Por Andreia Soares Calçada*

Esta semana, vimos o episódio de um aluno de 16 anos que entrou armado e disparou contra estudantes na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo. O fato soma-se a outros como o da professora que foi esfaqueada e de um homem que matou crianças em uma creche, ambos no início do ano.

Balanço do Ministério da Justiça e Segurança Pública registra quase 3 mil casos em investigação em todo o Brasil relacionados a violência nas escolas. Um estudo da Unicamp mostra o perfil dos jovens que cometem esses ataques nas escolas. Geralmente são jovens do sexo masculino, brancos, apreciadores de conteúdo violento e armas. São integrantes de fóruns online de incentivo à violência, à misoginia, que não eram acessados no passado.

A violência urbana tornou-se hoje um tema de debate mundial. Dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram um aumento significativo da violência no Brasil entre os anos de 2020 e 2021. O aumento do nível de estresse e a desigualdade social são fatores que agravam os quadros de violência.

Há um crescimento sim, de uma sociedade mais violenta e isso pode estar sendo gerado por uma série de fatores como falta de estrutura familiar, problemas econômicos, etc. Mas acredito que a base dessa história é a estrutura familiar que está muito frágil. Hoje existe uma dificuldade de os pais colocarem limites, há uma fragilidade nos vínculos que vem desde cedo.

Conflitos familiares geram insegurança e agressividade

Os conflitos familiares muitas vezes são excessivos e isso se agrava com a ausência dos genitores na rotina, no cotidiano dos filhos. Isso acaba acarretando uma insegurança no menor e acaba gerando a agressividade.

Há também uma relação com o uso indevido da internet. A falta desse limite e da atenção faz com que os filhos fiquem excessivamente na internet e acabem assumindo valores que não são os deles. Se a família não construiu valores sólidos, os filhos ficam à mercê desses valores externos.

Diante dessa realidade, especialistas recomendam maior atenção de pais, escolas e profissionais de saúde para a saúde mental das crianças, jovens e adolescentes. Todos devem ficar atentos aos primeiros sinais de que crianças e adolescentes não vão bem.

Antes de cometer um ato de violência, o agressor pode apresentar sinais de que vai fazer algo. No caso da escola de São Paulo, o autor dos disparos sofria bullying e teria avisado sobre o atentado há duas semanas. Se alguma providência tivesse sido tomada, de supervisão e até mesmo de amparo e acolhimento desse menor, a tragédia talvez tivesse sido evitada.

Psicóloga clínica e jurídica e perita do TJ/RJ em varas de família e assistente técnica judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil. mestre em sistemas de resolução de conflitos e autora de livros e artigos na área jurídica.

‘É preciso agir: negação e inércia podem custar caro’

Por Sueli Conte* 

Foi no mês de abril de 2022 que o então ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assinou portaria declarando o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional causada pela pandemia do Covid-19 no Brasil.  Como sabemos, durante toda a pandemia e, especialmente, no período mais agudo do isolamento social, pessoas de todas as idades sofreram de maneira importante não apenas com o medo da doença e dos seus desdobramentos – até então pouco conhecidos – mas com as questões relativas à saúde mental, dados os níveis de estresse vivenciados no período. 

Em 2021, a Unicef apresentou os resultados de um estudo realizado em 21 países, com crianças e adultos. O levantamento apontou que, em média, um em cada 5 adolescentes e jovens de 15 a 24 aos tiveram sintomas de depressão e pouco interesse em desenvolver suas atividades no período. No Brasil, o número chegava a 22% dessa fatia da população.

Se a preocupação com a saúde mental de crianças e adolescentes já preocupava antes da pandemia, agora se tornam ainda mais elevados, visto que de acordo com os dados da Unicef mais de um em cada sete meninos e meninas entre 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado. Além disso, quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das principais causas de morte nessa faixa etária. 

Ausência de rotina teve origem na pandemia

Boa parte dos problemas tiveram origem relacionados à ausência de rotina na vida dessas crianças e adolescentes. Posteriormente, foram agravados devido à dificuldade de retomar a vida que já existia observando cuidados para evitar contaminações.

Adicionalmente, as dificuldades em relação ao aprendizado à distância, a defasagem na absorção dos conteúdos, a falta de chances de recreação e a preocupação com a saúde e com a renda familiar contribuíram sobremaneira para deixar os jovens com medo, irritados e preocupados com o futuro. 

Inclusive, infelizmente, ainda existem reflexos da pandemia no comportamento de muitas crianças e adolescentes. São perceptíveis os índices de desatenção entre eles, fator que os leva a enfrentar certa dificuldade para assimilar conceitos em sala de aula.

Também é notório o aumento de sintomas depressivos entre esse público, com maior nível de estresse, ansiedade e irritabilidade, que por vezes culminam em casos de automutilação. 

Os pais e responsáveis muitas vezes não identificam que essas crianças estão enfrentando tantos problemas de cunho emocional. Em diversos casos, surpreendem-se e, por vezes, até se sentem ultrajados quando recebem algum sinal de alerta vindo de terceiros.

É compreensível, visto que nenhuma mãe ou pai quer que seu filho enfrente problemas desse tipo tão jovens. Também é natural que não saibam como conduzir as situações ou a quem recorrer nesses momentos.Porém, é extremamente importante agir. A negação e a inércia podem custar caro.

Além disso, há muitas opções de tratamentos possíveis na atualidade, que podem ir desde às consultas com profissionais da psicologia e da psiquiatria, passando por terapias como Barras de Access e ThetaHealing, que podem trazer bons resultados. 

*Sueli Conte é psicóloga, psicopedagoga, doutoranda em Neurociências, Mestre em Educação, aplicadora e facilitadora da Barra de Access e ThetaHealing. Fundou e atende no Espaço Saúde Integrativa, localizado na Zona Sul de São Paulo. 

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