Alternativa às tradicionais armações oculares, as lentes de contato caíram no gosto dos brasileiros. Segundo a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, mais de 2 milhões de pessoas, cerca de 1% da população, usam lentes no país. Diversas e versáteis, o uso das lentes pode alinhar saúde e estética.

“A exemplo prático, pessoas que possuem condições oftalmológicas como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia, não precisam abrir mão da aparência em prol da saúde, com o uso das lentes de contato. Há também uma maior liberdade quanto a movimentação, sendo ideal também para a prática de esportes”, complementa Emília Lucena, médica oftalmologista do Núcleo de Oftalmologia.

Mas é muito importante ter cuidado no uso para evitar problemas graves na visão. Especialistas ressaltam que o uso de lentes de contato exige responsabilidade e cuidados para prevenir problemas na córnea e em outras estruturas oculares. Apesar de práticas para o uso diário, as lentes requerem também uma atenção especial quanto aos cuidados adotados para sua manutenção.

 

Lentes de contato respondem por quase 100% dos casos de inflamação nas córneas

Equivocadamente tido como “carnívoro”, o protozoário Acanthamoeba causa inflamação nas córneas e, em praticamente todos os casos, chega aos olhos humanos via lentes de contato

Apesar dos benefícios, independentemente da idade do usuário, as lentes de contato aumentam o risco de desenvolver infecções oculares graves e outros tipos de complicações. Uma das piores consequências do mau uso das lentes de contato é infecção da córnea, chamada de ceratite. Normalmente é causada pela Acanthamoeba, um protozoário que vive na água e gera lesões graves na córnea, mas que também pode ter origem em bactérias que se acumulam nas lentes e nos estojos devido à falta de limpeza adequada.

Recentemente muitos casos de ceratite (inflamação das córneas) por Acanthamoeba foram divulgados. Pesquisas já confirmaram que quase 100% dos contágios pelo protozoário unicelular Acanthamoeba acontecem com usuários de lentes de contato. Um estudo recente publicado na revista Ophthalmology apontou como fatores de risco o uso de lentes reutilizáveis (quando comparado ao uso de lentes de descarte diário). Além disso, mostrou mais uma vez a relação entre lentes de contato e água, recomendando, inclusive, tirar as lentes de contato para tomar banho.

Hallim Feres Neto, oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor da Clínica Prisma Visão, explica que o ponto mais sensível desse tipo de ceratite é a sua semelhança com infecções oculares comuns, em termos de sintomas: vermelhidão, dor, sensibilidade à luz, lacrimejamento e diminuição da visão. “Isso é um problema, pois muitas vezes atrasa o diagnóstico, levando a cicatrizes corneanas que levam a sequelas visuais”, lamenta.

Por isso, a recomendação é que as pessoas fiquem atentas e cuidadosas com esses sintomas. “Se você suspeitar de uma infecção, procure imediatamente um oftalmologista, porque a ceratite por Acanthamoeba pode ser tratada com colírios, desde que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível, para reduzir o risco de complicações”, alerta o oftalmologista. Ele diz ainda que com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, há uma boa chance de recuperação. E o tratamento, segundo ele, pode levar meses.

O especialista ressalta que, tomados os devidos cuidados, as lentes de contato são super seguras.  “É muito importante não dormir com as lentes, porque não só a ceratite por Acanthamoeba, mas diversas outras infecções encontram nesse momento uma condição perfeita para se desenvolver: umidade, calor e falta de luz”, explica o oftalmo, lembrando que o espaço entre a córnea e a lente de contato reúne tudo isso durante a noite.

Outro ambiente fértil para a proliferação de organismos são os estojos para guardar lentes de contato. “Quando você reutiliza a lente, ela fica guardada no estojinho, que fica à mercê de um uso extremamente correto para evitar contaminações”, diz Dr Feres Neto, explicando que esse estojo precisaria ser higienizado frequentemente, além de trocado periodicamente, assim como as lentes devem ser cuidadosamente limpas antes de guardar.

Enfim, procedimentos que, feitos no dia a dia doméstico corrido, podem facilmente deixar margem para “escapar” algo e acabar gerando um ambiente propício a contágios. “Quando se usa uma lente descartável, todo dia você tem uma lente nova e estéril nos olhos. Não dá tempo de infeccionar”, pontua, lembrando que interessante mesmo é poder evitar a contaminação.

Dicas para o uso correto das lentes de contato

Os especialistas listam dicas e condutas básicas para o uso correto das lentes, que também vão prolongar a vida útil delas. São elas:

  • Lave sempre muito bem as suas mãos com água e sabão e seque-as antes de colocar as mãos nos olhos ou manipular lentes de contato.

  • Sempre use uma solução própria para limpeza de lentes de contato, que pode ser encontrada em farmácias e lojas especializadas.

  • Não mergulhe lentes de contato em água ou soro fisiológico. Isso pode contaminar as lentes com amebas e bactérias, aumentando o risco de infecção ocular.

  • Descarte lentes de contato de acordo com as recomendações do fabricante. Não use lentes vencidas ou danificadas, pois isso aumenta o risco de contaminação.
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  • Descarte diariamente do líquido dos estojos das lentes e o substitua por um novo;

  • Não utilize água da torneira para a higienização da lente e dê preferência aos produtos próprios para limpeza e conservação das mesmas;

  • Evite nadar em águas sabidamente contaminadas. Se você nadar nessas águas, use óculos de proteção para os olhos. E não use lentes de contato na água.

  • Em hipótese alguma durma de lente (salvo casos em que haja indicação médica);

  • Por fim, não use as lentes por mais tempo que o indicado pelo oftalmologista, e faça o descarte das lentes no tempo correto,

“Seguindo essas instruções à risca, você evita sérios problemas oculares. Isso porque se não higienizada de forma correta, micro-organismos podem entrar em contato com a lente e causar infecções bacterianas nos olhos”, alerta Dra Emília.

Ela indica ainda que o acompanhamento oftalmológico é essencial para a prevenção e acompanhamento do estado da saúde ocular com o uso das lentes.

“Quem usa lente de contato corretiva o ideal é que se consulte semestralmente. As idas aos consultórios podem identificar e tratar questões como vermelhidão, dor, turvação visual e secreção, sinais de que algo não vai bem com seu olho”, discorre.

“Caso essas recomendações sejam difíceis de seguir no seu cotidiano, existem as lentes de ortoceratologia e a cirurgia refrativa, que oferecem riscos estatisticamente até menores que as lentes de contato”, aconselha o oftalmologista.

 

Uso de lentes de contato na infância demanda mais cuidados

A criança pode usar lente de contato, mas depende da idade e de outros fatores. Segundo a oftalmopediatra  Marcela Barreira, a primeira informação que os pais precisam ter é que o uso das lentes de contato não é isento de riscos. Outro aspecto é que na hora de optar pelas lentes é necessário avaliar se a criança já tem autonomia e maturidade para adotar os cuidados diários, como colocação, remoção e limpeza.

Normalmente, a criança pode usar lente de contato a partir dos 10 anos de idade. Entretanto, os pais sempre devem supervisionar e ajudar na hora de colocar, retirar e higienizar as lentes. A partir dos 10 anos, a troca dos óculos pelas lentes de contato pode trazer uma série de benefícios. Quando a criança começa a entrar na puberdade, os óculos podem causar situações constrangedoras e até mesmo ser um motivo para o bullying.

“Desta forma, a lente de contato pode melhorar a percepção das crianças sobre a sua aparência física. aumentar a confiança, tanto nas interações sociais como na sua capacidade de participar em atividades esportivas”, ressalta Dra. Marcela.

Crianças podem usar lentes de contato por motivo terapêutico

Existem algumas doenças oculares cujo tratamento é feito com lentes de contato especiais. Nestes casos, o uso pode ter indicação em qualquer idade.

“Algumas doenças como catarata congênita, irregularidades na córnea, ceratocone, estrabismos e anisometropia (grande diferença de grau entre os dois olhos), podem demandar a prescrição de lentes de contato precocemente, ou seja, antes dos 10 anos de idade”, comenta a oftalmologista.

No caso de a criança apresentar qualquer um desses sintomas, os pais devem procurar o oftalmopediatra para avaliação. A prescrição de lentes de contato para crianças é uma decisão que deve ser pensada e avaliada junto aos pais, sempre deixando claro os riscos e os benefícios.

“O principal fator que deve ser levado em consideração é a capacidade de autonomia da criança no que se refere ao uso das lentes. Uma dica é reservar as lentes para ocasiões especiais e, no dia a dia, usar os óculos”, finaliza Dra. Marcela.

De qualquer forma, as lentes de contato também podem causar outros incômodos e os pais precisam estar atentos aos sintomas. Alguns deles são:

Ardência ocular

Coceira

Vermelhidão

Sensação de areia nos olhos

Lacrimejamento em excesso

Visão embaçada

Dor nos olhos

Acúmulo de secreção nos olhos

Prótese ocular: limpeza, aplicação e remoção adequadas de olho artificial

Para aqueles que enfrentam a perda total ou parcial da visão devido a acidentes, glaucoma, catarata ou condições congênitas como anoftalmia e microftalmia, existem próteses oculares personalizadas, avanços tecnológicos impressionantes, que imitam a íris com perfeição, proporcionando conforto e naturalidade. Ricardo Filippo, oftalmologista da Clínica de Oftalmologia Integrada (COI), destaca a importância dos cuidados necessários para manter a saúde ocular e a integridade das próteses:

“É de extrema importância que antes de manipular próteses oculares, seja realizada uma adequada higienização das mãos. Recomenda-se que o paciente lave minuciosamente as mãos antes de manusear a prótese ocular. A limpeza da prótese deve ser realizada diariamente, utilizando uma solução especialmente formulada para essa finalidade, seguida de um enxágue com água potável. Evitar o uso de substâncias químicas abrasivas é fundamental, assim como nunca dormir com a prótese, armazenando-a sempre em seu recipiente apropriado. Para secar os acessórios, utilize gentilmente uma toalha de papel a fim de remover o excesso de umidade.”

Ao colocar e remover a prótese, é essencial seguir as instruções cuidadosamente para evitar danos ou irritações. O processo é simples, envolvendo a posição adequada da prótese no olho e a retirada suave com uma ventosa apropriada. Se houver desconforto persistente, a consulta com o oftalmologista que projetou a prótese é aconselhável.

O Dr. Filippo também aconselha seguir outras orientações importantes, que incluem evitar a exposição a elevadas temperaturas e níveis excessivos de umidade. Além disso, é fundamental realizar visitas periódicas ao especialista para avaliações e eventuais ajustes. Evite ambientes com acúmulo de poeira, presença de fumaça ou substâncias químicas agressivas. Além disso, é recomendável evitar atividades de alto risco para a prótese, como esportes de contato ou exercícios físicos intensos.

O Dr. Ricardo Filippo enfatiza que essas diretrizes são essenciais para preservar a saúde ocular e a durabilidade da prótese, mas a consulta com um oftalmologista é fundamental para cuidados individuais. Ao adotar essas medidas, os usuários de próteses oculares podem desfrutar de uma vida com visão saudável e renovada autoestima.

Passo a passo sobre como cuidar da prótese ocular

Aqueles que utilizam próteses oculares devem adotar medidas específicas para proteger seu acessório e prevenir possíveis danos. A prática da higienização é crucial para manter a prótese sempre em estado de limpeza, livre de microrganismos. Uma pesquisa conduzida pela Universidade da Califórnia validou que uma pessoa carrega, em média, 3,2 milhões de micróbios por polegada de pele nas mãos. Embora nem todos esses micróbios sejam necessariamente patogênicos, não é aconselhável correr riscos desnecessários.

Para evitar microrganismos infecciosos em contato com a prótese ocular, deve-se sempre limpar bem as mãos antes de manuseá-la. Para isso, basta usar sabão neutro com água e enxaguar bem as mãos por cerca de 20 segundos.

Para inserir a prótese ocular, simplesmente posicione-a no centro do olho e realize delicados movimentos circulares para fixá-la. Continue fazendo isso até que ela se encaixe perfeitamente e proporcione conforto. Nos primeiros dias, é possível sentir um certo desconforto, mas a adaptação ocorre rapidamente. No entanto, se o desconforto persistir, é aconselhável procurar o especialista responsável pela confecção da prótese.

Quanto à remoção, abra os olhos e utilize uma ventosa específica para essa finalidade. Em seguida, com movimentos suaves, retire a prótese para frente e para fora. É importante evitar movimentos bruscos, pois isso não só pode causar desconforto, como também danificar o próprio acessório.

Quando se trata de próteses oculares, muitas pessoas ainda associam erroneamente a imagem da tradicional “bola de vidro” e têm preconceitos em relação ao seu uso. No entanto, graças aos avanços tecnológicos, as lentes esclerais atuais proporcionam uma aparência incrivelmente natural e são extremamente confortáveis para quem as utiliza.

Com Assessorias

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