“Saúde sexual é o estado de bem-estar físico, emocional, mental e social relacionado à sexualidade; não se refere à mera ausência de doenças, disfunções ou enfermidades”, define a Organização Mundial de Saúde (OMS). Neste sentido, o Portal ViDA & Ação aproveita a semana dedicada ao Dia dos Namorados para tratar de temas que envolvem a saúde sexual em mais um Especial Amor & Sexo. E a primeira matéria da série traz um assunto que ainda é tabu: a estética vaginal.
As mulheres estão cada vez mais preocupadas não somente com a aparência do seu corpo físico, mas também com suas partes íntimas. Ex-participante do reality show ‘Casamento ás cegas 2’, da Netflix, Vanessa Carvalho, de 33 anos, revelou recentemente que sofreu com o aumento do clitóris devido ao uso de anabolizantes, o que acabou afetando profundamente a sua vida sexual.
“Na época, eu estava usando oxandrolona (anabolizante) para ganhar massa muscular. Queria ficar gostosa, mas acabei me arrependendo no final (…) Eu tinha quase certeza que o que estava fazendo meu clitóris crescer eram os anabolizantes. Meu médico confirmou isso”, contou ela à ‘Quem’, revelando que chegou a ficar cinco meses sem manter relações sexuais por cinco meses por vergonha.
A preocupação com a saúde sexual – tanto de mulheres, quanto de homens e a população LGBTQIA+ – tem levado mais pessoas a buscar procedimentos estéticos na região íntima, como conta a dermatologista e tricologista Joana D`arc Diniz, diretora cientifica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, que mantém um centro de estética na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
Na maioria dos casos, são pacientes insatisfeitas com aspectos na área devido a fatores congênitos, pós-parto ou mesmo causados pelo envelhecimento. Sim, meninas e meninos, a vagina, naturalmente, também envelhece. E, como o restante do corpo, merece cuidados especiais.
“A hipertrofia (aumento) do clitóris com uso de hormônios anabolizantes nas mulheres jovens gera um incômodo estético muito grande. Mas não é só isso. O escurecimento da região íntima também envergonha mulheres, independentemente da idade. A flacidez de pele na região dos grandes lábios, que também independe da idade, e por aí vai”, destaca a médica.
Envelhecimento vaginal: o que fazer?
Joana explica que o envelhecimento gera a perda de fibras colágenas e elásticas na vagina. Segundo ela, é comum e natural que com o avanço dos anos haja alterações na pele, devido, principalmente, ao impacto da perda de colágeno e elastina.
” A pele que recobre as parte íntimas também sofre com tantas modificações frequentes inerentes ao decorrer do tempo. Ou seja, a vagina também envelhece assim como o restante do corpo e a mulher passa a apresentar alterações que comprometem principalmente a saúde íntima, não apenas a estética externada área intima”, destaca.
Os principais sintomas são afinamento da pele vaginal, flacidez, enrugamento dos grandes lábios, coloração mais opaca, afrouxamento e escurecimento da região íntima. Essa condição atinge inúmeras mulheres e até causa constrangimento para muitas delas na hora do sexo, o que é prejudicial porque traz consequências em várias esferas.
Ressecamento vaginal também incomoda
Mas além dos sinais aparentes e cutâneos, outro problema que acomete algumas mulheres durante o climatério e a menopausa é o ressecamento vaginal, consequência da queda hormonal, sobretudo o estrogênio, que gera atrofia das células responsáveis pela lubrificação da região.
“Pode haver diminuição da lubrificação na vagina, o que provoca secura e irritação local com a diminuição da proteção natural, tornando a mulher suscetível a contrair infecções vaginais e de urina, assim como desconforto na relação sexual. Esse problema incomoda bastante e compromete consideravelmente a autoestima delas, pois dificulta a vida sexual”, afirma a especialista.
Todas essas mudanças nem sempre estão relacionadas apenas com a menopausa, como é o consenso que predomina, ou seja, pode surgir em faixas etárias distintas. A esses fatores estão relacionados alterações hormonais, gravidez e parto, mudanças bruscas de peso e determinados exercícios físicos que podem afetar a região íntima.
“Mas nada disso é motivo para deixar de lado a vida sexual. Afinal, não precisa se preocupar, pois a região íntima só está passando por mudanças provocadas pela idade ou ainda por algum processo que o acelerou, como acontece com demais partes do corpo. O lado positivo é que é natural e a região pode ser tratada de maneira adequada e efetiva, resgatando a qualidade das suas relações sexuais”, afirma Joana, otimista.
Primeiro passo é higiene íntima adequada
A especialista destaca que hoje existem diversos tratamentos minimamente invasivos que podem ser adotados para cada uma das alterações, visando melhorar a saúde feminina e a qualidade da vida sexual. Porém, o primeiro passo deve ser a higiene íntima, respeitando o odor natural, secreções e pelos.
“É importante evitar lavar e esfregar a área íntima de maneira inadequada. A região é repleta de bactérias que servem de proteção e o excesso de limpeza pode causar um desequilíbrio do pH vaginal”, explica a Dra. Joana.
Quando se pensa em ‘envelhecimento vaginal’, o raciocínio é semelhante ao que usamos para entender o envelhecimento facial. Por isso, ácidos hialurônicos de diferentes pesos moleculares em suas partículas são usados de forma injetável para otimizar a espessura da parede vaginal interna de quem sofre atrofia.
Como tratar o envelhecimento vaginal e outras condições?
De acordo com a Dra. Joana, um dos tratamentos indicados são os Bioestimuladores de colágeno e o Skinbooster. Bioestimuladores, como já sugere o nome, ativa a produção de colágeno da própria paciente, combate a flacidez como um todo na região da vulva e até mesmo no Monte de Vênus, e atua no rejuvenescimento íntimo de dentro para fora através do aumento da hidratação vaginal.
“Os bioestimuladores de colágeno ajudam a manter o equilíbrio do muco vaginal, diminuem a dor ou desconforto durante a relação sexual, coceira, ardor e até previnem contra infecções recorrentes. Já o Skinbooster trata mais especificamente a derme de modo superficial e possui alto poder de hidratação”, aponta a dermatologista.
Outro recurso eficaz é a aplicação do laser de CO2 ou ainda da radiofrequência, ambos também estimulam a produção de colágeno e elastina, acrescentando que seus benefícios atingem tanto o canal interno dos tecidos da vulva e vagina quanto nos grandes lábios vaginais. “Ocorre uma melhora da flacidez, espessura da mucosa e do fluxo sanguíneo que reflete na lubrificação”, afirma.
Em relação ao tratamento da flacidez local também podem ser aplicados os fios de PDO.
Reconstrução dos grandes lábios com preenchimento
Já aquelas que precisam aumentar ou reconstruir os lábios vaginais a indicação é preenchimento íntimo, que corrige a redução do tônus muscular ou algum tipo de deformidade. Também tem indicação para melhora da hidratação e consequentemente lubrificação interna. “O produto usado não causa rejeição. O ácido hialurônico aumenta o volume vaginal e mantém a pele hidratada”, assegura a dermatologista.
Ainda são indicados para preenchimento de grandes lábios quando esses ficam murchos. “A diminuição da espessura dos grandes lábios pode deixar o clitóris mais exposto e até a impressão de que os pequenos lábios estão maiores e projetados para fora, causando muitas vezes um aspecto inestético para a vulva, que deixa muitas mulheres incomodadas”, explica a médica.
Procedimentos para reduzir o suor e o escurecimento
Já a toxina botulínica (Botox) tem indicação na hiperidrose (suor excessivo na região) e ajuda, de quebra, na melhora do Vaginismo, uma contração involuntária na região do períneo, que faz com que ocorra um estreitamento no canal vaginal, tornando a penetração muito dolorida. “A mulher não consegue controlar essa contração e sofre até na hora do exame ginecológico”, diz.
Para outros casos que costumam incomodar, como, por exemplo, o escurecimento, é recomendada uma técnica que trata a pigmentação. O Clareamento pode ser feito com combinação de alguns ácidos, que variam de acordo com o tom da pele e o objetivo da paciente. Os ácidos ainda contribuem para estimular a formação de colágeno na área íntima.
“A DermoEstética Íntima apresenta uma gama variada de tratamentos para a vulva e a vagina que favorece não somente a questão estética externa, mas possibilita tratar sintomas e doenças que impactam na qualidade da vida sexual e na autoestima feminina”, finaliza a especialista.
‘Benefícios foram além da vaidade’, conta paciente
Uma das pacientes que passou pelos procedimentos de estética íntima conversou com o Portal ViDA & Ação. A mulher, de 44 anos, que pediu para não ser identificada, diz que sua vida sexual mudou para melhor depois de recorrer a alguns procedimentos para melhorar a aparência da região íntima.
O que te levou a buscar a estética íntima?
Durante muitos anos fiz depilação com cera. Esse fato somando a minha idade me fez ficar flácida demais, o que me incomodava bastante.
Quais foram os procedimentos que realizou?
Primeiramente preenchimento mas como nao foi suficiente fiz logo depois laser CO 2.
A recuperação foi rápida e satisfatória?
A recuperação demorou um pouquinho. Pra cada procedimento 1 semana. Os resultados foram bem satisfatórios.
O que achou dos resultados? Quais foram os seus benefícios?
Melhorou demais a autoestima. Os benefícios foram além da vaidade, melhor qualidade de amor com meu marido ❤️
‘Tratamentos indicados para face podem ser realizados na área íntima’
Por Joana D`arc Diniz*
“Meu interesse pela Estética Intima começou por necessidade pessoal, quando procurei uma colega amiga para conversar sobre como prevenir incontinência urinária (escape de urina), já que minha mãe apresenta o quadro e fez tratamento cirúrgico, e também por flacidez na região da vulva que passou a me incomodar próximo à menopausa. A colega me falou sobre laser intimo para escape urinário e também sobre todos os procedimentos estéticos possíveis para a região de vulva e vagina.
Já trabalho na Dermatologia Estética há mais de 20 anos e percebi que praticamente todos os tratamentos indicados para face podem ser realizados na área intima, conforme a queixa. Tecnologias (lasers) e injetáveis e até mesmo os fios têm indicação para as várias queixas. Resolvi então estudar e me especializar nos procedimentos para essa área. Além disso, passei a conversar com amigas e pacientes do sexo feminino sobre o assunto, ainda tão desconhecido pelas mulheres.
Falo das minhas dores porque sei que podem ser as dores de muitas mulheres, independente da faixa etária. Por experiência própria, afirmo que esses procedimentos íntimos reforçam nossa autoestima e confiança, trazem uma sensação do tão falado empoderamento feminino: eu quero e posso fazer isso por mim, pelo meu bem estar, pela minha saúde. Vejo e sinto melhoras que não estão expostas (como nos procedimentos da face), portanto me reafirmam, independentemente da opinião alheia. Sou eu me sentindo bem comigo mesma”.
*Joana D`arc Diniz é médica dermatologista e tricologista. Atua como diretora cientifica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, diretora da Sociedade Brasileira do Cabelo e membro titular da U.I.M.E. (Union Internationale de Médecine Esthétique). A médica também é coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Medicina Estética da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques (Escola de Medicina) e professora do Mestrado em Medicina Estética da Universidade das Ilhas Baleares (Espanha).
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