As lembranças contam a jornada que percorremos para nos tornarmos quem somos hoje. Perder essas memórias é impensável, mas é a realidade de quase 44 milhões de pessoas que vivem com Alzheimer ao redor do mundo. No Brasil, pelo menos 7,1% das pessoas acima de 65 anos apresentam algum tipo de demência, sendo a doença de Alzheimer responsável por mais de 50% desses casos. O motivo para esse aumento é simples: a população brasileira está vivendo mais – e como um dos principais fatores de risco para o Alzheimer é a idade, a doença está cada vez mais comum. Mesmo assim, muitos ainda vivem sem diagnóstico ou tratamento.
“Problemas de esquecimento, especialmente na população idosa, necessitam de uma avaliação médica cuidadosa que permita o diagnóstico e tratamento precoces, garantindo ao paciente melhor qualidade de vida”, pontua o neurologista Antonio Eduardo Damin, especialista em Neurologia Cognitiva e Comportamental pelo HCFMUSP.
Em geral, a descoberta do Alzheimer traz grande impacto para a família. Mas, com os tratamentos disponíveis, é possível melhorar os sintomas, oferecendo uma rotina mais saudável ao paciente. “É importante buscar informações que nos motivem a seguir em frente, levando a rotina com mais leveza”, diz Fernando Aguzzoli, autor do livro Quem, eu? Uma avó. Um neto. Uma Lição de vida, que conta sua trajetória como cuidador (e melhor amigo) de sua avó diagnosticada com Alzheimer.
Os desafios do esquecimento
Quando falamos em Alzheimer, a dica mais importante é cuidar com amor. Manter a paciência e a leveza no dia a dia é essencial para uma boa resposta do idoso aos desafios diários. “Sempre digo que o bom humor é capaz de alcançar a nossa alma, amenizando o sofrimento. No meu caso, vi que era possível criar cenários mais favoráveis e divertidos para a minha avó. Isso, sem dúvidas, fez toda a diferença para ela e para todos nós”, pontua Aguzzoli.
“A doença de Alzheimer impacta não só o paciente, mas também as pessoas ao seu redor. Por isso, manter o bem-estar físico e psicológico de toda a família é essencial para que o paciente seja bem cuidado”, aponta Damin. “Nas fases avançadas da doença, o idoso precisa de atenção integral. Portanto, é importante que a família se estruture para não deixar que uma só pessoa se comprometa, pois, sobrecarregado, o cuidador não poderá dar o seu melhor”, orienta Aguzzoli.
Ainda assim, muitas vezes, pode ser difícil lidar com as frustrações do idoso pelas suas limitações. “O tratamento multidisciplinar pode amenizá-las, trazendo melhoras de memória e linguagem, diminuindo, ainda, as dificuldades físicas e alterações de comportamento. Essa abordagem mais ampla oferece uma melhora global da saúde, evitando o estresse do cuidador”, indica Damin. Segundo ele, além do acompanhamento de um especialista – em geral neurologista, geriatra ou psiquiatra – é indicado o cuidado de profissionais como o neuropsicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.
A ideia de que o idoso um dia se esquecerá de quem são os familiares também preocupa. “Nós só entendemos a dimensão da doença quando o esquecimento das pessoas amadas se faz presente. É um baque tremendo e a gente pensa que tudo acabou. Mas que nada! Depois a gente descobre que eles se esquecerão da gente todos os dias, mas que o amor deles por nós nunca será apagado”, finaliza Aguzzoli.
Confira algumas dicas para o dia a dia
Dificuldades de comunicação e perguntas repetitivas fazem parte da doença, então tenha paciência. Fale com a pessoa usando uma linguagem simples, mas não o trate como uma criança. Não tente ter razão ao falar com ele.
Se ele estiver agitado, não discuta. Afaste-se e tente novamente mais tarde. Muitas vezes, o paciente pode se recusar a fazer algo porque não entende o que você quer ou simplesmente tem medo.
No ambiente doméstico, mantenha o caminho livre de objetos que podem causar quedas. Retire os tapetes do caminho e evite toalhas de mesa e banho com muitas estampas. À noite, deixe o caminho até o banheiro iluminado.
Segurança é essencial. Em casa, bloqueie o acesso às escadas e a utensílios e substâncias perigosas. Mantenha as portas para o exterior trancadas e deixe o paciente com pulseira de identificação, com nome e telefone.
Na hora de comer, o paciente pode ter dificuldade motora ou para reconhecer o alimento. Dê preferência para os pratos que ele gosta e não apresse a refeição. Comunique o médico em caso de perda de peso ou dificuldade em deglutir.
Para motivá-lo, deixe-o participar de atividades de acordo com suas habilidades atuais. Peça dicas do médico sobre terapias complementares. Em casa, incentive-o a fazer coisas simples, como dobrar roupas e guardar louça.
Não se esqueça de você. O bom humor vai ajudá-lo a cuidar do paciente da melhor maneira, mas também trará menos estresse ao seu dia a dia. Procure grupos de apoio e reserve um tempo para descansar e fazer o que gosta.
Serviço
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