A pesquisadora associada ao Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia Lidiane Toledo disse que em todas as faixas etárias o registro prévio de notificação de violência foi o principal fator associado ao risco de internação psiquiátrica. “Jovens com condições socioeconômicas mais desfavoráveis também apresentaram maior risco de internação psiquiátrica”.
Intervenções para romper o ciclo da pobreza
A pesquisadora ressalta ainda que apesar da internação oferecer um suporte clínico importante em casos graves, ela está associada a riscos de autolesão, suicídio e reinternações, e também a prejuízos em outras áreas da vida, como a interrupção dos estudos.
Por isso, segundo a pesquisadora, o estudo defende abordagens focadas na prevenção da violência nas escolas, nas comunidades e nas famílias, como programas que ensinem habilidades parentais positivas e responsáveis, e habilidades sociais que ajudem as crianças e adolescentes a lidar com a raiva, resolver conflitos e enfrentar desafios.
A pesquisadora reforça também que são necessárias intervenções para romper o ciclo da pobreza.
Sofrer violência é um grande fator de estresse psíquico, particularmente se a gente considerar os primeiros estágios da vida. A violência está associada não somente a traumas agudos, mas também a repercussões negativas, como, por exemplo, a deterioração da saúde mental durante o curso da vida. Então é importantíssimo não só o acolhimento imediato das vítimas de violência, mas também o acompanhamento de longo prazo”, explica Lidiane.
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Taxas de suicídio e autolesões entre jovens cresceram na última década
O estudo publicado na The Lancet também mostrou que entre 2011 e 2022, a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% no Brasil. As taxas de notificações por autolesões cresceram nada menos que 29% ao ano, também no mesmo período, entre jovens com idades entre 10 e 24 anos de idade.
O relatório Depressão e outros transtornos mentais, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não apenas confirma esse aumento como coloca o Brasil no topo dos países latino-americanos em número de depressivos. Segundo o documento, são cerca de 11,7 milhões de brasileiros com o transtorno – o equivalente a 5,8% da população.
Entretanto, o quadro traçado pelo Ministério da Saúde é ainda mais grave. O órgão estima que, nos próximos anos, cerca de 15,5% da população brasileira poderá vir a sofrer de depressão ao menos uma vez no decorrer da vida.
Todos os levantamentos relativos à saúde mental nos causam preocupação, ao mesmo tempo que direcionam os rumos dos serviços que o setor da saúde no Brasil deverá ofertar”, observa o médico Lucas Guedes, gerente de Regulação e Auditoria Médica da operadora de saúde You Saúde.
Maior procura por ajuda nos planos de saúde
Planos de saúde também sentem que houve um aumento considerável nas procuras por atendimento à saúde mental Segundo ele, há dois lados que devem ser considerados no aumento da busca por atendimento à saúde mental na rede conveniada com a You Saúde.
O aumento na procura revela, sim, uma preocupação, porque indica que há mais casos que envolvem a saúde mental na sociedade. Nós precisamos estar prontos para atender, o mais rápido possível, a toda a demanda que chegar aos consultórios. Mas, por outro, pode ser um caminho positivo. Talvez um sinal de que os pacientes com depressão estão de algum modo chegando à ajuda especializada”, avalia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, indica que 9 em cada 10 casos de suicídio poderiam ser evitados com a busca de ajuda e apoio. Para Ellen Jheniffer, psicóloga da Clínica Censo, falar sobre o que sente num ambiente seguro e sem julgamentos é o primeiro passo para desmistificar o suicídio e, assim, poder atuar com medidas preventivas.
Apesar de ser um problema de saúde pública, o suicídio ainda é tratado como tabu pela sociedade. Muitos ainda fogem do assunto, seja por medo ou falta de conhecimento, dificultando a identificação dos sinais de tendências suicidas”, afirma a psicóloga.
Campanha Setembro Amarelo cresce no Brasil
Escuta ativa e qualificada é essencial para prevenção
Ainda que tenha a desconfiança e até o desconhecimento de parte da população, os desafios da saúde mental exibem números que ajudam a justificar por que a campanha Setembro Amarelo ganhou corpo nos últimos anos, principalmente entre familiares e amigos de jovens que atentaram contra a própria vida ao enfrentarem uma grave depressão.
O Setembro Amarelo tornou-se uma das principais campanhas de alerta à saúde no Brasil. Neste ano, o lema foi “Se precisar, peça ajuda!”, alertando para a importância em buscar amparo profissional como forma de prevenção ao suicídio.
Ellen Jheniffer alerta que doenças relacionadas a área mental e emocional, como a depressão, podem evoluir rapidamente para um quadro suicida. Por isso, é preciso prestar atenção em alguns sinais, como mudanças de humor repentina, tristeza, ganho ou perda de peso, insônia, sono em excesso e perda de energia ou fadiga acentuada.
Busque ajuda especializada
O Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço que ajudou na criação do Setembro Amarelo, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, durante todo o ano, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voz 24 horas por dia. Caso precise de ajuda ligue: 188 ou entre no site: https://www.cvv.org.br
Fonte: Agência Brasil e Assessorias