No dia 5 de dezembro se comemora o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, o especialista que atua como porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) e acompanha o paciente ao longo de toda a vida. Na Atenção Primária, são os médicos de família que cuidam, orientam, previnem e constroem vínculos duradouros com as pessoas, entendendo não apenas suas doenças, mas também seus contextos, famílias, territórios e histórias. Presentes nas Unidades Básicas de Saúde, na saúde suplementar e em consultórios particulares, os médicos(as) de família e comunidade atuam tanto em grandes centros quanto em regiões remotas. 

Na Medicina de Família e Comunidade (MFC), o foco está na pessoa e não apenas na doença. É uma especialidade que une ciência, escuta e contexto.  Durante a consulta, o(a) médico(a) de família e comunidade considera fatores que vão do histórico familiar às experiências de vida, das relações afetivas aos costumes da comunidade. A escuta ativa, o acolhimento e o Método Clínico Centrado na Pessoa orientam essa abordagem, permitindo identificar como sentimentos, vivências e dinâmicas familiares influenciam sintomas que, muitas vezes, surgem muito antes de aparecerem no corpo.

Celebrar o 5 de dezembro é reconhecer o trabalho dos mais de 13 mil especialistas. O nome da especialidade já traz o nosso compromisso: cuidar da pessoa, da família e da comunidade. Quando conhecemos o território a fundo, seus problemas sociais e econômicos, potencialidades, clima e até cultura, entendemos melhor o que afeta a saúde e como podemos agir”, explica Fabiano Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

A especialidade compreende profundamente a realidade de cada paciente. “É importante reforçar que a Atenção Primária à Saúde, porta de entrada do SUS, nosso sistema de saúde, depende do olhar amplo, humano e contínuo que essa especialidade oferece”, comenta Guimarães. “Mais do que tratar doenças, a Medicina de Família e Comunidade constrói histórias, vínculos e caminhos de cuidado que acompanham cada pessoa ao longo da vida. É medicina feita com ciência, território e afeto”, diz o presidente da SBMFC.

A base do SUS perto de quem mais precisa

A Medicina de Família e Comunidade é a base da Estratégia Saúde da Família, modelo que se consolidou no país por colocar o cuidado contínuo e a proximidade com a comunidade no centro da saúde pública. No Rio, o trabalho desses médicos se soma ao de enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários para garantir atendimento humanizado, acesso e acompanhamento integral.

A Atenção Primária é responsável por resolver até 80% dos problemas de saúde da população e reduz a necessidade de atendimentos em pronto-socorro. No Rio de Janeiro, a expansão e fortalecimento dessa rede tem permitido maior acesso, segurança e continuidade do cuidado.

O município conta com 1.378 equipes de saúde da família, compostas também por enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários. Em 2025, o Rio de Janeiro alcançou a cobertura de 71% da população pela rede de Atenção Primária, que hoje tem 239  unidades (clínicas da família e centros municipais de saúde) espalhadas pelo território.

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O dia a dia que faz a diferença

O território também é parte do cuidado. Onde a pessoa mora e trabalha diz muito sobre sua saúde. Em regiões marcadas por violência armada, por exemplo, não é raro encontrar pacientes com ansiedade intensa, distúrbios do sono ou sinais de estresse pós-traumático.

Já em áreas rurais, ribeirinhas, quilombolas ou indígenas, as questões de saúde se misturam com saberes tradicionais, desafios de acesso e condições ambientais específicas. O papel do médico(a) de família e comunidade é reconhecer esses cenários e, junto com a comunidade, construir soluções possíveis.

A prática do(a) MFC vai muito além das paredes de um consultório.  Nas cidades mais distantes, esse profissional atende em salas de aula, igrejas, postos improvisados e até debaixo de árvores, quando necessário. Embora equipamentos médicos sejam importantes, a principal ferramenta continua sendo a escuta e o acolhimento, que captam não apenas o que o paciente diz, mas também o que sua rotina, seu silêncio e seu contexto revelam.

São também responsáveis por estudar a saúde de populações específicas, como pessoas negras, indígenas, quilombolas, LGBTQIA+, população em situação de rua, pessoas privadas de liberdade, imigrantes e muitos outros grupos que demandam um cuidado mais sensível e contextualizado.

Um olhar profundo que transforma vínculos

Para a médica de Família e Comunidade Nathália Nascimento Gonçalves, 29 anos, da Clínica da Família Estácio de Sá, a escolha pela especialidade veio da experiência vivida dentro da própria unidade onde hoje atua como preceptora.

Eu descobri que queria ser médica de família quando percebi que, em outras áreas, eu veria apenas um ponto da vida do paciente. Aqui eu acompanho a pessoa como um todo, ao longo do tempo. Gosto desse olhar longitudinal, dessa possibilidade de construir confiança”, afirma.

Ela conta que o vínculo criado no território impacta diretamente o cuidado. “É muito comum ouvir do paciente: ‘ainda bem que é você, posso falar a verdade sobre o que estou vivendo’. Isso muda tudo. A gente vê os pacientes dentro e fora da clínica, acompanha perdas e conquistas. Eles marcam profundamente nossa trajetória, e nós marcamos a deles.”

Cuidado contínuo, solidariedade e compromisso social

Com 30 anos de experiência como médico de família, o médico Rafael Castillo Duranza, que foi mentor de Nathália, destaca que sua trajetória foi guiada pelo compromisso com populações em contexto de vulnerabilidade e pelo impacto social da Atenção Primária.

A Medicina de Família me permitiu atuar em vários países e sempre ao lado das pessoas que mais precisavam do meu trabalho. O modelo brasileiro é muito avançado, tanto na prática quanto no pensamento teórico, e isso me cativou profundamente “, explica.

Para ele, ser médico de família exige vocação para enxergar além da técnica. “Sem empatia, solidariedade e humanismo, a prática fica incompleta. Não é só aplicar conhecimentos médicos, é entender o indivíduo, sua origem, seus desejos, sua família. Somos médicos do território, da comunidade, e isso muda a forma de enxergar o cuidado.”

Rafael, que é cubano e está há duas décadas no Brasil, já trabalhou na Mangueira, Jacarezinho, Catete e atualmente está na Clínica da Família Estácio de Sá. Ele também destaca o papel da formação: “Fico muito orgulhoso de ver profissionais como a Nathália, que fizeram toda a formação aqui e hoje são preceptores. Isso mostra a força do nosso modelo de ensino e de cuidado.”

Como se tornar  um médico de família

A rotina dos médicos de família envolve consultas presenciais, reuniões de equipe, acompanhamento de casos complexos, ações no território e visitas domiciliares semanais que são fundamentais para monitorar pessoas acamadas, famílias em situação de vulnerabilidade e pacientes em fases delicadas da vida. Além disso, médicos de família e comunidade realizam pequenos procedimentos, acolhimento, manejo de condições crônicas e orientações preventivas, construindo uma rede de cuidado contínuo e sustentável.

Para se tornar um médico(a) de família e comunidade, é necessário, após a graduação em Medicina, cursar a residência médica em Medicina de Família e Comunidade, oferecida por diversos programas no país, ou obter o título de Especialista, a partir da realização da prova de título oferecida pela SBMFC, após comprovação dos requisitos indicados via edital.

Com Assessorias 

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