Em 12 de maio, celebra-se o Dia Mundial de Conscientização da Fibromialgia, condição ainda invisível aos olhos da sociedade, mas que acarreta sérias complicações para aqueles que a vivenciam. Estima-se que a fibromialgia afete de 2% a 4% da população mundial. E não é diferente no Brasil.

A doença é bastante comum e está presente em pelo menos 5% dos pacientes que procuram assistência médica e entre 10 e 15% dos pacientes que vão ao consultório de um reumatologista, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

A idade de aparecimento da doença é geralmente entre os 30 e 60 anos, porém existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes. A prevalência maior em mulheres do que em homens, sobretudo na faixa etária entre 30 e 50 anos de idade.

A cada dez pacientes com fibromialgia, entre sete e nove são mulheres. A razão dessa predominância ainda não é totalmente compreendida e estudos indicam que não há relação direta com os hormônios, pois a doença pode ocorrer tanto antes quanto depois da menopausa.

Seus sintomas incluem dores generalizadas pelo corpo, principalmente nas articulações, músculos, tendões e tecidos moles, com duração prolongada por mais de três meses, sem apresentar, no entanto, evidências de inflamação nos locais doloridos.

A relação com o estresse

A fibromialgia é uma síndrome causada por uma alteração no sistema nervoso central, que amplifica a percepção da dor.  Situações que não causariam dor normalmente a outras pessoas, causam muita e intensa dor em pacientes com fibromialgia”, explica o reumatologista José Eduardo Martinez, presidente da SBR.

A intensidade da dor pode variar ao longo do tempo e ser desencadeada por fatores como estresse, desenvolvimento de outras doenças como infecções virais ou eventos traumáticos. “Entre as várias possibilidades que explicam o mecanismo de aparecimento e desenvolvimento dessa síndrome está a relação com o estresse. A exposição crônica do organismo a hormônios e alterações do sistema nervoso autônomo influenciam também a percepção de dor”, completa ele.

Junto com a dor, outros sintomas como fadiga, distúrbios no sono, e alterações intestinais, maior sensibilidade à dor, dificuldades cognitivas (concentração, raciocínio, memória, controle dos pensamentos, aprendizagem, etc.), ansiedade e depressão, sendo esta última associada a desequilíbrios de neurotransmissores no cérebro como a serotonina.

Segundo especialistas, mesmo sem causar inflamações visíveis, é uma doença que impõe limites à rotina, afeta a mente e mexe com as emoções, em um ciclo difícil de explicar e, muitas vezes, ainda mais difícil de ser compreendido, podendo impactar significativamente a qualidade de vida.

fibromialgia é uma doença reumática, mas não é autoimune

A fibromialgia é uma das muitas doenças reumáticas existentes, que já afetam mais de 15 milhões de brasileiros. Em geral, provocam muitas dores nos pacientes e representam uma das maiores causas de afastamento do trabalho e de aposentadorias por invalidez.

Cada doença tem sua característica. A artrite reumatoide, por exemplo, é uma doença crônica e ocorre quando há uma alteração do sistema imunológico, que ataca as articulações”, diz o médico.

Outras doenças reumáticas são Osteoartrite/Artrose, Espondiloartrites, Artrite Psoriásica, Lombalgia, Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES),  Osteoporose, Gota, Febre Reumática, Vasculites, Doença de Sjögren, Doença de Behçet e Esclerose Sistêmica (ES).

A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) também esclarece que a fibromialgia não é uma doença autoimune – como o Lúpus Eritematoso Sistêmico, a Artrite Reumatoide, a Esclerose Múltipla, o Diabetes tipo 1 e outras.

Autoimunidade é um termo utilizado para designar um grupo de doenças em que o sistema imunológico (de defesa) ataca o próprio corpo. Quer dizer, o sistema imunológico, responsável por defender o organismo contra bactérias e vírus invasores passa a acreditar que as proteínas das células de diferentes partes do corpo são invasoras e envia células de defesa para atacá-las e isolá-las, destruindo estruturas e causando diferentes sintomas nos pacientes”, esclarece o especialista.

Fibromialgia: sintomas, diagnóstico e tratamentos

De acordo com o José Eduardo Martinez, a fibromialgia também pode aparecer em pacientes que apresentam outras doenças reumáticas, como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico, o que, muitas vezes, dificulta uma completa melhora dos pacientes.

O reumatologista explica que o diagnóstico da fibromialgia é clínico, com o médico analisando criteriosamente o histórico do paciente, com exames físicos e outros que auxiliam para afastar condições que podem causar sintomas semelhantes.

Algumas pessoas têm uma predisposição genética para desenvolver a fibromialgia, mas este não é um fator determinante. O problema pode ser consequência de infecções, por exemplo, ou de questões emocionais, como estresse, traumas e depressão”, ressalta Martinez.

O entendimento da doença pelo paciente sempre é importante, para que possa compreender as várias situações que terá que enfrentar. No tratamento da fibromialgia, os exercícios físicos elevam o nível de serotonina, melhoram o sono e melhoram a depressão.

Já os medicamentos são usados com bons resultados. Em algumas pessoas, episódios de dor intensa desencadeiam uma alteração permanente no sistema nervoso central”, completa o reumatologista Rafael Navarrete, coordenador da Comissão de Dor da SBR.   

Quais são os sintomas?

  • Dor generalizada é o principal sintoma e pode estar presente em diversos pontos do corpo;
  • Fadiga como falta de energia e cansaço excessivos, mesmo após dormir muitas horas;
  • Distúrbio do sono reparador ou profundo;
  • Sensação de formigamento em mãos e pés;
  • Dificuldades cognitivas, como problemas para se concentrar por longos períodos de tempo;
  • Ansiedade e ou depressão podem estar associados.

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Pacientes podem se inscrever em pesquisa científica

Estudo da UFSCar convida voluntárias para avaliações completas e gratuitas

A pesquisa científica tem avançado nos últimos anos e novas opções de tratamento estão sendo desenvolvidas. Uma pesquisa de mestrado em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está oferecendo avaliação completa e detalhada, abrangendo não apenas aspectos físicos, mas também fatores emocionais e sociais que influenciam a qualidade de vida das mulheres com fibromialgia.

Poderão participar do projeto mulheres com e sem o diagnóstico do problema. O estudo é conduzido pelas mestrandas Anne Freitas e Isadora Barbosa, sob orientação de Mariana Arias Avila, docente do Departamento de Fisioterapia (DFisio) da UFSCar. O principal objetivo da pesquisa é observar o perfil psicossocial, de dor, antropométrico, autonômico e funcional em mulheres com fibromialgia comparadas com mulheres saudáveis.

Ao investigar os impactos da fibromialgia em aspectos como composição corporal, dor, alterações autonômicas, fatores psicossociais, equilíbrio e desempenho muscular, esperamos fornecer informações que ajudem nossas voluntárias a adotar um estilo de vida mais voltado para o manejo eficaz da condição”, descreve Anne Freitas sobre a importância do projeto.

A pesquisadora expõe que o estudo vai além da compreensão sobre os impactos da fibromialgia nas mulheres. “Também vamos oferecer um relatório detalhado para cada participante, mostrando como a condição afeta sua vida, hábitos e bem-estar emocional. Além disso, forneceremos orientações sobre estratégias de enfrentamento e entregaremos uma cartilha com diversas recomendações para melhorar a qualidade de vida. Por fim, nosso estudo contribuirá com dados relevantes para futuras pesquisas intervencionistas voltadas para essa população”, complementa.

Para desenvolver o estudo estão sendo convidadas mulheres, entre 18 e 60 anos, com diagnóstico de fibromialgia ou sem dor crônica. As voluntárias passarão por duas sessões de avaliação, gratuitas e detalhadas, realizadas no DFisio, na área Norte do Campus São Carlos da UFSCar. Interessadas em participar do estudo podem se inscrever por este formulário até junho de 2025.

O projeto é aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar. Mais informações podem ser solicitadas às pesquisadoras – Isadora (35) 99108-2324 ou Anne (79) 98859-9629.

Com Assessorias
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