Em meio à campanha de vacinação contra a dengue, que atinge apenas crianças de 10 e 11 anos, surge uma dúvida: como estão as demais vacinas entre as crianças, especialmente neste momento de volta às aulas? Manter a carteirinha de vacinação dos filhos atualizada impacta diretamente no combate à disseminação de doenças no ambiente escolar e é uma obrigação dos pais.
Com as doses em dia, é possível impedir que as crianças e os adolescentes desenvolvam e transmitam uma série de doenças, como poliomielite, tétano, difteria, coqueluche, sarampo, hepatite B, meningite, rubéola, entre outras. Por isso, coa volta às aulas, aumenta a preocupação dos pais com o aumento de casos de doenças virais e infecções em crianças.
“Os pais devem estar atentos ao calendário nacional de vacinação para não perderem os prazos das vacinas e possíveis reforços que sejam recomendados. Na consulta de rotina com o pediatra, é importante que estas datas sejam lembradas e reforçadas, pois manter a vacinação em dia é essencial para a saúde de todos”, explica a pediatra Kesianne Marinho.
Com a retomada das aulas surge uma preocupação bastante comum entre os pais: a volta das doenças tipicamente disseminadas no ambiente escolar, como viroses, gripes, resfriados, entre outras.
Essas doenças costumam ser tão frequentes entre as crianças menores de três anos que elas já até ganharam um apelido: a “síndrome da creche”, que acomete especialmente os pequenos que estão indo pela primeira vez à escola e, até então, não estavam expostos à maior circulação de vírus e bactérias.
“É absolutamente normal e esperado que as crianças menores fiquem doentes nesse período inicial na escola, pois o sistema imunológico delas ainda é imaturo e está em desenvolvimento. Esses episódios são incômodos para pais e alunos, mas auxiliam no desenvolvimento da imunidade”, afirma a pediatra.
A pediatra Daniela Moreli, do Hospital Mater Dei Santa Clara, em Uberlândia (MG), explica que as vacinas desempenham um papel essencial na proteção contra diversas doenças. Mantê-las em dia não só protege as crianças, mas também contribui para a segurança da comunidade. Por isso, é importante verificar se todas as vacinas estão atualizadas, pois muitas escolas exigem comprovação de vacinação.
“As vacinas são importantes em todas as faixas etárias, mas especialmente na idade escolar porque as crianças convivem muito próximas, o que facilita a transmissão de doenças. É necessário lembrar que a maioria das vacinas em crianças tem o esquema completo até os 4 anos de vida”, ressalta Daniela.
Queda nas vacinas para difteria, tétano e coqueluche
Segundo o relatório Situação Mundial da Infância 2023, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina DTP, que previne contra difteria, tétano e coqueluche, entre 2019 e 2021. Globalmente, 48 milhões não receberam nenhuma dose da DTP nesse período.
Os dados são semelhantes para a vacina contra a pólio, que também conta com três doses. No Brasil, 1,6 milhão de crianças não receberam nem a primeira dose (VIP1) contra a pólio, entre 2019 e 2021.
Apesar disso, os dados preliminares do Ministério da Saúde, de janeiro a outubro de 2023, comparados com todo o ano de 2022, mostram crescimento nas vacinas da hepatite A, tríplice viral e febre amarela.
Em Minas Gerais, por exemplo, houve uma ampliação na cobertura vacinal, em seis dos oito imunizantes recomendados para crianças de um ano de idade. A poliomielite, que atingiu 81,5%, representou um aumento de 6% em relação ao ano anterior. A cobertura da DTP e da pneumocócica também aumentou, passando para 80,8% e 80,1%, respectivamente.
O Ministério da Saúde incluiu, também, nas vacinas da primeira infância a vacinação contra a covid-19, no esquema de três doses, a partir dos seis meses de vida: 1ª dose para a 2ª dose: intervalo de 4 semanas; e 2ª dose para a 3ª dose: intervalo de 8 semanas.
Apesar desses avanços, a importância dos cuidados básicos para garantir a saúde das crianças, ao longo do ano letivo, é destacada por pais e educadores.
Vacinação no primeiro ano de vida é fundamental
Além de proteger o bebê e as crianças até um ano de vida, a vacinação é fundamental para evitar casos de doenças de transmissão interpessoal. Nessa fase, as crianças convivem com mais pessoas, e muitas vezes frequentam também a escola ou a creche, como afirma a enfermeira especialista em vacinação da Clínica Vacinne, Kátia Oliveira.
“A vacinação dos bebês e das crianças é o primeiro passo para assegurar a saúde na primeira infância. Nesta fase, são aplicadas a maior parte das imunizações que estimulam o sistema imunológico para gerar anticorpos para infecções específicas. No organismo, esses anticorpos estão prontos para entrar em ação caso a criança entre em contato com o vírus ou bactéria causadora da doença, como hepatite, rubéola, tuberculose e poliomielite”.
Para a enfermeira, seguir o calendário nacional de vacinação é fundamental para proteger a criança, além de contribuir para a redução da incidência de doenças no Brasil. “O calendário de vacinação é uma ferramenta eficaz para assegurar a saúde e o bem-estar das crianças, fortalecendo o sistema imunológico desde o início da vida”, afirma.
Conheça as principais vacinas de 0 a 12 meses
BCG (Bacilo Calmette-Guérin): administrada ao nascer, protege contra a tuberculose.
Hepatite B: aplicada ao nascer e em outras doses conforme o calendário, previne a hepatite B.
VIP/VOP (Vacina Inativada Poliomielite/Vacina Oral Poliomielite): oferecida aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses. Protege contra a poliomielite.
Penta (DTP/Hib/Hep B): administrada aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses. Combinação que protege contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e hepatite B.
Rotavírus: ministrada aos 2 e 4 meses, previne a gastroenterite causada pelo rotavírus.
Meningocócica C: aplicada aos 3 e 5 meses, protege contra a meningite C.
Pneumocócica: administração aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 12 meses. Prevenção contra doenças causadas pelo Streptococcus pneumoniae.
Tríplice Viral (SCR): é oferecida aos 12 meses, protege contra sarampo, caxumba e rubéola.
É importante lembrar que todas as vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde no Programa Nacional de Imunização (PNI) estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde. Para acessar o calendário nacional de vacinação, acesse: https://bit.ly/3XjyGNL .
Cuidados com alimentação, exercícios e boa higiene
Como pais e crianças podem contribuir para que a volta às aulas aconteça de forma mais saudável
Alimentação
Uma alimentação saudável também é essencial para promover o crescimento e o desenvolvimento adequado das crianças em todas as fases. Uma dieta rica em frutas, vegetais, proteínas e carboidratos complexos é recomendada pela médica Daniela. Para os bebês que já frequentam a escola, a amamentação é uma poderosa arma contra as doenças. Por isso, prolongá-la pode, de fato, ajudar no combate às doenças escolares.
“Caso o bebê não seja mais alimentado com o leite materno e já esteja com a alimentação estabelecida, a dica é promover refeições variadas e ricas em vitaminas, proteínas, carboidratos e minerais”, ressalta a Dra. Kesianne.
O hábito de lavar as mãos
Além da alimentação variada, outra medida simples ajuda a promover o combate às doenças comuns no ambiente escolar em todas as idades: a lavagem frequente das mãos.
Várias bactérias, vírus e protozoários se alojam diariamente nas mãos. Mas, como esses “bichinhos” são invisíveis a olhos nus, os pais precisam explicar sobre a importância de lavar as mãos frequentemente – de forma lúdica e nunca fazendo chantagens ou colocando medo nas crianças – e, principalmente, dando o exemplo.
Daniela lembra que a boa higiene é fundamental para prevenir a propagação de infecções. Ensinar as crianças a lavarem as mãos corretamente, cobrirem a boca ao tossir ou espirrar e manterem as unhas curtas e limpas são medidas importantes para evitar doenças.
“Orientar a lavagem das mãos após ir ao banheiro e antes das refeições é uma estratégia importante. Os pais precisam reforçar isso com os filhos e com a escola”, afirma a pediatra.
Exercícios físicos
O exercício físico e a exploração do mundo ao redor são essenciais para o desenvolvimento das crianças. Além de promover a saúde física, o exercício contribui para os desenvolvimentos cognitivo e emocional. Já estabelecer uma rotina de sono regular e criar um ambiente propício para o descanso são fundamentais para o bem-estar dos pequenos.
“Práticas como atividade física regular e redução do tempo de exposição a telas são, ainda, importantes para ajudar a reduzir a ansiedade nas crianças“, destaca a pediatra Daniela Moreli.
Lavagem nasal
A lavagem nasal é realizada com seringa e soro fisiológico para evitar o acúmulo do muco nasal, onde os vírus e as bactérias se “hospedam”. O ideal é que a lavagem nasal seja feita ao chegar da escola ou na hora do banho e mais vezes ao dia quando a criança estiver doente, repetindo sempre que o nariz estiver entupido. “Se os pais criam em seus filhos o hábito de lavar o nariz desde pequenos, a lavagem passa a fazer parte da rotina, como a escovação dos dentes por exemplo”, orienta a pediatra.
Controle de comorbidades
Rinite, asma, e demais doenças crônicas mal controladas colaboram para que a criança se infecte e adoeça mais vezes. “Por isso, estar com as consultas sempre em dia para fazer esse controle de comorbidades, além de avaliar se o aporte nutricional está adequado ou se há a necessidade de alguma suplementação, é fundamental para prevenir adoecimentos”, explica Kessiane.
Visitas ao pediatra
O acompanhamento regular com um pediatra é fundamental para detectar precocemente possíveis problemas de saúde e garantir um desenvolvimento saudável. Agendar consultas de rotina, mesmo quando a criança está saudável, é uma prática recomendada pela pediatra Daniela.
Dificuldades de adaptação
Para crianças que estão com dificuldade de adaptação na escola, Dra. Daniela recomenda aos pais que é importante lembrar aos filhos que o retorno às aulas é uma experiência positiva, repleta de reencontros com amigos, brincadeiras e aprendizado.
Com Assessorias