Não à toa Rebeca Andrade, nossa maior campeã em medalhas olímpicas, brilha e faz tanto sucesso entre os brasileiros. O caminho da atleta de 25 anos até o pódio foi marcado por muitos desafios. A começar com o desgaste causado ao próprio corpo pelos movimentos intensos da nossa ‘menina de molas’.  Rebeca já precisou passar por três cirurgias devido a lesões do ligamento cruzado anterior (LCA), que é a principal causa de indicação cirúrgica entre atletas.

O LCA é responsável por estabilizar a articulação do joelho, principalmente em momentos de aceleração e desaceleração ou em movimentos de giro. Justamente por esse motivo a lesão dessa estrutura é tão comum em esportes que exigem mudanças frequentes de posição, como o futebol, ocorrendo devido à torção do joelho.

O mecanismo do trauma geralmente envolve a movimentação do joelho para dentro ao mesmo tempo em que a tíbia é rotacionada para fora e o pé está preso ao chão”, explica Marcos Cortelazo, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

É claro que não são apenas atletas profissionais que estão suscetíveis a sofrer com esse tipo de lesão, que também pode afetar esportistas amadores e até mesmo não praticantes de atividades físicas, por exemplo, devido a quedas.

Obesidade, fraqueza muscular, sobrecarga de treinos, idade avançada, hipermobilidade articular, joelho valgo (para dentro) e lesões prévias do LCA são alguns dos fatores que podem favorecer a ocorrência desse tipo de trauma”, diz o especialista.

A lesão do ligamento cruzado anterior é geralmente acompanhada de um estalo seguido por uma dor súbita no joelho. “Após o momento do trauma, o paciente pode notar inchaço e sentir redução da mobilidade e instabilidade da região, com a sensação de joelho frouxo e falhando”, afirma o médico.

Ele também alerta que a intensidade dos sintomas pode variar de acordo com a gravidade da lesão, com algumas pessoas conseguindo realizar atividades normalmente, enquanto outras sentem dores mesmo com o menor dos movimentos.

Na dúvida, o mais importante é sempre buscar auxílio médico ao suspeitar de uma possível lesão do LCA, tanto para confirmar o diagnóstico quanto para verificar a ocorrência de outras lesões comumente associadas, como lesões do menisco e das cartilagens”, diz o ortopedista.

Segundo o Dr Marcos, aquecimento e alongamento adequados antes da prática esportiva, prática de exercícios de fortalecimento muscular e equilíbrio e uso de calçados adequados para o exercício e terreno são alguns dos cuidados necessários para prevenir a lesão do LCA, além de evitar a sobrecarga nos treinos e prestar atenção à fadiga muscular. No entanto, uma vez que a lesão tenha ocorrido, o ortopedista poderá indicar o tratamento adequado, que, na grande maioria dos casos, exige intervenção cirúrgica.

Geralmente, o tratamento cirúrgico só não é indicado para pacientes idosos, sem lesões associadas, que não realizam atividade física e com a estabilidade do joelho preservada. Caso contrário, a cirurgia é recomendada para reconstruir o ligamento rompido, já que possui baixa capacidade de cicatrização por si só”, diz o especialista.

Ele explica que a cirurgia é pouco invasiva, por ser realizada por videoartroscopia, e utiliza enxertos de tecidos, como tendões, retirados do próprio paciente para reconstrução do LCA. “Mas tão importante quanto a cirurgia é o processo de reabilitação pós-operatória, que, se realizada de maneira inadequada, pode comprometer o sucesso do tratamento. Esse processo envolve, principalmente, sessões de fisioterapia, com foco, inicialmente, na recuperação dos movimentos e, depois, no fortalecimento do ligamento.”

A boa notícia é que, hoje, com os avanços nas técnicas de cirurgia e reabilitação, grande parte dos pacientes consegue retornar à prática esportiva no mesmo nível de intensidade e performance, o que não acontecia antes, quando muitas carreiras eram encerradas por esse tipo de lesão.

Para isso, é fundamental que o tratamento seja adequado e o retorno seja gradual, de acordo com a velocidade de reabilitação do paciente e sempre com liberação do médico. O tempo necessário para que o atleta retorne as atividades pode variar de acordo com cada caso, mas é importante que esse processo não seja apressado, pois retornar precocemente à prática esportiva pode aumentar significativamente o risco de lesões no joelho”, finaliza o Dr Marcos Cortelazo.

Mais uma pra conta: Rebeca receberá medalha no Legislativo do Rio

Natural de Guarulhos, em São Paulo, Rebeca Andrade mudou-se sozinha para Curitiba, no Paraná, com apenas 10 anos de idade, para conseguir melhores condições de treino. Um ano depois, em 2011, mudou-se para o Rio de Janeiro para tornar-se atleta do Clube de Regatas do Flamengo, clube onde permanece até a atualidade. Ela estreou em Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, com apenas 17 anos.

Recordista de medalhas olímpicas pelo Brasil, com seis no total, sendo duas de ouro,  Rebeca Andrade será agraciada com a Medalha Tiradentes, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O Projeto de Resolução 763/24 foi aprovado por  unanimidade nesta terça-feira (6), em discussão única, exatamente um dia após Rebeca ter conquistado a medalha de ouro na modalidade solo nas Olimpíadas de Paris.

Autor da proposta, o deputado Professor Josemar (PSol) afirmou que a condecoração não se deve somente às suas conquistas esportivas, mas também é um reconhecimento por seu papel na luta contra o racismo, sendo uma voz para a igualdade, a diversidade e a justiça social.

Ela emergiu como uma verdadeira inspiração não apenas pelos seus recordes e conquistas, mas também por sua jornada pessoal, marcada por desafios e obstáculos que ela superou com graciosidade e firmeza. Como mulher negra em um esporte historicamente dominado por atletas de outras origens étnicas, Rebeca não apenas quebrou barreiras, mas redefiniu os limites do que é possível alcançar”, declarou o parlamentar.

A trajetória de Rebeca

A medalha olímpica de ouro no solo em Paris 2024 na segunda-feira (5) foi a segunda de Rebeca no evento, já que ela também foi campeã da disputa de salto nas Olimpíadas de Tóquio. Além dos dois ouros, Rebeca ainda ganhou em Paris duas medalhas de prata, no salto e no individual geral, bem como um bronze por equipes. Já em Tóquio, ela ainda ganhou medalha de prata no individual geral.

Todas essas conquistas fizeram com que Rebeca Andrade se consolidasse como a recordista de pódios brasileiros em toda a história dos Jogos Olímpicos. A ginasta, também já foi bicampeã mundial no salto, em 2021 e 2023 e campeã mundial do individual geral, em 2022. Ela também conquistou duas medalhas de prata e outra de bronze nesta Olimpíada de 2024, além de ter ganho outras duas medalhas nos Jogos de Tóquio 2020.

Com Assessorias

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