Da Agência Fiocruz de Notícias

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do seu Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), deu entrada nesta quarta-feira (10/8) na solicitação de registro, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de dois kits de diagnóstico molecular: o kit molecular monkeypox (MPXV), que diferencia a origem do vírus, e o kit molecular 5PLEX OPV/MPXV/VZV/MOCV/RP.

Além de identificar monkeypox,  permite diferenciar em um mesmo exame doenças que poderiam ser confundidas clinicamente, como orthopox geral, varicella zoster (catapora) e molusco contagioso. Bio-Manguinhos já produziu 12 mil reações de cada um dos dois protocolos estabelecidos para uso em pesquisa.

O kit molecular monkeypox (MPXV) faz a identificação, em uma mesma amostra humana, das duas cepas geneticamente distintas do vírus monkeypox. A cepa da África Central (Congo) e a cepa da África Ocidental, esta com circulação já confirmada no Brasil.

Este kit é baseado na tecnologia de PCR em tempo real com ensaios multiplex. Desenvolvido a partir das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o diagnóstico da nova doença, o kit pode identificar o material genético (DNA) do vírus causador por meio da coleta de material retirado das erupções cutâneas (pústulas) presentes no indivíduo com suspeita de infecção pelo vírus, do gênero Orthopoxvirus, pertencente à família Poxviridae.

Seu uso é baseado no protocolo 1, de detecção e tipagem de monkeypox: ensaio contendo os alvos monkeypox geral/África ocidental/África Central (Congo).

Kit molecular 5PLEX OPV/MPXV/VZV/MOCV/RP

O kit molecular 5PLEX OPV/MPXV/VZV/MOCV/RP faz a detecção e diagnóstico diferencial, em ensaio contendo os alvos orthopox geral/monkeypox geral/varicella zoster (VZV)/molusco contagioso (Molluscum contagiosum), além de contar com o controle do kit (RNaseP, também presente no kit MPXV).

Este kit, baseado na mesma tecnologia, é destinado ao protocolo 2, que permite a diferenciação clínica em casos anteriormente classificados como “negativos” (sem infecção pelo vírus causador do monkeypox), conferindo maior capacidade de esclarecimento diagnóstico, com a diferenciação dos vírus relacionados, importante para a vigilância epidemiológica no SUS.

Soluções de rápida implementação

Diante da identificação dos primeiros casos no Brasil e de um possível aumento da disseminação da doença em território nacional, Bio-Manguinhos desenvolveu os novos kits moleculares e já produziu 12 mil reações de cada um dos dois protocolos estabelecidos para uso em pesquisa.

Ambos os diagnósticos moleculares identificam o material genético do vírus da monkeypox e a tecnologia neles empregada permite seu uso imediato em plataformas que já fazem a identificação de outros alvos na rede de laboratórios centrais de saúde pública (Lacens), caso o Ministério da Saúde necessite implementar sua utilização.

“A importância das ações de preparação para emergências sanitárias se expressa nesta oferta rápida dos kits moleculares em resposta à monkeypox. Uma cadeia de suprimentos mais efetiva, após a experiência com a Covid-19, e um arranjo produtivo local fortalecido contribuem para a autonomia nacional em relação a insumos indispensáveis ao enfrentamento de problemas de saúde pública, que têm surgido com mais frequência e maior alcance”, ressalta a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

Para o diretor de Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma, a oferta dos kits moleculares em tecnologia que permite seu uso imediato nos estados, além do Distrito Federal “é prova do compromisso e a pronta-resposta de Bio-Manguinhos diante dos desafios que continuam a surgir para a saúde pública”. Segundo ele, “o surgimento da doença em período no qual ainda estamos imersos na pandemia da Covid-19 comprova a importância dos laboratórios públicos para o país”.

O diretor informou que Bio-Manguinhos/Fiocruz tem capacidade de escalonar a produção destes novos kits de diagnóstico molecular, sem que haja impacto na oferta de outros produtos de seu portfólio, caso o agravo se espalhe entre a população e a demanda por diagnóstico diferencial e comprobatório cresça.

Monkeypox, a nova epidemia mundial

No dia seguinte houve a confirmação de um novo caso na capital inglesa. Em 23 de julho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que a monkeypox constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Em 29 de julho o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte por monkeypox no Brasil. A vítima era de Uberlândia (MG).

“Temos um surto que se espalhou rapidamente pelo mundo, por meio de novos modos de transmissão, sobre os quais entendemos muito pouco e que atendem aos critérios do Regulamento Sanitário Internacional”, declarou o diretor-geral da OMS. “A avaliação da OMS é que o risco da monkeypox é moderado em todas as regiões do mundo, com exceção da Europa, onde avaliamos o risco como alto”, complementou Ghebreyesus.

Para o diretor-geral, “o risco de uma disseminação internacional do vírus é claro e tende a aumentar, embora o risco de interferência no tráfego internacional permaneça baixo neste momento”.

O nome monkeypox se origina da descoberta inicial do vírus em macacos, em 1958, em um laboratório dinamarquês. Já o primeiro caso humano foi identificado em 1970, em uma criança, na República Democrática do Congo. Segundo a OMS, a maioria dos animais suscetíveis a este tipo de varíola são roedores, como ratos e cães-da-pradaria.

No Brasil, até 8 de agosto havia 2.293 casos de monkeypox. São Paulo, com 1.636, Rio de Janeiro, com 253, e Minas Gerais, com 101, são os estados com o maior número de casos. No mundo são mais de 30 mil casos, em 81 países.

Esta é a primeira vez que muitos casos de monkeypox são relatados simultaneamente em muitos países. A mortalidade permanece baixa no surto atual.

A transmissão de humano para humano ocorre por meio de contato físico próximo ou direto (face a face, pele a pele, boca a boca, boca a pele) com lesões infecciosas ou úlceras mucocutâneas, inclusive durante a atividade sexual, gotículas (e possivelmente aerossóis de curto alcance) ou contato com materiais contaminados (por exemplo, lençóis, roupas de cama, eletrônicos, roupas, brinquedos sexuais).

No Brasil, o Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi nomeado Laboratório de Referência do Ministério da Saúde (MS) em monkeypox. O laboratório vai analisar amostras suspeitas de infecção pelo vírus monkeypox provenientes do Estado do Rio de Janeiro e de toda a Região Nordeste.

Nos dias 9 e 10 de junho, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), o Ministério da Saúde e a Fiocruz promoveram a primeira capacitação para diagnóstico laboratorial do vírus monkeypox para profissionais de saúde de sete países da América Latina (Bolívia, Equador, Colômbia, Peru, Paraguai, Uruguai e Venezuela). A iniciativa foi ministrada pelo Laboratório de Enterovírus do IOC/Fiocruz.

E, diante dos primeiros casos suspeitos do vírus monkeypox no Brasil, a Fiocruz, por meio do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), uniu esforços em mais uma iniciativa pioneira e produziu, em uma semana, controles positivos para auxiliar no diagnóstico seguro da doença. Os primeiros reagentes foram entregues à Opas/OMS para serem distribuídos em, ao menos, 20 países.

Neste especial, confira as últimas notícias e informações sobre a doença divulgadas na Agência Fiocruz de Notícias. Conheça também as principais ações de enfrentamento à enfermidade realizadas pela Fiocruz.

24/6/2022 (atualizado em 10/8)

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