Lentidão nos movimentos, dificuldades para andar e movimentar o corpo, tremores e rigidez muscular estão entre os sintomas mais conhecidos do Mal de Parkinson, doença que afeta principalmente idosos, mas que também pode atingir a população mais jovem. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1% da população mundial com mais de 65 anos é portadora da doença, indicando que mais de 4 milhões de pessoas vivem com o Mal de Parkinson no mundo atualmente.

Com o aumento da expectativa de vida da população, a estimativa é de que esse número dobre pelos próximos 20 anos. Estima-se que, no Brasil, haja cerca de 200 mil pessoas com a doença degenerativa, crônica e progressiva do sistema neurológico que afeta principalmente o cérebro. Com a evolução do quadro, alterações cognitivas e comportamentais tendem a impactar severamente o dia a dia dos pacientes. De acordo com o estudo Global Burden of Disease, trata-se de um dos distúrbios neurológicos mais prevalentes.

Ainda serão necessárias diversas análises para entender quais sequelas a Covid-19 trará à população, mas já temos alguns alertas sobre elas. Mas neste Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, celebrado em 11 de abril, esse grupo específico de pacientes tem motivos para estar em alerta. Isso porque a Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, divulgou recentemente um estudo que aponta riscos 30% maiores de pessoas com Parkinson serem vítimas fatais do coronavírus.

A conclusão a que se chegou é de que a relação se dá, em parte, porque os indivíduos com essa condição neurodegenerativa apresentam mais problemas para se alimentar, especialmente pelo comprometimento da deglutição, o que facilita a broncoaspiração e quadros de pneumonia – uma das principais causas de morte de quem contrai o novo vírus.

Não é uma notícia que deve gerar mais temor a este grupo de pacientes, mas colocá-los em atenção tanto em relação aos cuidados de prevenção contra a covid-19, como de manterem seus tratamentos da doença de Parkinson em dia, principalmente no que tange às atividades de reabilitação funcional”, explica o neurocirurgião funcional e doutor pela Unifesp, Claudio Corrêa.

Causas e sinais, como identificar

Segundo Dr Lorenzatto, o quadro se desenvolve em razão de uma disfunção química no cérebro, que causa uma alteração em sua atividade.  “Na doença de Parkinson, há uma morte de neurônios da substância negra, que produzem dopamina e desempenham papel importante na manutenção do movimento motor”, esclarece.

A doença ocorre em razão de uma degeneração dos neurônios produtores de dopamina em uma região do cérebro conhecida como substância negra, responsável pelo funcionamento de diversas funções de nosso organismo. No entanto, não se sabe o motivo desta alteração acontecer.

Caracterizada por interferir diretamente nos movimentos do indivíduo, causando rigidez, tremor e bradicinesia – movimentos lentificados -, é preciso ficar atento aos sintomas iniciais para que o tratamento comece rapidamente, diminuindo, desta forma, a evolução mais rápida da doença.

Nas últimas duas décadas, a expectativa de vida da população aumentou em seis anos, com isso, a tendência é que o Parkinson seja cada vez mais incidente, por ser uma doença mais comum na terceira idade.

Os variados sintomas da doença de Parkinson

Assim como na maioria das doenças, quanto mais cedo o quadro é descoberto e tratado, melhor. Logo no início da doença, o paciente pode apresentar alguns sinais como a dificuldade em atividades básicas (comer, andar e falar). Ainda, é comum que apresente depressão e outras alterações psíquicas. Aos primeiros sintomas, a avaliação clínica de um neurologista é essencial para o diagnóstico da doença.

Além disso, outros fatores como a pré-disposição genética, traumas cranianos repetitivos, assim como vida rural com exposição aos agrotóxicos, o alto consumo de produtos como pesticidas, solventes e o contato com alguns metais pesados, também podem contribuir para o surgimento da doença.

Apesar de serem mais famosos, não apenas os tremores das mãos representam as manifestações mais comuns da doença de Parkinson. “Além da dificuldade na deglutição, temos alteração da potência e tônus da voz, instabilidade postural, diminuição da capacidade de marcha ao caminhar, contratura muscular, dor, depressão, entre outros”, explica o especialista.

Para identificá-la, inicialmente é feita uma investigação do histórico do paciente e uma avaliação neurológica que observa pelo menos três de quatro sinais: lentidão e redução dos movimentos, tremores, rigidez nos membros e problemas de postura.

Por ter sinais semelhantes aos de outras disfunções, o diagnóstico da doença de Parkinson nem sempre é simples. Exames de imagem, à exemplo da ressonância magnética e da tomografia computadorizada, raramente descobrem alterações e não somam muito às suspeitas do médico.

Tire suas dúvidas sobre a doença

Abril é o mês de conscientização da doença. Depois do Dia Nacional do Parkinsoniano (4/4), é a vez do Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson é lembrado em 11 de abril.

A data foi criada para conscientizar a população sobre essa doença que atinge pessoas em todo o mundo, levando a incapacitações importantes e afetando diretamente o dia a dia de quem desenvolveu a  enfermidade.

A seguir, o geriatra Davis Taublib, médico responsável técnico do lar de idosos gerido pelo Froien Farain (Tijuca, RJ), elucida algumas dúvidas a respeito do assunto.

1. Quais as causas e fatores de riscos da doença?

“Existe muita pesquisa em torno disso. Há o fator genético; as intoxicações por contato com substâncias químicas – como os medicamentos -, que prejudicam o organismo e podem provocar a destruição de áreas específicas do cérebro e ocasionar a doença; além de traumas de repetição, como na Síndrome do Pugilista, que é uma doença neurodegenerativa progressiva, causada por repetidos golpes na cabeça. Quando se identifica que a doença ocorre por uso de algumas medicações, pode ser reversível. Mas a maioria dos casos aparece de causas indeterminadas, caindo no grupo das doenças neurodegenerativas (doenças em que ocorre a destruição progressiva e irreversível dos neurônios).

2. Como prevenir?

Devemos sempre estar atentos às causas reversíveis, porém, infelizmente, ainda não temos nada comprovado para a maioria dos casos que possamos prevenir.

3. É possível manter as atividades diárias com o Mal de Parkinson?

A doença possui vários estágios. Nos níveis iniciais e moderados, as funções motora e mental possibilitam manter as atividades, mas à medida que avança, há um comprometimento progressivo.

 4. Os estágios dessa doença se agravam rapidamente?

A velocidade de progressão varia muito. O tratamento pode influenciar, assim como os recursos terapêuticos não medicamentosos, como, por exemplo, a fisioterapia.

5. Quais os principais sintomas e dificuldades do dia a dia?

Varia de pessoa para pessoa. Para uma senhora que socialmente joga cartas frequentemente, por exemplo, o tremor, por menor que seja, vai prejudicá-la. Não será apenas o tipo de manifestação que vai mudar a vida das pessoas, mas os hábitos do indivíduo. São eles que vão definir o impacto na qualidade de vida. A rigidez e a lentidão nos movimentos podem impactar na capacidade física e desportiva, tanto nas tarefas domésticas como na vida social. Pode, ainda, ocorrer declínio mental e demência, causando grave impacto no dia a dia da pessoa e da família. E ainda distúrbios de deglutição podem surgir levando a pneumonias de repetição e desnutrição.

6. O Parkinson pode ser confundido com outras doenças?

Sim. Várias doenças geram sintomas parkinsonianos, como doenças psiquiátricas e distúrbios de labirintite. O maior exemplo é o parkinsonismo medicamentoso, quando um medicamento causa esse efeito.

7. O Mal de Parkinson tem cura ou algum tratamento recomendado?

Infelizmente não tem cura a não ser que seja em um dos casos acima (causada por medicamento ou confundida com outra doença). Existem medicações clássicas, como a levodopa associada a benserazida, e mais recentes, como a rasagilina, assim como o pramipexol e similares, mas o mais antigo e mais efetivo continua sendo a levodopa. Há, ainda, indicações específicas para cirurgia, mas apenas em casos mais graves em que já não há resposta terapêutica ou quando as medicações apresentam graves flutuações de resposta com impacto na qualidade de vida ou com graves efeitos colaterais.

8. Existe alguma alteração de expectativa de vida para os portadores da doença?

Sim. À medida que a doença avança, a qualidade vida diminui, assim como aumenta o índice de óbitos em decorrência da doença.

9. Como e por quais profissionais é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é clinico. Ainda não existe nenhum exame complementar para a confirmação da doença. O ideal seria que, na prática da medicina de família, a doença fosse detectada e o paciente, dependendo do estágio e da demanda de decisões terapêuticas, fosse encaminhado para serviços específicos, como neurologia, geriatria e psiquiatria.

10. Quais os principais cuidados que os cuidadores e a família devem ter com pessoas que sofram dessa doença?

Vai depender do estágio. É preciso sempre estar atento às demandas individuais de cada pessoa. Por exemplo, uma pessoa que toca um instrumento musical e perde essa capacidade, necessita de suporte psicológico para lidar com a situação. É preciso observar também se há instabilidade postural e risco de queda, problemas com a deglutição. Mas o cuidado precisa ser sempre individualizado.

11. Você acredita que os parkinsonianos sofram preconceito?

Quanto mais esclarecida a sociedade, menor o preconceito. E isso vale para qualquer preconceito.

 12. O que você diria para as famílias e portadores do Mal de Parkinson?

Saber lidar com a doença é, acima de tudo, obter informações para aprender a conviver com a evolução do Mal de Parkinson, reconhecendo e respeitando as mudanças físicas, emocionais e psíquicas que a mesma vai gerar no doente. Obviamente que, quanto maior e melhor acesso do doente e da família à equipes multi e interdisciplinares, melhor será o tratamento.

Universidade de Israel mapeia papel dos genes no Mal de Parkinson 

Um alto índice de casos locais de origem genética do Mal de Parkinson faz de Israel o perfeito ‘laboratório’ para mapear esta doença neurológica que cresce a passos largos e afeta mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. O Parkinson é geralmente diagnosticado em pessoas com mais de 60 anos, em sua maioria homens. Seus sintomas clássicos incluem tremores, rigidez postural e movimentos lentos.

‘’Em Israel, entre os judeus de origem asquenaze, 37% dos casos de Parkinson acontecem por causa da genética’’, diz o professor Nir Giladi, chairman do Instituto Neurológico e Centro Médico de  de Tel Aviv. Ele ainda afirma que 10% dos israelenses carregam mutações genéticas que aumentam as chances de que desenvolvam o Mal de Parkinson. ‘’Ter um parente com a doença triplica a chance de desenvolvê-la’’, completa Giladi, que tratou mais de 20.000 pacientes com esta condição ao longo de 30 anos.

Assim, cada vez mais instituições de ponta israelenses desenvolvem pesquisas em torno do assunto. Um dos maiores laboratórios do país, que fica na Universidade de Haifa, trouxe uma novidade que pode ser um novo e relevante marco no combate à doença. A equipe liderada por Shani Sterna, no setor de eletrofisiologia, desenvolveu a tecnologia de indução de células tronco pluripotentes.

Elas foram usadas para criar células neuronais derivadas e não derivadas de pacientes portadores de Parkinson de origem genética e não genética. Observando essas células neuronais ao se desenvolverem e envelhecerem, o time de cientistas de Haifa buscou um traço comum nos diferentes casos de Parkinson assim como o papel dos genes nesse processo.

Nos pacientes com Mal de Parkinson, aglomerados de proteína alfa-sinucléina estão presentes no cérebro e no sistema nervoso autônomo, danificando a produção de células dopaminérgicas que governam o controle motor, entre outras funções. A perda de células dopaminérgicas eventualmente causa os clássicos sintomas da doença.

Esses aglomerados de proteína alfa-sinucleína podem ser disparados pelo envelhecimento, mutações genéticas, diabetes, hipertensão, toxinas ambientais como pesticidas ou mesmo por fatores como tabagismo, falta de exercícios, dieta e outros.

Assim, iniciativas como a dos cientistas da Universidade de Haifa, trazem nova luz a uma doença que afeta drasticamente a qualidade de vida de milhões de pessoas e confirmam que a expansão do universo científico e tecnológico de Israel é de grande valia para a saúde de toda a humanidade.

Com Assessorias

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