O consumo excessivo de álcool é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3 milhões de mortes por ano são atribuídas ao uso nocivo do álcool no mundo, representando 5,3% do total de óbitos. O impacto do álcool no organismo é profundo e varia conforme a quantidade consumida, sendo medida em diferentes níveis de álcool no sangue (abreviado como a sigla em inglês “BAC”).

O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo (20 de fevereiro) é um momento importante para reforçar os riscos que o excesso de álcool e drogas representam para a saúde. Esse vício, tanto com substâncias lícitas quanto ilícitas, afeta diretamente o sistema cardiovascular e pode levar a complicações graves, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), trombose e aneurisma. Especialistas alertam sobre a necessidade urgente de prevenção e mudança de hábitos para a promoção de uma vida mais saudável.

A cirurgiã vascular Márcia Fayad Marcondes Abreu, diretora da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), destaca que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, além de estar associado a doenças pulmonares e ao câncer.

No caso do álcool, o consumo exagerado pode comprometer seriamente a saúde do coração e da circulação. “O álcool está relacionado ao aumento da frequência cardíaca e interferências no sistema de coagulação”, explica Dra. Márcia. Ela também ressalta que tanto a ingestão moderada quanto a alta podem influenciar os riscos de complicações no sistema cardiovascular, sendo que os padrões de utilização impactam diretamente nesses riscos.

Os efeitos da cocaína são ainda mais devastadores e causam a liberação de adrenalina. “Esse processo provoca taquicardia e eleva a pressão arterial, sendo uma das principais causas de arritmias, crise hipertensiva e morte súbita. O contato prolongado com essas substâncias pode gerar danos irreversíveis aos vasos sanguíneos e provocar doenças como a aterosclerose, que embora não tenha cura, pode ser controlada. Contudo, infartos e derrames podem resultar em óbito repentino ou deixar sequelas permanentes”, alerta a médica.

Prevenção e cuidados

Segundo a Dra. Márcia, os principais sinais de alerta para problemas circulatórios e indicativos de que o sistema cardiovascular precisa de atenção, são: aumento da pressão arterial, inchaço, veias dilatadas, dor nas pernas ao caminhar, intolerância a esforços, arritmias e dores no peito.

Além das complicações cardíacas e vasculares, o uso prolongado de álcool e drogas pode afetar outros órgãos vitais. O álcool está relacionado a doenças hepáticas graves, como cirrose e hepatocarcinoma; e o tabagismo pode causar doenças pulmonares, como asma e bronquite. Além disso, essas substâncias estão ligadas a distúrbios psiquiátricos, como dependência química, depressão e abstinência.

Para prevenir, evitar a progressão das doenças cardiovasculares e até reverter os danos, a cirurgiã vascular recomenda interromper o consumo de álcool e drogas imediatamente. “Mudanças positivas nos hábitos, como abandonar o tabagismo, moderar o consumo de bebidas alcoólicas e adotar uma rotina de exercícios físicos, podem melhorar a função vascular e reduzir o risco de morte prematura”, conclui a médica.

Saiba o que as bebidas alcoólicas causam no seu organismo

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“Quando a pessoa ingere uma bebida alcoólica, o álcool é rapidamente absorvido pela corrente sanguínea e é medido em gramas por decilitro (g/dL) ou como uma porcentagem. Um BAC de 0,02% já pode afetar a capacidade motora e o julgamento, enquanto um nível de 0,08%, considerado o limite legal para dirigir na maioria dos países, pode resultar em comprometimento significativo das habilidades cognitivas”, explica Henrique Sérgio Coelho, hepatologista do Hospital São Lucas Copacabana. “A partir desse ponto, os riscos aumentam exponencialmente. Por exemplo, um BAC de 0,15% pode levar a dificuldades severas na coordenação e à possibilidade de desmaios.”

À medida que o nível de álcool no sangue aumenta, os efeitos se tornam mais graves. Com um BAC entre 0,20% e 0,30%, a pessoa pode experimentar confusão mental extrema, perda da consciência e até mesmo risco de morte devido à depressão respiratória – quando o sistema respiratório tem dificuldades para ventilar adequadamente os pulmões, resultando em níveis elevados de CO2 no sangue. Já níveis superiores a 0,30% são potencialmente letais e podem resultar no chamado “coma alcoólico” ou até mesmo em morte, caso o paciente não seja tratado de forma adequada a tempo.

Os efeitos do álcool podem interferir em diversas camadas da vida de uma pessoa, desde o âmbito profissional, como no rendimento e comprometimento com o trabalho, até na esfera pessoal, prejudicando seus relacionamentos, muitas vezes, de forma permanente”, detalha Vivian Rotman, hepatologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN). “Por isso, é muito importante lembrar que não há um tipo de bebida alcoólica cujo consumo seja mais seguro em relação a outro e é necessário ter bom senso em situações em que haja grande oferta desse tipo de produto.”

Quando o consumo de bebidas alcoólicas em excesso se torna um hábito, a saúde do paciente pode ser prejudicada de outras formas. De acordo com a dra. Vivian, o fígado é um dos órgãos mais prejudicados pelo alcoolismo, já que é responsável pelo metabolismo do álcool. “Não por acaso existe uma condição chamada cirrose alcoólica, que causa fibrose extensa no fígado e aumenta de forma significativa as chances de desenvolver câncer nesse órgão”, completa.

A longo prazo, o consumo de bebidas alcoólicas pode ter efeito prejudicial também no coração, pâncreas e cérebro, além de estar ligado ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como fígado, intestino (cólon e reto), mamas, esôfago, laringe, faringe e boca.

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