Christian Lima Correia, de 16 anos, perdeu os cinco irmãos e os pais após um grave acidente em Guapimirim, no dia 18 de março deste ano. Um dos seus irmãos, Guilherme, 13, ficou por três dias no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e teve morte encefálica. Apesar da dor incomensurável pelas perdas, a avó, Valéria Correa, decidiu pelo ‘sim’ e doou os órgãos de Guilherme, ajudando a salvar a vida de 30 pessoas que aguardavam na fila de transplante no Estado do Rio de Janeiro.
“Eu e minha família estamos conscientes sobre a importância da doação de órgãos. Passamos um episódio muito difícil e fomos pegos de surpresa por um terrível acidente que ocasionou vários óbitos na nossa família. Em um momento de muita dor fomos abordados por um profissional de saúde e ali nós não hesitamos em dizer o sim. Pensamos naqueles que, muitas vezes, estão há meses, anos aguardando e não conseguem fazer um transplante”, contou Valéria.
Segundo ela, Guilherme era “uma criança muito sadia, muito doce e amável”. “Nossa dor foi muito grande, mas não hesitamos em ajudar o próximo. Hoje, temos a conscientização da importância da doação de órgãos, da importância de uma conversa com o seu familiar”, ressaltou.
Rio é terceiro no ranking nacional de doadores de órgãos
Nesta sexta-feira (22), Valéria foi uma das homenageadas durante o evento “Sim! Sou doador de órgãos, e minha família já sabe”, que reforça os eventos do Setembro Verde, mês dedicado à causa da doação de órgãos e tecidos. A ação de conscientização sobre a doação de órgãos ocorreu no auditório da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) reunindo famílias doadoras, instituições parceiras da rede estadual e a equipe do programa RJ Transplantes.
Hoje, o Rio de Janeiro ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de doadores de órgãos, atrás apenas dos estados de São Paulo e Paraná. O programa estadual registra, somente de janeiro a agosto, 856 casos notificados à Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro, além de 263 doadores efetivos, o que representa um aumento de 14% em relação a 2022 no mesmo período.
“É com enorme alegria que recebemos todos aqueles que, de alguma maneira, fazem parte da jornada do transplante de órgãos. Doamos órgãos sem receber nada em troca, nenhum um tipo de vantagem, seja ela financeira, ou de algum outro recurso. É o altruísmo que rege todos os princípios éticos, todo o sistema nacional de transplantes”, afirmou Alexandre Cauduro, coordenador do RJ Transplantes.
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Uma homenagem para agradecer, lembrar e conscientizar todos sobre a importância da doação de órgãos. Assim nasceu o Jardim do Doador, um espaço para cultivo onde cada muda representa um paciente que doou órgãos no Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), em Uruaçu (GO). Foram sete até agora, um marco para o Estado de Goiás que registra aumento de 59% na doação de órgãos neste ano.
“É uma perda muito grande, mas é também uma grande satisfação saber que meu filho está ajudando o próximo. Quanto mais divulgarmos isso, melhor, para que possamos tocar outros corações e incentivar as pessoas a realizar esse gesto de amor e caridade, pois a doação de órgãos salva vidas”, afirma Maria Iolanda de Souza, mãe de um dos doadores, que participou da ação no Jardim do Doador.
Os doadores do HCN estão eternizados no espaço por meio de mudas de árvores frutíferas. Antes do plantio, foi realizada uma palestra para os colaboradores do hospital e os familiares dos doadores. O objetivo foi reforçar a campanha Setembro Verde, esclarecendo algumas questões sobre a doação de órgãos e tecidos para transplante e como funciona o processo..
Importância do respeito e da empatia para obter a autorização
No Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), o Gigante do Norte transformou-se em um grande aliado da causa, orientando e estimulando familiares e pacientes sobre a importância da doação que salva vida por meio de transplantes.
Durante todo o processo, as famílias são abordadas e amparadas pela equipe multidisciplinar da comissão responsável, que tem assistentes sociais, psicólogos, equipe médica e de enfermagem, entre outros profissionais que apoiam o trabalho de captação.
João Batista da Cunha, diretor assistencial do HCN, enfatiza a importância do respeito e da empatia no momento de conversar sobre a doação de órgãos e tecidos.
“É importante investirmos cada vez mais na capacitação dos nossos profissionais para proporcionar um acolhimento cada vez melhor para as famílias doadoras. Este é um momento delicado e para obtermos a autorização dos entes queridos é essencial oferecer um serviço de acolhimento humanizado”, explica.
Especialista em transplante cardíaco pediátrico, Alexandre Cauduro também destacou o trabalho de excelência das equipes na capacitação das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTTs), que funcionam dentro das unidades de saúde, e que contribuíram para o aumento do “sim” dos familiares à doação
65 mil pessoas na fila de espera por órgãos
No país, mais de 65 mil pessoas aguardam na lista de espera por órgãos, um dos maiores números dos últimos 25 anos. A posição da pessoa na fila depende de uma combinação de tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão.
Quem regula a fila é o Sistema Único de Saúde (SUS) e independe de ser um paciente da rede pública ou privada. Os órgãos doados vão para pacientes que aguardam na fila nacional única, controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.
Para se tornar um doador em vida, a pessoa deve ter mais de 21 anos, estar em boa saúde e concordar com a doação, desde que não comprometa sua própria saúde. A doação após morte encefálica só ocorre com a autorização da família. Portanto, é fundamental comunicar aos familiares o desejo de se tornar um doador.