Tontura nem sempre é sinal de labirintite

No Dia Internacional da Tontura (22 de abril), especialistas explicam as causas desse indesejável sintoma. Em 40% dos casos, pode ser por outras doenças

Tontura deve ser investigada por otorrino
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Tontura esporádica em geral tem causa simples, imediata e não representa problema mais sério. Quando uma pessoa termina de se exercitar na esteira, por exemplo, e volta a pisar no chão, é normal sentir um pouco de falta de equilíbrio. Neste caso não há motivos para se preocupar. Outra situação que costuma provocar tontura é a pressão baixa. Isso acontece porque falta irrigação no cérebro, e não por labirintite.

universitária Luiza Braz, de 21 anos, costuma ser atingida por tontura por conta dessas duas razões. Ela mantém uma regrada rotina de exercícios e alimentação todos os dias. No entanto, dentre corridas pela orla do Rio de Janeiro e práticas de exercícios funcionais, sem deixar o cuidado alimentar de lado, ela ainda se queixa de momentos de tontura.

No meu caso as tonturas estão ligadas à pressão baixa. Sempre esteve entre nove por seis, dez por seis. Antes de eu fazer a cirurgia bariátrica – quando emagreci 40 quilos -, minha pressão já era baixa. Geralmente ela cai no calor intenso ou quando estou muito cansada e isso causa a tontura. Acontece até mesmo, às vezes, ao me levantar. Minha visão escurece e me obriga a me segurar até a tontura passar”, explica.

Em 40% dos casos não é labirintite

É preciso desmitificar a ideia de que distúrbios de equilíbrio como a tontura e a vertigem, bem como a sensação de desmaio, estejam necessariamente associados à labirintite. Qualquer distúrbio no labirinto pode trazer como sintoma uma tontura, e não necessariamente esse distúrbio é uma labirintite, que é uma infecção no labirinto. Existem doenças de outras naturezas que acabam sendo mascaradas por essa inverdade frequentemente propagada, o que retarda perigosamente o diagnóstico e o tratamento.

tontura de origem vestibular – que provoca a labirintite – ocorre em 8,3% da população brasileira, aponta o Setor de Otoneurologia do Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Cerca de 50% dos casos da tontura estão relacionados a doenças de ouvido, mas outros 40% estão ligados a doenças de diferentes origens.

Segundo estudo epidemiológico populacional com questionários de campo aplicados por meio de entrevistas em domicílio na cidade de São Paulo, em 2013, foi estabelecido que a prevalência de tontura é de 42% .

Entre os fatores que podem causar a tontura estão a enxaqueca, vertigem postural paroxística benigna, doença de Menière, diabetes, hipertensão, hipoglicemia, colesterol e função tireoidiana descontrolada, consumo excessivo de cafeína e açúcar, e a realização de jejum prolongado.

Campanha ‘Pare de falar de labirintite’

Por conta disso, o Departamento de Otoneurologia da ABORL (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia) lançou este ano a campanha nacional “Pare de falar de Laririntite”, em comemoração ao Dia Internacional da Tontura (22 de abril). A data é uma homenagem ao nascimento de Robert Bárány, único médico otorrinolaringologista a ganhar o Prêmio Nobel. O mérito foi por um estudo relacionado ao funcionamento do labirinto e do equilíbrio corporal.

O objetivo da Semana é desmitificar a ideia de que sintomas como tontura ou vertigem, distúrbio do equilíbrio, sensação de desmaio estejam ligados à labirintite. “A campanha propõe-se a divulgar e discutir o fato de a tontura ser um sintoma que pode estar ligado a diversas doenças – a labirintite é uma delas e rara nos dias de hoje”, afirma Rita de Cássia Cassou Guimarães, otorrinolaringologista, otoneurologista e mestre em clínica cirúrgica pela UFPR.

Para isso, ao longo desta última semana, médicos otoneurologistas brasileiros realizaram eventos relacionados a tontura e outros sintomas ligados às doenças do labirinto, tanto para profissionais otorrinolaringologistas e médicos de outras especialidades e para o público leigo também.

É normal ter momentos de tontura

Segundo Anna Paula Batista de Ávila Pires, otorrinolaringologista e especialista em Otoneurologia, do Hospital Felício Rocho (MG), a palavra labirintite é usada tanto pela população quanto por médicos de maneira errada. “Na verdade, qualquer tontura ou sintoma de tontura são definidos como labirintite e o que queremos esclarecer é que nem sempre uma tontura trata-se de uma labirintite”, explica.

Ainda de acordo com a médica, a labirintite ao pé da letra significa uma inflamação ou uma infecção do labirinto. Parte do sistema vestibular localizado no ouvido interno de nossos corpos, o labirinto é um órgão sensorial que nos fornece noções de movimento. “Sendo assim, todo o movimento que a gente faz, esse labirinto processa e manda essa informação de movimento ao cérebro para manter o nosso equilíbrio.”

  • Ao contrário do que muitos pacientes imaginam, a tontura nem sempre está relacionada à labirintite. “A labirintite era bem mais frequente no passado, pela elevada incidência e prevalência de infecção de ouvido, cujas toxinas muitas vezes progrediam e acometiam o labirinto. Hoje em dia, com a evolução em pesquisas científicas e o surgimento dos antibióticos de última geração, este quadro clínico é bem menos visto na prática clínica corriqueira. Portanto, o termo mais correto a ser usado na atual realidade é Labirintopatia”, esclarece  a médica otorrinolaringologista Jeanne Oiticica.

Com idosos a atenção deve ser redobrada

Tontura em idosos é mais perigosa

Mais frequente em idosos, a tontura preocupa os especialistas, principalmente por elevar, significantemente, o risco de quedas, evento mais comum de mortes em pessoas nesta faixa etária.

Como é o caso de Maria da Conceição, que aos 72 anos sofreu uma queda por conta de uma tontura repentina e fraturou a bacia. Ela conta que isso a tornou bastante receosa com relação ao simples ato de se levantar de uma cadeira.

Gosto sempre de andar acompanhada para facilitar se or um acaso surgir uma tontura. Depois que me machuquei tomo cuidados como levantar com calma, cuidado onde piso”, conta a aposentada, cautelosa.

Maria ainda alerta que a idade a fez mais frágil porque, segundo ela, nunca foi raro ter tonturas, mas também nunca se preocupou com possíveis quedas porque isso não representava grande perigo. Um fator que muda para todos os idosos: “Os ossos enfraquecem, é natural. A gente fica mais frágil e aí qualquer acidente que antes não tinha problema pode virar algo grave.”

Sintomas associados podem indicar AVC

De acordo com Jeanne Oiticica, que é especialista em Otoneurologia (que trata zumbido, tontura e surdez), a tontura também é mais preocupante a depender dos sintomas associados. A presença de dificuldade na marcha, falta de coordenação e desequilíbrio, dificuldade para falar ou escutar, formigamento, dormência ou paralisia na face (em geral de um lado só), escurecimento da visão ou visão borrada pode indicar comprometimento do sistema nervoso central. No caso de dor de cabeça súbita acompanhada de náuseas, vômitos e vertigem, o derrame ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) precisa necessariamente ser descartado.

tontura deve sempre ser investigada. Pode ser uma coisa simples e de fácil resolução. Entretanto, independentemente do motivo, quanto mais cedo se procura ajuda, maiores serão as chances de recuperação rápida, e menor será a probabilidade de sequelas, do problema se tornar crônico, persistente e duradouro”, alerta Dra Jeanne.

Conheça as causas mais comuns

  • Enxaqueca
  • Diabetes
  • Doenças da tireóide
  • Colesterol alto
  • Hipoglicemia (falta de açúcar)
  • Consumo excessivo de cafeína
  • Consumo excessivo de açúcar
  • Vertigem postural paroxística benigna
  • Doença de Menière
  • Infecções de ouvido ou do nervo do labirinto
  • Osteoporose
  • TPM (tensão Pré-menstrual)
  • Climatério
  • AVC (acidente vascular cerebral)
  • Jejum prolongado

Hábitos saudáveis ajudam a prevenir

Alguns hábitos do dia a dia podem contribuir para evitar o aparecimento da tontura, tais como:

alimentação saudável,

não fumar,

evitar álcool,

fazer atividade física regularmente,

evitar privação do sono ou despertares por meio de uma boa higiene do sono (usar roupas confortáveis, ler, ouvir música relaxante antes de dormir, adotar travesseiro e colchão confortáveis),

não usar drogas,

ingerir bastante água,

evitar vícios posturais,

não usar medicamentos sem prescrição médica,

não fazer jejum prolongado,

evitar alimentos industrializados que contêm excesso de sal, açúcar, gorduras trans e carboidratos de rápida absorção

fazer check-up regularmente.

 * Reportagem do estagiário Andrei Felipe, estudante do 6º período de Jornalismo da Facha, sob a supervisão da jornalista Rosayne Macedo, editora de ViDA & Ação

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