O “bumbum na nuca”, conceito que surgiu nos últimos anos e é perseguido por diversas influencers, celebridades e musas fitness, como Gracyanne Barbosa, representa a conquista dos glúteos “perfeitos” (simétricos, grandes e empinados). A disseminação desse conceito se inicia em uma vida mais saudável, composta por exercícios e alimentação controlada e se estende até procedimentos estéticos e cirurgias plásticas.

Quando a combinação de dieta e exercícios não atinge o objetivo esperado, alguns procedimentos podem ajudar a conquistar o bumbum turbinado. E o inverno é a época preferida para quem pretende fazer algum procedimento estético. Segundo o Google Trends, as pesquisas por cuidados para essa região costumam ter seu pico entre os meses de novembro e fevereiro.

O Brasil é tão reconhecido pelos tratamentos para os glúteos que virou nome de técnica, o Brazilian Butt Lift, uma volumização com enxertos internacionalmente conhecido como BBL, que, segundo o Google Trends, é mais buscada nos países nórdicos e nos Estados Unidos.

Apesar de toda essa fama, sempre surge a dúvida de quais são as melhores alternativas de cuidado com o bumbum, se somente cuidados tópicos são suficientes, em que casos é preciso uma cirurgia plástica, ou se há métodos menos invasivos que alcancem o mesmo resultado.

PMMA X ácido hialurônico: riscos e alternativas

A recente morte da influenciadora digital Aline Maria Ferreira da Silva aos 33 anos, após realizar o chamado Brazilian Butt Lift,  impulsionou a discussão sobre a segurança e os riscos envolvidos em procedimentos estéticos. Aline recebeu aplicações de 30 ml de PMMA em cada glúteo, o que resultou em consequências fatais e chamou a atenção para os perigos desse material.

O PMMA, ou polimetilmetacrilato, é um composto plástico amplamente utilizado em várias indústrias, incluindo a saúde. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige registro para o uso de PMMA em preenchimentos subcutâneos, sendo classificado como uma substância de alto risco. Embora o PMMA tenha aplicações aprovadas para correção de lipodistrofia em pacientes com HIV e correções volumétricas faciais e corporais, seu uso para fins estéticos, como o aumento dos glúteos, é altamente controverso e perigoso.

Por ser uma substância permanente e não compatível com o organismo PMMA pode causar complicações severas como inflamações crônicas, infecções gravas causando deformidades, formação de nódulos e até necrose tecidual por obstrução de veias e artérias. A dermatologista Mônica Aribi, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que a substância tem um alto índice de complicações,

O PMMA é um gel preenchedor de baixo custo e caráter permanente, o que atrai muitos pacientes. Mas possui alta taxa de complicação a longo prazo, podendo manifestar reações mesmo após anos da aplicação, como nódulos e inflamação”.

Além disso, é uma substância que não conseguimos remover de maneira isolada. Então, se necessária devido a complicações, essa remoção pode danificar os tecidos preenchidos, causando deformação”, diz a dermatologista.

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Procedimento mais indicado é o ácido hialurônico

Apesar de ser aprovado pela Anvisa para fins estéticos e reparadores, o PMMA é hoje pouco utilizado em preenchimentos por dermatologistas e cirurgião plásticos e não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Dermatologista e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Mesmo quando não há complicações, o PMMA, muitas vezes, não é capaz de gerar satisfação definitiva aos pacientes. “Isso porque o processo de envelhecimento pode causar mudanças estruturais que não são acompanhadas pelo produto, tornando-o mais proeminente e gerando efeitos inestéticos”, diz a médica.

Notícias como essas acabam gerando grande receio nas pessoas que desejam se submeter a preenchimentos, independentemente da substância utilizada. Entretanto, ela diz que não há motivos para não realizar o procedimento se assim desejado, pois, se realizado com a substância e técnica correta, é perfeitamente seguro.

Atualmente, a substância padrão para preenchimentos é o ácido hialurônico. O grande diferencial do ácido hialurônico está no fato de ser biocompatível, o que faz com que seja muito seguro quando devidamente aplicado. Mônica alerta que é fundamental adotar alguns cuidados para evitar complicações.

Desconfie de preços muito abaixo do mercado, pois pode ser um indício que a substância que será utilizada não é de qualidade. Além disso, tire todas as suas dúvidas com o médico, pergunte qual produto será utilizado e peça para ver o rótulo e a seringa antes da aplicação”, aconselha a médica, que ainda ressalta a importância de buscar um profissional especializado.

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Ácido hialurônico é absorvido pelo organismo após um ano

A cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da SBCP, explica que o ácido hialurônico, substância mais utilizada em preenchimentos, é absorvido pelo organismo após cerca de um ano. Além disso, quando há uma hipercorreção, podemos utilizar uma enzima chamada de hialuronidase, que age dissolvendo o ácido hialurônico.

Mas é importante ressaltar que alguns estudos mostram que a substância não dissolve totalmente o produto. Então, dependendo da quantidade de ácido hialurônico utilizada, algumas sessões podem ser necessárias”, acrescenta a médica

Além do ácido hialurônico, outra excelente opção, segundo a Dra. Beatriz, é a gordura, que é retirada do próprio paciente por meio de lipoaspiração. “Após tratada, essa gordura é reinjetada na pele para promover volume. Por isso, não tem risco de rejeição”, diz a cirurgiã plástica, que explica que esse procedimento é conhecido como lipoenxertia.

Apesar de não ser definitivo, apenas parte da gordura é reabsorvida, assim contribuindo para a manutenção dos resultados. Além disso, a gordura conta com células-tronco que promovem uma potente regeneração dos tecidos da região tratada”, detalha.

Para fugir de complicações e exageros na aparência, é necessário que a pessoa que realizará o procedimento seja um médico experiente e qualificado. Mesmo substâncias seguras como o ácido hialurônico podem causar complicações se aplicadas incorretamente”, finaliza.

PMMA também afeta os rins

Os impactos na saúde vão além do que se imaginava, com evidências sugerindo que o PMMA pode acometer órgãos vitais, como os rins, de formas antes não plenamente compreendidas. Diante desse cenário preocupante, a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), em colaboração com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), tomou a iniciativa de lançar o Registro Brasileiro de Uso de PMMA e Acometimento Renal.

Esta medida pioneira tem como principal objetivo mapear a epidemiologia deste fenômeno alarmante, identificando possíveis fatores de risco, características clínicas e laboratoriais dos pacientes afetados, além de avaliar os desfechos terapêuticos disponíveis.

O cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luiz Anízio Wanna, explica que  os rins, órgãos essenciais para a filtragem e eliminação de toxinas do corpo, podem ser afetados de maneira irreversível por substâncias nocivas, como as que podem ser liberadas pelo PMMA quando utilizado de forma inadequada.

Segundo ele, o PMMA, por ser um material barato e de fácil acesso, tornou-se uma opção popular para procedimentos de preenchimento corporal e facial. No entanto, seu uso indiscriminado trouxe à tona uma série de complicações graves de saúde, incluindo alterações significativas na função renal.

A iniciativa do Registro Brasileiro de Uso de PMMA e Acometimento Renal surge em um momento crítico, visando lançar luz sobre a dimensão real dos riscos associados a este polímero. Ao compreender melhor a epidemiologia e os fatores de risco ligados ao seu uso, profissionais da saúde poderão desenvolver estratégias mais eficazes para prevenir e tratar os problemas renais decorrentes. Além disso, espera-se que este registro contribua para a elaboração de diretrizes mais rigorosas quanto ao uso do PMMA na estética, promovendo práticas mais seguras e informadas.

“Como cirurgiões plásticos e especialistas em estética, temos o dever de priorizar a segurança e o bem-estar de nossos pacientes acima de tudo. Este registro é um passo fundamental para nos munirmos de conhecimento científico robusto, permitindo-nos orientar melhor os pacientes sobre os riscos envolvidos em determinados procedimentos estéticos. Além disso, reforça a importância de uma avaliação cuidadosa e de uma abordagem personalizada para cada caso, considerando as alternativas disponíveis que ofereçam resultados satisfatórios com o menor risco possível”, diz o profissional.

Saúde na busca pela beleza ideal
A questão sobre se o preço da beleza justifica o risco assume uma resposta mais ponderada com a implementação do Registro Brasileiro de Uso de PMMA e Acometimento Renal. Essa iniciativa reflete um compromisso profundo com a saúde e segurança dos pacientes, reiterando que a verdadeira beleza reside no equilíbrio entre a satisfação estética e a preservação da saúde integral.

Para nós, profissionais da cirurgia plástica, a criação desse registro é um lembrete valioso de nossa responsabilidade ética em oferecer não apenas soluções que atendam aos anseios estéticos dos nossos pacientes, mas que também garantam a sua segurança e bem-estar a longo prazo. Assim, diante dos desafios apresentados pelo uso do PMMA, reafirmamos nosso compromisso com a prática médica baseada em evidências, educação continuada e um diálogo aberto e honesto com nossos pacientes”, finaliza o Dr. Luiz Anízio Wanna.

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Com Assessorias

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