A influenciadora digital norte-americana Anna Grace Phelan faleceu no último sábado (23), aos 19 anos, após enfrentar uma batalha contra um glioblastoma, um câncer cerebral agressivo de grau 4. A notícia foi confirmada por sua família em uma publicação emocionante em sua conta no TikTok, onde reunia mais de 157 mil seguidores e ultrapassava 2,5 milhões de visualizações em cada um de seus vídeos mais famosos.

É com grande tristeza que anunciamos que nossa linda filha, Anna Grace Phelan, foi para casa para estar com seu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Muitos de vocês acompanharam a jornada dela nessa difícil batalha contra o câncer e testemunharam sua prova de fé. Obrigado às incontáveis orações por cura e paz. Que todos regozijemos com a certeza de que ela está no céu agora e foi curada”, diz o informe.

O glioblastoma, identificado nos estudos científicos como GBM – tipo de tumor que vitimou Anna – é um dos maiores desafios da medicina contemporânea pela agressividade com que invade o sistema nervoso central e por ser altamente invasivo. Essas características dificultam a retirada completa numa cirurgia e uma alta taxa de recorrência, e resulta numa taxa muito baixa de pacientes que conseguem sobrevida. Quase metade dos casos de tumor cerebral, algo em torno de 49%, são de GBM.

Uma das cores da saúde atribuídas ao mês de maio é o cinza. Maio Cinza é uma campanha anual de conscientização sobre o câncer de cérebro, voltado a ampliar o conhecimento sobre o tema e esclarecer a importância da detecção precoce.

O caso Anna Grace

A história de Anna Grace Phelan comoveu milhares de pessoas ao redor do mundo, servindo como um lembrete do poder da fé e da resiliência diante das adversidades. A  jovem norte-americana foi diagnosticada em setembro de 2024 com glioblastoma, poucos dias antes de começar seu primeiro ano na faculdade.

Ela usou seu perfil no TikTok para compartilhar seu dia a dia e luta contra o câncer, acumulou mais de 2 milhões de likes em cada um dos seus vídeos de maior sucesso na plataforma. Lá ela também descreveu os primeiros sintomas que a levaram a procurar ajuda médica:

Comecei a perder o equilíbrio. Comecei a ter problemas de visão no olho esquerdo, a dormência no rosto e na perna continua. Minha fala começou a ficar estranha. Minha cabeça está muito confusa.”

Mesmo diante de um prognóstico difícil, Anna Grace manteve sua fé e esperança, que foi o que moveu toda uma corrente positiva on-line. Em um de seus últimos vídeos, publicado em 14 de maio, ela revelou que o tumor havia crescido em uma área inoperável do cérebro, afetando sua respiração:

As coisas não têm estado boas. Meu tumor cresceu e está numa área onde não consigo respirar. Não dá para operar. Então, eu só queria agradecer por todas as orações. Seria preciso um milagre, mas ainda não vou desistir. Se vocês continuarem orando por mim, acho que vou conseguir”, declarou a jovem que sempre foi positiva em suas postagens.

Anna Grace deixa seus pais, William “Buddy” Phelan e Nadine Phelan, e o irmão, Harper David Phelan. Seu funeral aconteceu nesta terça-feira (27), na Galilee Christian Church, no condado de Jackson, Geórgia.

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USP aposta em proteína-chave contra o glioblastoma após 20 anos sem grandes novidades
Células-tronco tumorais ficaram menos capazes de se proliferar e de invadir tecidos quando a produção da proteína príon foi barrada por edição genética; resultados sugerem que a molécula pode ser um alvo terapêutico

O Laboratório de Neurobiologia e Células-Tronco do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) apostou num estudo que trouxe uma novidade, após 20 anos sem grandes avanços nas pesquisas sobre o glioblastoma.

O grupo de cientistas, liderado pela professora Marilene Hohmuth Lopes, focou na proteína príon, que todos nós temos, para aprofundar e investigar o mecanismo de ação das células-tronco tumorais. Com isso, analisaram o comportamento de migração e multiplicação dessas células e sua relação com o tumor, percebendo como a proteína príon é chave neste processo.

Eu já estudava essa proteína antes de começar a investigar o seu papel no desenvolvimento do câncer. Quando observamos, em amostras de pacientes, que ela estava elevada em tumores muito agressivos, decidimos entender melhor a sua relação com o glioblastoma e a sua influência sobre as células-tronco do tumor, que são as responsáveis pela recidiva do câncer. ”, afirmou a professora à Agência Fapesp

Segundo ela, “o tratamento do glioblastoma está estagnado há mais de 20 anos. É essencial descobrir novas estratégias para melhorar as chances de recuperação e a sobrevida dos pacientes”, comentou.

Utilizando a tecnologia CRISPR-Cas9, a pesquisa editou o genoma de células-tronco de glioblastoma, bloqueando a produção da proteína príon. Essa intervenção resultou na alteração do comportamento celular, reduzindo sua capacidade de invasão e proliferação. Esse resultado foi obtido a partir de uma descoberta inicial.

“Isso nos mostrou que a príon é um potencial alvo terapêutico. Mas é pouco provável que uma única proteína, sozinha, seja responsável pelo desenvolvimento da doença. Por isso seguimos investigando outros mecanismos e possíveis parceiros da proteína. Descobrimos recentemente que uma molécula modula a outra e, agora, buscamos entender melhor essa interação”, detalhou Marilene.

Até o momento, segundo ela, sabe-se que a proteína príon pode funcionar como um arcabouço, criando plataformas multiproteicas de sinalização na membrana das células, para que elas sobrevivam e proliferem. Quando alteramos a produção dessa proteína [via CRISPR-Cas9], descobrimos que a sua ausência compromete a autorrenovação, a migração e a invasão das células tumorais

A pesquisa básica avança na compreensão dos mecanismos de uma proteína que regula genes importantes em células tumorais e normais, com o objetivo de, futuramente, identificar um potencial alvo terapêutico. Mesmo com os resultados promissores, a aplicação clínica dessas descobertas ainda levará muitos anos. A pesquisadora ressalta que o estudo prossegue para entender o papel da proteína e como ela interage com outros genes.

O artigo Prion protein regulates invasiveness in glioblastoma stem cells está disponível inglês na BMC Cancer, neste link.

Com informações da Agência Fapesp

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