Lembrada mundialmente desde a música ‘Garota de Ipanema’ como a cidade dos corpos sarados, expostos nas praias, o Rio de Janeiro está cada vez mais obeso. E não só na capital. Mais da metade da população do Estado do Rio de Janeiro registra excesso de peso, incluindo adultos, idosos e crianças.

Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) apontam que 36,88% dos adultos entre 20 a 59 anos vivem com obesidade. Já entre os idosos (com mais de 60 anos) 53,7% têm sobrepeso. A obesidade também está presente entre crianças de 5 a 10 anos, com 16,5%, e na faixa de 10 a 19 anos, com 13,5%.

“No Rio de Janeiro, o sobrepeso atinge 68,4% de homens e 62,5% de mulheres. Ocupamos, respectivamente, a segunda e a sexta posição no Brasil, com 65,2%. Já para a obesidade, ocupamos a 10ª posição no Brasil entre os homens, com 25,2%; e mulheres, com 27%”, afirma a nutricionista Luciana Pires, coordenadora da Área Técnica de Alimentação e Nutrição (Atan) da SES-RJ.

Os dados foram apresentados durante o primeiro Seminário Estadual Linha de Cuidado Sobrepeso e Obesidade, realizado nesta terça-feira (5/12), no auditório do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IECPN), no Centro. O evento reuniu representantes dos municípios para reforçar a importância do cuidado integrado diante de uma doença complexa e multifatorial, considerada uma epidemia mundial pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Durante a palestra “Prevalência do Sobrepeso e Obesidade – Construção da Linha de Cuidado no Estado do Rio de Janeiro”, a pesquisadora mostrou ainda diversos aspectos da população fluminense, especialmente após a pandemia de Covid-19.

“O aumento do peso corporal foi alarmante durante a pandemia de Covid-19. Também precisamos pontuar que esses números podem ser maiores porque tivemos baixos registros na assistência primária de saúde”, disse Luciana.

Hospitais credenciados no SUS fazem menos de 50 cirurgias bariátricas por ano

Apesar dos números preocupantes do aumento da obesidade no Estado do Rio, menos de 50 cirurgias bariátricas são realizadas a cada ano nos quatro hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, do Ministério da Saúde. Os três fizeram, juntos, entre 30 e 47 cirurgias anualmente, de 2018 a 2022. Neste ano, o sistema registra dados até o mês de agosto e foram realizados somente 33 procedimentos.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) informou recentemente que, de acordo com o sistema de regulação da SES, havia em outubro deste ano 3.698 solicitações de pacientes com indicação para bariátrica, em fila, aguardando pela primeira consulta em ambulatórios especializados.

Para tentar reduzir a demanda, a Sociedade promoveu em outubro um mutirão de cirurgias bariátricas, que atendeu 16 pacientes em dois dias. Segundo a SVCBM, a ação ajudou a reduzir em cerca de três meses a fila do SUS, nos hospitais federais de Ipanema, Servidores do Estado, Hospital da Lagoa e Hospital do Andaraí.

Ainda segundo a SBCBM, dados do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar (Sisvan) apontam que mais de 68,2% das 980.948 pessoas que passaram por Unidades Básicas de Saúde no Rio em 2022 estavam com excesso de peso, sendo 36,8% com algum grau de obesidade e destes, 8,1% com obesidade mórbida (nível 3) – portanto, passíveis de fazer a cirurgia. Os dados apontavam que 19,7% tinham obesidade leve e 8,9%, obesidade moderada.

Alto custo das cirurgias bariátricas emperra programa estadual

O Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica do Hospital Carlos Chagas – que realizou cerca de 3,2 mil procedimentos pelo SUS em 10 anos – foi interrompido durante a pandemia de Covid-19. Em novembro de 2020, a SES-RJ chegou a anunciar a reabertura de 10 leitos de CTI e 29 leitos de clínica médica e oito de bariátrica, além da reativação da tomografia computadorizada, parada há 5 meses. Na ocasião, cerca de 5.860 pessoas aguardavam consulta no ambulatório de cirurgia bariátrica para saber se teriam indicação de cirurgia ou de tratamento não cirúrgico.

De acordo com a Fundação Saúde, do Governo do Estado, o Programa de Cirurgia Bariátrica é o mais importante da rede pública brasileira e o único no país a oferecer o procedimento pelo SUS por videolaparoscopia, que é minimamente invasivo. O programa custava ao estado, no contrato encerrado em agosto de 2020, R$ 1,7 milhão por mês para atendimento de 40 pacientes, uma média de R$ 42,1 mil por paciente, valor dividido entre procedimento cirúrgico (R$ 37,1 mil) e acompanhamento (R$ 5 mil) ao paciente.

Na época, a SES lançou, em caráter de urgência, um chamamento para novos contratos por meio da SBCBM, com quem elaborava um protocolo conjunto. Na nova licitação, a ideia era reduzir o custo unitário da cirurgia para aumentar o número de pacientes atendidos. “O processo será feito de forma transparente e com metas claras de produtividade e resultados, para que prevaleça a qualidade do serviço”, disse a Fundação Saúde.

A previsão também era de abrir novos polos do programa no estado, além do Hospital Estadual Carlos Chagas. Na época, a secretaria estabeleceu um cronograma para abertura dos novos polos e estratégia para zerar a fila de obesos mórbidos em conjunto com a SBCBM e prometeu que nenhum paciente deixaria de ser atendido.

O Portal ViDA & Ação questionou a SES-RJ  sobre como planeja atender à demanda das pessoas que necessitam da cirurgia bariátrica e aguarda posicionamento.

Objetivo é evitar que chegue à bariátrica, diz secretária

Durante a abertura do Seminário Estadual Linha de Cuidado Sobrepeso e Obesidade, a secretária de Saúde Cláudia Mello reforçou a importância da elaboração de estratégias para a prevenção e o tratamento do sobrepeso e da obesidade. Segundo ela, o objetivo é evitar que a obesidade aconteça para abortar a chegada ao processo cirúrgico, especialmente o bariátrico.

“Abraçar esse tema é de fundamental importância, especialmente para trabalharmos toda a linha de cuidado desde a atenção primária até uma eventual cirurgia bariátrica. Precisamos aproximar mais o Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE) nesta discussão frente à epidemia que já estamos vivenciando”, disse a secretária de Estado de Saúde.

“A Secretaria de Estado de Saúde tem a função de promover a política pública, mas não podemos dispensar a potência da atenção primária. Temos um protocolo bastante ativo de cirurgias bariátricas no estado. É uma ferramenta muito valiosa, no entanto, é preciso também pensar que não pode ser o único recurso”, disse a secretária.

Na nota emitida sobre a SES-RJ informou que a prevalência e tendência de aumento das taxas de excesso de peso levou à inclusão do Estado do Rio no convênio com Ministério da Saúde e a Universidade Federal de Ouro Preto para implementar uma linha de cuidados às pessoas com sobrepeso e obesidade. A ATAN atua na gestão da estruturação e na implementação das ações previstas na Política Nacional de Alimentação e Nutrição-PNAN.

Ela ainda relatou sua experiência pessoal. “Tenho uma família de super-obesos. É preciso pensar no apoio familiar para manter a saúde mental frente a essa população. Esse seminário reflete a nossa preocupação diante de um problema gravíssimo de saúde pública”, ressaltou.

400 milhões de crianças brasileiras estarão obesas até 2035

Nacionalmente, o cenário de alerta para a obesidade envolve todas as faixas etárias, com projeções de 400 milhões de crianças vivendo com obesidade até 2035; e 1 em 4 indivíduos (cerca de 2 bilhões) de adultos, ou seja, 41% da população brasileira até 2035 será obesa.

Coordenadora geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Alves traçou um panorama do cenário brasileiro frente ao aumento da prevalência da obesidade no país, que vem se agravando desde o ano 2000.

Segundo ela, as maiores frequências de obesidade foram observadas entre os homens em Macapá (33,4%), Campo Grande (27,9%) e Porto Alegre (26,8%) e, entre as mulheres, em Fortaleza (29,8%), Cuiabá (29,7%) e Porto Alegre (29,6%). Além disso, mais de 50% dos idosos brasileiros têm excesso de peso.

“A partir de 2020, o Ministério da Saúde instituiu também um novo protocolo clínico para adolescentes, uma população que merece a nossa atenção. Além disso, ampliamos as nossas ações na regulação da publicidade, na rotulagem de alimentos, no programa de alimentação do trabalhador e junto ao PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), enfatizando a necessidade de uma alimentação natural e saudável”, explicou Kelly.

Com informações da SES-RJ e SBCBM

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