O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, de 53 anos, foi novamente hospitalizado por conta de problemas renais neste fim de semana. Paes foi internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, na manhã de sábado (3) e recebeu alta hospitalar na manhã deste domingo (4).

A internação foi realizada para dar “continuidade ao tratamento de uma crise renal, iniciado no dia 25 de maio”, informou a assessoria do prefeito. O médico Paulo Rodrigues, responsável pelo tratamento de Paes, informou que o estado de saúde dele era “bom e estável” no momento da internação.

No dia 25 de maio, quando também foi internado, a previsão era de que o prefeito teria que se submeter a uma intervenção para a remoção de cálculos renais – a popular operação para retirar pedras nos rins. Devido à nova internação, as agendas públicas dele no fim de semana foram canceladas. A assessoria de imprensa informou que ele retoma os compromissos na prefeitura nesta segunda-feira (5).

Problemas como os enfrentados pelo prefeito do Rio costumam ser comuns no outono e no inverno. Com a diminuição das temperaturas e a chegada do frio, alguns hábitos comuns nessa época podem ser prejudiciais para o bom funcionamento dos rins, conforme explicam especialistas.

“No frio, é comum sentirmos menos sede, então esquecemos de ingerir quantidades adequadas de água diariamente, o que pode levar a um quadro de desidratação do organismo e, consequentemente, ao surgimento de problemas renais como insuficiência e cálculos, popularmente conhecidos como pedras nos rins”, explica a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Falta de água, excesso de sal e ingestão de bebidas alcóolicas

Além da menor ingestão de água, no frio, é comum aumentarmos o consumo de alimentos calóricos, condimentados e processados para repor a energia que o organismo gasta para se manter aquecido. O problema é que muitos desses alimentos são ricos em sal.

“Os rins precisam fazer um grande esforço para filtrar o sal do sangue. Logo, ingerir grandes quantidades de sal, além de causar retenção de líquido, pode levar a sobrecarga dos rins, o que, a longo prazo, aumenta o risco de condições como doença renal e pedras nos rins. Além disso, o sal é a maior causa de hipertensão arterial, pois provoca estreitamento das arteríolas, com consequente elevação da pressão. E a hipertensão prolongada lesiona os rins e seus diversos vasos”, diz a médica.

Outro hábito recorrente no inverno é a ingestão de bebidas alcóolicas, que muitos consomem na tentativa de aquecer o corpo. Mas o álcool é tão prejudicial para os rins quanto o sal.

“Além de causar desidratação, o álcool, em grandes quantidades, pode causar alterações na função dos rins, tornando-os menos capazes de filtrar o sangue. O álcool também inibe o hormônio antidiurético, que regula a quantidade de água excretada, aumentando a diurese”, diz a Dra. Caroline, que acrescenta que estudos sugerem que o consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de doença renal crônica.

Recomendações para manter a saúde renal

Logo, para manter a saúde renal no frio, é importante restringir o consumo de bebidas alcóolicas e alimentos ricos em sal, além de ingerir quantidades adequadas de água.

“Apesar de sentirmos menos sede no frio, a hidratação deve ser a mesma em todas as épocas do ano para evitar problemas renais. Mas, com as baixas temperaturas, é interessante apostar em algumas estratégias para ajudar a manter o organismo hidratado, como consumir chás, sucos, sopas e frutas, verduras e legumes, embora nada substitua a ingestão de água”, afirma a nefrologista.

Além disso, controle o peso e a pressão arterial, evite o tabagismo, adote uma alimentação balanceada e, mesmo com o desânimo causado pelas baixas temperaturas, procure praticar exercícios físicos regularmente. “Sabendo que os benefícios cardiovasculares refletem diretamente na saúde renal, pode-se dizer que exercícios são benéficos para os rins”, destaca a médica.

Por fim, redobre a atenção com os sintomas característicos de problemas renais, como alterações na urina e nos hábitos miccionais, dores nas costas, inchaço no corpo, coceira e cansaço.

“Na dúvida, procure um nefrologista para passar por uma avaliação e receber um diagnóstico. E, mesmo sem apresentar sintomas, é interessante visitar o profissional regularmente para realizar um check-up e detectar precocemente qualquer tipo de doença renal”, completa a Dra. Caroline Reigada.

Chá de quebra pedra funciona?

Há milênios, os tratamentos medicinais com ervas fazem parte da cultura no cuidado com doenças, hoje coexistindo com os mais avançados recursos científicos e tecnológicos. Será que a validade desse antigo método de cura vale para tratar as crises renais?

Quem já passou perto de uma crise renal sabe que nessas horas vale qualquer indicação para fazer a dor passar e a vida voltar ao normal. Listada entre as piores dores existentes, o tema crise renal é, então, inundado de receitas caseiras, dicas, crendices e tratamentos naturais, como as infusões de ervas. A essa altura você já se lembrou do chá que é praticamente tradição para esses casos, ele mesmo, o chá de quebra-pedra.

Hoje, a Tamara Cunha (foto), médica Nefrologista na UFRJ e especialista em prevenção de cálculos renais na Clínica ERA Nefrologia, coloca na mesa explicações que nos fazem entender se o chá produzido a partir da erva Phyllanthus niruri vale ou não ser ingerido em situações de crises renais.

“Não”. É a resposta da especialista, de bate-pronto. E ela explica sua coerência médica: “Muitas pessoas consomem o chá durante uma crise, na expectativa de que o cálculo desça, ou que até se dissolva, resolvendo a crise. O fator preocupante é que o uso durante a crise pode retardar o tratamento médico necessário e acabar piorando a situação”.

Dra. Tamara pontua que esse atraso na busca por atendimento médico durante uma crise renal pode levar a um agravamento do quadro e até ao surgimento de complicações, como, por exemplo, uma forte infecção de urina associada à descida do cálculo renal. “Esse comportamento pode tornar o problema ainda mais complexo de contornar”, enfatiza a nefrologista.

Considerando que o surgimento de cálculos renais pode alcançar 1 a cada 10 brasileiros, é de se entender a relevância desse tipo de esclarecimento, no sentido de educar a população e acelerar a busca por tratamentos oficiais nessas situações.

Por isso, na visão da Dra. Tamara, cabe destacar que o uso desse chá mesmo em períodos fora de crise, com intenções profiláticas, já foi estudado cientificamente. “Experimentos mostraram uma discreta inibição ‘in vitro’ da produção de cristais, mas, isso não foi reproduzido de forma impactante entre humanos, de tal forma que nenhuma diretriz internacional de tratamento de cálculos renais recomenda o uso do chá de quebra-pedra como linha oficial de tratamento de prevenção”, assegura a especialista no assunto.

7 sinais na pele relacionados a problemas renais

Altamente importantes para o organismo, os rins são responsáveis pela regulação da pressão sanguínea, limpeza de subprodutos metabólicos, regulação do volume e composição do líquido extracelular, entre outras funções.

“Nesse sentido, um dano parcial ou total à estrutura e função dos rins gera também sinais clínicos na pele e no cabelo, já que o tecido cutâneo é o maior órgão do corpo e reflete problemas em órgãos internos”, diz a médica nefrologista Caroline Reigada. “Devemos sempre estar atentos a esses sinais para identificar problemas renais e iniciar o tratamento adequado”, acrescenta a médica.

Abaixo, os principais sintomas cutâneos de que algo não está certo com os rins:

Ressecamento: Essa é a manifestação dermatológica de maior ocorrência em pacientes com algum grau de disfunção renal. “Esse tipo de alteração acomete quase 80% dos casos. Os estudos relacionam direta e proporcionalmente a atrofia das glândulas sebáceas e a intensidade do ressecamento e do prurido no grupo de pacientes com doenças renais. Esse processo explica, pelo menos em parte, os altos índices de xerodermia e o grau variado de prurido apresentado nos pacientes com doença renal crônica. Condições comuns que causam insuficiência e falência renal, como a diabetes e hipertensão arterial podem contribuir para a piora desse quadro de ressecamento da pele”, diz a Dra. Caroline.

Palidez: Quase 60% dos pacientes renais apresentam palidez, sinal ligado à anemia e que é importante para o diagnóstico, pois aparece de maneira precoce. “Rins saudáveis produzem eritropoetina, um hormônio que estimula a medula a produzir o número apropriado de glóbulos vermelhos. Esses glóbulos distribuem o oxigênio aos órgãos vitais. Quando o rim está doente, pode não produzir esse hormônio de maneira eficiente, afetará a pele, que terá uma tonalidade pálida, que pode ser observada durante o exame atento no olho e nas regiões das palmas das mãos e dos pés”, explica a Dra. Caroline.

Coceira: O prurido (coceira), em 50% dos casos, indica a presença de uma doença sistêmica subjacente e deve ser sempre avaliado. “Pacientes com insuficiência renal crônica podem queixar-se de um prurido intenso nos estágios mais avançados da doença. Esse sintoma merece uma minuciosa investigação e no geral está associado ao ressecamento da pele e diminuição do suor. A radiação ultravioleta é indicada como uma boa opção terapêutica para efeito sistêmico mais duradouro. Uma das explicações é de que a fototerapia teria efeitos anti-inflamatórios e neuromoduladores, que melhorariam a sensação de prurido. Os hidratantes têm efeito apenas paliativo”, explica a médica.

Hiperpigmentação: Manchas que aparecem no corpo todo de forma difusa também estão relacionadas à insuficiência renal crônica. “Na doença, é esperado que pacientes tenham níveis elevados de uma molécula orgânica, a porfirina, que se acumulam no plasma e na pele. Essas proteínas absorvem a luz solar, ativando e excitando os melanócitos (células produtoras de pigmento), com liberação de radicais livres. Esses processos acarretam o surgimento da pigmentação castanho-amarelada na pele”, explica a Dra. Caroline.

Alopecia: A médica nefrologista esclarece que os cabelos dos pacientes com insuficiência renal são, em geral, secos, quebradiços e predispostos à queda. “Isso ocorre em função da atrofia das glândulas sebáceas típica da enfermidade e do acúmulo potencialmente tóxico de metabólitos nas células da raiz dos cabelos”, diz a médica.

Alterações Da Mucosa Oral: O ressecamento da mucosa oral também é um sintoma observado em 30% dos pacientes e é atribuído à respiração bucal e à desidratação. “A presença de inflamação e fissuras nos lábios e úlceras na região também são descritas, mas nenhuma dessas alterações é exclusiva da insuficiência renal, sendo possível a ocorrência de todas em situações de imunossupressão ou outras enfermidades sistêmicas crônicas”, afirma a Dra. Caroline Reigada.

Unhas meio a meio: A ocorrência das unhas meio a meio é um sintoma típico da insuficiência renal crônica, ocorrendo de 20% a 50% dos casos, quando metade da unha é branca e a outra metade é rosada ou vermelho-marrom.

A médica explica que o tratamento deve ser multidisciplinar, com a ajuda do nefrologista e do dermatologista, a fim de tratar as alterações cutâneas que também interferem no bem-estar no paciente.

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