A proibição, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do uso de fenol em procedimentos estéticos e de saúde continua dando o que falar. Depois da reação do Conselho Federal de Medicina (CFM), pedindo à Anvisa que reveja a decisão e permita que apenas médicas realizem procedimentos com esta substância, agora foi a vez da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Nesta quarta-feira (3), a entidade se posicionou, por intermédio do seu presidente, Heitor de Sá Gonçalves, a respeito dos esclarecimentos direcionados à Anvisa, após questionar o comércio e utilização do fenol pela classe médica. No documento, a SBD tenta exigir que a Anvisa suspenda a decisão – e ainda dá prazo máximo de uma semana.

“O documento visa a retificação da resolução 2.384/2024, afastando a proibição aos profissionais médicos quanto à aquisição, prescrição, uso e aplicação da substância fenol para o tratamento de doenças ou realização de procedimentos estéticos/dermatológicos, em caráter emergencial, no prazo máximo de sete dias contados do envio do documento, em 3 de julho”, diz a entidade, em nota divulgada à imprensa.

SBD defende procedimentos estéticos em ambiente hospitalar

Também nesta semana, a SBD aproveitou o Dia do Hospital (2 de julho) para enfatizar as funções do médico dermatologista no ambiente hospitalar e alertar para a importância do diagnóstico, manejo e condução adequada desses pacientes.

De acordo com a entidade, alguns procedimentos estéticos também devem ser feitos em ambiente hospitalar, como é o caso do peeling de fenol. O procedimento, que caiu no gosto dos brasileiros nos ultimos tempos éindicado para tratar casos de envelhecimento facial severo, caracterizados por rugas profundas e textura da pele comprometida.

Por ser considerado um procedimento estético invasivo demanda extrema cautela, sendo essencial que seja conduzido, preferencialmente em ambiente hospitalar, com o paciente anestesiado e sob monitoramento cardíaco”, afirma a SBD.

A coordenadora do Departamento de Cosmiatria Dermatológica da SBD, Elisete Crocco, explica que o peeling de fenol faz uma necrose, ou seja, uma destruição tanto da epiderme, a camada mais superficial da pele, quanto da derme, a mais profunda.

Por existir uma troca completa de todas as estruturas da pele esse é considerado um peeling profundo. Apesar de consagrado desde a década de 50, com muita literatura científica, ele traz alguns riscos, já que o fenol é tóxico para o coração, para os rins e para o fígado”, destaca.

Segundo a especialista, antes do procedimento, o paciente precisa fazer uma série de exames. Já durante o peeling de fenol, é necessário que tenha monitoramento cardíaco constante,

A substância fenol em contato com a pele do indivíduo ele pode fazer algumas alterações no eletrocardiograma, podendo ter arritmias. Também é indicado uma indução venosa com soro para reduzir os impactos da substância no organismo”, explica,

O papel do médico dermatologista no ambiente hospitalar
O dermatologista é o médico especialista para avaliação e conduta das queixas de pele, cabelos e unhas. Heitor de Sá Gonçalves, presidente da SBD, descreve as situações que envolvem a atuação do dermatologista no hospital, como o diagnóstico e condução de doenças cutâneas em formas graves, como hanseníase e pênfigo (fogo selvagem).

Segundo ele, cabe também ao profissional dentro do ambiente hospitalar realizar o diagnóstico e a conduta de interconsultas a outros serviços, além do diagnóstico precoce e conduta de reações medicamentosas graves ocorridas dentro ou fora do hospital.

Complicações de pele mais comuns em pacientes internados

Uma das complicações e manifestações mais associadas a infecções no paciente que está internado é a candidíase cutânea, que provoca sintomas como vermelhidão e coceira, principalmente nas áreas de dobras do corpo.

Surge em pacientes que estão acamados, pacientes que são diabéticos, obesos, que estão utilizando antibióticos de largo espectro por via oral ou por via intravenosa. O tratamento deve ser feito não somente no local afetado como também através do uso sistêmico de antifúngicos”, explica o médico dermatologista Paulo Roberto Lima Machado, coordenador do departamento de doenças infecciosas e parasitárias da SBD.

Além dos problemas dermatológicos que podem surgir durante a hospitalização de um paciente, existem aquelas dermatoses que necessitam de internação para serem tratadas, como as doenças bolhosas, que se manifestam com o aparecimento de vesículas e/ou bolhas, podendo afetar a pele e as mucosas.

Há algumas indicações para a internação hospitalar no caso das doenças bolhosas: os pacientes com área extensa de acometimento da pele que necessitam de uma resposta terapêutica mais rápida, aqueles que possuem dificuldade importante para se alimentar ou desnutrição e aqueles com infecção bacteriana com maior risco de evoluírem para quadros graves, como infecção generalizada”, explica Oscar Cardoso Dimatos, coordenador do departamento de doenças bolhosas da SBD.

Outros fatores devem ser levados em consideração, como idade, sinais vitais (temperatura corporal, pulso, pressão arterial e frequência respiratória), estado geral, contexto social e presença de outras doenças

Outras doenças dermatológicas podem apresentar indicação para a realização de tratamento com o paciente internado em ambiente hospitalar. São indicações de internação:

  • herpes-zóster em pacientes que apresentam complicações ocular e/ou neurológica;
  • casos de erisipela com progressão rápida da vermelhidão;
  • ausência de melhora após 48 horas de antibioticoterapia via oral, com acometimento na face e em pacientes imunocomprometidos;
  • reações graves a medicamentos, os casos de eritrodermias (vermelhidão e descamação generalizados) graves, e
  • pacientes com psoríase, que podem necessitar de cuidados intensivos em algum momento do tratamento.

Em relação a todas essas doenças, ressalto que os dermatologistas são médicos preparados e capacitados para diagnosticá-las e tratá-las. Frequentemente, são necessárias avaliações de outras especialidades médicas e de outras profissões da saúde, que são os acompanhamentos multidisciplinar e multiprofissional”, explica Oscar.

Peeling de Fenol: Nota Técnica da Sociedade Brasileira de Dermatologia

Confira abaixo a nota técnica da Sociedade Brasileira de Dermatologia distribuída logo após a morte do paciente que se submeteu a um peeling de fenol:

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) reconhece que o peeling de fenol em toda a face é um procedimento estético que demanda extrema cautela, considerando sua natureza invasiva e agressiva. É essencial que seja conduzido por médicos dermatologistas habilitados, preferencialmente em ambiente hospitalar, com o paciente devidamente anestesiado e sob monitoramento cardíaco.

Este tipo de peeling é especialmente indicado para tratar casos de envelhecimento facial severo, caracterizados por rugas profundas e textura da pele consideravelmente comprometida. No entanto, é importante ressaltar que o procedimento apresenta riscos e tempo de recuperação prolongado, exigindo afastamento das atividades habituais por um período estendido.

Devido ao uso de um composto tóxico absorvido pela pele e, consequentemente, pela corrente sanguínea, o procedimento exige precauções rigorosas. É possível que ocorram complicações, como dor intensa, cicatrizes, alterações na coloração da pele, infecções e até mesmo problemas cardíacos imprevisíveis, independentemente da concentração, do método de aplicação e da profundidade atingida na pele.

Contudo, quando criteriosamente indicado e executado, os resultados obtidos são incomparáveis a outros métodos esfoliativos, proporcionando uma renovação intensa da pele, estimulando a produção de colágeno e reduzindo significativamente rugas e manchas.

É fundamental que, antes de se submeter a qualquer procedimento clínico ou cosmiátrico, o paciente busque a orientação de um dermatologista. Este profissional está capacitado para preparar a pele, avaliar adequadamente suas condições e indicar a melhor abordagem individualizada para cada caso, além de orientar sobre os cuidados necessários para evitar as possíveis complicações.

A SBD reitera seu compromisso com a saúde e a segurança da população, alertando que procedimentos estéticos devem ser realizados exclusivamente por médicos habilitados. Profissionais não qualificados podem desconhecer princípios básicos destes tratamentos.

Para mais informações sobre cuidados com a saúde da pele, cabelo e unhas, acesse www.sbd.org.br e siga @dermatologiasbd nas redes sociais.

Fonte: SBD

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