Autismo e Síndrome de Asperger são a mesma coisa?

Termo Síndrome de Asperger caiu em desuso desde 2013 e passou a ser incorporado como Transtorno do Espectro Autista (TEA) Nível 1

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Desde 2007 o dia 18 de fevereiro mobiliza o mundo em torno da Síndrome de Asperger, enquadrada no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que atinge cerca de 2% da população. Em maio de 2013, a quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais incorporou a síndrome de Asperger aos critérios diagnósticos do TEA, sendo agora considerada uma variação mais branda do autismo e diminuindo o número de diagnósticos específicos da síndrome.

O DSM-5 é a versão mais recente pelo qual a Associação Americana de Psiquiatria determina as características diagnósticas dos mais diversos transtornos da mente. Desde o lançamento da publicação, há 10 anos, o termo Síndrome de Asperger caiu em desuso, mas ainda é muito empregado, inclusive por profissionais de saúde. Esse termo passou a ser incorporado como Transtorno do Espectro Autista (TEA); equivalente ao Nível I, considerado um quadro mais leve e funcional do Espectro Autista.

Com a inclusão da síndrome de Asperger no rol de critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista, o termo deixou de ser usado em muitos países e passou a ser considerado um autismo de nível leve. Com a alteração da nomenclatura, diagnósticos da síndrome diminuíram.

“A Síndrome de Asperger ainda tem sido usada como diagnóstico para os casos de autismo mais leves, aqueles que apresentam condições de autonomia e relacionamento social mais favorável”, explica a psicóloga Verônica de Fátima Salvalaggio, do Plunes Centro Médico, de Curitiba (PR).

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) abrange uma série de condições que comprometem o comportamento social em diferentes níveis. O TEA inclui um grupo de alterações do neurodesenvolvimento com graus e manifestações amplamente variados, geralmente iniciados na primeira infância e caracterizados por problemas na comunicação e interação social, juntamente com questões comportamentais, como interesses restritos e comportamentos repetitivos.

Além de visar a integração da sociedade com as pessoas que têm a condição, o Dia Internacional da Síndrome de Asperger (18 de fevereiro) busca sensibilizar a população para o transtorno que não tem cura, mas que se acompanhado de forma adequada pode favorecer as condições de vida do diagnosticado.

A campanha de conscientização sobre Asperger também reforça a importância da observação apurada em casa e na escola para um diagnóstico preciso e necessário para garantir o acompanhamento mais adequado ao paciente.

Quais são os sintomas de comportamento?

Um detalhe que pesa contra o conhecimento da Síndrome de Asperger – ou grau mais leve do autismo – é a baixa percepção dos pais, familiares e responsáveis aos primeiros sinais, já que podem manifestar-se sem chamar atenção. Por isso, é preciso ficar atento ao comportamento das crianças dentro e fora de casa.

Dificuldades na interação social e na coordenação de movimentos, além de comportamentos repetitivos e modos de comunicação peculiares, são alguns dos sintomas da síndrome de Asperger – que se manifestam na expressão de frases e termos em tom rebuscado e no interesse por temas muito específicos.

Meninos e meninas com a síndrome não apresentam atrasos significativos no desenvolvimento da linguagem, mas têm inteligência na média ou superior à das outras crianças. Também preferem rotinas bem estabelecidas, criando rituais para o dia a dia.

Higor Caldato (@drhigorcaldato), médico psiquiatra e sócio da Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), especialista em psicoterapias e transtornos alimentares, explica que a principal característica do TEA é a dificuldade social, porém não apresenta atraso intelectual e nem alterações importantes da fala.

Podem estar presentes outras características como dificuldade nas relações afetivas podendo parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais; problemas sensoriais; dificuldade de adaptação às novas rotinas; problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência da pessoa.

“Em suma são crianças, jovens ou adultos que normalmente levam de maneira literal tudo o que ouvem; podem ter alguns atrasos mas pode ter uma comunicação funcional sempre que ela precisa”, diz o psiquiatra.

Como e quando identificar se existe mesmo o transtorno?

O diagnóstico realizado por equipe multiprofissional envolve principalmente profissionais das áreas da saúde e da educação. Isso porque alguns dos sintomas podem ser observados na idade pré-escolar; já outros se acentuam na fase escolar.

“É nessa fase que interesses peculiares, como fascinação por escalação de jogadores para um campeonato de futebol, lista de planetas e astros e detalhes sobre um jogo de videogame, por exemplo, são reconhecidos e surgem sustentados por problemas de interação social com os colegas e professores”explica o médico Anderson Nitsche, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe.

Segundo o médico geneticista Alexandre Lucidi (@alucidi), atuante em Neurogenética e Neuroimunologia, uma vez que a triagem e acompanhamento do desenvolvimento indica um risco para o diagnóstico, uma avaliação diagnóstica é indicada para a confirmação e análise da necessidade de intervenção precoce.

Uma avaliação psiquiátrica que envolve uma entrevista completa com pacientes e cuidadores é necessária para obter uma história completa, que inclui descrições de comportamento durante funções, relatos de comportamento em outros ambientes, atividades educacionais e comportamentais passadas e atuais, história familiar e questões psicossociais relevantes. A história e o exame devem ser conduzidos com cuidado.

É importante ter atenção a outros diagnósticos em potencial. Condições concomitantes podem afetar a sintomatologia do TEA de diferentes maneiras e em diferentes idades da vida. Portanto, a avaliação formal da linguagem, funções cognitivas, motoras, sensoriais e adaptativas é uma parte importante do processo diagnóstico.

“Avaliação com Médicos Geneticistas e o Aconselhamento Genético: deve ser oferecida uma avaliação para todas as famílias como parte da investigação etiológica. Os benefícios potenciais de se estabelecer um diagnóstico etiológico incluem o aconselhamento fornecido ao paciente e à família, quanto à morbidade e condições médicas associadas, refinando as opções de tratamento e evitando testes adicionais desnecessários”, completa Lucidi.

O diagnóstico é fundamental em qualquer intervenção, pois permite estabelecer a direção do tratamento e deve ser feito apenas por profissionais especializados, uma vez que as características da Síndrome variam muito.

“O diagnóstico permite explicar as dificuldades vividas pela própria pessoa e seus familiares, assim como possibilitar acesso a suporte técnico adequado.  Mas, infelizmente, não é raro que o diagnóstico seja usado como rótulo ou estigmatização. Isso pode acontecer por ignorância ou puro desrespeito, e devem ser combatidos”, afirma a psicóloga.

O TEA é uma condição genética?

Uma síndrome é o conjunto de sinais clínicos indicativos de uma determinada situação, cujas causas não estão esclarecidas. “Nem sempre as síndromes estão ligadas a alguma doença. As doenças têm sintomas e etiologia identificáveis, de tal modo que as síndromes são consideradas como uma condição clínica e não necessariamente como uma doença”, detalha Verônica.

O que caracteriza a Síndrome de Asperger tem sido debatido especialmente entre médicos, psicólogos e educadores e a abordagem e tratamento costumam se concentrar no treino da adaptação comportamental e social.

“Estas medidas buscam favorecer o convívio familiar e comunitário. Mas também é necessário oferecer um suporte que possibilite a expressão do desejo e da singularidade da pessoa com Síndrome de Asperger. É preciso dar oportunidade para que ela própria encontre a fonte que move sua existência, que a anima e faz seus olhos brilhar”, finaliza a psicóloga.

Entre os fatores estudados associados ao TEA, a contribuição genética é descrita. Os dados de sequenciamento do genoma indicam que existem centenas de genes ligados ao TEA, embora nenhuma mutação específica seja reconhecida como exclusiva do TEA. E é estimado que 400 a 1.000 genes possam estar associados a uma predisposição ao autismo. Os genes que contribuem para o TEA estão envolvidos em uma variedade de funções biológicas relacionadas ao desenvolvimento e funcionamento do cérebro.

É nosso entendimento que esses fatores genéticos prejudicam o desenvolvimento do cérebro por meio da interrupção de importantes vias biológicas, o que levará ao desenvolvimento de doenças. Estudos de neuroimagem mostraram alterações em diferentes regiões do cérebro, como córtex frontal, hipocampo, cerebelo e núcleo da amígdala.

A maior incidência de autismo em irmãos em comparação com a população em geral, a forte participação da herança em gêmeos com 98% de concordância em monozigóticos e 53% a 67% de concordância em gêmeos dizigóticos, e as estimativas de herdabilidade variam de 64% a 91% e distribuição desigual do sexo (predominância masculina), são alguns dos suportes para a contribuição genética substancial para o desenvolvimento do TEA.

Tipos de exame:

Neuroimagem: a ressonância magnética não é recomendada para avaliação de rotina, embora possa ser indicada na presença de certas condições, como regressão, micro ou macrocefalia, convulsões ou exame neurológico anormal.

EEG: não é recomendado para avaliação de rotina, embora possa ser indicado em certos casos com convulsões, regressão atípica ou outros sintomas neurológicos.

Exame físico: completo e direcionado para o diagnóstico diferencial, é essencial para orientar a investigação adequada. Isso inclui avaliação de crescimento, organomegalia, características dismórficas, anormalidades neurológicas e manifestações cutâneas de distúrbios neurocutâneos.

Tratamento

Junto com o diagnóstico diferencial, o tratamento interdisciplinar é fundamental para crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento. Isso porque podem provocar impacto na formação cognitiva e no desempenho escolar, bem como influenciam no desenvolvimento afetivo, social e familiar dos pacientes.

De acordo com Anderson Nitsche, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe, não há cura ou medicamentos específicos para tratamento. Mas o diagnóstico precoce, acompanhado de terapias psicossociais intensivas e especializadas, estimula a melhora progressiva do desenvolvimento do paciente.

Higor comenta que o tratamento geralmente exige um conjunto de intervenções multidisciplinares. É muito comum que necessite de intervenção de linguagem, farmacológica e de adaptação escolar. Nitsche completa que é fundamental que a família e a escola tenham participação ativa nesse processo, acolhendo, compreendendo e organizando os ambientes em que a criança vive.

“Muitas pessoas ainda têm a ideia de que os indivíduos com TEA não tem interesse em interagir com outras pessoas, quando, na realidade, esses indivíduos muitas vezes não dispõem das habilidades necessárias para a competência social. Sendo assim, é importante que sejam aplicadas estratégias terapêuticas no campo das habilidades sociais, bem como orientação familiar conduzida por equipe especializada”, destaca Higor.

ê sabia?

Sobre o nome Asperger

A data 18 de fevereiro foi escolhida por ser o aniversário do médico austríaco Hans Asperger que deu nome à Síndrome, ao estudá-la nos anos 1940.

Nos últimos 10 anos surgiram pesquisas que apontam o envolvimento de Hans Asperger com o programa de eugenia nazista que resultou no extermínio de centenas de crianças.

A descoberta tem causado indignação entre técnicos e estudiosos, que estão debatendo a possibilidade de banir a terminologia Asperger do nome dado à Síndrome em respeito à memória daquelas crianças e seus familiares.

Com Assessorias

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