Gestantes e puérperas (mães que deram a luz até 45 dias) vêm despontado como um grupo de grande preocupação, diante da evolução da morte materna a níveis extremamente elevados. O Brasil figura com o maior número de óbitos e uma assustadora taxa de letalidade de 7,2%, ou seja, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8%.
A análise sobre a mortalidade materna por Covid-19 é destaque no Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz. Um estudo sobre a pandemia nas Américas, publicado em meados de maio de 2021 pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), verificou que entre janeiro e abril deste ano houve um aumento relevante de casos em gestantes e puérperas, e de óbitos maternos por Covid-19 em 12 países.
Formas graves da Covid
Os especialistas alertam ainda que as gestantes podem evoluir para formas graves da Covid-19, com descompensação respiratória. Em especial, aquelas que estão em torno de 32 ou 33 semanas de gestação. Em muitos casos, há necessidade de antecipar o parto.
Esse quadro aumenta a preocupação em relação à disponibilidade de leitos de UTI adulto para essas mulheres e de leitos de UTI neonatal para os recém-nascidos, que podem ser inclusive prematuros. Os pesquisadores alertam que ambos precisam de cuidados especializados e imediatos.
A partir de meados de 2020, começaram a ser publicados artigos sobre a morte de gestantes e puérperas por Covid-19 no Brasil, alertando para a necessidade de preparação e organização da toda a rede de atenção em saúde.
De acordo como Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19), os óbitos maternos em 2021 já superaram o número notificado em 2020. No ano de 2020, foram 544 óbitos em gestantes e puérperas por Covid-19 no país, com média semanal de 12,1 óbitos, considerando que a pandemia se estendeu por 45 semanas epidemiológicas nesse ano.
Até 26 de maio de 2021, transcorridas 20 semanas epidemiológicas, foram registrados 911 óbitos, com média semanal de 47,9 óbitos, denotando um aumento preocupante.
Taxas de incidência e de mortalidade por Covid-19
O boletim constatou ainda a tendência de crescimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 12 estados, além do Distrito Federal, na Semana Epidemiológica (SE) 21, período de 23 a 29 de maio. Todas as regiões apresentam indicadores preocupantes, principalmente, os estados da região Sul e Centro-Oeste. Cerca de 96% dos casos de SRAG são pelo novo coronavírus.
O Observatório Covid-19 Fiocruz chama a atenção que, diante da proximidade do inverno, o atual cenário da pandemia pode se exacerbar, com o surgimento de casos mais graves de Covid-19 e maior ocorrência de outras doenças respiratórias, que também necessitam de leitos hospitalares.
Foi observada uma estabilidade, nas duas últimas semanas epidemiológicas, das taxas de incidência e de mortalidade por Covid-19, confirmando a formação de um platô com altos valores médios diários de casos e óbitos. A maior parte dos estados apresenta a mesma tendência, o que pode ter como consequência o surgimento de milhares de casos graves que irão necessitar cuidados intensivos.
Perfil demográfico e ocupação de leitos
Os pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz confirmam uma mudança no perfil demográfico da pandemia, que vem registrando um aumento expressivo de casos, internações e óbitos nas gerações mais jovens.
No cenário atual da pandemia, todos os estados das regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, e a maior parte da região Sudeste (com exceção do Espírito Santo) estão com a ocupação de leitos de UTI em níveis críticos (≥ 80%) ou mesmo extremamente críticos.
Dezessete capitais também se encontram em níveis críticos ou extremamente críticos. O sistema de saúde está sobrecarregado, com capacidade de resposta comprometida para o atendimento a esses casos, assim como para outras demandas represadas.
Considerando que as taxas de ocupação de leitos UTI constituem a “ponta do iceberg” e que o Brasil ainda não alcançou uma queda sustentada de casos e óbitos, os pesquisadores alertam para o fato de o país está diante de um momento crítico, com riscos reais de agravamento da pandemia nas próximas semanas.
Experiências promissoras
A análise ressalta que experiências promissoras, como a vacinação em massa promovida pelo Instituto Butantan no município de Serrana (São Paulo) e divulgada nos meios de comunicação, indicam que um esquema vacinal completo de 75% da população produz impactos bastante positivos para todos os habitantes. Ao mesmo tempo, segundo os pesquisadores, há um longo caminho ainda a ser percorrido para que se possa chegar a um percentual próximo para todo o Brasil.
Para que novas crises ou mesmo o colapso do sistema de saúde sejam evitados, com manutenção ou diminuição dos patamares de óbitos, se faz necessário desde já manter a necessária articulação entre medidas e ações de imunização, combinadas com as medidas não farmacológicas – tais como manutenção das medidas de isolamento social, uso de máscaras, higiene das mãos e a não aglomeração -, envolvendo todo o sistema de saúde, da [Atenção Primária em Saúde] APS aos leitos UTI Covid-19, incluindo atividades de reabilitação para os casos pós-agudos”, alertam.
Cremerj lança ‘Manual para as Mamães’
A segurança de grávidas e puérperas durante a pandemia tem sido uma preocupação do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). A Comissão de Saúde Pública e a Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremerj lançaram em maio, Mês das Mães, o “Manual para as Mamães”, com orientações para elas se protegerem no período gestacional e no pós-parto, principalmente com o aumento de casos do novo coronavírus no Rio e em outros estados brasileiros.
O manual dá dicas para a realização de exames pré-natal, para a preparação do enxoval do bebê, além de outras. O documento destaca também a importância dos cuidados necessários durante a pandemia, como o uso de máscaras, a higienização adequada das mãos e o distanciamento social. Outro ponto fundamental, lembrado pelo guia, é estar com a vacinação em dia. O guia – todo ilustrado – está disponível em formato digital para facilitar o compartilhamento (acesse aqui).
Esta não é a primeira ação do Cremerj em relação à proteção de grávidas e puérperas durante a pandemia. No último mês, o Conselho emitiu um alerta se posicionando sobre a importância de incluí-las no grupo de risco de imunização contra a Covid-19. No município do Rio de Janeiro, grávidas a partir de 18 anos com comorbidade – como diabetes, doenças pulmonares, hipertensão, doença cardíaca e obesidade – já podem ser vacinadas.
Recebemos relatos preocupantes de médicos do nosso estado sobre evoluções muito complicadas em suas pacientes grávidas e puérperas. Pedimos que as mulheres conversem com seu obstetra e entendam que a prática de medidas simples pode ser crucial para a segurança delas e de seus bebês. Esperamos que este manual ajude nisso”, afirma o presidente do Cremerj, Walter Palis, que também é ginecologista e obstetra.
Da Agência Fiocruz e Cremerj