Durante o verão, muitas pessoas têm o hábito de ir à praia e, até mesmo, lotarem clubes e outros lugares abertos, em busca de fugir do calorão que atinge diversas cidades do país, como também para se refrescarem. Do outro lado, há aqueles indivíduos que estão em busca de “pegar uma corzinha” durante a estação. Além das praias lotadas, a procura por espaços como câmaras de bronzeamento artificial aumenta significativamente nesta época do ano.

A prática acende o alerta para que esse perigo para a pele. Muitas pessoas acreditam que os raios UV das câmaras de bronzeamento são inofensivos, mas isso não é uma verdade. As lâmpadas de bronzeamento que fornecem os raios ultravioleta podem, a longo prazo, provocar danos à pele e ainda contribuir para o desenvolvimento de um câncer de pele.

A regulamentação para as câmaras de bronzeamento artificial varia conforme o país e no Brasil elas são proibidas. Desde 2009 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a venda e o uso de câmaras de bronzeamento artificial no Brasil. A medida foi tomada devido aos graves riscos à saúde, como o aumento de casos de câncer de pele e outros danos cutâneos causados pela exposição à radiação ultravioleta (UV-B).

Em janeiro de 2024, a autarquia reforçou, em nota, que as câmaras de bronzeamento são proibidas em todo o território nacional.  Em novembro de 2024 dois estabelecimentos fabricantes desses equipamentos foram interditados na Grande São Paulo em uma operação conjunta da Anvisa com a polícia, sendo apreendidas 30 câmaras.

Apesar da proibição e da fiscalização da Anvisa, muitos ainda desconhecem os perigos dessa prática. É possível encontrar e comprar máquinas em grandes sites como o Enjoei.com e o Mercado Livre. No final do ano passado, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou o uso de máquinas para bronzeamento artificial com finalidade estética.

Após a aprovação da lei municipal, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) publicou uma nota de repúdio na qual “se posiciona veementemente contra essa liberação, enfatizando que tal decisão compromete a saúde pública e coloca em perigo a vida da população”.

Risco de câncer de  pele aumenta em 75% com câmaras

A proibição da Anvisa acompanha uma tendência global de combate aos malefícios da radiação UV artificial. A Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), classifica todo o espectro de radiação solar e dispositivos emissores dessa radiação, como as máquinas de bronzeamento artificial, como carcinogênicos do Grupo 1, ao lado de substâncias como o tabaco e o amianto.

Segundo uma pesquisa realizada pela Iars, o risco de câncer de pele aumenta em cerca de 75% quando as pessoas fazem uso de câmaras de bronzeamento artificial antes dos 30 anos. O órgão elevou o nível de alerta da prática difundida em diversos países.

Um estudo publicado no site do “British Medical Journal”, por exemplo, aponta que, de 63.942 novos casos de melanoma (um tipo de câncer de pele) diagnosticados a cada ano na Europa, incluindo o Reino Unido, França e Alemanha, 3.438 (5,4%) estão relacionados ao bronzeamento artificial. O levantamento associa 794 mortes todo o ano ao uso dos equipamentos de bronzeamento – 498 homens e 296 mulheres.

Os pesquisadores do Instituto Internacional de Pesquisa de Prevenção, na França, e do Instituto Europeu de Oncologia, na Itália, analisaram resultados de 27 estudos sobre câncer de pele e uso de camas de bronzeamento artificial entre 1981 e 2012. O número total de casos de câncer de pele incluídos na análise foi 11.428.

Os autores chegaram à conclusão de que o bronzeamento artificial implica num aumento de 20% no risco de ter um melanoma – se o utilizador do equipamento tiver menos de 35 anos, as oportunidades dobram. Cada sessão anual de bronzeamento, calculam, oferece um aumento de 1,8% no risco de ter um melanoma.

Para alcançar um bronzeado seguro, especialistas indicam maquiagem apropriada eo uso de autobronzeadores – que não envolvem a exposição à radiação UV e são regulamentados pela Anvisa). Vale lembrar que, enquanto o autobronzeador estiver agindo, é essencial evitar a exposição ao sol. Após o enxágue, a exposição solar pode ser retomada, mas sempre com o uso de filtro solar para garantir a proteção da sua pele.

Risco de queimaduras, envelhecimento precoce e tumores

Quem busca espaços clandestinos para esta finalidade está exposto a riscos que vão além das queimaduras na pele; A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) alerta que a exposição à radiação ultravioleta (UV) por meio do bronzeamento artificial é extremamente prejudicial à pele, podendo causar ainda alergias, envelhecimento precoce (manchas e rugas) e até o desenvolvimento de tumores, aumentando o risco de câncer de pele.

O desejo de uma pele com aparência bronzeada leva as pessoas a se submeterem a sessões de bronzeamento artificial em clínicas clandestina. Mesmo assim, há alternativas mais seguras que promovem o bronze temporário, como o bronzeamento a jato, no qual é aplicado um spray na camada superior da pele, e cremes autobronzeadores, que não requerem a exposição à radiação UV. De todo modo, há pessoas que podem ter alergia a esses produtos”, adverte o médico oncologista Rodrigo Munhoz, coordenador do Comitê de Tumores de Pele da Sboc.

A radiação UV-B é altamente agressiva à pele, causando queimaduras severas, cicatrizes permanentes e alterações celulares que podem levar ao desenvolvimento de câncer. Pesquisas indicam que a exposição eleva a incidência de câncer, dessa forma, trata-se de uma questão de saúde pública.

Segundo a enfermeira estomaterapeuta da Vuelo Pharma, Andrezza Barreto, os danos são muitas vezes irreversíveis e podem não ser percebidos imediatamente. “Mesmo sessões curtas podem provocar lesões profundas que aparecem apenas anos depois”, alerta.

As consequências vão além da estética. “As queimaduras causadas pelas câmaras de bronzeamento são dolorosas e difíceis de tratar, frequentemente exigindo hidratação intensiva, produtos específicos e acompanhamento médico”, explica a enfermeira.

Em aspectos gerais, o desenvolvimento do câncer de pele está relacionado à exposição à radiação UV sem proteção adequada e a um histórico da doença na família. Munhoz orienta que as pessoas evitem se expor ao sol nos períodos com radiação mais nocivas (das 10 às 16 horas) e não se submetam a câmaras de bronzeamento artificial.

Para se expor ao sol, é necessário usar protetor solar com fator de proteção solar mínimo de 30, o qual deve ser reaplicado a cada 2 horas ou sempre após entrar no mar ou piscina, e vestir roupas, boné ou chapéu e óculos escuros para proteger as áreas mais expostas”, diz o coordenador do Comitê de Tumores de Pele da SBOC. “O ideal é deixar o protetor solar ao lado da escova de dente para se lembrar de aplicar o protetor solar na pele já de manhã”, sugere ele.

O perigo da mania de fazer ‘marquinhas’ com fita isolante

Segundo Ana Regina Trávolo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, seccional do Distrito Federal (SBD DF), compactuar com tais práticas representa sérios riscos à saúde, sendo altamente desaconselhado.

também destaca o risco do bronzeamento artificial feito com fita isolante. As tradicionais “marquinhas” que muitos usuários, em especial, o público feminino, gostariam de fazer durante a temporada, pois acreditam numa autoestima, quando a possuem. Alguns, inclusive, as veem em vídeos na ‘internet’ e tentam a reprodução em casa, o que, segundo a profissional, podem também representar riscos à saúde.

As ‘marquinhas’ feitas com fita isolante e a exposição solar subsequente podem representar riscos à saúde, como queimaduras na pele e danos causados pelos raios ultravioleta. Além disso, muitos desses métodos caseiros podem resultar em danos à pele, reações alérgicas ou outros problemas de saúde”, pontua a profissional, chamando a atenção para que é mais seguro buscar orientação de um dermatologista ou profissional de saúde para obter produtos adequados e seguros para o cuidado da pele”, diz a médica.

Atenção aos sinais do câncer de pele

A exposição solar é o principal fator de risco, mas fatores genéticos e alguns tipos de pele (principalmente as mais claras) também são fatores relevantes para o câncer de pele, considerado o mais frequente no Brasil.

Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) apontam que o câncer de pele é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 220 mil novos casos de câncer de pele anualmente para o triênio 2023-2025. Destes, até 95% são diagnósticos de câncer não-melanoma e em torno de 5% de câncer melanomas.

Somente a consciência para o autocuidado e prevenção pode ajudar a reduzir a triste previsão, publicada num artigo científico na revista Jama, que projeta um aumento de 77% nos novos casos e 90% mais mortes por câncer no mundo até 2050. E são dados que deverão ser três vezes maiores em países com   baixo. Entre os tipos de tumor que mais matam estão, em ordem: câncer de mama (13,3% dos pacientes no mundo), próstata, colorretal, pulmão e pele não melanoma.

Sinais de alerta e prevenção

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) orienta que manchas ou lesões que não cicatrizam, pintas assimétricas ou com bordas irregulares e lesões que mudam de cor ou tamanho devem ser avaliadas por um dermatologista. Além disso, o autocuidado passa por medidas diárias como o uso de protetor solar FPS 30 ou superior, chapéus, e óculos com proteção UV, mesmo em dias nublados.

O médico oncologista Antonio Carlos Buzaid, membro da SBOC, detalha que há diferenças entre o câncer não-melanoma e o melanoma. “Eles nascem de células diferentes. Enquanto o melanoma nasce de células que produzem a melanina, o melanócito, os outros cânceres de pele são mutações devido à exposição solar, mas em outros tipos de célula da pele”.

Ele também conta que o melanoma é mais agressivo e quanto mais profundo, maior a chance de ele entrar nos canais linfáticos ou nos vasos sanguíneos e se espalhar, ameaçando a vida do paciente. “Então, quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura”, afirma.

Os especialistas chamam a atenção a sinais como feridas que não cicatrizam, manchas ou nódulos na pele de crescimento rápido e pintas com ardência ou sangramento. Os critérios ABCDE ajudam a identificar pintas suspeitas e que devem ser mostradas para um médico dermatologista. Tais critérios dizem respeito a pintas com Assimetria, Bordas irregulares, com Cor mais escura, com Diâmetro variável e de Evolução constante.

Além disso, tumores de pele podem surgir em áreas pouco expostas ao sol, como palmas das mãos e plantas dos pés. Caso esses sinais sejam notados, os especialistas orientam que um dermatologista seja procurado”, destaca o especialista.

Descobri o câncer de pele. E agora?

Apesar dos riscos, quando detectado precocemente, tem altas taxas de cura, o que torna essencial o acompanhamento médico e a adoção de hábitos preventivos.  O oncologista Pablo Zanatta, da Eco Oncologia, reforça que o diagnóstico precoce é a chave para o sucesso no tratamento. Mas para isso, é preciso o autocuidado.

Geralmente quem descobre o tumor é o dermatologista ou cirurgião oncológico, para onde o paciente vai quando desconfia de uma mancha na pele. Em seguida, é preciso entender qual é o tipo de câncer, para que o médico determine qual será a abordagem.

“A maioria dos cânceres de pele é tratada com cirurgia, onde é feita a ressecção do tumor, sempre com margens livres (retirada de uma margem de segurança ao redor), para reduzir o risco de recorrência. Em casos específicos, pode ser necessário complementar com radioterapia ou imunoterapia. Embora os não-melanomas sejam menos agressivos, ainda podem causar metástases (espalhar células tumorais em outras partes do corpo). Já os melanomas têm um risco mais elevado e exigem cuidado intensivo”, explica.

Com Assessorias

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