De volta ao Santos, clube que o revelou para o futebol internacional há 12 anos, Neymar vem de uma recuperação de uma cirurgia no joelho esquerdo realizada em novembro do ano passado e teve uma lesão muscular antes de ser transferido para o clube. O jogador mais rico e premiado do Brasil utilizou câmaras hiperbáricas para acelerar o processo e garantir que voltaria em plena forma.
Não é somente nos esportes que a medicina hiperbárica tem se destacado. A influenciadora Virginia Fonseca mais uma vez, chamou atenção para o uso da câmara hiperbárica, ao revelar em suas redes sociais que recorreu ao procedimento como parte do pós-operatório de uma cirurgia plástica recente.
A apresentadora do programa Sabadou, do SBT, recebeu alta do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, no início de janeiro, após passar por duas cirurgias: uma para a retirada de uma hérnia umbilical e outra para realizar uma mastopexia, procedimento estético conhecido como lifting mamário. Antes de ser liberada, a influenciadora realizou uma sessão de 1h30 em câmara hiperbárica.
Mas, o que é a oxigenoterapia hiperbárica (OHB) e por que ela está se tornando tão popular entre atletas de alto nível e famosos?
A câmara hiperbárica funciona com o fornecimento de oxigênio hiperbárico em uma câmera individual, ou seja, próximo a duas atmosferas. O equipamento promove aumento da concentração e pressão desse gás no ar respirado. Auxilia na redução do tempo de cicatrização de feridas, muito útil no tratamento de feridas infectadas com melhora mais rápida e eficiente, além de ajudar recuperação muscular e overtrainning.
A médica Bruna Harada, ortopedista especialista em cirurgia do pé e tendão pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médica do esporte da Oxy Plastic, o maior centro de medicina hiperbárica do Brasil, explica que a prática que auxiliou a rápida recuperação de Neymar tem ganhado destaque no mundo dos esportes.
A medicina hiperbárica envolve a exposição do corpo a alta pressão com 100% de oxigênio, o que potencializa a absorção de O² pelos tecidos. Isso promove a formação de novos vasos sanguíneos, aumenta a produção de colágeno e reduz a inflamação, fatores que aceleram a cicatrização e diminuem o risco de complicações pós-cirúrgicas”, afirma.
No caso de Virginia Fonseca, o uso da câmara hiperbárica é um exemplo claro de como a terapia pode acelerar a recuperação e melhorar a experiência do pós-cirúrgico. Além disso, pacientes relatam aumento da energia e redução do cansaço após as sessões”, afirma José Henrique da Silva Neto, médico da Human Clinic e pós-graduado em Estilo de Vida.
Ele explica que a OHB é uma terapia revolucionária que acelera a cicatrização e melhora a saúde geral por meio do aumento dos níveis de oxigênio no sangue. Durante o procedimento, o paciente respira oxigênio puro em um ambiente pressurizado, o que permite que o oxigênio atinja regiões do corpo que normalmente receberiam menos fluxo sanguíneo. Isso potencializa a regeneração celular e combate inflamações”, destaca o especialista.
Efeitos da terapia em atletas de meia idade
A aplicação da terapia hiperbárica no contexto esportivo não é uma modalidade recente. De acordo com Harada, os primeiros estudos científicos envolvendo esses dois universos datam do início dos anos 90. Ela revelou que o interesse na aplicação da terapia hiperbárica em atletas inicialmente destinava-se à reabilitação de lesões osteomusculares e à redução do tempo de recuperação da dor muscular tardia relacionada ao exercício.
Com o tempo, descobriu-se que atletas expostos a altas concentrações de oxigênio também podem melhorar seu desempenho esportivo. Um estudo recente publicado pela revista Sports Medicine em fevereiro de 2022, intitulado “Efeitos da oxigenoterapia hiperbárica na respiração mitocondrial e no desempenho físico em atletas de meia-idade: um ensaio cego, randomizado e controlado”, declarou que a prática pode melhorar o desempenho físico em atletas master saudáveis.
Os resultados dos estudos são muito promissores. Observamos um aumento significativo na massa muscular e na capacidade respiratória (VO2 máx) dos atletas após algumas sessões de oxigenoterapia. Isso mostra que a terapia hiperbárica tem um grande potencial para melhorar o desempenho e acelerar a recuperação de lesões, dores musculares tardias e pós-operatórias no ambiente esportivo”, diz Harada.
Benefícios médicos e estéticos da câmara hiperbárica
Uma das principais melhorias inclui o consumo máximo de oxigênio, a potência e o limiar anaeróbico. “São tratamentos que regeneram, revitalizam e transformam. Comprovados, eles hoje oferecem segurança e máximo conforto em cada sessão de terapia. As câmaras são de última geração e operadas por equipes altamente especializadas”, explica Caroline Schmidt da Silva, médica hiperbarista desde 2018 pela Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica.
Diretora Clínica da Oxy Plastic, Dra. Caroline conta que a medicina hiperbárica promove o aumento da circulação, ajudando como tratamento complementar em algumas estratégias do lipedema, por exemplo, e que as aplicações estão sendo cada vez mais utilizadas no Brasil.
Auxilia na cicatrização de feridas e promove a recuperação muscular de atletas profissionais e amadores. Além disso, auxilia no tratamento de pacientes com dores crônicas, reduz inflamações, tem ação na longevidade, oferece benefícios especiais com curativos e recuperação para atletas”, argumenta.
Com especialização em nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e pós-graduação em Medicina de Urgência e Emergência pelo Instituto Israelita Albert Einstein, Caroline também é autora de estudos sobre cicatrização de feridas e tem ampla experiência no tema.
Entre os benefícios médicos e estéticos da câmara hiperbárica, destacam-se:
- Aceleração da cicatrização: essencial no pós-operatório de cirurgias plásticas, como lipoaspiração e abdominoplastia;
- Redução de edemas e hematomas: contribui para resultados estéticos mais rápidos e satisfatórios;
- Melhora da pele: o oxigênio promove a luminosidade, uniformiza o tom da pele e reduz marcas e rugas;
- Alívio de dores crônicas e inflamações;
- Fortalecimento do sistema imunológico: ajuda a prevenir complicações, como infecções no pós-operatório.
Como funciona o procedimento?
Cada sessão de OHB dura de 60 a 90 minutos. Durante o procedimento, o paciente é acomodado em uma câmara selada, onde a pressão atmosférica é aumentada entre 1,5 e 3 vezes. Sob orientação médica, são recomendadas, em média, de 10 a 20 sessões para o pós-operatório, dependendo da extensão da cirurgia e do objetivo do tratamento.
A câmara hiperbárica é indicada para:
- Tratamento de feridas de difícil cicatrização, como úlceras diabéticas;
- Recuperação após cirurgias estéticas ou reconstrutivas;
- Alívio de dores crônicas e lesões esportivas;
- Combate a infecções graves.
Por outro lado, pacientes com pneumotórax não tratado, infecções respiratórias graves ou claustrofobia severa devem evitar o procedimento.A oxigenoterapia hiperbárica é amplamente reconhecida por instituições médicas internacionais, com estudos robustos que comprovam sua eficácia no tratamento de diversas condições.
Com o aumento da busca por procedimentos que acelerem a recuperação e melhorem a qualidade de vida, a OHB deve se tornar ainda mais popular, especialmente entre pacientes que valorizam um pós-operatório otimizado”, finaliza o Dr. José Henrique.
5 perguntas sobre tratamento adotado por atletas e famosos
Dr. José Branco atua há mais de 30 anos com a Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB). O grupo criado por ele e outros profissionais foi um dos pioneiros no setor privado no Brasil e, atualmente, realiza 6 mil sessões de hiperbárica por mês. Segundo Branco, o foco do tratamento é um desfecho otimizado.
Para entender mais sobre o que é o tratamento, confira cinco perguntas sobre a OHB:
- O que é a Oxigenoterapia Hiperbárica?
A Oxigenoterapia Hiperbárica é um tratamento adjuvante, que não exclui o uso de antibióticos, nem de curativos ou de desbridamentos cirúrgicos. Ressalta-se a importância do início precoce do tratamento assim como a abordagem multidisciplinar para se obter uma melhora rápida e um resultado satisfatório.
- Como funciona o tratamento?
O paciente entra em uma câmara e é pressurizado, em uma pressão de duas a três vezes a pressão atmosférica normal, o que significa um mergulho de cerca de 15 metros de profundidade, em um ambiente rico em oxigênio puro.
Se o paciente fizer uma medida antes de entrar na câmara, a pressão de oxigênio no sangue estará em 99% aproximadamente. Se o teste for feito durante a oxigenoterapia, a pressão de oxigênio atinge mais de 2000%. Esse aumento de oxigênio ajudará no processo de cicatrização de feridas: diminuindo a inflamação, prevenindo infecções e complicações, e melhorando a função dos tecidos afetados.
- Em qual momento se deve realizar a Oxigenoterapia Hiperbárica?
Uma das principais indicações da OHB onde há melhora da oxigenação nos tecidos e estímulo à cicatrização é nas lesões com isquemia (falta de oxigênio) que ocorre em condições como nas úlceras de pressão, queimaduras, pé diabético, osteomielite, feridas de difícil cicatrização, enxertos em sofrimento, lesões por radiação, dentre outras.
- Quais seriam as contra-indicações do tratamento?
A principal contraindicação ao tratamento é caso o paciente possua pneumotórax não tratado. Ao colocar um paciente em uma câmara e alterar a pressão ao seu redor pode resultar na ocorrência de um pneumotórax hipertensivo na subida de pressão, que pode se tornar uma ameaça. Dessa maneira, os pacientes com essas condições devem ser tratados antes de realizar a Oxigenoterapia Hiperbárica.
- Qual é o futuro da Oxigenoterapia Hiperbárica?
Atualmente, o tratamento é muito utilizado por atletas de alta performance, como jogadores de futebol. Os clubes do Brasil estão, aos poucos, investindo nesta tecnologia para acelerar a recuperação de lesões, cicatrizes e infecções dos atletas. Além dos clubes, alguns jogadores e famosos possuem câmaras dentro de suas residências, neste caso eles precisam gerenciar os riscos e há necessidade de um profissional especializado supervisionando. Vale dizer que essas câmaras utilizadas em domicílio são funcionais em situações de transportes, mas é fundamental é recomendado que o tratamento seja feito em clínicas especializadas
É importante ressaltar que a OHB deve ser realizada supervisionada por profissionais treinados e qualificados para minimizar os riscos e maximizar os benefícios para o paciente. O diferencial do serviço está no acolhimento, pois os pacientes em geral estão extremamente fragilizados. Mas, também é preciso ter profissionais para realizar a administração da câmara.
Recuperação de lesões no joelho
Tratamento com câmara hiperbárica apresenta eficácia na recuperação de lesões musculoesqueléticas e pós-cirúrgica de reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho
Na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o médico ortopedista Marco Demange orientou uma pesquisa de doutorado conduzida pelo Dr. Chilan Leite que mostrou a eficácia da câmara hiperbárica na recuperação de lesões musculoesqueléticas e pós-cirúrgica de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho num estudo experimental. Esta pesquisa foi recentemente publicada no Journal of Orthopedic Research, importante revista médica da área.
“A lesão do ligamento cruzado anterior é comum em esportistas e a recuperação após o tratamento, geralmente cirúrgico, costuma ser longa, de quase nove meses.
Nossa ideia de favorecer esse processo de cicatrização utilizando a medicina hiperbárica no sistema esquelético foi baseada no fato que a oxigenoterapia hiperbárica melhorar o aporte de oxigênio nos tecidos menos vascularizados (como o novo ligamento reconstruído). A oxigenoterapia hiperbárica é usada há mais de 30 anos para cicatrizar tecidos em que a oxigenação é ruim, com destaque em locais com infecções bacterianas ou em grandes feridas.
Ao entrar na câmera hiperbárica o paciente fica respirando com oxigênio a 100% e está submetido a pressão sobre o corpo duas vezes maior que a pressão atmosférica. Isso aumenta o transporte de oxigênio, pois permite que além de ser transportado pela hemoglobina, também corra pelo plasma, elevando o nível do oxigênio mais de seis ou sete vezes nos tecidos. Isso estimula a atividade das células, propiciando maior a crescimento e, portanto, permite que a cicatrização ocorrera com maior eficiência”, explica.
Vale ressaltar que este estudo aqui referenciado foi realizado em animais. Planejamos iniciar os estudos com pacientes. “Outro dado interessante é que nossa linha de pesquisa se abriu e será expandida para outros tecidos em que a cicatrização ruim. Por exemplo, além do ligamento cruzado anterior, citamos os meniscos, a cartilagem articular e tendões. Acreditamos que será uma interessante soma aos tratamentos ortopédicos”, diz o doutor Marco Demange.
Alternativa segura para cicatrização em vítimas de queimadura
Estimativas do Ministério da Saúde apontam que mais de 100 mil pessoas por ano são vítimas de acidentes envolvendo queimaduras no país. Mesmo com o número alarmante, muitos pacientes e até mesmo profissionais da saúde desconhecem toda a gama de possibilidades de assistência e alternativas indicadas para auxiliar no tratamento em casos desta natureza.
Um dos recursos para uma melhor cicatrização é o tratamento por meio da oxigenoterapia hiperbárica (OHB), que consiste na respiração de oxigênio puro, em pressões maiores do que a pressão atmosférica ambiente no nível do mar. Para isso, os pacientes são colocados em uma câmara de paredes rígidas e resistentes à pressão, denominada de câmara hiperbárica.
A Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) reitera a importância das vítimas conhecerem esse tratamento complementar para sua recuperação, disponibilizado inclusive pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Desde 2011, o tratamento foi incluído pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no rol de procedimentos com cobertura obrigatória pelos planos de saúde. De acordo com a Anadem, todos os pacientes com queimaduras agudas de 2º ou 3º grau podem ser beneficiados.
O efeito primário da oxigenoterapia hiperbárica é o aumento da pressão parcial do oxigênio no sangue e da quantidade de oxigênio dissolvido no plasma. Esse grande aumento de oxigênio dissolvido no plasma permite que as funções de cicatrização e reparação do tecido sejam exercidas, além de possibilitar o combate de processos infecciosos e ajudar na adaptação e integração de enxertos na pele.
É preciso, cada vez mais, oferecer alternativas de tratamento às pessoas, garantir que saibam quais são suas possibilidades. No caso das vítimas de queimaduras, são milhares de pessoas acometidas por situações desta natureza e muitas precisam de tratamentos rigorosos. A Oxigenoterapia Hiperbárica é um procedimento assegurado e que está disponível nas redes de saúde pública e suplementar”, reforça o especialista em Direito Médico e presidente da Anadem, Raul Canal.
Com Assessorias