Durante o inverno, a maioria das pessoas se preocupa em tomando todos os cuidados contra gripes e resfriados. Mas esse pode não ser o grande vilão dessa época do ano. Em estudo publicado pelo InCor (São Paulo) foi identificado que, em mais de 5 mil vítimas de infarto agudo do miocárdio, a mortalidade era 30% maior nos meses de inverno – ou até 44% maior, se considerados apenas os pacientes com mais de 75 anos de idade.
Pesquisadores da Unifesp, estudando quase 200 mil internações por insuficiência cardíaca congestiva no município de São Paulo, observaram que o pico de ocorrências está nos meses de junho, julho e agosto – sendo 20% superior às hospitalizações no auge do verão. Para diminuir esses números, é de extrema importância que ao notar os primeiros sintomas o paciente procure um pronto-socorro para atendimento imediato por profissionais capacitados.
Segundo Luiz Velloso, cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, os riscos de problemas cardiovasculares aumentam no inverno porque, com a queda da temperatura, diversos hormônios que atuam sobre o sistema circulatório podem apresentar aumento de atividade pela simples exposição do corpo ao frio intenso. “O resultado dessas alterações metabólicas é a contração das artérias, que leva ao aumento da pressão arterial e da frequência e intensidade das contrações cardíacas, sobrecarregando ainda mais o coração e o aparelho circulatório”, explica o médico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 17,5 milhões de pessoas morrem todos os anos vítimas de doenças cardiovasculares. A queda de temperatura, comum nessa época do ano, pode desencadear alguns problemas para o coração. De acordo com especialistas, o risco de infarto no inverno aumenta em 30%, principalmente em pessoas mais velhas e com doenças coronarianas.
Sintomas do infarto
O infarto do miocárdio, também conhecido como ataque do coração, é decorrência do entupimento de uma artéria. Isso acontece devido ao acúmulo de gordura que se deposita na parede da artéria do coração, dificultando a circulação sanguínea e facilitando a formação de coágulo que pode bloquear a passagem do sangue. De acordo com Marcelo Cantarelli, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencionista (SBCI), o aumento dos casos de infarto durante o inverno está associado ao fenômeno de vasoconstrição. “Para não perder calor, os vasos se contraem, mantendo assim a circulação sanguínea na parte central do corpo, que tem uma sobrecarga no coração e o faz trabalhar com mais força para atender as necessidades cardíacas”, explica.
Alguns dos sintomas do infarto são visíveis, no entanto é preciso ficar atento ao grande desconforto do infarto, que é causado por uma intensa dor no centro do peito. Outros indícios de que o paciente pode estar sofrendo um infarto podem estar relacionados a dor na mandíbula, pescoço, ombros e braços, principalmente o esquerdo, sensação de desmaio, suor excessivo, naúsea e vômito e falta de ar. Dor acima do umbigo é sinal de perigo. Para tranquilizar a vítima que apresenta esses sintomas é necessário procurar pela ajuda médica. Enquanto a mesma não vem, é preciso agir o mais rápido possível como: tranquilizar a vítima, não dar nada para comer ou beber, evitar a ingestão de remédios e estar verificando sempre a pulsação/respiração da vítima.
Ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, o infarto agudo do miocárdio pode se apresentar com manifestações clínicas consideravelmente diferentes do quadro clássico que todos conhecem, como dor intensa na face anterior do tórax e braços, náuseas, suor frio e dificuldade para respirar. Muitos quadros apresentam sintomas distintos e, por este motivo, a atitude mais prudente é que todo paciente com desconforto ou dor no tórax de início súbito e sem causa evidente, seja levado imediatamente ao pronto-socorro e examinado como um potencial portador de infarto, até que este diagnóstico seja descartado – mediante avaliação do médico socorrista, que analisará um eletrocardiograma e até exames laboratoriais.
Corra para o pronto socorro
O cardiologista explica que procurar o pronto-socorro assim que identificar os primeiros sintomas pode ser decisivo para o quadro. “O infarto é causado pela obstrução aguda de uma das artérias coronárias, ou seja, o paciente sente dor no tórax enquanto o músculo de seu coração vai necrosando progressivamente. A perda de grandes quantidades desse músculo pode ser fatal, ou ter consequências dramáticas sobre a qualidade de vida do indivíduo. Quanto mais precoce o início do atendimento médico, maior a massa de músculo de seu coração que pode ser salva da necrose. Daí a importância do atendimento o mais rápido possível.”
No pronto-socorro, uma vez identificado o infarto agudo do miocárdio, a prioridade passa a ser a desobstrução imediata da artéria coronária que está causando todo o problema. Na Rede de Hospitais São Camilo, este tratamento é realizado mediante um cateterismo cardíaco de emergência, que permite visualizar a artéria e desobstruí-la com rapidez e segurança, no procedimento chamado de angioplastia primária.
Segundo Velloso, no caso do Pronto-Socorro do Hospital São Camilo, a triagem dos pacientes pré-atendimento médico é feita por enfermeiros capacitados por um rigoroso protocolo de atendimento à dor torácica, que traz segurança e bons resultados aos casos de infarto. “Os socorristas dos nossos hospitais são treinados para diagnosticar e iniciar o tratamento do infarto de imediato, antes mesmo da avaliação por um especialista em cardiologia, evitando perda de tempo em uma situação em que cada minuto é precioso.”
Campanha Coração Alerta
Para alertar sobre esses e outros problemas, a Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencionista (SBCI) desenvolveu a Campanha Coração Alerta, que tem por objetivo reduzir o número de mortes por infarto. “Todos devem ficar atentos com as dores para evitar uma suficiência cardíaca ou até mesmo uma morte súbita. “As maiores vítimas do infarto costumam ser fumantes, hipertensos, diabéticos, pessoas com altos níveis de colesterol ou com antecedentes de familiares que tenham sofrido infarto antes dos 55 anos”, explica Hélio Castello, coordenador da campanha.
Para prevenir-se dos males dos problemas cardiológicos, Dr. Hélio sugere que as pessoas visitem seus cardiologistas para uma avaliação criteriosa, ajuste o medicamento e, caso sejam liberados, mantenham a prática regular de exercícios físicos e evitem sair desagasalhadas para prática dos mesmos no período com temperaturas mais baixas. “Os cuidados básicos para não sofrer com as doenças cardiorrespiratórias são: fazer check-up periódico, manter alimentação balanceada, controlar a pressão arterial, glicose, colesterol e peso”, afirma o especialista.
O cirurgião cardiovascular José Lima Oliveira Júnior, que atua em São Paulo,diz que quanto está muito frio, o organismo tem que se adaptar para manter a atividade metabólica do corpo. A tendência, principalmente nas primeiras horas da manhã quando o frio é mais intenso, é que os níveis hormonais estejam mais altos e a viscosidade do sangue fique diferente”, explica.
Segundo ele, uma vez exposto ao frio e não protegido de forma adequada, a sua temperatura corporal vai caindo. A probabilidade de se ter uma desorganização da atividade do coração é muito grande podendo levar a uma arritmia, parada cardiorrespiratória e, consequentemente, até uma morte súbita”, completa.
O cirurgião cita alguns sintomas que devem servir de alerta. “Em casos de aperto ou dor intensa no peito, como se houvesse uma compressão no tórax, acompanhada de sudorese fria, devesse procurar uma ajuda médica urgente”, alerta.
Embora as doenças cardiovasculares acometam mais os homens do que as mulheres, nos últimos 10 anos o número de casos e a gravidade das doenças cardiovasculares aumentou drasticamente na população feminina. “A mulher está se expondo a fatores de risco que antes era exclusivo do sexo masculino. Elas fumam e bebem mais, tem uma vida exaustiva, isso, entre outros fatores, as torna mais suscetíveis”, diz.
P especialista orienta e dá algumas dicas para proteger a saúde do coração nesse período:
– Em dias mais frios, esteja sempre bem agasalhado, principalmente se tem mais de 60 anos;
– Se é diabético ou tem pressão alta, evite sair em dias muito frios, principalmente quando estiver em ambientes aquecidos;
– Se tem alguma doença no coração, proteja-se, usando luvas e cubra o rosto quando a temperatura estiver abaixo de 15 graus;
– Se tem angina, converse com o seu médico antes de sair em dias de frio;
– Não deixe de tomar a vacina da gripe. Ela ajuda a prevenir infarto.
– Ao praticar exercícios, redobre o consumo de água e se alongue por mais tempo
– Evite excessos no consumo de bebidas
Mitos e verdades do infarto
• Infarto ocorre apenas em quem fuma? – MITO. Porém vale salientar que os fumantes têm muito mais chance de desenvolver esta doença;
• Quem teve um infarto fica incapacitado para toda a vida? – MITO. Atualmente existem tratamentos eficazes para se propiciar uma boa qualidade de vida para estes pacientes, porém é importante que os cuidados iniciais sejam tomados muito rapidamente, pois “tempo é vida”;
• As vítimas de infarto podem ajudar a si mesmas tossindo com força repetidas vezes? – VERDADE. Basta inspirar antes de tossir profundamente, como se fosse expelir catarro do peito e repetir a sequência inspirar ou tossir a cada dois segundos, até que chegue o socorro ou o coração volte a funcionar normalmente;
• A inspiração profunda leva oxigênio aos pulmões e a tosse contrai o coração, fazendo com que o sangue circule? – VERDADE. A pressão da contramão do coração, também o ajuda a retomar o ritmo normal;
• O melhor tratamento para o infarto é o cateterismo cardíaco seguido de angioplastia? – VERDADE. Pois deve ser realizado nas primeiras horas e os índices de sucesso podem ser maiores que 90%.
Da Redação, com assessorias