vinculado à Rede Ebserh (CH-UFRJ/Ebserh),  destacam a contribuição do Método Canguru para o desenvolvimento de bebês prematuros e a facilitação do vínculo afetivo entre o recém-nascido e os pais.

O Método Canguru promove a participação dos pais e da família nos cuidados do bebê. Estimulamos o contato pele a pele, que promove a regulação da temperatura e o fortalecimento de vínculos afetivos do bebê com seus pais”, explica Maura Rodrigues de Castilho, coordenadora da UTI Neonatal e do alojamento conjunto da ME do CH-UFRJ/Ebserh.

O método Canguru foi fundamental na recuperação dos bebês de Larryssa Rayanne, 27 anos. Ela tem 3 filhos, todos nascidos na Maternidade Escola do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vinculado à Rede Ebserh (CH-UFRJ/Ebserh). Com 35 semanas de gestação, foi identificada uma complicação no cordão umbilical de um dos gêmeos, que prejudicava a absorção de nutrientes e de oxigênio.

Ainda bem que participamos do Canguru, que possui enfermeiras e pediatras maravilhosas. Auxiliam em cada etapa, inclusive sobre a amamentação. Sempre fui muito bem assistida, sou muito grata a todos da equipe da maternidade escola”, declara Larissa.

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Contato pele a pele entre mãe e filho ajuda no desenvolvimento dos bebês prematuros

Em suas maternidades, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio de Janeiro também tem ampliado e incentivado o método Canguru, que proporciona condições para o desenvolvimento do bebê e qualidade de vida para a família. Pérolla Maria, filha de Ágatha Fernandes, nasceu prematura no dia 1º de maio. Na 36ª semana de gestação, pesando 1,6 kg, o bebê é a terceira filha de Ágatha e a única a nascer com baixo peso.

Só consegui pegar Pérolla no segundo dia, pois eu estava me recuperando da cesariana. Foi muito gratificante ter minha bebê no colo pela primeira vez, tão pequenininha, e colocá-la quentinha e aconchegada no meu corpo”, contou Ágatha.

Para Jaciele Reis, mãe da pequena Gabriela, a sensação de ter integrado o procedimento com sua filha por perto pela primeira vez foi emocionante. Sua menina nasceu no dia 16 de abril na Maternidade Leila Diniz, na 31ª semana de gestação, pesando apenas 1,5kg.

O método nos aproximou a cada dia e a sensação foi incrível”, disse Jaciele, que desde o nascimento da filha a acompanha na UTI neonatal da maternidade, onde o bebê recebeu todos os cuidados necessários para ganhar peso.

Maternidades municipais cariocas ampliam o método Canguru

A Maternidade Leila Diniz é pioneira na prática e considerada Centro de Referência Nacional para o Método Canguru, atendendo por ano em média 200 bebês. A atenção humanizada ao recém-nascido engloba a prevenção de dor, o estímulo à amamentação e o contato pele a pele precoce e progressivo, desde o toque até a posição canguru.

Promovemos uma assistência integral qualificada e humanizada, com acolhimento da família, controle do ambiente, redução de iluminação e ruídos, prevenção de estresse e dor”, explicou a diretora do Departamento Neonatal da Maternidade Leila Diniz, Patrícia Campanha.

A rede municipal de saúde do Rio conta com 13 maternidades e um total de 703 leitos obstétricos, 126 leitos de UTI neonatal, 154 leitos de cuidados intermediários convencionais e 41 leitos de cuidados intermediários canguru.  O superintendente de Hospitais Pediátricos e Maternidades da SMS, Márcio Ferreira, destaca que a rede ampliou o incentivo ao método.

A prática foi ampliada nas unidades e os impactos positivos vão desde o aumento da produção do aleitamento materno até o ganho de peso e a redução no tempo de internação. Esse bebê tem um desenvolvimento mais organizado, com neurônios e órgãos mais saudáveis e isso repercute também em todas as fases de crescimento posteriores”, disse.

As três etapas do Método Canguru

O Método Canguru é realizado em três etapas. A primeira etapa inicia no pré-natal com a detecção da gestação de risco para o nascimento da criança. Antes mesmo do parto, os pais são informados sobre o método.

Após o nascimento, o cuidado começa na UTI neonatal, com o amparo ao bebê para o contato pele a pele, e tem o acompanhamento na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) ou na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCo).

Mesmo com o bebê na incubadora, a mãe já pode tocá-lo. Quando esse bebê tiver mais estável, a gente já pode colocar na posição Canguru”, esclarece a médica da rotina da UTI Neonatal e da Unidade Canguru, Vanessa Pitanga.

A segunda etapa é na própria enfermaria Canguru, quando o bebê atinge o peso mínimo de 1,250 Kg. Os bebês mais estáveis ficam com a mãe 24 horas, aprendendo a mamar para ganhar peso. A mãe é convidada a permanecer de forma contínua ao lado do filho, com acomodação tanto para o seu repouso, quanto para sua permanência com o bebê em posição Canguru.

A terceira etapa começa com a alta hospitalar, mas continua sendo monitorada pela maternidade. Nessa fase, a família mantém os cuidados do método em casa, mas mantém o acompanhamento do ambulatório com consultas regulares, até que o bebê atinja o peso de 2,5 Kg. Para os que nascem nas maternidades municipais, o apoio pode ser dado na unidade de Atenção Primária (clínicas da família e centros municipais de saúde).

Músicas de Mozart, banhos de ofurô, redeterapia e polvinho

Além do método Canguru, diversos protocolos contribuem para a recuperação mais rápida e a redução do tempo de internação dos recém-nascidos nas quatro maternidade estaduais do Rio de Janeiro. No Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), em Itaboraí, na Região Metropolitana, também é aplicada a musicoterapia, utilizando as músicas de Mozart, que ajudam a desenvolver a neuroplasticidade cerebral na hora do soninho.

Os bebês ainda contam com banhos de Ofurô, redeterapia e o polvinho terapêutico, cujos tentáculos simulam o cordão umbilical.  A última novidade na humanização do Heal foi o lançamento do Projeto Zoo, no último dia 27, que consolida as práticas de humanização utilizadas na unidade aos prematuros da UTI Neo. Essas ações englobam os famosos ‘polvinhos’ que acompanham os recém-nascidos e mais 11 animais, justamente no mês do cuidado sobre prematuridade.

Para cada um dos 12 animais é utilizada uma técnica diferente. Por exemplo, a zebra é a técnica que ajuda no estímulo visual, o canguru promove o cuidado pele a pele entre neném e os pais; além da baleia, preguiça, borboleta, cabra, cegonha, coala, coruja, elefante, joaninha e polvo.

Fico muito feliz em ter participado desse projeto e é muito gratificante ver a evolução dos pacientes. Promover cuidados para os bebês é um trabalho da equipe multidisciplinar com muitos especialistas trabalhando as técnicas”, comentou Cliver Félix, fisioterapeuta da UTI Neo.

Dilson Pereira, diretor-geral do Heal chamou atenção para a importância desse projeto. “A maternidade do Heal é pronta para receber gestantes de risco de parto prematuro e é com muita satisfação que iniciamos o Projeto Zoo. Esse projeto é a consolidação das práticas de humanização já instituídas no hospital”, pontuou.

‘Mesversário’ dos prematuros emociona as mães de UTI

Além do lançamento do Projeto Zoo, a unidade comemorou em novembro o primeiro ano do Projeto Pequenos Encantos, que comemora mensalmente o ‘Mêsversário’ dos recém-nascidos que precisam de cuidados na UTI Neo.

A dona de casa Mayara Coutinho da Souza, 27 anos, é mãe da Helena que vai completar 3 meses e participou do projeto. “Achei muito legal e interessante. A Helena ficou uns dias na UTI Neonatal e participou da festinha de ‘Mêsversário’. Levei  a fantasia para casa e guardei no enxoval”, comentou.

O mesmo aconteceu com a professora Marina Barros, de 32 anos, mãe da Pérola que completou um ano no dia 2 de novembro. “Minha filha ficou 58 dias internada e esse projeto trouxe uma leveza. Foi algo extraordinário para o momento que estava vivendo, de muita aflição. Tive um amparo médico de toda a equipe e me surpreendi com essa ação de muito carinho”, completou.

Todo mês alguns funcionários da unidade se juntam para esse momento, que é de extrema emoção. É escolhido um tema, a coordenadora de Psicologia Ediléa Oliveira faz as fantasias para os recém-nascidos que estão na UTI.

Ela explicou que por precisarem de cuidados mais especiais, o ‘Mêsversário’ que as famílias fariam em casa, é feito na unidade de saúde. “As mães levam as fantasias dos pequenos para casa. Esta iniciativa vem transformando dias de angústia e apreensão em um momento agradável e feliz para as mamães e papais da Utineonatal”, frisou.

Técnica reduz tempo de internação no HMulher

Mãe da Miriam Alice, que nasceu com 34 semanas no dia 5 de novembro, a dona de casa Verônica Guedes dos Santos (foto acima), moradora de Santa Cruz, na Zona Oeste, está acompanhando a evolução da filha internada na UTI neonatal do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart (HMulher), em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

Eu me sinto triste porque estou longe da minha família e dos meus outros filhos, mas sei que ela está sendo bem tratada. A equipe aqui é muito boa. Tenho certeza de que vai dar tudo certo”, disse Verônica.

Com a maior UTI neonatal da rede pública e da privada, o HMulher de Meriti se destaca pelo atendimento humanizado a gestantes, mães e bebês. Técnicas aplicadas no hospital, como o método Canguru, contribuem para uma recuperação mais rápida e a redução do tempo de internação dos recém-nascidos.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), a unidade é a primeira da rede estadual totalmente especializada em gestação de médio e alto risco. As ocorrências mais comuns são o desconforto respiratório e as doenças congênitas.

Também na Baixada Fluminense, o Hospital Estadual da Mãe (HMãe), em Mesquita, estimula a participação dos pais durante a internação, além de métodos humanizados como canguru e redinha.  Com 10 leitos de UTI e 15 UCINCo, a unidade prestou 169 atendimentos de janeiro a outubro voltados para bebês prematuros, com médicos pediatras, enfermeiros neonatalogistas e fisioterapeutas especializados.

Já no Hospital Estadual dos Lagos, o desconforto respiratório é a principal ocorrência registrada no atendimento ao prematuro. Até o mês de outubro, foram 217 internações, com 13 leitos em funcionamento.

Dia de beleza para as ‘mães da UTI’

Diversas ações foram realizadas nas maternidades públicas do Estado do Rio ao longo do Novembro Roxo. Puérperas com bebês internados no bloco neonatal do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart (HMulher), em São João de Meriti, ganharam um “Dia da Beleza” este mês. A ação contou com a equipe do cabeleireiro Celso Kamura e apoio da Associação de Cuidado Integral à Prematuridade (Acip), oferecendo cuidados com os cabelos, unhas e limpeza de pele.

O Novembro Roxo é a conscientização da população em relação à prematuridade, que pode acontecer com qualquer família. Nosso papel aqui é oferecer informações precisas para que todos possam atravessar esses momentos longos e difíceis, mas que podem se tornar mais fáceis com o acolhimento prestado pelas nossas equipes. Lembramos ainda às mamães que não deixem de fazer o pré-natal, com todos os exames necessários”, afirmou o diretor do HMulher, Abrahão Ricardo Vianna.  

O HMulher de Meriti possui 53 leitos na UTI neonatal, sendo 20 de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), 29 leitos de UCINCo (Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Convencional) e 4 UCINCa (Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru). De janeiro a outubro, já realizou 2.920 partos cirúrgicos e vaginais e 724 bebês foram atendidos no bloco neonatal.

Equipe multidisciplinar dá maior esperança de vida aos bebês

Especializada em partos de alto risco e bebês com menos de 28 semanas, a maioria com problemas respiratórios e de má-formação, a nova maternidade do Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), em Itaboraí,  conta ao todo com 36 leitos, distribuídos por 12 quartos, que também ganharam banheiros (antes eram coletivos e localizados no corredor), novas camas, berços e poltronas. Já a UTI Neo conta com 10 leitos de UTI neonatal e 5 de UI (Unidade Intermediária – Semi-Intensiva). De janeiro a outubro foram realizadas 490 internações.

A professora Thaila de Moraes Carvalho de Abreu, 29 anos, e o autônomo Marlon de Abreu Farias, 37, hoje vivem felizes com a filha, Maria Eduarda, de quase 2 anos. A menina nasceu em outubro de 2022 com apenas 27 semanas e 2 dias, 615 gramas e 32 centímetros e passou 113 dias internada na UTI neonatal do HEAL.

A família encontrou na equipe multidisciplinar da unidade – que reúne médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos – o apoio necessário para enfrentar os piores momentos, como os problemas respiratórios, hemorragias, retinopatia e infecção bacteriana grave. Hoje, a bebê se desenvolve bem e recebe cuidados de fisioterapia.

Foi um período muito difícil para a nossa família, mas sempre tivemos a certeza e a fé de que ela iria se recuperar. Hoje, vejo a minha filha como um milagre”, disse Thaila, ao lado do marido. “Meu conselho para os papais que estão passando por isso neste momento é acreditar na Medicina. Tivemos o apoio de uma equipe maravilhosa do HEAL, que sempre nos orientou nos momentos mais difíceis”, completa Marlon.

‘Momento Soninho’: prevenção e cuidado em hospital privado

Também no Rio de Janeiro, o Hospital Intermédica de Jacarepaguá (HIS), da rede Hapvida NotreDame Intermédica, investe no Momento Soninho para proporcionar um momento de conforto, silêncio e tranquilidade para os recém-nascidos. Além de ajudar no tratamento e na recuperação dos bebês, o projeto visa tornar o período de internação o mais acolhedor e confortável possível também para as famílias que acompanham os bebês.
Na UTI neonatal do HIS, quatro vezes por dia, durante uma hora, as incubadoras não são abertas e não há procedimentos, com exceção das emergências. Com as luzes apagadas e sem barulho, os recém-nascidos relaxam, sob o aconchego promovido por luminárias especiais e playlists com músicas instrumentais.
A coordenadora de enfermagem do HIJ, Gleiciane Eller, explica que o Momento Soninho favorece o crescimento pelo ganho de peso, além do desenvolvimento neurológico e pulmonar, trazendo uma melhora no quadro clínico significativa. Além disso,  as crianças ficam mais calmas e a saturação e a frequência cardíaca dos recém-nascidos progridem.
É o momento que eles relaxam e conseguem atingir o sono profundo, graças à diminuição dos ruídos aliados ao efeito da musicoterapia. Quase não escutamos choro durante a prática”, finaliza.

Quando um bebê é considerado prematuro?

Considera-se prematuro o bebê que nasce antes das 37 semanas de gestação.  Quanto menor a idade gestacional, maiores os riscos de complicações e de sobrevivência para o bebê.
A prematuridade pode ser classificada em diferentes graus: prematuro tardio (nascido entre 34 e 36 semanas), prematuro moderado (nascido entre 32 e 33 semanas), prematuro extremo (nascido entre 28 e 31 semanas) e prematuro muito extremo (nascido antes das 28 semanas).
De janeiro a outubro deste ano, o Estado do Rio de Janeiro registrou um total de mais de 129 mil nascimentos, sendo mais de 16 mil prematuros, com índice de 12,7%. Em 2023, foram 140.281 nascimentos no estado, com 16.859 bebês prematuros.
Com Assessorias
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