Crianças da Baixada Fluminense, onde a cantora Ludmilla nasceu e passou a adolescência, estão recebendo esta semana os alimentos doados durante o show Numanice, realizado pela cantora, no mês passado, no Estádio Engenhão, no Rio de Janeiro. A distribuição de mais de 20 toneladas de alimentos arrecadados durante a compra de ingressos da modalidade meia-social é feita por voluntários da Ação da Cidadania desde a última segunda-feira (21/8).

As doações fazem parte da campanha Brasil sem Fome, lançada no primeiro semestre deste ano pela ONG criada por Betinho. Parte dos alimentos foi destinada para a Cozinha Solidária da entidade, que prepara – diariamente – 1000 refeições que são entregues para famílias em situação de vulnerabilidade na capital e na Região Metropolitana.

Comitês cadastrados pela Ação da Cidadania que atuam, principalmente, na Baixada Fluminense, estão sendo contemplados com kits contendo 10kg de alimentos cada. Mais de 2 mil famílias dos municípios de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis, São João de Meriti, Mesquita, Japeri, Belford Roxo, Queimados, Itaguaí, São Gonçalo e também da capital fluminense serão beneficiadas, o que corresponde a 100 mil refeições.

Essa não é a primeira vez que Ludmilla é parceira da Ação nas campanhas de combate à fome. Em 2020, durante a pandemia da Covid-19, ela foi uma das artistas que liderou a campanha Natal sem Fome, ao lado de outros artistas.

Doações recordes de sangue para o Hemorio

A turnê Numanice também ficou marcada pela iniciativa inédita de doação de sangue no Hemorio, o principal banco de sangue do estado, em troca de entradas para o show. A ação obteve volume recorde de doações no hemocentro.

A Ação da Cidadania lembra que a política nacional de sangue foi regulamentada em 2001 através da Lei Betinho (Lei do Sangue), que determina, entre outras regras, a proibição de sua comercialização e de outros derivados, controle e garantia de sua qualidade.

O fundador da Ação da Cidadania foi um dos principais nomes que lutaram por esta causa. Hemofílico e vítima de contaminação pelo vírus HIV em uma transfusão de sangue, Betinho enfrentou o preconceito causado pela falta de informação sobre um problema social tão importante e reforçou a importância da solidariedade através da doação como assistência à saúde.

Foi também através da solidariedade que o sociólogo mobilizou o país inteiro a combater à fome em 1993, dando início à Ação da Cidadania, que acaba de completar 30 anos e já distribuiu mais de 55 mil toneladas de alimentos por todo o país.

Doações para a campanha Brasil sem Fome podem ser feitas pelo site: www.brasilsemfome.org.br.

Palavra de Especialista

Um olhar sobre o direito básico à alimentação digna

Por Alcione Pereira, Fundadora e CEO da Connecting Food*

O direito à alimentação é considerado fundamental e está consagrado em diversos tratados, incluindo o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), do qual o Brasil é signatário. Ele prevê a garantia do acesso físico e econômico a alimentos adequados, em quantidade e qualidade suficientes a todos, sem discriminação.

Acontece que a alimentação digna não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também está diretamente ligada à saúde, à educação e ao desenvolvimento humano. Quando as pessoas têm acesso a alimentos nutritivos e suficientes, a qualidade de vida melhora, o potencial de aprendizagem e a produtividade aumentam e a sociedade se beneficia como um todo.

Insegurança alimentar no mundo

Apesar dos avanços significativos em muitas áreas, a insegurança alimentar ainda é um desafio global. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), quase 800 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo e mais de 3.2 bilhões de pessoas não possuíam acesso a uma alimentação saudável em 2021. Mas a insegurança alimentar não se limita à fome: inclui a falta de acesso regular e seguro a alimentos nutritivos e suficientes para uma vida saudável e ativa.

Essa questão é complexa e resulta de uma série de fatores, como conflitos armados, pobreza, mudanças climáticas, desigualdade social, má gestão de recursos naturais e do sistema de produção e distribuição de alimentos. Por isso, é tão importante que os diversos atores desse ecossistema estejam engajados na busca das soluções.

Insegurança alimentar no Brasil

Infelizmente, o Brasil também enfrenta desafios neste âmbito, com mais de 10% da população enfrentando algum nível de insegurança alimentar, segundo os dados mais recentes da Rede PENSSAN. E aqui está um paradoxo inaceitável, já que o nosso país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. 

Para enfrentar a insegurança alimentar, o Brasil implementou diversas políticas públicas, como o Programa de Alimentação Escolar (PNAE), que visa garantir a oferta de refeições saudáveis e adequadas aos estudantes da rede pública de ensino, o Programa Bolsa Família, que auxilia famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), por meio do qual o governo compra comida para doar a quem precisa.

No entanto, ainda há desafios a serem superados. É necessário um compromisso contínuo por parte dos governantes para fortalecer as políticas de segurança alimentar, ampliar o acesso à educação sobre alimentação e nutrição, promover ações de incentivo à agricultura familiar, reduzir as desigualdades sociais e combater o desperdício.

Combate ao desperdício

Este último item vem sendo o grande motor do nosso trabalho na Connecting Food desde o princípio. E é por esse motivo que nos unimos a outras organizações com os mesmos princípios, como as que formaram recentemente o Pacto Contra a Fome e o Movimento Todos à Mesa.

Já recebemos o retorno de muitas pessoas que vêm as suas vidas transformadas positivamente pelo trabalho que é desenvolvido pela Connecting Food junto a mais de 400 OSCs em 23 estados.

Os relatos são emocionantes e inspiradores: desde uma idosa que mal conseguia sair da cama e hoje pode caminhar independentemente, tudo por causa do simples fato de fazer três refeições diárias de qualidade; até uma mulher trans que, ao ter acesso diário a refeições, conseguiu reduzir consideravelmente a necessidade de recorrer a certos meios de subsistência.

É imprescindível refletirmos sobre a importância do direito básico à alimentação digna e sobre a necessidade de promover ações efetivas para combater a fome no Brasil. É responsabilidade de toda a sociedade se unir para garantir que todos possam viver com dignidade, respeito e acesso a uma alimentação saudável e adequada. Somente com esforços conjuntos e políticas públicas efetivas é que poderemos caminhar em direção a um país mais igualitário e solidário.

Fonte: Ação da Cidadania e Connecting Food

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