Ela é uma jovem como outra qualquer… alegre, divertida, adora uma selfie e curte ser fotografada. De sorriso largo e sempre muito extrovertida, a niteroiense Rebeca Costa, de 24 anos, é estudante de Direito, influenciadora digital e modelo da agência Becs Model. Como muitos outros jovens e adolescentes, ela enfrentou o problema da obesidade. Mudou hábitos alimentares e perdeu 20 quilos. Um volume e tanto para quem mede 1 metro e 20 centímetros de altura.
Como outras pessoas com nanismo, ela passou pela dor do preconceito. Mas hoje se sente incluída social, cultural e emocionalmente e é uma das ativistas da causa no Rio de Janeiro. Uma de suas bandeiras é pela inclusão de modelos com nanismo nas passarelas e catálogos de moda. Nas redes sociais, criou o perfil @looklittle, onde dá lições de autoestima e dicas para outras “pequeninas” montarem seu guarda-roupa e criarem sua própria rotina de atividades físicas. Somente no Instagram já tem mais de 44 mil seguidores!
“O looklittle é um meio de mostrar que meu dia dia é normal como o seu, que sou vaidosa como você e que eu consegui ter uma mudança de vida como qualquer um pode, basta querer. Não há nada que possa te fazer parar se você possuir força de vontade”, afirma a moça, sempre com muita auto-confiança. Confira essa entrevista exclusiva de Rebeca ao Vida & Ação.
- Você já enfrentou algum tipo de preconceito? Como superou?
Quando falamos em preconceito poderíamos exemplificar com a nossa rotina diária pois somos rodeados de olhares espantosos ao pisar o pé fora de casa e dar início a nossa rotina diária. Porém, o que importa é o que fazemos com isso. O preconceito está nos olhos de quem vê, de quem pratica e de quem é atingido. Ele é como um lixo, não deveríamos de forma alguma deixar isso nos afetar como seres humanos e nem ter esse tipo de atitude. O nosso coração é o recipiente, cabe a nós a saber o que nele pode entrar.
- Alguma reação preconceituosa te marcou mais fortemente?
Um tipo de preconceito de que me marcou muito foi uma senhora me parar do nada ao me avistar passeando pela loja e se achar no direito de me chamar de estranha e feia. Isso é pesado, pois temos que ter a concepção do que devemos fazer com essas atitudes que é não nos atingir. Mas nem todas as meninas têm autoestima. Isso é grave, pois palavras machucam.
- Você acha que a nova novela da Globo pode dar maior visibilidade e ajudar a quebrar o preconceito em torno do nanismo?
Acho que sim porque irão ver a realidade e não somente um achismo. Quando somente vemos é somente ter uma visão o que acontece. Quando temos uma novela com esse assunto, é uma chance das pessoas se colocarem na verdadeira realidade de uma pessoa com nanismo. Estamos bem representados pela Juliana Caldas (atriz que interpreta a Estela, anã na novela ‘Do Outro Lado do Paraíso’)
- Como é a vida de uma pessoa com nanismo? Quais os principais desafios que precisam ser enfrentados no dia a dia?
Na vida temos muitos obstáculos, pois o mundo não foi adaptado pra nós. Como eu sempre digo nas minhas entrevistas, a minha mãe desde sempre me adaptou pro mundo, desde o meu apartamento até os mínimos detalhes com o intuito de me preparar. Acredito na melhoria do mundo, na acessibilidade melhor, mas pra isso é necessário mais estudo sobre o próximo, sobre o amor e, principalmente o entendimento que nos pertencemos, conforme a Constituição brasileira, e somos iguais a eles. Temos os mesmos direitos. A única diferença é que não usufruímos por motivo da exclusão e invisibilidade da parte do mundo fechar os olhos pra nós como seres não pertencentes à sociedade.
- O acesso à escolaridade é uma dificuldade para as pessoas com nanismo?
O acesso à escola é uma dificuldade, pois nem todo mundo tem acesso a escolas inclusivas como eu tive, com portas abertas e disponíveis para adaptações necessárias para seu aluno, com olhar pelo outro. É preciso a escola entender que todos têm direito, sem exceção.
- Você já teve dificuldades para comprar roupas?
Minha maior dificuldade é calça e blusa de mangas compridas, porém, muitas vezes, com a ajuda da minha mãe, consigo elaborar umas adaptações, como transformar blusa de meia manga em manga comprida pra mim.
- Você tem feito trabalhos de fotografia e passarela?
Eu faço da incrível agência de moda Becs Model, da Rozi Marinho, que é uma agência inclusiva e super requisitada por modelos, tornando sua passarela diversificada. E isso é uma surpresa pro seu público ao se deparar depois de uma modelo padronizada com a vinda de uma modelo deficiente.
- Por que resolveu criar o perfil @looklittle nas redes sociais?
O @looklittle surgiu com o intuito de levar um pouco de amor e estímulo para os seres humanos, pois devido a minha doença de pele, eu tive que tomar um remédio e engordei mais de 20KG. Quando percebi que minha autoestima estava indo embora, por sentir minhas pernas se paralisando devido à pressão da minha coluna, com muita dormência, dei a volta por cima e corri atrás do que Deus tinha e tem para mim. Passei a fazer exercícios e dietas, e o melhor: sempre exercendo a autoestima que Deus me deu. Consegui sair dos 55 quilos, medindo 1.20 cm, para 32 quilos. Nunca deixei me diminuírem por causa dos meus poucos centímetros de altura.
- Como é o seu trabalho hoje no Youtube e Instagram?
O @looklittle foi influenciado por amigos que queriam saber como eu adaptava minhas roupas, já que nanismo sempre teve a fama de usar roupas infantis. Eu quis meio que quebrar esse raciocínio, pois precisamos ser enxergados pelo mundo da moda uma vez que o nosso maior problema na moda são braços, pernas curtas e pés pequenos, o resto, é de adulto.Passei a fazer vídeos de estímulos diante dos comentários de carinho que recebo para que possa atingir o público de maneira mais interativa e para que possam se sentir amados e contaminados pelo meu amor. Meu objetivo é levar o que mais o mundo está precisando. E mostrar que preconceitos só nos afetam quando queremos porque quando revidamos com o que temos de melhor, que é o amor, o mundo vai pra frente.
- Como percebe a inclusão da pessoa com nanismo hoje no mundo da moda?
A moda ainda é padrão. Existem modelos padronizados. Mas aos poucos a essência se fará principal no humano e isso mudará.
- Como é a vida sexual da pessoa com nanismo? É mito que a pessoa com nanismo só pode ou deve se relacionar com pessoas da mesma condição?
É tudo normal. A única coisa que separa os seres humanos é a falta de amor. O resto, tudo coopera pro bem quando temos amor em um relacionamento.
- Gostaria de acrescentar mais alguma coisa em nossa entrevista?
Quero lembrar às meninas que – se ninguém as lembrou hoje – ressalto que somos lindas! Podemos tudo que queremos conquistar! Vá à luta, menina! Nossas condições físicas são apenas detalhes.. Força!