O machismo não é prejudicial apenas para as mulheres, mas afeta também de diversas formas os próprios homens. No Brasil, eles representam 81,3% dos mortos em acidentes de trânsito, 65,8% das vítimas de acidentes de trabalho, 52,4% dos óbitos por doenças cardiovasculares e 73,6% dos novos casos de HIV no país.
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), no Estado do Rio de Janeiro, entre janeiro e maio deste ano, os homens configuraram 88% das vítimas de homicídio doloso. Além disso, uma pesquisa divulgada no ano passado pela Confederação Nacional dos Transportes mostrou que, em 2022, 82% das vítimas feridas ou mortas eram homens.
Não apenas no trânsito os homens se acidentam mais. De acordo com dados do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) apresentados no ano passado, eles sofrem quase o dobro de acidentes de trabalho que as mulheres, representando 65,8% das vítimas, enquanto as mulheres são 34,2% de quem sofre acidente laboral.
Embora sejam os mais afetados por doenças cardiovasculares (52,4% das mortes, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde,  por câncer de pulmão (duas vezes mais riscos do que mulheres); e Infecções Sexualmente Transmissíveis – ISTs (73,6% dos novos casos de HIV no país são em homens, de acordo com o MS), os homens representaram apenas 28% dos atendidos pelo Rio Imagem Baixada no último ano.
Além disso, uma pesquisa do Instituto Lado a Lado pela Vida mostrou que 88% deles declaram que vão ao médico apenas uma vez ao ano. Nos últimos dez anos, houve um aumento de 168% de casos de HIV entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Mesmo com esse crescimento, os homens ainda têm comportamentos de risco.
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia mostrou que 80% deles afirmaram saber sobre as ISTs, porém, não se consideravam em risco. Somente 11% afirmaram ter consciência sobre as doenças e o real risco que correm caso mantenham relações sexuais desprotegidas.
Já outra pesquisa da mesma entidade mostrou que, dos adolescentes entre 12 a 18 anos ouvidos, 15% já tiveram uma iniciação sexual, sendo que 44% não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam ou usam raramente o preservativo nas relações sexuais. Ainda, 38,57% dos meninos revelaram não saber sequer colocar o preservativo.

Serviço de Educação e Responsabilização do Homem (SerH)

No Dia Nacional do Homem, 15 de julho, a Secretaria de Estado da Mulher (SEM-RJ) faz um alerta para combater o machismo e disponibiliza aos municípios o Serviço de Educação e Responsabilização do Homem (SerH). O programa tem realizado palestras e capacitações para implantação de grupos reflexivos para homens agressores ou não, alcançando assim de modo preventivo a população masculina. 
A cultura machista ensinou que homem não chora, que deve dar a última palavra a qualquer custo, que não deve demonstrar medos, fraquezas e inseguranças, que não deve tolerar o questionamento de sua autoridade, entre outras questões similares. Essas crenças são fatores de risco para as mulheres, que acabam sendo vítimas de violências, e também para os próprios homens”, destaca a secretária de Estado da Mulher, Heloisa Aguiar.
O SerH é um programa que visa a garantia da efetivação da Lei Maria da Penha na sua integralidade, trazendo os homens para este movimento, que deve ser coletivo, de enfrentamento às violências de gênero contra meninas e mulheres, a partir de três eixos de ação: responsabilização, prevenção às violências e promoção do cuidado.
O programa estimula que os municípios implantem a metodologia dos grupos reflexivos para homens, recurso previsto na Lei Maria da Penha, além de promover capacitação técnica para os profissionais que atuarão como facilitadores. No eixo da responsabilização, são previstos grupos reflexivos nas unidades prisionais a partir de um Termo de Cooperação Técnica entre a Secretaria da Mulher e a Secretaria de Administração Penitenciária.
Como forma de prevenção às violências, o programa busca a sensibilização dos homens, demonstrando que o uso da violência é prejudicial para todos os envolvidos. Essas ações podem acontecer em praças públicas, nas escolas, nos templos religiosos de qualquer credo, em eventos em geral, entre outras possibilidades.
O eixo do cuidado visa que o homem esteja lado a lado das mulheres, como aliados, em campanhas de conscientização e mobilização, como a campanha do Laço Branco, no Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, e outros.
Para o coordenador do SerH, Paulo Sarcon, é preciso desconstruir a imagem do que é ser homem: “O machismo é um lugar de poder e de privilégios. Isso é sedutor para o homem, mas ele não se dá conta de que tudo isso é uma ilusão, porque nós, homens, somos doutrinados, ensinados e socializados a viver de uma maneira que nos descaracteriza, nessa questão de perder a nossa essência humana”.

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Proteção às mulheres no Estado do Rio

De acordo com o ISP, de janeiro a maio de 2024, foram registrados 46 feminicídios no estado, um aumento de 11,7% em relação ao mesmo período do ano passado. As tentativas de feminicídio aumentaram 44,8% no período (105 em 2023 contra 152 em 2024). Implantado há quase cinco anos, o programa Patrulha Maria da Penha – Guardiões da Vida já realizou 67.940 atendimentos a mulheres em situação de vulnerabilidade e 640 prisões, quase todas por descumprimento de medidas protetivas expedidas pela Justiça.
Para romper o ciclo de violências e proteger as mulheres, o Governo do Estado conta com uma rede preparada para atuar e oferecer acolhimento. O Aplicativo Rede Mulher, criado pela Polícia Militar, possui botão de emergência que aciona diretamente a central 190, da PM, possibilita fazer um registro de ocorrência e pedido de medida protetiva online, além de listar centros especializados de atendimento em todo o estado, entre outras funcionalidades.
Com 60 polos em todo o estado, o Programa Empoderadas, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, já alcançou mais de 2 milhões de mulheres em território fluminense, com acolhimento psicossocial e aulas sobre técnicas preventivas de defesa e proteção feminina.
Rio de Janeiro cria Observatório do Feminicídio
Com objetivo de reverter o quadro da violência contra a mulher no Rio de Janeiro, em junho deste ano o Governo do Estado anunciou a criação por decreto do Observatório do Feminicídio. A ferramenta vai, coletar, ordenar e analisar dados sobre feminicídios praticados ou tentados no estado, bem como promover a integração entre os órgãos que denunciam, investigam e julgam os casos ou acolhem sobreviventes e familiares.
Um Grupo de Trabalho será criado por meio do decreto para unir forças com outras secretarias e entidades. Coordenado e presidido pela Secretaria de Estado da Mulher em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, o GT terá também a participação do ISP, das Secretarias de Segurança Pública e de Estado de Saúde e da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj.
O GT ficou de apresentar ao governador Cláudio Castro um plano de ação e meios para organização e funcionamento do Observatório do Feminicídio, definindo diagnóstico, metas, ações e instrumentos de execução e avaliação dos indicadores. Também em junho foi sancionada a Lei 10.416/24, que garante às servidoras públicas estaduais vítimas de violência doméstica e familiar, com medida protetiva, a transferência para outra unidade de serviço público.

Com informações do GovRJ

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