A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, estima que 3 milhões de mortes por ano são em consequência do uso abusivo de bebidas alcoólicas. A pandemia também fez com que a ingestão de álcool em todo o mundo aumentasse. No Brasil, segundo pesquisa da Opas, o consumo de bebidas alcoólicas aumentou 42% em 2020.

De acordo com a OMS, 2 milhões de pessoas morrem anualmente devido ao consumo de álcool, enquanto 600 mil óbitos são atribuídos ao uso de drogas. No Brasil, os desafios relacionados à dependência química são evidentes, tornando essencial a conscientização promovida pelo Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo (20 de fevereiro).

Álcool aumenta quadros de ansiedade e depressão

O uso do álcool e outras drogas pode levar a situações patológicas de abuso ou dependência, ou ainda estar associado ao aumento da prevalência de outros transtornos mentais como depressão e ansiedade. Quadros graves de ansiedade aumentaram em 73% o risco de consumir álcool com maior frequência, segundo o estudo da Opas.

O álcool é uma substância psicoativa que, se consumida de forma abusiva, pode levar a vários transtornos mentais. Além disso, é uma droga potente que causa alterações agudas e crônicas em quase todos os sistemas neurotransmissores e seu abuso pode produzir sintomas psiquiátricos desde leves até graves, como psicose”, comenta  a psiquiatra credenciada Omint, Yara Azevedo Prandi.

As pessoas podem procurar álcool e outras substâncias psicoativas para alívio de sintomas, como se estivessem se “automedicando” e, segundo Prandi, isso leva a um ciclo de autoengano. “O alívio temporário dos sintomas pode estar verdadeiramente agravando o quadro ou ainda causando outros problemas”, explica.

Impactos sociais e psiquiátricos do uso de álcool e drogas

A psiquiatra Aline Sabino, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que o abuso de substâncias pode desencadear uma série de transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e psicoses.

O uso crônico de álcool e drogas altera o funcionamento do cérebro, causando dependência química e impactando diretamente a saúde mental. Além disso, há uma forte relação entre o consumo dessas substâncias e o aumento de comportamentos agressivos e suicidas”, alerta.

O impacto não se restringe ao indivíduo. O uso abusivo de álcool e drogas afeta famílias inteiras e a sociedade em geral. Segundo a especialista, um dos maiores riscos está na normalização do consumo dentro dos lares. “É fundamental o cuidado dentro de casa, principalmente com crianças e adolescentes, pois muitos comportamentos adquiridos nessa fase tendem a se perpetuar na vida adulta. Afinal, que exemplo estamos dando aos nossos filhos e netos?”, questiona Dra. Aline.

Dados mostram que jovens que começam a consumir álcool antes dos 21 anos possuem uma probabilidade quatro vezes maior de desenvolver dependência alcoólica na vida adulta. Além disso, o uso precoce dessas substâncias aumenta o risco de lesões corporais, acidentes de trânsito e exposição a situações de vulnerabilidade.

Como lidar com isso?

O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção e ao tratamento da dependência química. Medidas como programas educacionais, restrição da publicidade de bebidas alcoólicas e ampliação do acesso ao tratamento são fundamentais para reduzir os impactos do abuso de substâncias na sociedade.

Dra. Aline ressalta a importância de buscar ajuda especializada para lidar com a dependência. “A recuperação é um processo que exige acompanhamento multidisciplinar. O apoio da família e o tratamento adequado são essenciais para que o paciente consiga retomar sua qualidade de vida”, afirma.

A data é um lembrete de que o combate ao alcoolismo e às drogas é uma responsabilidade coletiva. A informação e a prevenção são as principais ferramentas para evitar que mais pessoas entrem no ciclo da dependência e para garantir um futuro mais saudável para as próximas gerações.

Palavra de Especialista

Alcoolismo e depressão: Um olhar da Psicologia Cognitivo-Comportamental

Por Tatiane Paula*

A relação entre alcoolismo e depressão é complexa e multifacetada, envolvendo fatores biológicos, psicológicos e sociais. Do ponto de vista da psicologia cognitivo-comportamental (TCC), o alcoolismo é entendido como um transtorno que pode ser sustentado por padrões de pensamento disfuncionais, crenças irracionais e comportamentos de enfrentamento inadequados.

Muitas vezes, o uso excessivo de álcool começa como uma estratégia para lidar com emoções negativas, como ansiedade ou tristeza. Com o tempo, esse comportamento se torna habitual, levando à dependência física e psicológica.

O álcool é um depressor do sistema nervoso central. Seu consumo prolongado e em excesso pode levar a alterações químicas no cérebro, como a diminuição dos níveis de serotonina, um neurotransmissor associado ao bem-estar. Isso pode resultar em sintomas depressivos. Além disso, o álcool pode intensificar sentimento de culpa, inadequação e desesperança, especialmente quando a pessoa percebe que perdeu o controle sobre seu consumo.

Os fatores de risco para o desenvolvimento do alcoolismo incluem uma combinação de predisposição genética, influência ambiental, histórico familiar de abuso de substâncias, traumas, problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e a exposição frequente ao álcool em contextos sociais. A TCC enfatiza a importância de identificar esses fatores e trabalhar para modificá-los ou gerenciá-los de forma eficaz.

O hábito de beber pode agravar significativamente a depressão. O álcool pode oferecer alívio temporário dos sintomas depressivos, mas, a longo prazo, ele agrava a condição. A intoxicação crônica e as consequências negativas associadas, como problemas de relacionamento e perda de produtividade, podem aumentar sentimentos de desesperança e perpetuar um ciclo de depressão e consumo de álcool.

Os sintomas da depressão alcoólica incluem tristeza persistente, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, fadiga, alterações no apetite e sono, dificuldades de concentração, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva, e pensamentos suicidas. Esses sintomas podem ser exacerbados pela presença do alcoolismo, dificultando ainda mais o tratamento.

A abordagem de tratamento para alguém com depressão e alcoolismo deve ser integrada e multidisciplinar. A TCC pode ser uma ferramenta poderosa, ajudando o paciente a reconhecer e desafiar pensamentos disfuncionais, desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis e criar um plano de prevenção de recaídas. Além disso, o suporte social e familiar é fundamental. Em muitos casos, o tratamento medicamentoso também pode ser necessário, sendo essencial a colaboração entre psicólogos e psiquiatras.

A intervenção precoce é crucial para evitar que esses transtornos se agravem. Se você conhece alguém que luta contra a depressão e o alcoolismo, encoraje-o a buscar ajuda profissional. A recuperação é possível, e o apoio contínuo pode fazer toda a diferença.

Tatiane Paula é psicóloga clínica – Instagram: @tatianepaula.psi

Com Assessorias

 

 

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