2020 foi sem dúvida o ano mais difícil de nossas vidas. Como lidar com a angústia desse fim de ano e manter a esperança para 2021? Em vídeo exclusivo para o Portal ViDA & Ação, a psicanalista Renata Bento, associada da Sociedade Brasileira de Psicanálise no Rio de Janeiro, fala sobre as expectativas para o próximo ano. Afinal, como pensar de forma emocionalmente saudável para superar essas adversidades e ter esperança para o próximo ano?
Nessa época do ano é muito comum criarmos expectativas, com muita esperança. Só que fomos atropelados por essa pandemia que ainda não cessou e não temos uma data marcada para terminar. Isso nos causa muita angústia e passamos a ter um medo muito grande do próximo ano. As expectativas baixaram um pouco e temos que lidar com outros sentimentos, como a impotência diante das incertezas”, disse a especialista.
Ela lembra que 2020 foi um ano muito difícil e complexo. Logo no início do ano, a expectativa inicial era de negação diante da pandemia, de que seria algo passageiro, mas passamos a ter que ajustar essas expectativas. “Lidar com essas frustrações é um convite para colocar nas nossas resoluções do novo ano”, considera.
Ainda segundo ela, 2020 também foi um ano que evidenciou a importância da saúde mental, foi um ano que colocou à prova nosso equilíbrio emocional, com vários gatilhos que apareceram e questões novas que foram surgindo. Mas não podemos ser tomados pelo vírus do desequilíbrio emocional, que pode nos atrapalhar ainda mais, e buscar saídas para encarar nossos medos e angústias.
Renata escolheu uma música que ajuda a pensar nas expectativas para 2021: “Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo, que tudo se realize no ano que vai nascer”. Para ela, é uma ilusão achar que tudo vai se transformar nessa virada do ano. “As mudanças acontecem dentro da gente. Pode parecer clichê, mas precisamos ter intimidade com nossos sentimentos. Para ter um ano novo é preciso estar bem com a gente. O ano não vai mudar se a gente não aprender a lidar com as frustrações”, sentencia.
Para a psicanalista, esta não é uma receita mágica ou misteriosa que possa trazer essa paz. Mas precisamos exercitar a capacidade de pensar que expectativas podem ser frustradas, que vamos ter que aprender a viver apesar das incertezas, apesar de ter uma pandemia, mas sabendo quais são os cuidados para viver bem emocional e fisicamente.
Uma coisa importante é que a vida é que a gente só sabe da vida para trás, para a frente não se sabe. Então, é preciso aproveitar as experiências até aqui para avançar e continuar tendo esperança. A vida só vai pra frente, não volta”, enfatiza.
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Aprendendo a elaborar nosso luto
A capacidade de elaborar o luto é também destacada pela psicanalista. Segundo ela, o luto é um processo de entristecer sobre questões em que se criou uma expectativa e que não puderam ser realizadas. “Tivemos situações mais graves, como a perda de entes queridos, o medo da morte ou a perda de um emprego. Mas é preciso aprender a elaborar as tristezas, pensar sobre elas e seguir em frente. Se a gente não faz o luto, a gente fica emperrado, com aquilo na nossa cabeça de forma intensa”.
De acordo com Renata Bento, há cinco fases do luto. A primeira é a negação, como no início da pandemia em que fomos privados de nossa liberdade e todos nós achávamos que seria por apenas 15 dias. Em seguida, veio a raiva, em que chegamos a achar aquilo injusto, até de uma forma divina: “por que passar por isso”? A terceira é a da barganha: “se resolvo fazer esta ação, isso vai me trazer benefícios”, o que também é baseado em crenças divinas.
A quarta fase é a da depressão, onde há o entristecimento maior, mais significativo, e aí temos que lidar com esse entristecer. Está todo mundo passando por esse momento enlutado. E daí vem a quinta e última fase, que é a aceitação, a gente não tem uma solução ainda para isso. A onipotência baixou – como o velho ditado, ‘quanto mais a expectativa, maior é o tombo'”, destaca.
Na aceitação, aprendemos a lidar com as incertezas, aceitar e ver como, apesar disso, ainda vamos conseguir ter esperança. Ainda segundo Renata, não adianta ficar eufórico ou buscar soluções mágicas – elas virão no dia a dia, momento a momento. “A partir daí, não é que as coisas fiquem mais fáceis, para ganhamos mais sabedoria para lidar com as frustrações”, ressalta. Ela ainda recomenda apostar em “momentos de felicidade”: estar com a família, ouvir uma música, preparar uma comida… algo que nos traga bem-estar”.
Este é um ano para pensar que planos devem ser de curto prazo porque vamos precisar lidar com os vazios, as dificuldades. Sempre com o pensamento de que a vida só anda para a frente. É uma crença que as coisas podem melhorar, mas sabendo que, se não melhorar, estaremos emocionalmente de pé e bem para encarar essas adversidades. É preciso paciência, sabedoria e esperança de que as coisas possam se modificar, mas não esperanças mágicas. Este é meu desejo para 2021″, finaliza.