Há muitos anos ele fez uma tatuagem na altura do peito simbolizando as batidas do coração, com a palavra ‘fé’. Ironia do destino, foi a fé que salvou a vida do ator e apresentador Otaviano Costa, de 51 anos. Ele precisou ficar 15 dias internado após uma cirurgia de emergência para corrigir um aneurisma da aorta. Realizado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o procedimento ocorreu no dia 10 de julho e durou sete horas.
“Agora é seguir a vida plenamente. [A cirurgia] salvou a minha vida e salva a de muitas pessoas. Essa aqui é a porta da vida’, disse, mostrando a cicatriz da cirurgia no peito, em entrevista neste domingo (28/7) ao programa Fantástico, da TV Globo em sua residência. Ele também mostrou a tatuagem, deu detalhes do diagnóstico da doença e do seu estado de saúde e se emocionou diversas vezes em entrevista à repórter Ana Carolina Raimundi.
Otaviano contou que há 17 anos foi informado pelos médicos que tinha um defeito em uma das válvulas do coração. “Em 2007, eu detectei algo que havia nascido comigo, fui monitorando, mas estava tudo calmo. Acabei negligenciando os meus exames por dois anos”, explicou. Costa tinha uma válvula bicúspide em vez de uma tricúspide, como é o esperado, no coração. Ele também corrigiu o problema durante a cirurgia.
Casado há 18 anos com Flávia Alessandra, com quem tem duas filhas, ele tinha acabado de voltar de uma viagem em família a Buenos Aires, na Argentina, quando resolveu procurar um médico por conta de uma dor próximo da costela. O artista evitou compartilhar a notícia sobre o diagnóstico com a esposa para não estragar a festa de 50 anos dela, no último dia 7de julho – ele só contou no dia seguinte, quando então foi internado.
Para a artista, “as emoções estão à flor da pele” desde que o marido descobriu o problema. Otaviano agora faz planos de comemorar seus novos aniversários. “Eu não celebrei a minha festa de 50 anos, me arrependi. Agora vou comemorar duas vezes – no dia 23 de maio, quando eu nasci, e no dia 10 de julho, quando eu sobrevivi”, disse ele.
SUS oferece ecocardiograma, mas lista de espera chega a 43 dias
Otaviano ainda alertou para a necessidade de manter o check up cardiológico em dia – procedimento que ele não realizava há dois anos. Ainda no hospital, na última segunda-feira (22/7), o ator gravou um vídeo compartilhado pelo Instagram em que contou como descobriu o diagnóstico do aneurisma. “Eu quero muito que você se cuide. Um simples ecocardiograma salvou minha vida e pode salvar a sua.”
O exame é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas hoje mais de 3 mil pessoas estão na fila para fazer um ecocardiograma em São Paulo, a maior cidade do país – o prazo leva em média 43 dias.
“Há mais ou menos 30 dias, minha vida virou de cabeça para baixo. Eu estava ótimo de saúde, não tinha nenhum sintoma, mas tinha uma dorzinha que estava me incomodando aqui. Como eu não estava conseguindo fugir pra São Paulo, pra fazer o meu check-up rotineiro há mais ou menos dois anos e entender o avanço das minhas condições físicas e de saúde, eu resolvi me consultar com um médico que eu não conhecia, o doutor cardiologista Antônio Masseto, no dia 6 de junho”.
O ator ainda destacou a importância do exame. Num simples ecocardiograma, ele detectou o avanço de algo que estava colocando minha vida em risco. Eu estava com um aneurisma da aorta ascendente torácica num nível muito perigoso, que a qualquer momento, por eu não estar com nenhum sintoma externo detectável, poderia ter o rompimento da minha aorta”, contou o ator.
Na legenda, o ator ainda acrescentou: “Obrigado, Deus! Minha gratidão, de peito aberto, literalmente! Se estou aqui, é graças ao Senhor! E obrigado também Nossa Senhora Aparecida, minha santa protetora, que nunca falha quando mais preciso”, escreveu, relevando a sua fé inabalável.
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No Brasil, 10 pessoas são internadas todos os dias com aneurisma da aorta
Um levantamento realizado em 2022 pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) revelou que ao menos 10 pessoas são internadas com aneurisma da aorta no país, todos os dias. Segundo a entidade, o aneurisma da aorta pode ser encontrado em cerca de 2% da população acima de 50 anos, 5% em homens com mais de 70 anos e 20% em irmãos de pessoas que já receberam o diagnóstico do problema.
Os números são muito preocupantes, levando em consideração que esta é uma doença silenciosa e que um aneurisma nesta artéria pode ser fatal. Este tipo de aneurisma acontece quando a parede do vaso sanguíneo se dilata, podendo se romper a qualquer momento, causando uma hemorragia interna.
A pesquisa realizada com o auxílio de informações do Ministério da Saúde também evidenciou um aumento nos casos da doença no começo de 2022, em comparação com os anos anteriores.
O tabagismo é o principal fator de risco associado à formação do aneurisma da aorta abdominal. Embora as pessoas fiquem anos sem fumar, existem efeitos que permanecem no corpo por muitos anos e continuam fazendo com que a artéria enfraqueça”, comenta Carlos André Vieira, especialista em cirurgia vascular no Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
A enfermidade atinge, principalmente, homens acima de 65 anos que fumam. A condição é relativamente frequente em adultos com idade superior a 50 anos, sendo uma estimativa de 4 a 7% no sexo masculino, e 1% no feminino. A complicação mais complexa dessa condição é a ruptura da artéria afetada, causando uma hemorragia interna. Nesses casos, a taxa de mortalidade pode chegar a 97%.
O que é aneurisma de aorta e por que é tão importante o diagnóstico precoce
A aorta é a maior e a principal artéria do corpo humano, que se origina no coração e se estende pelo abdômen, se dividindo para as duas pernas. Ela é responsável por transportar o sangue do coração para todos os órgãos, passando pelo tórax e abdômen. Ela garante que o sangue bombeado pelo coração seja direcionado para o resto do corpo.
Pense que para que o fluxo sanguíneo ocorra normalmente pelo corpo, é necessário que haja uma resistência das veias e artérias, senão, ele acumularia em determinadas regiões. Um exemplo seria a forma como a água que corre pelo encanamento das casas.
O aneurisma é caracterizado pela dilatação localizada de um vaso, podendo não apresentar sintomas inicialmente. Conhecida como aneurisma de aorta, essa doença é caracterizada justamente pelo enfraquecimento e alargamento das paredes das artérias, permitindo que aconteçam acúmulos na região.
O aneurisma é caracterizado por uma dilatação permanente de todas as camadas da parede de uma artéria de, pelo menos 50% maior que o diâmetro normal do vaso naquela pessoa, podendo não apresentar sintomas inicialmente”, explica o especialista.
Quando a aorta dilata e apresenta um diâmetro 50% superior ao normal, dizemos que estamos perante a um aneurisma da aorta“, diz. Ainda de acordo com o especialista, em resumo, o aneurisma de aorta é condição de alto risco que prova a dilatação da aorta e pode romper e matar.
O maior risco do aneurisma de aorta é o seu rompimento, que pode causar uma hemorragia interna, colocando a vida em risco. Nesses casos, a taxa de mortalidade pode chegar a 97%.. “A taxa de mortalidade desta doença quando ocorre a ruptura pode atingir níveis elevados, por conta do quadro de hemorragia grave que vai ocasionar”, esclarece Dr. Josualdo Euzébio.
Quando a cirurgia é indicada para estancar o aneurisma da aorta
Apesar de apresentar risco alto de complicações, o aneurisma pode ser controlado e tratado em fases mais precoces, com redução importante de risco. Dr. Josualdo Euzébio enfatiza que o controle clinico geral, controle dos fatores de risco, realização do checkup vascular podem orientar a prevenção de doenças vasculares e também a detecção precoce, sendo que o tratamento apresenta melhores resultados nesta fase.
Existem dois tipos de cirurgia para esse caso, a convencional, em que há necessidade de uma abertura no tórax, com uma recuperação em torno de 2 a 3 meses. E a cirurgia endovascular, que é menos invasiva e não é preciso abrir o tórax, é feita por um incisão na artéria da virilha, com uma recuperação de até três dias. O cirurgião cardiovascular decide o procedimento mais indicado para cada caso.
A indicação do tratamento cirúrgico segue as recomendações mundiais, e são vários aspectos a serem analisados pra definir o momento exato para tratamento e qual a técnica a ser utilizada
A cirurgia pode ser realizada pela técnica convencional com abertura de abdômen ou tórax e utilização de um prótese vascular específica ou através de um procedimento minimamente invasivo com pequenas incisões na virilha e implante de uma endoprotese”, destaca.
Técnica oferece alternativa a cirurgia com mais segurança
Milhares de pessoas morrem anualmente por aneurismas da aorta – protuberâncias causadas por fraquezas nas aortas, a grande artéria que envia sangue do coração através do sistema vascular. Se um aneurisma não for detectado, a aorta pode eventualmente rasgar ou romper. Quando um aneurisma é detectado antes de se romper, os cirurgiões torácicos podem intervir reparando a aorta e eliminando o aneurisma. No entanto, a cirurgia de reparo vem com riscos.
Uma técnica mais nova e menos invasiva, o reparo endovascular de aneurisma (EVAR), tem uma taxa de mortalidade muito menor. O maior desafio desse procedimento é que os cirurgiões estão operando sem uma compreensão detalhada de cada paciente. A simulação ajuda fornecendo uma visão clara e específica.
Ao usar imagens disponíveis, como tomografias e outros dados clínicos para gerar modelos virtuais 3D do sistema vascular, os cirurgiões podem ‘praticar’ seus procedimentos, usando a geometria específica do paciente real”, explica o professor Jean-Philippe Verhoye, um dos principais defensores globais do uso de simulações biomédicas dos sistemas vasculares.
Para o especialista, não há futuro sem simulação. “Acredito que em 10 ou 15 anos a modelagem pré-cirúrgica se tornará um procedimento padrão”, prevê Verhoye. “Mas teremos que passar por testes clínicos massivos antes que as aprovações regulatórias e de companhias de seguros sejam obtidas em grande escala. Até lá, estamos construindo nossas próprias capacidades e estabelecendo as melhores práticas”.
Como prevenir o aneurisma de aorta
Para Elcio Pires Junior, cirurgião cardiovascular e membro da SBCV, a melhor forma de prevenção são os exames regulares. “O acompanhamento clínico regular é o principal meio de prevenir esta doença, já que muitas vezes só é descoberta de forma ocasional em exames de rotina, como radiografia, ecografia, entre outros”, explicou
Por se tratar de uma doença assintomática, o aneurisma pode crescer sem a percepção do indivíduo, seja de forma lenta ou rápida. Em um estado avançado com aproximadamente 6cm de diâmetro, a pessoa começa a sentir dores no peito, na lombar e dificuldade para respirar. Em caso de ruptura da artéria, é possível sentir imediatamente uma dor abdominal aguda que se propaga para as costas, além de tontura e desmaio.
O aneurisma da aorta com aproximadamente 4cm de diâmetro pode ser acompanhado sem a necessidade de cirurgia, dependendo do caso de cada paciente, por meio de radiografia do tórax, ultrassom, RM, angiografia e TC. Já em casos em que o aneurisma passa desse tamanho, a cirurgia pode ser indicada”, completou.
Não há remédio ou tratamento precoce que previna alguém de desenvolver o aneurisma da aorta, o que existe são meios de manter uma boa qualidade de vida, que podem ou não evitar a doença, como fazer exercícios físicos regularmente, evitar fumar, não consumir muita gordura e controlar o colesterol e pressão.
Os fatores de risco devem ser levados em consideração. À medida que a pessoa envelhece, a chance da doença aparecer é maior, assim como o histórico familiar é um grande fator, para regularmente estar consultando um especialista”, finalizou Dr. Elcio.
A população deve ter consciência de que seus hábitos são escolhas, e estas escolhas podem prolongar ou não a vida”, finaliza Dr Josualdo Euzébio da Silva.
Entenda o que é o aneurisma de aorta e os riscos da doença
O médico Carlos André Vieira, especializado em cirurgia vascular do Hospital Nove de Julho, responde cinco perguntas sobre o aneurisma de aorta. Confira:
1. Qual é a idade mais comum para o aneurisma de aorta aparecer?
Essa enfermidade atinge, principalmente, homens acima de 65 anos que fumam. A condição é relativamente frequente em adultos com idade superior a 50 anos, sendo uma estimativa de 4 a 7% no sexo masculino, e 1 no feminino. O aneurisma de aorta é a 10ª causa de mortalidade em homens acima de 55 anos.sanguíneos. Homens acima de 80 anos são os mais vulneráveis.
2. Em quais regiões do corpo é possível encontrar essa doença?
O aneurisma de aorta é definido de acordo com a localização dele no corpo, se dividindo entre a região abdominal e torácica. Os casos da condição afeta mais a área abdominal, do que o tórax, embora as chances de ruptura do segundo tipo sejam maiores. As duas categorias apresentam diferentes formações.
Desta forma, elas mostram distinções estruturais em sua parede, no qual acredita-se que seja uma das causas da maior incidência de aneurismas abdominais. Já os aneurismas de aorta torácica são menos comuns, porém, costumam ser identificados acidentalmente na realização de exames, como: radiografia ou tomografia de tórax.
3, Como é o tratamento dessa enfermidade?
Na maioria das vezes, como se trata de uma condição assintomática, é essencial que o diagnóstico seja facilitado para que haja uma forma prática de identificar a doença. Porém, nos dias de hoje, em que a medicina baseada em evidência entrou em destaque, ainda não se tem uma resposta precisa de como rastrear essa doença de forma prática na população.
Um estudo publicado pelo The Journal Of Vascular Surgery diz que existe uma recomendação para diminuir a taxa de mortalidade da doença. Trata-se da realização de uma ultrassonografia abdominal, ao menos uma vez na vida, por homens acima de 65 anos. Com esse exame é possível checar se ocorreu alguma alteração nas paredes da artéria.
4. Quais são os principais riscos do aneurisma de aorta?
Um dos riscos mais comuns do aneurisma de aorta é o tabagismo, somado a problemas como hipertensão, insuficiência renal, aterosclerose, doenças congênitas do tecido conjuntivo como Síndrome de Marfan, alguns tipos de infeção (aneurismas micóticos) e enfermidades inflamatórias nas paredes dos vasos
O tabagismo é o principal fator de risco associado à formação do aneurisma da aorta abdominal. Embora as pessoas fiquem anos sem fumar, existem efeitos que permanecem no corpo por muitos anos e continuam fazendo com que a artéria enfraqueça. Vários estudos inferem que alguma infecção viral ou bacteriana possa ser o gatilho para o início da doença.
Nesta condição, o maior risco é a ruptura, porém, existem outras preocupações também. Como se trata de uma dilatação na artéria, acontece uma mudança na velocidade e direcionamento do fluxo sanguíneo, fazendo com que, frequentemente, tenha trombos nas paredes arteriais, que podem obstruir a passagem do sangue. Estes são conhecidos como tromboses arteriais, causando dor aguda na região e até casos de amputação.
Por último, outro ponto importante, é como definir a probabilidade de acontecer uma ruptura na artéria. Ela está diretamente relacionada com o seu tamanho, aqueles com menos de 5 cm têm chance menor que 1%, enquanto aqueles com seis centímetros apresentam chance de cerca de 10% de romper o vaso sanguíneo a cada ano. Diâmetros maiores aumentam muito mais essa probabilidade.
5. Quais são os tratamentos e como podem ser realizados?
O tratamento é realizado principalmente por meio de cirurgias que desviam o fluxo sanguíneo das artérias dilatadas , sem a necessidade de cortes e de forma indolor. Hoje, com a tecnologia e a presença de dispositivos cada vez mais adaptados à anatomia de cada paciente, é possível observar que a taxa de mortalidade operatória não ultrapassa 0,5%. Assim, os riscos de não fazer a cirurgia são muito maiores.
Nem todos os aneurismas devem ser operados, porque não são todos que apresentam risco de romper. É importante considerar o tamanho e a presença ou não de sintomas. Os pacientes com a doença devem ficar atentos para corrigir fatores de risco e acompanhar o crescimento com exames de imagem como ultrassonografia ou tomografia.
A operação não deve ser considerada cura da doença, mas sim de controle, pois pode haver casos de progressão, principalmente para aqueles que não mudaram o estilo de vida. O tratamento reduz drasticamente o risco de ruptura, mas, não necessariamente, o elimina.
Com Assessorias