A atriz e rainha da escola de samba do Carnaval do Rio de Janeiro, Viviane Araújo, que representa a Salgueiro, foi alvo de polêmica por ter uma hérnia abdominal visível em vídeo postado nas redes sociais, durante um ensaio para o desfile deste ano, que realizou na Marquês de Sapucaí, nesta semana.  Na quarta-feira (12) ela fez um desabafo nas redes sociais abordando a doença.

Postei o vídeo e algumas pessoas só sabiam reparar e comentar sobre a hérnia. Não apreciavam mais nada, só falavam dela”, afirmou.

O caso chamou a atenção do cirurgião Gustavo Soares, e presidente da Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal. Afinal, Viviane sofre algum risco? Segundo ele, a doença é altamente prevalente na população brasileira e tem a cirurgia como a única forma de tratamento. “Sem ela, existe o risco de complicações graves como o encarceramento e o estrangulamento da hérnia que podem levar a necessidade de cirurgias de emergência”.

Para o especialista, Viviane precisa ser avaliada por um cirurgião, pois não é possível se posicionar sobre um caso sem a adequada avaliação médica. De forma geral, se a paciente estiver assintomática e sem dor, não há problema em desfilar.

No entanto, se houver algum incômodo é fundamental que ela procure um cirurgião dedicado ao tratamento das hérnias, tendo em vista que o desfile em escola de samba requer um esforço grande e pode haver o encarceramento, uma grave complicação que pode levar à cirurgia de emergência.

Hérnias abdominais afetam até 25% da população adulta

As hérnias abdominais são mais comuns do que parecem, afetam entre 20% e 25% da população adulta no Brasil, o que representa 28 milhões de adultos. A hérnia umbilical, como é o caso de Viviane, atinge 8% da população, entre crianças e adultos.

Apenas a hérnia da virilha (inguinal) afastou 28 mil trabalhadores dos seus postos em 2023, segundo o Ministério da Previdência Social, sendo a oitava maior causa de benefício por incapacidade temporária.

Ainda segundo ele, as hérnias no umbigo são mais comuns após a gestação ou na infância. “Elas são frequentes em recém nascidos e em bebês de até um ano de idade mas, nesses casos, geralmente fecham espontaneamente. Em adultos está mais associada à gestação – devido ao aumento da cavidade abdominal, tosse persistente e excesso de peso”, explica.

Entre os tipos mais comuns de hérnia estão as umbilicais, aquelas que ocorrem no local de uma cirurgia anterior (incisional), na virilha (inguinais) e as que afetam a região um pouco acima do umbigo (epigástricas). As na virilha representam 75% do total de casos e 20% dos homens devem apresentá-la ao longo da vida, assim como 3% das mulheres.

Ainda segundo Gustavo Soares, cada tipo de hérnia tem características específicas. “Geralmente compartilham o potencial de causar dor intensa principalmente durante a prática de exercícios físicos e, em casos graves, podem necessitar de intervenção cirúrgica urgente. Os pacientes também apresentam uma bolinha (abaulamento) no local da hérnia”.

Leia mais

Mutirão de cirurgias de hérnia atende 100 pacientes do SUS no RJ
Hérnia diafragmática é tratada antes do nascimento
Dor na lombar pode ser hérnia de disco, doença reumatológica ou tumor

Mais de 270 mil cirurgias de hérnia pelo SUS em 2024

Números do DataSus, sistema do Ministério da Saúde, apontam que, apenas de janeiro a setembro de 2024, foram realizadas 270.741 cirurgias para tratamento desta doença no Sistema Único de Saúde do país. De janeiro a junho foram realizadas 170.9 mil cirurgias para o tratamento dos diferentes tipos desta doença, entre eles foram 19.808 atendimentos de urgência.

O número de cirurgias foi de 124.564 nos dois anos (excluindo casos considerados pequenas cirurgias 12.651). No Brasil foram realizadas 287.902 cirurgias de hérnia no ano de 2022 e 298.846 em 2023, um crescimento de 3.80% e o investimento nos procedimentos cirúrgicos foi de aproximadamente R$ 70 milhões.

De 2022 para 2023, o número de cirurgias realizadas no SUS para o tratamento da doença aumentou 17%, saindo de 285 mil para 334 mil. Nos três anos analisados (2022 – 2024) as cirurgias minimamente invasivas – que proporcionam recuperação precoce e menor dor pós-operatória – representam uma média de 0,6% do total de procedimentos realizados no SUS e 15% das cirurgias feitas foram em caráter de urgência.

O estado de São Paulo registrou a realização de 826.300 ações, entre consultas, diagnóstico, cirurgia e acompanhamento de pacientes com hérnias da parede abdominal nos anos de 2023 e 2024, conforme os dados apresentados pelo DataSUS.  O investimento para esses atendimentos, através do SUS, chegou a R$ 85,5 milhões, ainda segundo a entidade.

A Sociedade promove mutirões anualmente para tentar reduzir a fila do SUS em diferentes regiões do Brasil. Ao todo, já foram realizadas 10 edições com mais de mil cirurgias gratuitas pelos cirurgiões associados à SBH. Em 2024, o mutirão aconteceu em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Em 2023, a ação foi feita na cidade de Cuiabá, no Mato Grosso. As ações também já aconteceram no Tocantins, Paraíba, Ceará, Rio de Janeiro, Maceió, Minas Gerais, Amazonas e Rio Grande do Sul.

Confira as principais dúvidas sobre as hérnias abdominais

Hérnia abdominal (Ilustração: Shutterstock)

1 – O que é hérnia abdominal?

As hérnias abdominais são uma abertura na musculatura do abdome que permitem a passagem de um conteúdo de dentro da barriga para fora, podendo ser gordura ou parte de um órgão. Dor durante a prática de atividades físicas e o abaulamento (bolinha) no local são os principais sintomas da doença.

É necessário sempre estar atento a uma bolinha (abaulamento) que tende a aparecer em regiões como o umbigo, virilha ou na cicatriz de uma cirurgia anterior. Geralmente o paciente tem dor durante a prática de atividades físicas que melhoram com o repouso e, sem o tratamento adequado a hérnia tende a progredir”, completa o diretor da SBH,  Pedro Amaral.

2 – Qual o tratamento?

A única forma de tratamento de uma hérnia abdominal é a cirurgia. Os pacientes precisam de cuidados médicos, já que existe o risco de complicações como o encarceramento e o estrangulamento que podem exigir cirurgia de emergência.

3 – A hérnia pode voltar?

As hérnias umbilicais têm um risco de recidiva (retorno) de até 8%. Para evitar que isso aconteça utilizamos telas no momento da cirurgia que reforçam a musculatura abdominal e evitam que a doença volte. Os cuidados pós-operatórios também são indispensáveis para o sucesso da cirurgia.

 

Dia Nacional das Hérnias da Parede Abdominal 

Com o objetivo de informar e conscientizar a população sobre as hérnias abdominais, a Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH) propõe, através de um Projeto de Lei apresentado em 2024 no Congresso Nacional, a criação do Dia Nacional de Conscientização Sobre as Hérnias da Parede Abdominal.

Segundo Gustavo, o objetivo é melhorar o atendimento à população. “Ter esta data no calendário oficial aumenta a possibilidade do direcionamento de verbas públicas, como emendas parlamentares, para os pacientes afetados pelas hérnias, além de permitir maior conscientização da população sobre os sintomas, risco e importância do tratamento da doença”, ressalta.

Com informações da SBH

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *