Não precisa ser especialista para saber que um ambiente caótico pode alimentar mentes igualmente caóticas e até mesmo comprometer a saúde mental de seus ocupantes. A neurociência aplicada à arquitetura ajuda a explicar que muitos dos sintomas relacionados à saúde mental podem ocorrer devido à influência do ambiente em que as pessoas vivem e trabalham.

Especialista em neurociência – campo científico que estuda o sistema nervoso e suas funcionalidades –, a arquiteta e urbanista Priscilla Bencke, explica que tais transtornos, causados por questões como estresse, dificuldades financeiras, entre outras, podem também ter interferência dos ambientes físicos onde indivíduos vivem e fazem suas principais atividades.

Priscila é cofundadora da Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura – NEUROARQ® Academy, empresa de educação especializada na formação de profissionais e disseminação da neurociência aplicada à arquitetura. No mês dedicado à prevenção ao suicídio e conscientização sobre problemas psicólogicos que podem levar a este ato extremo, especialistas explicam de que forma a “neuroarquitetura” pode auxiliar na diminuição de sintomas e transtornos.

“Por meio da neurociência aplicada à arquitetura, buscamos contribuir na criação de ambientes mais saudáveis. Estes, por sua vez, podem incentivar hábitos e um estilo de vida mais positivo para que as pessoas não tenham intensificações de questões relacionadas a transtornos mentais e comportamentais”, explica Priscilla Bencke.

Ambientes físicos x comportamento humano

Integrante do time de docentes da NEUROARQ® Academy, a neuropsicóloga Cinara Soares explica a ligação das pessoas com os ambientes e demais indivíduos. “O ser humano é movido por relacionamentos e interação. Seja com as outras pessoas, ou os lugares onde exercemos nossas atividades. Neste sentido, essa interação com seu meio, e espaço em toda a sua constituição, fará parte da sua estruturação como sujeito, afetando sua saúde de maneira geral”, afirma.

Para a arquiteta e cofundadora da NEUROARQ® AcademyGabi Sartori, ao falar do impacto dos ambientes na saúde mental, é necessário avaliar as condições destes espaços de modo geral. Conforme a especialista, o ambiente, em especial, o residencial, nada mais é, senão um reflexo das pessoas que o ocupam. “A depender do momento de vida do indivíduo, dos pensamentos que ele tem e da forma como organiza seus pensamentos e mente, o espaço irá refletir quem nós realmente somos”, explica.

Gabi Sartori ressalta que a interação com o ambiente e o espaço é essencial para a estruturação do indivíduo e afeta sua saúde de maneira geral. De acordo com Gabi, a partir do momento em que as pessoas têm consciência do impacto dos ambientes em suas vidas, é possível utilizá-lo como instrumento para mudanças de comportamento. “Ao conscientizar-se do impacto dos ambientes em suas vidas, é possível utilizar o ambiente como instrumento para promover mudanças de comportamento”, considera.

Para justificar este pensamento, Gabi lembra da teoria do professor canadense Tye Farrow, especialista em arquitetura para a área da saúde e membro do corpo docente da NeuroArq, que destaca “que não existe ambiente neutro”.

“Os espaços sempre influenciam as pessoas que os ocupam, positiva ou negativamente. Portanto, é importante refletir sobre como os lugares que ocupamos podem interferir na nossa saúde mental e física. Devemos sempre nos questionar se eles reforçam hábitos não saudáveis”, complementou.

Benefícios da neurociência aplicada à arquitetura  

Conforme Gabi, a “neuroarquitetura” pode melhorar sintomas de ansiedade, depressão e insônia, por meio de pontos de influência que demonstram como a natureza pode auxiliar no bem-estar. Além da natureza, a neurociência aplicada à arquitetura pode utilizar de técnicas que usam formas, cores e iluminação.  “A influência positiva dos elementos naturais em nossas sensações e emoções é um tema constantemente estudado para auxiliar nos tratamentos desses transtornos”, reitera.

Para a especialista, quanto mais os profissionais de arquitetura estudarem para quem estão projetando, com questionamentos como “quem são essas pessoas”, “do que elas sofrem” e “quais são as queixas e sintomas que elas têm”, mais será possível entender o que pode ser feito no ambiente para auxiliá-las numa melhoria. A especialista defende que projetos com neurociência aplicada à arquitetura possuem benefícios consideráveis, ante aos que não optam pela técnica.  Segundo Gabi, os ganhos são tanto para clientes, como para os profissionais.

“Enquanto os clientes se beneficiam de um projeto pensado para a fim de solucionar as suas questões pessoais e psicológicas, com elementos que impactem positivamente suas emoções e bem-estar, o arquiteto terá um briefing mais assertivo. Isso, consequentemente, reduzirá o número de revisões e readequações e, mais que isso, ele terá a satisfação de entregar àquela pessoa um projeto do qual ela se sente pertencente, incluída e abraçada a todo o momento, algo significativamente importante para a manutenção da saúde mental.”

Conceito se estende ao ambiente de trabalho nas empresas

A arquiteta afirma que o conceito se expande no âmbito corporativo, os espaços de uma empresa têm o poder de interferir tanto na saúde mental, como física dos colaboradores. A arquiteta ressalta que essa abordagem se estende ao ambiente corporativo, onde os espaços de uma empresa têm o poder de influenciar tanto a saúde mental quanto a saúde física dos colaboradores.

Através de aspectos como ergonomia, iluminação adequada e interação social, a neurociência aplicada à arquitetura pode melhorar sintomas de ansiedade, depressão e insônia, além de utilizar elementos naturais e técnicas que promovam emoções positivas. Gabi defende que um exercício importante a se fazer é refletir sobre como os lugares ocupados podem interferir na saúde mental.

“Seja a partir da ergonomia que utilizam no seu mobiliário, na iluminação correta que pode auxiliar no ciclo circadiano – que é a variação nas funções biológicas de diversos seres vivos, repetidas regularmente ao longo de 24 horas – e até na interação social desses seres.”

Para Priscilla, além de ações de bem-estar mental e apoio psicológico aos colaboradores, ambos consideravelmente importantes para o momento atual, as empresas deveriam investir na incorporação de intervenções em suas dependências físicas.

“Quando falamos em desafios relacionados a problemas comportamentais e mentais dos colaboradores, que são pessoas únicas e diversas, devemos pensar que tanto as ações que envolvam a prevenção psicológica, quanto as intervenções nos ambientes físicos, têm seu peso e importância.”

Priscilla complementa dizendo que o ambiente físico, no entanto, não é capaz de resolver todos os problemas e questões de comportamento humano. “Existem infinitas variáveis que definem nosso comportamento, e o ambiente é apenas uma delas.” E finaliza explicando que na prevenção de sintomas psicológicos, a neuroarquitetura pode agir de forma complementar.

“É importante termos ciência que, apesar da importância do ambiente físico, ele não é capaz de sanar todas as questões do comportamento humano. Caso o indivíduo apresente quaisquer sintomas de ansiedade, estresse excessivo ou depressão, é importante buscar, o quanto antes, o apoio de um especialista que poderá auxiliá-lo no direcionamento para os melhores tratamentos.”

Projetos com uso da neuroarquitetura criam espaços mais saudáveis para se viver

Estudos conduzidos por arquitetos, neurocientistas e psicólogos têm revelado que o ambiente físico exerce um impacto significativo no cérebro e no comportamento das pessoas. A neurociência aplicada à arquitetura estuda a relação da arquitetura e bem-estar de quem habita os ambientes ao aplicar conceitos da neurociência em seu design. Como os ambientes em que vivemos impacta na nossa saúde física e mental, é possível criar projetos inteligentes que elevam a qualidade de vida de quem os ocupa.

Segundo a especialista, a “neuroarquitetura”, está abrindo novas possibilidades para a criação de ambientes que priorizam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Com base em pesquisas que comprovam a influência do ambiente na mente humana, profissionais da arquitetura, urbanismo e design estão adotando uma abordagem mais focada no bem-estar das pessoas. Ao integrar conhecimentos multidisciplinares, estão construindo espaços que promovem uma experiência positiva e contribuem para uma sociedade mais saudável.

Através dessas informações, profissionais estão conseguindo projetar espaços mais eficientes, levando em consideração não apenas aspectos técnicos e regulamentares, mas também elementos subjetivos, como emoção, felicidade e bem-estar. “Ao avançar da neurociência, podemos medir e compreender como formas, cores e escalas influenciam as percepções humanas”, explica a arquiteta Priscilla Bencke.

A arquiteta ressalta que ao colocar o ser humano como centro do processo de projeto, os arquitetos e urbanistas podem criar ambientes que proporcionam uma experiência positiva para seus usuários. “Essa abordagem estratégica impacta diretamente no bem-estar das pessoas, tornando os espaços mais adequados e adaptados às necessidades individuais”, afirma.

Durante a fase inicial de qualquer projeto, o diagnóstico dos ambientes desempenha um papel fundamental. Compreender quem será o usuário do espaço, desenvolvendo empatia e considerando suas necessidades e experiências ideais, permite que os profissionais tomem decisões embasadas em argumentos sólidos. “Ao humanizar a profissão e priorizar o bem-estar das pessoas, os arquitetos e urbanistas contribuem para uma sociedade mais saudável e com maior qualidade de vida”, pondera Priscilla.

As especialistas concordam que quanto mais os profissionais de arquitetura estudarem e compreenderem para quem estão projetando, considerando as necessidades e sintomas das pessoas, mais poderão criar ambientes que auxiliem na melhoria da saúde mental.

“Os projetos que aplicam a neurociência à arquitetura oferecem benefícios significativos para os clientes, proporcionando soluções personalizadas que impactam positivamente suas emoções e bem-estar”, disse Priscilla. “Ao mesmo tempo, os arquitetos se beneficiam ao ter um briefing mais preciso, reduzindo revisões e readequações, e a satisfação de entregar projetos que promovem um senso de pertencimento e inclusão”, completa Gabi.

Agenda Positiva

Aula gratuita sobre neuroarquitetura no Setembro Amarelo

Criado em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, o Setembro Amarelo é uma campanha nacional que integra as ações globais de prevenção ao suicídio, ato que, entre outros fatores mentais e comportamentais, pode ser causado por transtornos psicológicos.

A campanha chama a atenção das instituições, autoridades e, principalmente, da sociedade civil para questões como ansiedade — distúrbio o qual o Brasil é o país com maior prevalência no mundo (9,3%), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) — insônia e depressão. Ainda de acordo com a Organização, o país também é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalente a 5,8% da população, atrás dos Estados Unidos, com 5,9%. O problema afeta 4,4% da população mundial.

A Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura (NEUROARQ® Academy) realizará uma aula gratuita na quarta-feira, 13 de setembro, das 12h às 13h30. Esta é a segunda aula da série “O Glossário”, que visa elucidar como arquitetos e designers podem estudar a neurociência aplicada `arquitetura de forma mais leve e assertiva. A aula será transmitida ao vivo pelo canal oficial da Academia no YouTube.

As fundadoras da NEUROARQ® Academy, as arquitetas Priscilla Bencke e Gabi Sartori, conduzirão a aula. Elas vão explorar como os profissionais podem incluir os estudos da neurociência como argumentos para comprovaro impacto dos ambientes no bem-estar das pessoas, de forma simples e direta.

Os tópicos da aula incluirão:

– A influência da neurociência na arquitetura atual.

– Benefícios concretos da integração da neurociência na prática profissional.

– Técnicas inovadoras para melhorar o aprendizado e a aplicação no dia a dia.

– Como abordar a neuroarquitetura de forma descomplicada.

Os profissionais que desejam participar desta aula, bem como receber mais informações, basta se inscrever no site.

São Paulo se prepara para o Neuroarq Day Summit 2023

A cidade de São Paulo se prepara para receber o NEUROARQ®️ DAY Summit 2023, evento reconhecido como a maior conferência de neuroarquitetura da América Latina. Marcado para os dias 20 e 21 de outubro, no Centro de Inovação State, localizado na Zona Oeste da capital paulista, o Summit projeta receber cerca de 500 participantes, entre profissionais, estudantes e autoridades da arquitetura, urbanismo e design, e promete ser um marco multidisciplinar no calendário de eventos da área.

As idealizadoras do evento, arquitetas Gabi Sartori e Priscilla Bencke, fundadoras da Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura (NEUROARQ® Academy), ressaltam a proposta inovadora do Summit.

“Mais do que um simples evento, o NEUROARQ®️ DAY é uma verdadeira jornada que propõe ir além dos conceitos tradicionais da neuroarquitetura. Nosso objetivo é proporcionar uma experiência transformadora, que expanda horizontes e revolucione a maneira como os profissionais percebem e interagem com os espaços.”

Sob o tema “Além da Neuroarquitetura“, o evento se destaca por sua abordagem multidisciplinar, oferecendo aos participantes a chance de dialogar com neurocientistas, designers de interiores, renomados arquitetos e outros profissionais visionários do setor.

A programação do Summit contará com três arenas simultâneas, projetadas para aprofundar os conhecimentos em neuroarquitetura. “Será uma imersão em palestras, workshops e atividades interativas que proporcionarão insights e aprendizados únicos”, destaca Gabi Sartori.

Priscilla Bencke complementa: “A oportunidade de networking será um dos pontos altos do evento. A troca de experiências e a construção de uma rede de contatos sólida podem trazer benefícios inestimáveis para os projetos futuros dos participantes.”

O elenco de palestrantes é outro grande atrativo. O neurocientista canadense Colin Ellard, referência mundial em design urbano e psicologia experimental, é uma das presenças confirmadas. Ele é autor do aclamado livro “Places of the Heart: The Psychogeography of Everyday Life”.

No cenário nacional, destaque para nomes como Arthur H. Danila, Cinara Soares, Ligia Zotini, Mariah Klüsener Pinheiro e Juliana Jaboinski, que trarão suas expertises e novidades em suas respectivas áreas. Para mais informações, programação completa e inscrições, acesse: www.neuro.arq.br/neuroarqdaysummit2023

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