Durante muitos anos eu sofri com alergia a camarão e crustáceos. Alergia alimentar é um dos temas de congresso (Foto: Reprodução de Internet)
Durante muitos anos eu sofri com alergia a camarão e crustáceos. Alergia alimentar é um dos temas de congresso (Foto: Reprodução de Internet)

Durante muito tempo, eu sofria de alergia a crustáceos e frutos do mar. Logo eu que sempre adorei camarão. Não podia nem chegar perto que já ficava toda empolada. Foram dias, meses, anos triste. Com o tempo, a alergia alimentar foi evoluindo e se transformando. Estranhamente – e para minha felicidade – hoje o camarão já não agride meu organismo. Mas vira e mexe aparecem alergias sem explicação – a última crise já faz mais de um ano e meio. Estudos apontam que cerca de 30% da população sofrem de algum tipo de alergia.

Asma, rinite e urticária são consideradas as mais comuns. Fatores genéticos estão entre os responsáveis, mas a poluição, os alimentos industrializados e os antibióticos estão sendo apontados como outras causas para o crescimento de alérgicos no mundo. Estima-se que em 2050 mais da metade da população mundial terá algum tipo de alergia.

“O olhar nutricional para a alergia alimentar” é um dos temas que será colocado em pauta durante o 44° Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, que será realizado entre os dias 21 e 23 de outubro. Entre os tratamentos da alergia alimentar está a suspensão do alimento desencadeador da alergia, porém, é muito importante que isso seja acompanhado por especialistas para que não haja prejuízos nutricionais, principalmente na infância. O ideal é o acompanhamento multidisciplinar, com o pediatra, alergista e nutricionista.

Renata Cocco, coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), explica que macro e micronutrientes devem ser corretamente supridos, quer na forma de alimentação ou de suplementos exógenos. “Qualquer restrição alimentar pode causar prejuízos nutricionais, sociais e psicológicos se não for bem conduzida. As restrições devem se ater apenas aos alimentos orientados pelo médico. Não há justificativa em se retirar outros alimentos como forma de prevenção”, alerta a especialista.

A face oculta da alergia alimentar

Pessoas com alergia alimentar devem ficar atentas a algumas vacinas e medicações. Remédios de uso habitual podem conter lactose (açúcar presente no leite e proteínas do leite podem estar presentes como “contaminantes”). Os alérgenos alimentares que mais estão presentes em fármacos são gelatina, albumina, proteínas do leite – lacto albumina, caseína – e substâncias que não são consideradas alérgenos verdadeiros, mas provocam reações semelhantes às alergias como os sulfitos e corantes.

Ana Karolina Marinho, coordenadora do Departamento de Imunizações da Asbai, explica que o médico deve orientar o paciente com alergia ao alimento sobre a importância de ler os rótulos e bulas dos medicamentos. O objetivo é identificar se há o alérgeno suspeito e/ou proibido na composição dos medicamentos.

Neste caso, os cuidados devem ser com as vacinas que contêm ovo, gelatina, albumina e proteínas do leite (lacto albumina e caseína). “A vacina para prevenção da Febre Amarela tem maiores quantidades de ovo, assim, o paciente com alergia ao ovo tem uma chance maior de ter uma reação alérgica após a vacinação. A indicação da vacinação deve ser avaliada pelo médico pesando o risco de uma possível reação alérgica e o benefíciode se proteger contra uma doença grave”, conta a especialista da Asbai.

Cuidados com alimentos e produtos de higiene pessoal

Nos casos de alergia comprovada, as proteínas do alimento devem ser identificadas em produtos industrializados, receitas desconhecidas, contaminação por utensílios comuns, refeições coletivas (ex: escola), estabelecimentos comerciais e todos os ambientes passíveis de conter alimentos. Renata lembra que alguns produtos de higiene pessoal podem conter proteínas do leite ou de castanhas (amêndoas, por exemplo) e o contato destes produtos em pacientes mais sensíveis pode desencadear reações. “Olho nos rótulos! Desde 2015 a rotulagem de produtos industrializados se tornou mais clara, facilitando a investigação dos principais alérgenos”, recorda a médica.

“A restrição de macronutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras) pode desencadear ganho pôndero-estatural inadequado, quando há redução da oferta calórica necessária para a idade. Já a exclusão de micronutrientes (cálcio, ferro, zinco, selênio, complexos vitamínicos) pode levar a diferentes consequências no crescimento de cabelos e unhas, pele e acuidade visual, entre tantos outros”, explica a especialista.

Substituições seguras que não colocam a saúde em risco

Ovo: linhaça é um bom substituto para o preparo de bolos e outros preparados.

Trigo: farinha de arroz, fécula de batata.

Leite: a depender do tipo de alergia, os substitutos vão desde fórmulas hidrolisadas (extensamente ou de aminoácidos), fórmulas de soja ou bebidas à base de soja.

Segundo ela, leites vegetais (arroz, quinoa, amêndoas etc.) são opções muito pobres do ponto de vista nutricional e não devem ser utilizadas como substitutos únicos do leite de vaca, especialmente em crianças menores de 4 anos. “Leites de outros mamíferos (cabra, búfala, ovelha) não devem ser utilizados por apresentarem grande semelhança com as proteínas do leite de vaca”, alerta Renata Cocco.

Dicas importantes na hora de se medicar

– Só utilizar medicamentos após a orientação e prescrição médica. Evitar a automedicação;

– Consultar o médico sobre os possíveis riscos de reação e qual será o procedimento em caso de exposição acidental a alguma vacina ou medicamento que contenha o alérgeno alimentar;

– Ler rótulos e bulas é fundamental para evitar a exposição acidental.

Alergia no Terceiro Milênio: Desafios e Ações

Com o tema “Alergia no Terceiro Milênio: Desafios e Ações”, o evento espera reunir cerca de 1.500 pessoas entre os dias 21 e 24 de outubro durante o XLIV Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, que receberá especialistas do Brasil e do exterior em Belo Horizonte.

Segundo Norma Rubini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), organizadora do 44°Congresso, as doenças alérgicas constituem um problema de saúde mundial, com impacto muito importante nos sistemas público e privado do Brasil. “Os avanços obtidos nas últimas décadas, como os novos métodos diagnósticos e terapêuticos, contribuíram significativamente para a melhoria da assistência médica aos pacientes com doenças alérgicas e imunodeficiências”, conta a especialista.

Cursos práticos, plenárias, conferências, workshops estão programados para os quatro dias de evento com participações de várias entidades, entre elas a World Allergy Organization, o American College of Allergy, Asthma, and Immunology (ACAAI), European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI), Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma eInmunologia (SLaai) e Asociación Argentina de Alergia e Inmunología Clínica (AAAeIC).

A parceria entre a Asbai e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) oferecerá aos participantes intercâmbio científico entre alergistas e pediatras, resultando em assistência de qualidade para a criança e ao adolescente. Ainda na grade científica, haverá a realização do World Allergy Training School (WATS), simpósio direcionado ao jovem especialista, oferecido pela World Allergy Organization.

Cursos práticos – Entre os temas, estão “Biologia Molecular: Princípios para o Clínico”, “Dermatite Atópica”, “Testes com Fármacos”, “Prova de Função Pulmonar”, “Urticária e Angioedema” e “imunoterapia. “Temos grandes desafios tanto na esfera científica quanto na prática clínica, entre eles o papel do ambiente, novos alvos terapêuticos, imunobiológicos, medicina de precisão, educação preventiva e secundária. Esses e outros temas serão abordados durante o Congresso de Alergia e Imunologia 2017”, ressalta a presidente da Asbai.

Fonte: Congresso Alergia 2017 

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