O Brasil enfrenta um período de calor extremo, com temperaturas recordes em diversas regiões, exigindo atenção especial para a saúde da população. O mês de janeiro de 2024 já havia sido considerado um dos mais quentes da história, e as projeções indicam que o restante do ano pode seguir a mesma tendência. Especialistas apontam que essas mudanças são impulsionadas pelo fenômeno El Niño, que intensifica o aquecimento global e agrava os efeitos do calor no Brasil.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas de “perigo” e “grande perigo” em razão do calor intenso e da baixa umidade do ar em várias partes do país. Nas últimas semanas, as temperaturas em grande parte do Brasil estão acima dos 40 graus e as sensações térmicas ainda mais elevadas, chegando a 50º em determinadas regiões.
Além disso, o volume de chuvas está acima da média para o início do ano, causando alagamentos e deslizamentos nas cidades. As altas temperaturas, associadas à baixa umidade, contribuem para o aumento de focos de incêndios, que já dobraram em relação ao mesmo período de 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Comparado a 2024, o aumento das temperaturas foi ainda mais alarmante, com diversas cidades brasileiras registrando recordes históricos de calor. Estados como São Paulo e Rio de Janeiro experimentaram ondas de calor mais intensas do que qualquer outro ano na última década. Todos esses problemas são causados pelas mudanças climáticas, que trazem efeitos profundos na vida das pessoas.
Crianças e idosos são os mais vulneráveis
O calor extremo afeta a qualidade de vida dos brasileiros e aumentam o número de mortes no verão. Uma pesquisa realizada pela Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, em parceria com o Centro de Inteligência Epidemiológica, registrou mais de 390 mil mortes por causas selecionadas entre 2012 e 2024, sendo o recorde de 151 delas, entre idosos, em um único dia, todas causadas pelo calor intenso.
Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas são mais vulneráveis aos efeitos adversos do calor extremo. Um estudo da Fiocruz revelou que a exposição de idosos a temperaturas acima dos 40ºC, por mais de quatro horas, aumenta em até 50% o risco de morte por doenças como hipertensão, diabetes, insuficiência renal, infecção do trato urinário e Alzheimer.
Os dados chamam atenção de especialistas neste Dia Nacional da Conscientização sobre Mudanças Climáticas (16 de março), uma vez que esse cenário pode trazer sérios riscos, como desidratação, insolação e agravamento de doenças preexistentes.
O calor intenso pode causar sintomas como tontura, fadiga, dores de cabeça e desidratação. Em casos mais graves, a exposição prolongada a temperaturas elevadas pode levar à insolação, caracterizada por aumento da temperatura corporal, confusão mental e até perda de consciência“, alerta Saulo Maia D’Ávila Melo, professor titular da Universidade Tiradentes no Curso de Medicina e preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital de Urgência de Sergipe.
João Gregório Neto, professor mestre do Curso de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina, alerta que as doenças cardiovasculares e respiratórias são mais comuns devido à má qualidade do ar, que tende a piorar em altas temperaturas pela intensificação da poluição.
Além disso, o verão é a estação propícia para a proliferação de mosquitos como o Aedes Aegypti, transmissor de doenças como a Dengue, Zika e Chikungunya. O especialista explica, que os efeitos das mudanças climáticas fazem com que a proliferação desse inseto seja ainda mais intensa agora do que foi há alguns anos. “A falta de saneamento básico em áreas urbanas e a ocorrência de enchentes agravam ainda mais o problema”, explica João.
João Gregório Neto explica durante o verão, o consumo de água e de energia aumentam, levando ao racionamento. A ausência de moradia adequada e água potável podem trazer ainda mais problemas de saúde à população.
Pessoas que vivem nessas condições podem desencadear diarreias e infecções gastrointestinais, leptospirose, pneumonia e a tuberculose, problemas de pele como micose e sarna, infecções bacterianas, além da desnutrição e anemia”, conclui.
Confira as dicas do especialista para se manter saudável nessa época:
Não é todo líquido que hidrata
A ingestão de líquidos é essencial para compensar as perdas de água pelo suor e manter o corpo funcionando adequadamente. Recomenda-se consumir de 2 a 3 litros por dia, ajustando a quantidade conforme o nível de atividade física e a temperatura. Evite bebidas alcoólicas e açucaradas, que podem causar desidratação e aumentar a sensação de cansaço. Consuma alimentos ricos em água, como melancia, melão e laranja.
Alimentação leve e nutritiva
Durante o verão, o metabolismo é menos exigido em relação à digestão, por isso uma dieta equilibrada e leve é ideal. Priorize frutas, verduras e legumes, ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes que fortalecem o sistema imunológico. Evite alimentos gordurosos que sobrecarregam o sistema digestivo. Opte por refeições menores e mais frequentes, isso ajuda a evitar a sensação de peso e mantém os níveis de energia ao longo do dia.
Proteção contra o calor
Evitar a exposição excessiva ao calor é fundamental para prevenir problemas como desidratação, insolação e queimaduras solares. Prefira horários entre o início da manhã e o final da tarde para sair de casa. Use roupas leves e claras, tecidos de algodão permitem melhor ventilação. Aplique protetor solar com FPS 30 ou superior, use chapéus, bonés e óculos escuros com proteção UV.
Cuidados com a pele e o corpo
A pele é particularmente vulnerável no verão, exigindo atenção redobrada. Hidrate a pele regularmente com cremes hidratantes. Evite banhos muito quentes que removem a oleosidade natural da pele, intensificando o ressecamento. Reforce o uso de repelentes, principalmente em áreas onde mosquitos transmissores de doenças, como dengue e zika, são comuns.
Atividade física com moderação
Exercitar-se no verão é benéfico, mas requer ajustes para evitar os efeitos adversos do calor. Escolha horários adequados ao amanhecer ou à noite, quando as temperaturas são mais amenas. Hidrate-se ainda mais durante o exercício beba pequenas quantidades em intervalos regulares. Adapte a intensidade e diminua o ritmo em dias muito quentes para evitar exaustão.
Prevenção de doenças sazonais
O verão é propício à disseminação de algumas doenças, como viroses gastrointestinais, dengue e doenças de pele. Lave bem os alimentos consumidos crus. Evite água de procedência duvidosa. Elimine focos de água parada e fique atento a sinais de desidratação ou insolação: tontura, fraqueza ou aumento da temperatura corporal.
Como proteger sua saúde diante das altas temperaturas no Brasil
Dicas de cuidados para enfrentar o calor extremo
Diante dessa realidade, é fundamental adotar cuidados para proteger a saúde, especialmente em períodos de altas temperaturas. Aqui estão algumas dicas do professor Saulo Mello para enfrentar esses dias quentes:
- Mantenha atenção a crianças e idosos: São os grupos mais suscetíveis aos impactos do calor excessivo.
- Use roupas leves e soltas: Prefira tecidos de algodão e cores claras, que ajudam a manter a temperatura corporal equilibrada.
- Evite exposição ao sol nos horários mais quentes: Procure ficar em locais frescos entre 10h e 16h.
- Beba muita água: A hidratação é essencial para evitar problemas causados pelo calor extremo. Consuma água regularmente ao longo do dia.
- Prefira ambientes ventilados: Mantenha janelas abertas para circulação de ar ou utilize ventiladores e ar-condicionado com moderação.
- Durma em local fresco: Evite ambientes abafados e utilize ventilação para manter a temperatura confortável.
- Reduza o consumo de bebidas alcoólicas e cafeína: Essas substâncias podem favorecer a desidratação.
- Evite banhos quentes e demorados: Prefira banhos rápidos e mornos para ajudar a regular a temperatura corporal.
- Aposte em alimentos leves e ricos em água: Frutas, verduras e legumes ajudam a manter a hidratação e evitam sobrecarga do organismo.
Adotar essas práticas pode ajudar a minimizar os impactos negativos do calor extremo em sua saúde”, enfatiza o professor da Universidade Tiradentes.
Com Assessorias