Um novo estudo descobriu que a ansiedade e o estresse diretamente ligados à Covid-19 podem estar causando uma série de problemas de imagem corporal entre mulheres e homens. O trabalho vai figurar na edição de fevereiro de 2021 do periódico Personality and Individual Differences e envolveu 506 adultos do Reino Unido com idade média de 34 anos.

Entre as mulheres, o estudo descobriu que os sentimentos de ansiedade e estresse causados pelo Covid-19 estavam associados a um maior desejo por magreza. Ele também descobriu que a ansiedade estava significativamente associada à insatisfação corporal. Entre os homens, que a ansiedade e o estresse do período estavam associados a um maior desejo de musculatura, sendo a ansiedade também associada à insatisfação com a gordura corporal.

“A imagem corporal negativa é uma das principais causas de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, e este novo estudo se soma a pesquisas recentes que indicam que medos em torno de Covid-19 e as consequências das restrições introduzidas para ajudar a combatê-la podem estar contribuindo a uma série de problemas graves de saúde mental”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Ao mesmo tempo, acrescenta a Dra. Marcella, é possível que a ansiedade e o estresse adicionais causados pela Covid-19 possam ter diminuído os mecanismos de enfrentamento que normalmente usamos para ajudar a controlar os pensamentos negativos.

O estudo também descobriu que, quando estressados ou ansiosos, as preocupações tendem a seguir linhas típicas de gênero. Durante o bloqueio, as mulheres podem ter se sentido sob maior pressão para se conformarem aos papéis e normas tradicionalmente femininos, e as mensagens sobre o autoaperfeiçoamento podem ter levado as mulheres a se sentirem insatisfeitas com seus corpos e com um desejo maior de magreza, segundo o estudo.

“Da mesma forma, as descobertas refletem a maneira como o estresse e a ansiedade afetam os relacionamentos dos homens com seus corpos, especialmente em termos dos ideais corporais masculinos. Dado que a masculinidade geralmente enfatiza o valor da resistência, da autoconfiança e da busca por status, o período pode estar levando os homens a dar mais valor à importância de ser musculoso”, explica a médica.

Além do impacto do próprio vírus, os resultados sugerem que a pandemia também pode estar levando a um aumento nos problemas de imagem corporal. Em alguns casos, esses problemas podem ter repercussões muito graves, incluindo o desencadeamento de transtornos alimentares e de imagem.

“Durante o período inicial de quarentena, nosso tempo de tela no celular aumentou, o que significa que estávamos mais propensos a ser expostos a ideais atléticos ou magros através da mídia, enquanto a diminuição da atividade física pode ter aumentado os pensamentos negativos sobre peso ou forma”, afirma.

Distúrbios alimentares

Os transtornos alimentares mais frequentes são bulimia e anorexia nervosas, que podem ser influenciadas por esse momento, já que geralmente começam acompanhadas de ansiedade e obsessão por manter-se magro, aliada à presença de baixa autoestima, que são seguidas de alterações de hábitos alimentares.

No caso da bulimia nervosa, a pessoa tem episódios de compulsões alimentares, seguidas de métodos compensatórios inadequados como vômitos induzidos, uso de laxantes ou diuréticos e prática de exercícios em excesso, para evitar o ganho de peso. Os portadores de anorexia nervosa se caracterizam pela recusa em manter um peso mínimo esperado para a idade e a altura através da restrição do comportamento alimentar, pelo temor excessivo em ganhar peso, e pela distorção da percepção da imagem corporal.

Outro transtorno alimentar muito frequente nos dias atuais é a compulsão alimentar periódica, no qual as pessoas apresentam episódios de compulsão alimentar, porém diferentemente da bulimia, não utilizam métodos purgativos para eliminar os alimentos ingeridos, sem grande preocupação com o peso e a forma corporal”, afirma.

“Essas são patologias que necessitam atendimento médico, com acompanhamento multidisciplinar. Se a pessoa identificar que não consegue se controlar e que os episódios estão muito frequentes, deve procurar atendimento, mesmo que seja à distância”, diz a médica.

Além dos distúrbios alimentares e de imagem, outra preocupação médica é com relação ao reforço do sentimento de culpa, que pode retroalimentar os sentimentos de ansiedade e tristeza. “O mais importante é buscar um auxílio médico, que oferecerá uma ajuda baseada no contexto do paciente”, finaliza a nutróloga.

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