Por Viviane Lopes*

Me chamo Viviane, sou servidora pública, tenho 47 anos e, desde 2017, convivo com uma condição que transformou profundamente minha forma de viver: a encefalomielite miálgica, também conhecida como síndrome da fadiga crônica. Os primeiros sinais se manifestaram como um cansaço extremo após tarefas simples ou atividades físicas leves, mas logo percebi que não se tratava apenas de esforço físico.

Qualquer tipo de estímulo — mental, emocional ou cognitivo — podia desencadear uma fadiga intensa e incapacitante, acompanhada de dores de cabeça, dores musculares, sensação de confusão mental e insônia. Essa condição passou a me limitar a apenas algumas horas de atividade produtiva por dia, sendo o restante do tempo consumido por um processo de recuperação geralmente lento, parcial e, muitas vezes, insuficiente — exigindo , em certos momentos, repouso total.

Após passar por muitos médicos, chegou-se a um diagnóstico clínico denominado encefalomielite miálgica. Essa é uma doença complexa e debilitante que afeta os sistemas neurológico, imunológico e metabólico. A característica mais marcante da condição é a “intolerância ao esforço”, ou mal-estar pós-esforço, que pode durar dias, semanas ou até mais após uma simples tarefa cotidiana.

Durante muito tempo, tentei adaptar minha vida para não abrir mão das atividades físicas que sempre fizeram parte de quem eu sou. Mas precisei ceder. Troquei a musculação por pilates, o pilates por caminhadas, depois por alongamentos… até chegar ao ponto em que até dois exercícios leves em casa, dia sim dia não, se tornaram inviáveis.

Burnout: como romper com ciclos viciosos

E não foi apenas minha rotina pessoal que sofreu. Minha carreira profissional também foi profundamente afetada. A pressão e o estresse contínuos agravaram meu quadro, levando ao diagnóstico, também, de burnout. Em 2023, precisei me afastar do trabalho por três meses para me recuperar.

Ao retornar, tomei uma decisão fundamental: abrir mão do cargo de gestão que ocupava para preservar minha saúde e buscar uma vida mais equilibrada. Embora ainda não exista cura ou tratamento específico para a encefalomielite miálgica, desde então venho adotando um conjunto de estratégias que têm me ajudado a restaurar, pouco a pouco, minha energia e minha capacidade funcional.

Hoje, minha prioridade é romper com os ciclos viciosos que me mantinham presa à exaustão. Comecei por uma autoavaliação semanal honesta, identificando hábitos nocivos e substituindo-os de forma gradual. Aprendi a priorizar tarefas com consciência e intenção, a organizar rotinas matinais que respeitem meu ritmo e a programar pausas para respirar, literalmente.

‘Preservar energia para aquilo que realmente importa’

Tenho me dedicado a cuidar intencionalmente do sono, da alimentação e dos momentos de lazer — pilares fundamentais para quem vive com fadiga crônica. Adotei práticas como mindfulness, respiração profunda, terapias manuais (como osteopatia e RPG), e reduzi drasticamente meu consumo de notícias e redes sociais. A eliminação de distrações foi crucial para que eu pudesse ser mais produtiva em menos tempo e, ao mesmo tempo, preservar energia para aquilo que realmente importa.

Outro aprendizado essencial foi reconhecer e impor meus próprios limites — no trabalho, nas relações, em mim mesma — sem sentir culpa. Gerenciar o estresse passou a ser uma habilidade treinada diariamente, assim como o ato de me afastar de ambientes e contextos que o alimentam.

Esta é uma jornada contínua, que sigo com apoio da minha família. Mas posso dizer que, mesmo sem cura, é possível encontrar um novo caminho. Reaprender a viver, respeitar os próprios limites e, acima de tudo, cuidar-se com gentileza. Cada escolha consciente, cada pequeno passo, contribui para uma vida com mais presença, mais propósito e mais dignidade.

A fadiga crônica ainda faz parte da minha vida, mas não a define mais. Estou, dia após dia, restaurando minha capacidade física e mental. E essa é, sem dúvida, a forma mais potente de seguir em frente.

*Viviane Lopes é servidora pública e mora no Rio de Janeiro

 

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