Você sabe o que Yasmin Brunet, Juliane Massaoka, Tati Maranhão e Amanda Djehdian têm em comum? O diagnóstico de lipedema. Muito confundida com celulite, essa condição que afeta principalmente as mulheres geralmente em idade reprodutiva, é caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura e inchaço nas pernas, coxas, glúteos e até mesmo nos braços.
O lipedema afeta 12% das brasileiras, inclusive as famosas. O assunto veio à tona após a ex-BBB 24 Yasmin Brunet relevar durante o programa que teve um diagnóstico recente dessa condição e planejar a realização de uma cirurgia. Após ouvir duras críticas ao seu corpo durante o programa, a modelo trouxe à tona uma condição que afeta cerca de 12% das brasileiras: o lipedema.
Além da estética, a doença provoca dores, desconfortos e hematomas. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o tratamento do lipedema não se restringe à realização da cirurgia de lipoaspiração.
A imagem da lipoaspiração como grande solução para o lipedema é uma ideia simplista. Não basta apenas retirar essa gordura, pois não se trata simplesmente de um acúmulo de gordura qualquer. O lipedema é uma doença sistêmica, então somente fazer uma lipoaspiração não resolve”, diz Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Tratamento exige mudanças no estilo de vida
Segundo ela, a lipoaspiração realmente faz parte dos pilares de tratamento contra o lipedema, mas não é necessária e nem indicada em todos os casos e sempre deve ser acompanhada do tratamento clínico. Em casos mais iniciais, somente o tratamento clínico pode ser suficiente para controlar a doença.
Quando isso não acontece, a lipoaspiração pode ser indicada, assim como nos casos mais graves da doença, em que há limitação do movimento”, diz a médica, que afirma que, caso a lipoaspiração seja indicada incorretamente e não seja associada, antes e depois, ao tratamento clínico, a gordura retornará após algum tempo.
A Dra. Aline Lamaita destaca que um bom tratamento de lipedema começa pelo cirurgião vascular, mas o acompanhamento com endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e, eventualmente, ortopedistas e cirurgiões plásticos também é fundamental.
Mudanças no estilo de vida com adoção de uma alimentação anti-inflamatória e prática regular de atividade física são estratégias importantes para controlar a evolução do lipedema. Mas outras medidas devem ser adotadas, como uso de meias de compressão e medicamentos e realização de sessões de fisioterapias, tratamentos vasculares e até lipoaspiração para retirada do tecido doente”, finaliza.
Médico explica quando a cirurgia plástica pode ajudar
“A lipo não é o primeiro tratamento para o lipedema, mas é a ‘cereja do bolo’, no final, quando a paciente precisa tirar aquele excesso”, explica o médico Luiz Haroldo Pereira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) no Rio de Janeiro. “Gosto de usar o endolaser para uma melhor retirada da gordura e um bom resultado.
Segundo ele, por ser uma doença crônica, o tratamento do lipedema é sempre contínuo. Alimentação balanceada e atividade física são a principal chave para desinflamar o tecido gorduroso. O segundo passo é a intervenção cirúrgica.
Por isso digo que é a cereja do bolo. Por se tratar de uma inflamação, é necessário controlá-la através do estilo de vida. A lipoaspiração e a retirada do excesso de pele vem para dar aquele toque especial, melhorando consideravelmente o aspecto do lipedema”.
No entanto, ele faz um alerta sobre a importância da responsabilidade no procedimento: “Hoje em dia, tem surgido diversos supostos especialistas em lipedema oferecendo cirurgias plásticas e isso é um risco muito grande. A cirurgia pode sim ajudar muito, mas precisa ser feita com muita responsabilidade e todos os exames pré-operatórios”.
“É o que eu sempre digo: procure um médico de confiança, membro da SBCP, que opere somente em hospitais qualificados. É imprescindível fazer todos os exames pré-operatórios e caso o paciente queira fazer a lipo em mais de uma região, como pernas e braços, respeitar o limite de gordura que pode ser retirado por vês, priorizando dividir o procedimento em duas etapas para não sobrecarregar um organismo que já está inflamado pelo lipedema”.
O médico que atende em Copacabana, no Rio de Janeiro, já participou da banca de exames para título de especialista em cirurgia plástica durante 12 anos e, desde 2006, é membro da comissão de avaliação para médicos que desejam se torna titulares da SBCP, capacitados para realizar as cirurgias de abdominoplastia, lipoaspiração, implantes de silicone e outros procedimentos.
Afinal, o que é o lipedema?
Segundo Luiz Haroldo Pereira, trata-se de uma doença de cunho inflamatório do tecido conjuntivo frouxo (tecido mais mole, relacionado a gordura), predominante em mulheres. O lipedema se caracteriza pelo aumento de gordura nos quadris, membros inferiores e superiores, e principalmente no bumbum, podendo ser perceptível seu desenvolvimento em fases de mudança hormonal, de peso e de forma – como é o caso da puberdade, gravidez e menopausa.
Para identificar a existência de lipedema no corpo, é necessário observar os possíveis sintomas, como gordura localizada desproporcional, aparecimento de hematomas com facilidade, sensação de peso e cansaço contínuo nas pernas. No entanto, não existe nenhum exame que diagnostique essa patologia, além da avaliação clínica.
Podemos observar a distribuição de gordura muitas vezes desproporcional ao corpo da paciente nos membros inferiores e também nos braços. As regiões afetadas se tornam sensíveis e doloridas”. A condição costuma ser hereditária e o histórico familiar é fundamental para ajudar no diagnóstico.
Problema é negligenciado pelos médicos
Apesar de ter sido padronizado como doença em 2022, o lipedema ainda é negligenciado por pacientes e médicos por falta de informação sobre a condição, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento. A condição é caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros, principalmente em áreas como coxas, culotes e quadris e pernas.
Apesar de ter sido padronizado como doença em 2022, o lipedema, ainda hoje, é um problema pouco conhecido pela população e até mesmo pelos médicos, o que atrapalha o diagnóstico e tratamento. Frequentemente, a paciente com lipedema passa a vida como uma ‘falsa magra’, isto é, magra da cintura para cima, mas com pernas grossas”, explica Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Segundo ela, muitas vezes a paciente acredita que esse é o padrão de corpo familiar, já que o lipedema realmente pode afetar várias mulheres da família, então não pensa que pode ser um problema. E como até pouco tempo o lipedema não era considerado uma doença, a literatura científica sobre seus mecanismos ainda é muita escassa. “Dessa forma, a própria comunidade médica ainda está tomando consciência sobre a doença e se capacitando para o tratamento”, explica a médica.
Conheça os principais sinais do lipedema
Essa falta de conscientização sobre a doença e a confusão com outros problemas, como a obesidade e a celulite, atrasa o diagnóstico e o tratamento com consequente evolução no quadro. Mas alguns sinais podem ajudar e identificar a presença de lipedema.
Ao notar esses sinais, o mais importante é buscar auxílio médico, pois, apesar de ser uma doença crônica, isto é, sem cura, o lipedema pode ser controlado quando devidamente abordado.
- Acúmulo de gordura desproporcional: O lipedema é uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros. “A doença afeta principalmente áreas como coxas, culotes, quadris e pernas, mas, eventualmente, pode atingir também os braços, porém, com menos frequência. Além disso, o lipedema é sempre simétrico”, diz a médica, que ressalta que pessoas com sobrepeso devem ficar especialmente atentas ao lipedema, visto que pode ser difícil notar o aumento do tamanho dos membros inferiores.
- Gordura difícil de ser eliminada: É muito comum que o lipedema seja confundido com a obesidade, o que causa grande frustração nas pacientes quando as estratégias comumente empregadas nesses casos não funcionam. “O grande problema é que a gordura do lipedema é doente, e frequentemente, não reduz somente com hábitos básicos como dietas e prática de atividade física. Esse deve ser outro sinal de alerta para buscar ajuda profissional”, aconselha.
- Dor ao toque: A dor ao toque é um dos principais sinais do lipedema. “Não é incomum que a portadora de lipedema estranhe ao se submeter a uma drenagem linfática ou massagem relaxante, já que experiência, que deveria ser agradável, geralmente é acompanhada de dor e sensibilidade ao toque”, afirma a especialista, que ainda destaca aumento da frequência de hematomas espontâneos e maior tendência ao acúmulo de líquido como outros sintomas da doença.
- Presença de nódulos: O lipedema pode causar nódulos visíveis na pele, conferindo à região afetada um aspecto semelhante à celulite. “Fique atenta também à evolução desses nódulos: se eles crescerem, o tamanho das pernas aumentar e a pele começar a dobrar, como se fosse flácida, provavelmente trata-se de lipedema”, detalha a especialista.
- Fatores de risco: Caso você apresente algum dos fatores de risco da doença, é importante redobrar a atenção aos sinais do lipedema. “O lipedema é um problema que afeta essencialmente o público feminino. Estima-se que 10% das mulheres sofra com o problema. Além disso, é uma doença genética e comumente atinge várias pessoas da mesma família”, diz a médica, que ainda afirma que existe uma forte correlação entre distúrbios hormonais e o avanço da doença. “Por isso, observamos picos de piora e manifestação da doença em períodos hormonais: puberdade, uso de anticoncepcionais, gestação e menopausa.”
Com Assessorias