Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, da sigla em inglês), que é vinculada à Organização Mundial de Saúde, estima que mais de 430 mil pessoas são diagnosticadas com câncer renal, todos os anos no mundo. Desse total, quase 180 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da doença. No Brasil, cerca de 10 mil pacientes perderam a vida entre 2019 e 2021, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia. 

Segundo relatório da Sociedade Americana do Câncer, o número de casos de câncer no mundo pode aumentar em 77% até 2050. Quando o assunto é câncer renal, os desafios na prevenção e diagnóstico são ainda maiores. Segundo o Observatório Global de Câncer da OMS, o ano de 2022 registrou mais de 400 mil diagnósticos de câncer de rim e 155 mil óbitos pela doença.

Dados da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer estimam mais de 11 mil novos casos de câncer no rim no Brasil, sendo 7 mil em homens, sendo mais frequente entre pessoas entre os 55 aos 75 anos. Para 2040, a expectativa é que esse número cresça para 666 mil casos no mundo e para 19,7 mil no País. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer renal é o terceiro tipo mais frequente do aparelho genitourinário e representa cerca de 3% das doenças malignas em adultos no Brasil.

Os rins são órgãos em forma de feijão que se localizam na região lombar, atrás das últimas costelas, em ambos os lados da coluna vertebral. Sua principal função é filtrar o sangue, removendo o excesso de água, sal e resíduos por meio da urina. Eles também controlam a pressão arterial.

Considerada uma “doença silenciosa”, o câncer renal muitas vezes é descoberto em estágio mais avançado, quando a saúde já está prejudicada. Para alertar a população, a campanha Março Vermelho traz informações sobre esses tumores, explica os fatores de risco, diagnóstico precoce e cuidados que podem ser incluídos na rotina para evitar essa patologia.

Especialistas da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO)  alertam sobre a prevenção do câncer no rim com combate ao tabagismo, pela prática de atividade física, com uma alimentação saudável, a não exposição a produtos químicos causadores da doença e a realização de exames de rotina seguindo orientações médicas. Também reforçam a importância do diagnóstico precoce de modo a garantir tratamentos mais eficazes e a aumentar as chances de cura.

Beber água é fundamental

Segundo a coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Integrado de Campo Mourão (PR), Janaiara Moreira Sebold Berbel, a ingestão de água é fundamental para ajudar na prevenção.

Beber água ajuda a diluir toxinas na urina, promove a eliminação e reduz o tempo de contato dessas substâncias com o revestimento do trato urinário. Isso tende a diminuir o risco de danos celulares que podem levar ao desenvolvimento de câncer renal”, explica.

A nutricionista destaca que a quantidade de água que uma pessoa deve consumir diariamente varia de acordo com fatores como a idade, o peso, o nível de atividade física, o clima e as condições de saúde individuais.

Necessidade hídrica individual

As recomendações gerais sugerem a ingestão de dois a três litros de água por dia, para adultos saudáveis. No entanto, é possível ser mais específico e utilizar um cálculo simples: basta multiplicar 35 (que seria a quantidade de ml) pelo peso do indivíduo e depois dividir por mil. Para uma pessoa com 80 quilos, por exemplo, o indicado seria 2,8 litros de água por dia (80 kg x 35 ml = 2.800 / 1.000 = 2,8).

Janaiara lembra que vários fatores influenciam a necessidade hídrica. Por isso, é necessário buscar ajuda de profissional de saúde para ter a orientação mais correta. “Uma criança e um idoso necessitam de hidratações diferentes, em virtude da situação fisiológica em que cada um está”, comenta.

A coordenadora do curso de Nutrição do Integrado reforça que beber água, mesmo sem ter sede, é essencial. “A sede é um sinal de que o corpo já está começando a ficar desidratado. Isso pode comprometer o equilíbrio hídrico, necessário para as funções vitais”, salienta.

A ingestão constante de água também ajuda a regular a temperatura corporal, mantém a circulação sanguínea, melhora a digestão, fortalece a pele e os órgãos. “Por isso, manter uma rotina de hidratação ao longo do dia é fundamental para a saúde”, enfatiza Janaiara Moreira Sebold Berbel.

Fatores de risco

Entre os principais fatores de risco para o câncer renal estão o tabagismo, obesidade, hipertensão arterial, diabetes, doença de Von Hippel-Lindau, exposição a produtos químicos utilizados na indústria (por exemplo, cádmio, asbestos, chumbo e hidrocarbonetos aromáticos) e realização de hemodiálise, bem como um histórico familiar para doenças renais.

Homens a partir dos 50 anos são os que têm maior predisposição à doença. Mas outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento do câncer renal, seja em indivíduos do sexo masculino ou feminino. O tabagismo é o primeiro deles. As substâncias tóxicas do cigarro aumentam o risco de mutações nas células dos rins.

A obesidade também é preocupante, já que o excesso de peso pode alterar o funcionamento hormonal e prejudicar a saúde renal. A hipertensão é outro agravante, pois ao danificar os vasos sanguíneos, favorece o surgimento da doença. Quem tem histórico familiar de câncer renal ou outras doenças crônicas nos rins também fica mais suscetível à enfermidade.

Principais sintomas

Infelizmente, o câncer de rim costuma ser silencioso e, quando apresenta sintomas, geralmente já está em estágio avançado” explica a oncologista especialista em tumores urológicos Ana Paula Cardoso, que reforça que alguns dos principais sintomas são sangue na urina, dor lombar e aumento de volume abdominal.

Os principais sintomas geralmente não aparecem na fase inicial da doença, o que torna o diagnóstico precoce ainda mais difícil. De todo modo, é importante ficar atento se há sangue na urina (hematúria) e dor na região lombar – abaixo das costelas – especialmente persistente ou sem causa aparente.

Outros sinais incluem cansaço extremo, falta de apetite, perda de peso, febre sem explicação, inchaço nas pernas ou tornozelos. Jaime Nobre, coordenador da Comissão Nacional de Tumores Geniturinários da SBCO, esclarece que, nas fases iniciais, o câncer no rim não apresenta sinais e sintomas. “Normalmente, trata-se de um achado de exames de imagens realizados por outro motivo”.

Diagnóstico por imagem

Entre os exames estão o ultrassom, tomografia e ressonância magnética. Porém, em fases avançadas, o tumor pode causar dor lombar persistente, sangue na urina, inchaço abdominal, massa palpável no abdômen e perda de peso. As células malignas também podem atingir a circulação sanguínea, alcançando outros órgãos.

O especialista da SBCO informa que o exame de imagem pode ser suficiente para a indicação de tratamento cirúrgico pelo cirurgião oncológico, com retirada parcial ou total do órgão, o que depende do aspecto do tumor renal e de seu tamanho. “Porém, pode-se indicar a realização da biópsia, principalmente, em caso de dúvida diagnóstica ou em casos em que se considere um tratamento de vigilância ativa”, afirma.

Como detalha Kátia Ramos Moreira Leite, professora de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), ex-presidente e membro do Conselho Consultivo da SBP, cabe ao médico patologista realizar a análise da biópsia renal e peça cirúrgica para disponibilizar um diagnóstico preciso, prever a evolução do paciente, planejar o seu acompanhamento e, eventualmente, apontar para necessidade de tratamentos complementares que vão colaborar com a cura desse paciente.

Mais de 30 tipos de tumores renais

Existem mais de 30 tipos de tumores renais que têm um comportamento desde absolutamente benignos até extremamente agressivos. E essa identificação só é possível pelo exame anátomo-patológico e, eventualmente, de exames complementares como imuno-histoquímica”, explica a especialista da SBP.

O tratamento multidisciplinar com a participação de especialistas como o cirurgião oncológico e o patologista podem mudar significativamente o curso da doença. “A depender do subtipo do tumor e do grau de agressividade, tratamentos adjuvantes à cirurgia oncológica podem melhorar os desfechos”, complementa Nobre.

Dentre os tratamentos complementares estão a radioterapia, imunoterapia e quimioterapia, cuja escolha depende do estadiamento do tumor pelo patologista, ou seja, se está em fase inicial ou avançado.

5 fatos sobre o câncer renal que você precisa saber

No mês que marca o Dia Mundial do Rim (13/3), a oncologista Ana Paula Cardoso destaca cinco fatos sobre o câncer renal, com o objetivo de chamar atenção para a doença, bem como para a relevância do cuidado adequado após a confirmação do diagnóstico. Confira:

1- Tabagismo é o principal fator de risco

A obesidade, as doenças renais crônicas, a exposição ocupacional a solventes e produtos químicos, fatores genéticos — que podem ser responsáveis por 5% a 8% dos casos de câncer de rim — o sedentarismo e o consumo excessivo de álcool e de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, estão associados ao aumento dos casos da doença. No entanto, o principal fator de risco para a doença é o tabagismo, que também afeta diferentemente o tratamento da doença.

2- É mais frequente a partir dos 50 anos de idade e mais prevalente em homens

câncer renal é duas vezes mais comum em homens do que em mulheres. Embora a doença também possa acometer pessoas mais jovens, ela geralmente é mais comum entre 60-70 anos em ambos os gêneros.

3- Muitos casos são descobertos acidentalmente

Por ser uma doença silenciosa, muitas vezes, o diagnóstico é feito através de exames de imagem – como ultrassom abdominal e tomografia de abdômen, solicitados por outros motivos. “Na maioria das vezes, o diagnóstico da doença é feito de forma proativa em casos mais avançados, quando surgem sintomas como sangue na urina, dor lombar persistente e aumento do volume abdominal”, explica a oncologista.

4- Existem tratamentos eficazes para a doença

Atualmente, existem tratamentos que aumentam significativamente as chances de cura e melhoram a qualidade de vida dos pacientes, especialmente daqueles com doença metastática. “Entre as opções disponíveis, destacam-se as terapias-alvo, que bloqueiam o crescimento do tumor, os inibidores da via mTOR, que atuam em um caminho celular responsável pelo crescimento e divisão das células tumorais, e os imunoterápicos (inibidores de checkpoint imunológico), que estimulam o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células cancerígenas”, ressalta a oncologista.

Entre as opções de terapia-alvo, temos o cabozantinibe, que está no grupo de medicamentos inibidores de tirosina quinase (TKIs) que bloqueiam enzimas chamadas tirosina quinases, que ajudam as células cancerígenas a crescer, se multiplicar e formar novos vasos sanguíneos.

Essa terapia se diferencia dos outros inibidores TKIs por atuar em múltiplas tirosinas quinases ao mesmo tempo. Ela não apenas reduz o suprimento de sangue do tumor, mas também bloqueia outras vias que ajudam as células cancerígenas a crescer e se espalhar, o que pode torná-lo mais eficaz em alguns casos, especialmente quando a doença já avançou ou quando outros tratamentos deixaram de funcionar”, explica a especialista.

5- Hábitos saudáveis são indispensáveis

A adoção de hábitos saudáveis, como: parar de fumar e não ingerir álcool em excesso, manter um peso saudável, praticar atividade física regularmente e escolher alimentos naturais em vez de ultraprocessados, são fundamentais.

“Com a adoção dessas práticas saudáveis, é possível reduzir o risco de câncer renal e prevenir outras doenças. Além disso, medidas preventivas são essenciais. Realizar check-ups médicos regularmente é fundamental, pois a detecção precoce aumenta as chances de um tratamento eficaz e pode salvar vidas”, conclui a Dra. Ana Paula.

5 dicas para prevenir o câncer renal

Para ajudar na prevenção do câncer renal, a coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Integrado, Janaiara Moreira Sebold Berbel, repassa algumas dicas. Confira!

1) Consuma frutas e vegetais diariamente

Frutas e vegetais são ricos em antioxidantes, vitaminas e minerais que ajudam a proteger as células dos danos oxidativos, diminuindo o risco de câncer e doenças renais.

2) Prefira grãos integrais

Arroz integral, quinoa e aveia, por exemplo, são ricos em fibras, ajudam a manter a saúde geral e a reduzir a inflamação.

3) Evite consumir alimentos ultraprocessados

Esses produtos são ricos em sódio, açúcares e gorduras trans, que podem sobrecarregar os rins e aumentar o risco de doenças.

4) Reduza o sal

O excesso de sódio pode aumentar a pressão arterial e sobrecarregar os rins. É importante optar por temperos naturais, como ervas e especiarias. Evite alimentos industrializados ricos em sal. Limite ainda o consumo de enlatados e conservas, que geralmente contêm altos níveis de sódio.

5) Opte por utilizar gorduras insaturadas

Azeite de oliva, abacate, nozes e peixes gordurosos (salmão, sardinha) são benéficos para a saúde cardiovascular e renal.

 

Sociedades médicas se unem para prevenção ao câncer de rim

Dados de pesquisa realizada pela We Are Social e pela Meltwater apontam que quase 99% da população do Brasil tem acesso a redes sociais como o Facebook, o Instagram e o LinkedIn. Por isso, durante o Março Vermelho, mês de conscientização e Combate ao Câncer no Rim, a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) realizam uma campanha conjunta nas redes sociais para chamar a atenção do público em geral sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento da doença.

Segundo Gerônimo Jr., presidente da SBP, sociedade médica que representa os especialistas em diagnóstico do câncer, a postagem conjunta sobre câncer renal leva informação de qualidade à população nas redes sociais, promovendo conscientização sobre o cuidado oncológico: “Em um momento de constante evolução na Medicina, a integração entre Patologia e Oncologia Clínica é fundamental para diagnósticos precoces e precisos, bem como tratamentos personalizados”.

Para Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO, sociedade médica que representa especialistas em tratamento do câncer, é uma alegria participar dessa iniciativa a convite da SBP. “A Patologia e o patologista exercem papel fundamental no raciocínio diagnóstico e na condução do paciente oncológico. Sem Patologia, não existe Oncologia eficiente”, diz. Assista à campanha do Março Vermelho da SBP e da SBCO nas redes sociais, acessando este link.

Com Assessorias

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