No Brasil, mais de 65 mil pessoas aguardam na lista de espera por órgãos, um dos maiores números dos últimos 25 anos. O Brasil tem aproximadamente 58 mil pessoas na fila de espera por um transplante de órgão. Desses, 28 mil aguardam um rim e 19 mil esperam por uma córnea. Referência nesse tipo de procedimento, o Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes.

A posição da pessoa na fila de espera para doação de órgãos depende de diversos fatores, tais como compatibilidade, idade, doenças associadas e grau de urgência, conforme avaliação da equipe cirúrgica e sempre com o conhecimento do receptor. Quem regula a fila é o Sistema Único de Saúde (SUS) e os órgãos doados vão para pacientes que aguardam na fila nacional única, controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

A crescente demanda reflete a adaptação e a qualidade do serviço e das equipes especializadas em unidades públicas e privadas do país. Neste Setembro Verde, que marca o Dia Nacional da Doação de Órgãos (27/9), conheça algumas iniciativas de hospitais pelo país para ampliar a captação e transplantes de órgãos:

Hospitais públicos de Goiás batem recorde histórico de doadores de órgãos em 2023

Cirurgiões realizam captação de órgãos no HCN, em Uruaçu, referência na área em Goiás (Foto: Cristiano Martins)

Os hospitais estaduais do Governo de Goiás em Uruaçu (HCN), Trindade (Hetrin) e Formosa (HEF) somaram 17 doações de órgãos em 2023. O número equivale a 15% do total de 113 registradas no estado no mesmo período. As captações contribuem para diminuição da fila de espera por transplantes e refletem a adoção de protocolo específico com as famílias dos doadores.

Incluindo as captações de órgãos para doação realizadas em 2022, as três unidades hospitalares que atuam sob a administração do Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento (Imed) já realizaram 22 procedimentos até o momento. Do total de 22 captações de órgãos para doação, 14 delas foram realizadas no Hospital Estadual do CentroNorte Goiano (HCN), em Uruaçu; 5 no Hospital Estadual de Formosa (HEF) e mais 3 doações no Hospital Estadual de Trindade Walda Ferreira dos Santos (Hetrin).

Até então, o maior número de doadores de órgãos no estado de Goiás havia sido registrado em 2018, quando foram contabilizados 89 doadores. No ano de 2023, esse número aumentou para 113 doadores de órgãos, chegando a um novo recorde para o estado e representando um aumento de 39,5%. No mesmo ano, mais de 830 transplantes de órgãos e tecidos foram realizados em Goiás, marcando um aumento de 46,9% em comparação com os procedimentos efetuados em 2022, conforme dados da Gerência de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).

Segundo Katiuscia Freitas, gerente da Central Estadual de Transplantes de Goiás, o progresso nos números alcançados pelo estado reflete a sensibilidade das famílias doadoras, somada aos investimentos em treinamentos e capacitações para a equipe.

A Central de Transplantes de Goiás continua dedicada a sensibilizar a população sobre a importância da doação de órgãos, ao mesmo tempo em que assegura uma logística eficiente para o sucesso desses procedimentos. Cada doação representa um passo em direção a um futuro mais promissor e saudável para aqueles que aguardam na fila de espera”, ressalta.

Estamos comprometidos em promover a captação de órgãos como parte integrante de nossa missão de salvar vidas. Em nossas unidades hospitalares, buscamos contribuir para o aumento das doações de órgãos com uma equipe altamente qualificada, que atua com ética, empatia e respeito na abordagem das famílias envolvidas. A doação de órgãos proporciona esperança e oportunidade de recomeço para aqueles que aguardam por um transplante”, ressalta o diretor-geral do Imed, Getro Pádua.

Hospital estadual de Goiás realiza a sua 18ª captação de órgãos

Referência em Goiás e no SUS, o Hospital Estadual do CentroNorte Goiano (HCN), em Uruaçu, realizou um total de 9 procedimentos de captação de órgãos para doação apenas em 2023. Somente em dezembro de 2023, foram realizados cinco procedimentos em um único mês, consolidando o hospital como referência em captação de órgãos no estado.

Só em 2924, já foram quatro captações de órgãos na unidade. No dia 9 de setembro de 2024, o HCN realizou a sua 18ª captação de órgãos para transplante, o quarto procedimento deste ano. O doador era um homem de 62 anos. Na ocasião, foram captados rins e todo o processo contou com o apoio da equipe de médicos e enfermeiros da Central Estadual de Transplantes (CET), da Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO), e com o suporte logístico da Polícia Militar e do Serviço Aéreo do Estado de Goiás (SAEG), unidade da Casa Militar, responsáveis pelo transporte da equipe e dos órgãos captados.

A primeira captação de 2024 ocorreu no dia 28 de abril, quando foram captados rins e córneas de um doador de 36 anos. No dia 22 de junho, ocorreu o segundo procedimento de captação de tecidos para doação. Na ocasião, foram captadas córneas de um homem de 67 anos. A operação contou com apoio da Fundação Banco de Olhos (Fubog), além do suporte logístico do Corpo de Bombeiros para o transporte da equipe e das córneas que foram captadas.

No dia 6 de agosto, o hospital realizou o terceiro procedimento deste ano. Na ocasião, foram captados rins e córneas. A doadora era uma mulher de 27 anos. O processo contou com o apoio da equipe de médicos e enfermeiros da Fubog, com suporte logístico do Corpo de Bombeiros e da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), que cedeu a aeronave responsável pelo apoio aos procedimentos de transporte da equipe e órgãos captados.

O papel do hospital para incentivar famílias a autorizarem doação de órgãos

Os números positivos dos hospitais de Goiás são resultado da forte presença da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) nas três unidades, proporcionando o aumento no número de notificações, promove o acolhimento familiar e potencializa as autorizações familiares para a doação.

Composta por profissionais do serviço social, psicólogos, equipe médica e de enfermagem, entre outros departamentos, a CIHDOTT desempenha um papel fundamental na descentralização do processo de transplantes de órgãos, uma vez que as equipes que a compõem se encontram dentro da instituição notificante, possibilitando uma identificação precoce dos pacientes em possível morte encefálica e o início do protocolo para diagnóstico.

Todos os doadores que tiveram seus órgãos captados no Hospital Estadual do CentroNorte Goiano (HCN)  em 2024 tiveram morte encefálica determinada por protocolos seguidos por lei. Com a autorização familiar concedida, os órgãos captados darão a chance de uma nova vida a outras pessoas.  Apesar da difícil decisão e da dor da perda, as famílias são abordadas e amparadas pela equipe multidisciplinar da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT).

A unidade se tornou um  grande aliado na promoção da doação de órgãos e no salvamento de vidas por meio de transplantes, instruindo e estimulando familiares e pacientes sobre a importância de ser um doador. Segundo João Batista da Cunha, diretor assistencial do HCN, o tratamento humanizado é de extrema importância no momento da doação de órgãos e tecidos.

O momento é muito delicado e, para obtermos a autorização dos entes queridos, existe um serviço humanizado de acolhimento. Por isso, é necessário trabalharmos, cada vez mais, na capacitação dos nossos profissionais, para o melhor acolhimento das famílias doadoras”, explica o diretor.

Com a autorização familiar concedida, os órgãos captados darão a chance de uma nova vida a outras pessoas que aguardam na fila do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Durante todo o processo, desde a chegada da paciente ao hospital até a realização do procedimento, a família teve apoio da equipe multidisciplinar e médica, incluindo psicólogos e assistentes sociais do HCN.

A doação de órgãos é um assunto que precisa ser conversado ainda em vida, demonstrando esse interesse, essa vontade de ajudar o próximo, porque a única forma de se tornar um doador é com o ‘sim’ da família”, destaca a presidente da CIHDOTT e coordenadora da UTI do HCN, Kesse Cristine Martins.

A coordenadora de enfermagem da UTI Adulto do HCN, Leide Vaniele Ribeiro Santos destaca que o gesto de familiares de um mesmo doador pode beneficiar várias pessoas. “Milhares de vidas são salvas graças à doação de órgãos. O transplante pode ser a única esperança de vida ou uma oportunidade de recomeço para as pessoas que precisam da doação, por isso é importante sempre falarmos sobre o tema e incentivarmos a doação”, ressalta Leide.

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TransPlantar: hospital de São Paulo realizou mais de 700 procedimentos

A iniciativa integra o Proadi-SUS, em parceria com outros seis hospitais, e busca estimular a doação de órgãos para salvar vidas

Em São Paulo, o projeto TransPlantar, criado pelo Sírio-Libanês, alcançou a marca de mais de 800 pessoas beneficiadas pelo hospital em parceria com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS), De 2009 a 2023, o projeto já realizou 664 transplantes de fígado pediátrico, 39 transplantes cardíacos em adultos, além da implantou de 24 dispositivos cardíacos e atendimento a mais de 90 crianças em programas de reabilitação intestinal.

Realizamos 21% dos transplantes de fígado pediátricos no Brasil em 2021 e 2022. Além de oferecemos uma assistência integral, disseminamos conhecimento e garantimos uma alta qualidade de atendimento para a população como um todo”, afirma Eduardo Antunes, cirurgião do Aparelho Digestivo do Sírio-Libanês.

Antunes atenta que a quantidade de doadores é insuficiente frente à demanda que é crescente, especialmente para crianças até dois anos de idade. “Infelizmente, este é grupo que apresenta alta taxa de mortalidade, enquanto espera na fila pela doação de um órgão”, complementa Antunes.

O projeto acompanha pacientes, doadores e receptores nas fases pré e pós-transplante, oferecendo suporte para a realização dos transplantes e assistência em reabilitação intestinal, hospitalar, domiciliar e ambulatorial.

Alinhado à Política Nacional de Transplantes de Órgãos e Tecidos e à Política Nacional de Atenção Especializada, o TransPlantar contribui para a ampliação da oferta de serviços especializados e para a redução das desigualdades regionais, seguindo as diretrizes do Plano Nacional de Saúde e do Ministério da Saúde.

 

Hospital gaúcho passa a oferecer transplantes hepático e músculo-esquelético

Instituição integra seleto grupo de quatro hospitais autorizados a realizar o procedimento no Rio Grande do Sul

Dados do Registro Brasileiro de Transplantes e da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) revelam que, em 2023, foram realizados 2.365 transplantes de fígado no Brasil, sendo 137 no Rio Grande do Sul. A maior dificuldade encontrada é a escassez de doadores, inferior à demanda de pacientes à espera por um órgão. Até o final do ano passado, 160 pessoas estavam à espera de um fígado no RS.

Na maioria dos transplantes em adultos, os órgãos são obtidos de doadores falecidos. Conforme a Central Estadual de Transplantes, em 2023, a maior parte dos fígados doados no RS foram de doadores mortos (120), enquanto 17 foram transplantados de doadores vivos.

No mês de conscientização e incentivo à doação de órgãos – Setembro Verde –, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, passou a estar apto a realizar transplantes de fígado. Com o recente credenciamento, o Moinhos de Vento integra o seleto grupo de quatro instituições hospitalares autorizadas a realizar o procedimento no Rio Grande do Sul.

Temos uma equipe que se empenhou em preencher todas as lacunas que eram necessárias para que pudéssemos ser credenciados. Contamos com um grupo que é bem experiente nessa área e que com certeza vai contribuir para que mais procedimentos sejam realizados”, destaca Fernando Wolff, chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Moinhos de Vento. 

Transplante musculoesquelético é outra novidade

Recentemente, o Moinhos de Vento passou a oferecer o transplante musculoesquelético, a fim de proporcionar maior qualidade de vida e atender pacientes com grandes perdas ósseas, como as causadas pelo afrouxamento de prótese e tumores ósseos.

O procedimento é indicado para pacientes que precisam realizar a troca ou a revisão das próteses de quadril e joelho ou que estejam com perda óssea em razão de tratamento de tumores ou fraturas graves ou ou perdas causadas por traumas de alta energia. Além do tecido ósseo, podem ser transplantados ligamentos, meniscos e tendões. A necessidade de cada paciente é definida por ortopedista especializado, sendo uma opção personalizada para cada caso.

Com o recente credenciamento, o hospital agora faz parte do seleto grupo de 12 instituições hospitalares que são autorizadas a realizar o procedimento no Rio Grande do Sul, sendo a  única instituição privada que dispõe desse tipo de procedimento em Porto Alegre. Segundo o cirurgião e chefe do Serviço de Ortopedia do Moinhos de Vento, Carlos Galia, o transplante oferece vários benefícios.

Muitos pacientes com afrouxamento da prótese, além de substituir o implante, precisam repor o osso na região. Por ser uma solução biológica, o enxerto se ajusta melhor ao organismo. A chance de rejeição é muito baixa. Em 95% dos casos, os pacientes se adaptam bem ao novo tecido”, detalha Galia.

Há poucos locais de onde retirar enxerto ósseo do próprio paciente, por isso, a maior parte dos tecidos utilizados nos transplantes são oriundos de bancos de tecidos, como o do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro. Conforme o caso, o material é solicitado e o transplante é realizado, por uma equipe treinada e especializada, no Centro Cirúrgico do Moinhos de Vento.

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Como doar órgãos no Brasil

A atitude de doar órgãos é um gesto de amor que tem o poder de salvar vidas. Portanto, é crucial comunicar aos familiares o desejo de se tornar um doador, proporcionando esperança e oportunidade de recomeço para aqueles que aguardam por um transplante.

Para se tornar um doador em vida, a pessoa deve ter mais de 21 anos e concordar com a doação, desde que não comprometa sua própria saúde.  Já a doação após a morte encefálica só acontece com autorização da família no Brasil. Por isso, é importante comunicar para as pessoas mais próximas o desejo de se tornar um doador.

Muitas pessoas acham que é preciso registrar a opção de doador de órgãos em qualquer documento pessoal, mas no Brasil, para ser doador não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta conversar com sua família sobre seu desejo de ser doador.

A campanha Setembro Verde é mundialmente conhecida como mês de conscientização e incentivo para a doação de órgãos. A família desempenha um papel de extrema importância nesse contexto, uma vez que a doação de órgãos só será feita após a autorização familiar.

Após o diagnóstico de morte encefálica, a família é informada sobre a possibilidade e direito de doação, e somente após o consentimento familiar é que a doação é efetivada. Por isso, é importante anunciar para as pessoas mais próximas o desejo de ser um doador.

As indicações para transplantes seguem as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. De maneira geral, o candidato deve apresentar doença para a qual não haja outro tipo de tratamento; doença hepática aguda ou crônica progressiva e irreversível; e qualidade de vida muito comprometida.

Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em fila nacional única – a lista é a mesma tanto na rede pública quanto na privada, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.

Quem irá recebê-los depende de diversos fatores, tais como compatibilidade, idade, doenças associadas e grau de urgência, conforme avaliação da equipe cirúrgica e sempre com o conhecimento do receptor.

Com Assessorias

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