O cuidado com a alimentação durante o tratamento do câncer é fundamental em todas as etapas, promovendo melhor qualidade de vida e bem-estar para o paciente. Uma dieta equilibrada auxilia na minimização dos efeitos colaterais, fortalece o sistema imunológico e contribui para a recuperação.
A nutricionista do Sírio-Libanês, Janilene Medeiros, destaca a importância do acompanhamento especializado e alerta sobre os riscos das chamadas ‘dietas milagrosas’, que podem prejudicar o processo terapêutico e a recuperação. “O equilíbrio é a chave, e nenhum alimento isolado resolverá todos os problemas”, afirma a especialista.
Segundo Janilene, eliminar grupos inteiros de alimentos, como carboidratos, por exemplo, pode comprometer a capacidade do organismo de produzir energia suficiente para sustentar o corpo durante o tratamento.
Frequentemente, os pacientes ficam confusos, e há uma tendência de exagerar e acreditar em mensagens alarmantes sobre o que se deve ou não comer, o que pode levar a escolhas alimentares prejudiciais à saúde. Não existe uma abordagem única; a dieta precisa ser personalizada e adaptada a cada fase do tratamento”, completa a nutricionista.
Quando se fala em pacientes com câncer, além dos procedimentos tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, o atendimento multidisciplinar é fundamental, pois impacta no bem-estar e na qualidade de vida do indivíduo. Nesse cenário, a nutrição desempenha um papel importante: além de ajudar a pessoa a se fortalecer, auxilia no enfrentamento dos efeitos colaterais do tratamento.
De acordo com Ana Flávia Locatelli, nutricionista do Instituto de Oncologia de Sorocaba (IOS), uma alimentação natural e balanceada é especialmente benéfica para favorecer um estado nutricional adequado para a realização do tratamento definido pelo oncologista.
Pacientes que têm a oportunidade de serem acompanhados por um nutricionista podem apresentar uma melhor resposta ao tratamento, ter menos efeitos colaterais, menos risco de desnutrição e, o mais importante: ter qualidade de vida durante e após o tratamento”, afirma a nutricionista.
Desafios enfrentados e auxílio da nutrição
Pacientes com câncer costumam enfrentar uma série de desafios, que incluem situações como perda de apetite, oscilações de peso, alterações no paladar, náuseas e outros desconfortos gastrointestinais. Tudo isso pode comprometer significativamente a ingestão de alimentos.
As necessidades nutricionais do paciente oncológico podem estar aumentadas e, por este motivo, é importante que as orientações sejam individualizadas, levando em consideração a fase da doença, o tipo de tratamento, as intolerâncias alimentares, preferências e sintomas que ele apresenta”, explica Ana Flávia.
A nutricionista também diz que, para cada sintoma gastrointestinal do tratamento oncológico, existem orientações nutricionais específicas que ajudam na melhora da ingestão e da qualidade da alimentação. “Quem sofre com náuseas, por exemplo, deve priorizar alimentos frios, secos e ácidos, utilizar temperos suaves e pouca gordura no preparo, além de fracionar as refeições em pequenos volumes ao dia, evitando jejuns prolongados”, exemplifica.
A nutricionista também destaca outras dicas que podem auxiliar os pacientes, como mastigar bem os alimentos, não deitar após as refeições e evitar beber muito líquido junto com a comida. “Picolés de suco natural, água de coco, smoothies de frutas e vegetais podem ajudar a hidratar de forma saudável”, complementa.
Os benefícios da nutrição no tratamento de pacientes com câncer
Uma alimentação balanceada é benéfica tanto para aspectos físicos, quanto mentais. Bons hábitos geram mais disposição para tarefas diárias e trazem melhorias para a autoestima. Porém, quais seriam os impactos de uma refeição equilibrada na rotina de pacientes oncológicos?
A nutricionista Cintya Bassi Souza, coordenadora dos Serviços de Nutrição e Dietética do Grupo São Cristóvão Saúde, revela esta ser uma das maneiras mais eficazes de evitar o câncer: “aliada a atividades físicas, a alimentação deve ser baseada em alimentos naturais, rica em vegetais e pobre em ultraprocessados (industrializados)”, aponta.
Os alimentos podem ainda conter microrganismos que causam infecções. Pensando no risco de diminuição da imunidade, por conta da agressividade dos procedimentos, “é preciso realizar a higienização das mãos até o antebraço, além da mesa e bancadas da cozinha, com água e sabão. Os hortifrutis devem ser lavados em água corrente, pra tirar a sujeira visível e devem permanecer de molho em solução (1 litro de água + 1 colher de bicarbonato ou água sanitária) por 15 minutos, seguido de um novo enxágue em água corrente”, informa Cintya.
Cinco desafios nutricionais durante o tratamento e dicas de como contorná-los:
- Náusea e vômitos: A quimioterapia pode causar enjoos e vômitos, dificultando a ingestão de alimentos. A recomendação é optar por refeições leves e geladas, como frutas, picolés e vitaminas, que trazem sensação de frescor. Gengibre e hortelã também são aliados para amenizar os sintomas.
- Alterações no paladar: Alguns pacientes relatam que os alimentos apresentam sabor metálico ou amargo. “Nesses casos, sugerimos o uso de temperos e especiarias suaves para tornar as refeições mais agradáveis”, explica Janilene.
- Perda de apetite: A falta de apetite é comum durante o tratamento. Recomenda-se consumir refeições menores e mais calóricas, como vitaminas e sucos com frutas e vegetais. Pratos únicos, como risotos, escondidinho de carne ou omelete com legumes, são boas opções.
- Fadiga e falta de energia: A exaustão causada pelo tratamento pode comprometer a disposição para se alimentar adequadamente. É essencial garantir a ingestão adequada de proteínas, tanto de origem animal (carne, frango, ovos e peixe) quanto vegetal (feijão, lentilha, ervilha e grão-de-bico). Também é recomendável incluir carboidratos de boa qualidade, preferindo opções integrais e evitando o excesso de açúcares simples.
- Constipação: A constipação é um efeito colateral comum da quimioterapia, geralmente causado pela baixa ingestão de água e fibras. Além de aumentar a ingestão de líquidos, é importante consumir alimentos ricos em fibras, como aveia, frutas e vegetais, que ajudam a regular o intestino.
Além desses pontos, é importante entender que os desafios podem variar conforme a fase do tratamento. “Em cada etapa do processo, o corpo reage de uma forma diferente, e é por isso que a alimentação deve ser ajustada conforme essas necessidades”, reforça Janilene.
Indicações para pacientes em tratamento
Em um tratamento contra o câncer, é importante cuidar da saúde de forma integral, com alimentação saudável, atividade física regular, sono adequado e manejo do estresse. “Qualquer desequilíbrio nestes pontos pode favorecer oscilações de peso ou de composição corpórea”, diz a nutricionista.
O ideal é que a alimentação seja baseada em alimentos in natura e minimamente processados. “Consumir estes alimentos vai nutrir e fortalecer o corpo durante o tratamento e ajudar na prevenção de recidivas e de surgimento de um novo câncer”, complementa.
Além disso, os pacientes devem evitar alimentos com um potencial risco microbiológico, como vegetais mal- higienizados, carnes malpassadas, preparações com ovos crus, leite e derivados não pasteurizados, além de alimentos ultraprocessados, chás, fitoterápicos e suplementos sem indicação de um profissional da saúde.
Alimentos que combatem efeitos colaterais no tratamento
• Azeite de oliva extravirgem;
• Frutas oleaginosas, como castanha, amendoim, nozes e abacate;
• Carboidratos complexos, como pães, massa e arroz integral, farinha de aveia, frutas e hortaliças;
• Fontes proteicas de boa qualidade, como leite e derivados desnatados, carnes magras e grãos;
• Alimentos frescos e não processados;
• Muita água, para garantir melhor aproveitamento dos nutrientes e um bom funcionamento intestinal .
Como a desnutrição impacta o tratamento oncológico
A desnutrição é um problema sério que pode estar, muitas vezes, relacionado a enfermidades. Alguns dos fatores que podem levar a esse quadro são dietas pobres em nutrientes, problemas de metabolismo, uso de medicações que diminuam a absorção de nutrientes – como tratamentos quimioterápicos, por exemplo –, diarreias, ou até mesmo a perda de apetite causada por algumas doenças.
A desnutrição pode desencadear uma série de complicações sérias para aqueles que foram diagnosticados com câncer. O tratamento oncológico, como a quimioterapia, pode causar efeitos adversos que afetam a relação do paciente com a alimentação, como alterações no paladar e desconforto oral. Esses efeitos contribuem para a falta de apetite, diminuem a ingestão de alimentos e afetam a qualidade de vida, podendo levar à desnutrição.
É de extrema importância evitar a desnutrição, pois compromete a recuperação e aumenta o risco de infecções. Ao menor sinal, uma suplementação junto ao nutricionista é indicada”, explica Cintya.
Em alguns quadros, em especial aqueles em estado crítico, a desnutrição pode ser de nível moderado ou até severo, necessitando de uma terapia nutricional complementar para além da dieta.
Sem a quantidade apropriada de nutrientes, o corpo passa a ter uma resposta imunológica muito baixa, especialmente quando combinado a tratamentos mais agressivos. Além disso, os pacientes também podem apresentar sintomas como fadiga, complicações em cirurgias e aumento de riscos de casos de infecções”, diz Valéria Rosenfeld, de Nestlé Health Science (NHSc), braço de saúde e ciência da Nestlé.
Guia de Receitas para o Paciente Oncológico
Para apoiar os pacientes durante o tratamento, o Hospital Sírio-Libanês desenvolveu um Guia de Receitas especialmente voltado para pacientes oncológicos. As duas edições desse livro de receitas, disponíveis gratuitamente no site do hospital, oferecem pratos simples e nutritivos que ajudam a amenizar os efeitos colaterais do tratamento contra o câncer de mama. O Guia de Receitas para o Paciente Oncológico está disponível gratuitamente no site do Hospital Sírio-Libanês.
Com Assessorias