Falta de dinheiro para pagar uma academia não é obstáculo para quem já entendeu que praticar exercícios regularmente ajuda no bem estar físico e social, previne doenças e até emagrece. Diariamente, milhares de pessoas se exercitam ao ar livre em praças, praias e avenidas de todo o país. Infelizmente, apesar dos benefícios que gera, nem sempre esta prática é reconhecida e apoiada pelo poder público como importante instrumento de prevenção da saúde e qualidade de vida.
No Rio de Janeiro, o convênio que garantia orientação profissional a atividades físicas nas praças – que seria mantido pelo deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PSL), preso ano passado, acusado de corrupção – encerrou suas atividades em fevereiro, após agonizar vários meses. E deixou centenas de pessoas sem acesso ao serviço gratuito na capital e em vários pontos do estado, além de vários profissionais sem receber.
É o caso da Vera Quaresma, profissional de Educação Física que atendia mais de 60 pessoas (maioria idosos) na Praça Xavier de Brito, a conhecida e bucólica Praça dos Cavalinhos, na Tijuca. Ela ainda aguarda receber a remuneração pelos últimos meses de trabalho para a ONG Só Lazer, que mantinha o projeto apadrinhado por Chiquinho.
Mas Vera não desistiu de ajudar os frequentadores a realizar exercícios físicos com orientação. Incentivada pelos alunos, tomou a decisão de criar um grupo para a prática de ginástica ao ar livre. Cada um paga R$ 20 por mês para custear o trabalho e as despesas da Vera. Já são cerca de 30 inscritos e ela já pensa em abrir nova turma.
Além de oferecer exercícios funcionais, de alongamento e aeróbicos durante uma hora, Vera também orienta os alunos para o uso adequado dos aparelhos que funcionam no local, sem proteção – o que dificulta a prática em dias de chuva.
ABANDONO DOS APARELHOS – Vera também já reclamou inúmeras vezes do estado de abandono dos aparelhos para a Subprefeitura da Tijuca, responsável pela manutenção. Eu, como tijucana e usuária eventual do serviço, também reclamei, mas sem sucesso até hoje. Pelo menos dois aparelhos estão quebrados, outros precisando de lubrificação e um teve que ser desativado.
Obstinação de professores e satisfação de alunos
Iniciativas com a da Vera não são isoladas. Na mesma Praça dos Cavalinhos, após a prefeitura retirar apoio aos projetos que ali funcionavam há anos, mais dois professores de Educação Física mantêm por conta própria e ajuda dos alunos, turmas para a prática de atividades físicas ao ar livre.
Cláudio ministra aulas de dança para cerca de 30 alunos durante a semana, de segunda a quinta. Já Fredie mantém duas turmas de ginástica localizada entre segunda e sexta-feira, utilizando para isso apenas as grades da praça como apoio. São mais de 100 alunos inscritos, maioria também de idosos.
Cada um leva um elástico e recebe as orientações do professor em grupo para uma série de exercícios. E nem pensem que por conta da faixa etária avançada da maioria os exercícios não sejam puxados. Mas cada um respeita seu próprio ritmo e, quando necessário, adequam os exercícios a suas próprias limitações.
Sempre paciente e atento, Fredie orienta individualmente cada aluno quando erra algum exercício, coisa que em muita academia cara (e olha que já frequentei várias!) não acontece. Graças ao profissionalismo do professor – e, é claro, o empenho dos alunos – os resultados não são poucos.
São muitos os relatos de alunos que revelam ter perdido peso, ganhado mais saúde, reduzido taxas de colesterol, triglicerídeos e glicose e até vencido a depressão e o isolamento social a que muitas vezes os idosos são relegados.
Rio terá programa de atividades físicas
Mas na Assembleia, surge uma esperança do fim do túnel. No início de março, a Alerj anunciou a criação de um programa de incentivo à prática de atividades físicas no Estado do Rio de Janeiro. É o que determina a Lei Estadual 8.304/19, sancionada pelo governador Wilson Witzel e publicada no Diário Oficial no último dia 7.
O texto, de autoria do ex-deputado Benedito Alves, prevê que o Governo do Estado incentive a realização de atividades esportivas e de palestras sobre a importância dos exercícios físicos para a população. A lei permite a celebração de convênios com entidades públicas ou privadas para a realização das atividades previstas.
Os eventos deverão ser sempre coordenados por uma equipe multidisciplinar composta por professores de educação física credenciados, médicos e fisioterapeutas. Todas as atividades físicas e prescrição de exercícios serão ministradas, exclusivamente, por profissionais de Educação Física registrados no órgão de classe competente. Resta agora saber como e quando o programa será iniciado e como vai funcionar (a lei não esclarece). Estamos na torcida!
Academia da Saúde
Já o Governo Federal informa que mantém o Programa Academia da Saúde. Segundo o Ministério da Saúde, por meio de recursos financeiros, os municípios recebem recursos para financiar a implantação de polos que contam com uma infraestrutura e equipamentos adequados; e profissionais qualificados para promover práticas corporais e atividade física, promoção da alimentação saudável e educação em saúde.
“Além das práticas corporais (dança, jogos, aeróbica, dentre outros), que vão estimular o movimento, o gasto energético, o autoconhecimento, o equilíbrio e outros componentes da produção do cuidado devem ser incentivados e promovidos nos polos, como as práticas integrativas e com grupos multiprofissionais que vão auxiliar e monitorar os usuários”, diz o Ministério.
PARA ENTENDER
Padrinho do programa que oferecia atividades físicas nas praças, o deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PSL) foi preso em novembro de 2018 na Operação Furna da Onça, acusado de ter recebido vantagens do esquema chefiado pelo ex-governador Sergio Cabral em troca de votações favoráveis ao governo na Assembleia Legislativa.
Chiquinho, que é formado em Educação Física e foi secretário municipal de Esporte e Lazer na gestão do prefeito Eduardo Paes, foi solto em janeiro deste ano e passou a usufruir de prisão domiciliar, mas não voltou para a Alerj. E com isso, certamente o convênio com a ONG Só Lazer para o projeto nas praças foi cancelado.
No dia 21 de março, porém, por decisão da casa, Chiquinho e mais quatro deputados presos na mesma operação – André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcus Abrahão (Avante) e Marcus Vinicius “Neskau” (PTB) – ganharam o direito de ser empossados para garantir a cota de 70 deputados da Alerj. No entanto, os cinco não poderiam constituir gabinete nem receber salários. No dia 26, Sérgio Loubak (PSC), suplente de Chiquinho, assumiu o posto.
A reportagem não conseguiu ainda contato com o deputado nem com a ONG Só Lazer.
Da Redação, com informações da Alerj e Ministério da Saúde
Ola ainda tem..na pracinha o acompanhamento da enfermahem.