Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos acontece quando o paciente recebe a medicação apropriada para sua condição clínica na dose e para administração no tempo adequado. Mas, infelizmente, a população ainda comete excessos na hora quando precisa de um remédio e um dos indicativos desta realidade são os números de intoxicação.
Uma dor de garganta persistente, tratada com anti-inflamatórios sem prescrição médica, pode se tornar um problema sério, assim como uma infecção de urina, rapidamente controlada com aquele remedinho que sempre ajuda. Exemplos como esse são frequentes na nossa família, vizinhança, em outras cidades e até países.
Aliás, essa é uma realidade preocupante em todo o mundo e é conhecida como uso irracional de medicamentos. Dados da OMS mostram que 77% dos brasileiros costumam se automedicar e 50% dos pacientes tomam os remédios prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada.
É importante destacar que a automedicação pode causar dependência, intoxicação e até mesmo levar à morte.Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), só em 2022, foram registrados 3.006 casos de intoxicação causadas pela automedicação. Neste ano, até o momento, já foram 932 casos.
O oncologista Rafael Luís, do Grupo SOnHe, alerta para o fato de que essas práticas levam a consequências perigosas e facilmente identificáveis. O uso indiscriminado de remédios contempla situações diversas como a utilização inadequada de antimicrobianos, de medicações injetáveis em vez de orais, quando estas poderiam ser mais apropriadas, o não seguimento das diretrizes clínicas, a automedicação e o uso da dosagem incorreta.
“As alergias se tornam mais comuns, as infecções mais recorrentes, bactérias mais resistentes… em alguns casos, a medicação utilizada de forma inadequada pode gerar dependência química”, explica.
Por isso, o dia 5 de maio foi destinado para ser uma data de alerta à população quanto aos riscos à saúde causados pelo uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação. O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos tem como propósito conscientizar sobre os perigos associados à ingestão inadequada de medicamentos.
Retenção de receitas de antibióticos e remédios controlados
As discussões em torno desse tema reforçam a necessidade de utilizar os medicamentos de maneira adequada, seguindo as orientações do médico e do farmacêutico, bem como fazer o descarte correto dos medicamentos, a fim de evitar danos à saúde e ao meio ambiente.
De acordo com a farmacêutica Ludmila Camargo, da Drogaria Santa Marta, é fundamental consultar um profissional de saúde para se ter a prescrição correta da dose, o medicamento adequado e a duração do tratamento.
“Quem opta pela automedicação pode causar uma resistência bacteriana, ter uma reação da sensibilidade, passar a ter dependência, ter sangramentos digestivos entre outros diversos sintomas que possam surgir, colocando até mesmo a sua vida em risco”, descreve as consequências.
Nem sempre a população aceita bem, mas a retenção de receitas de medicamentos controlados e antibióticos ajuda muito em seu uso racional e as farmácias têm uma responsabilidade social importante nesta tarefa.
“Quando retemos a receita, o consumidor só adquire a quantidade prescrita pelo profissional de saúde e isso minimiza a alteração da resistência bacteriana, que torna a antibioticoterapia ineficaz. No caso dos medicamentos de tarja preta, o controle evita a dependência”, explica.
Ludmila reforça sobre a importância de se procurar sempre um profissional de saúde para ter uma correta prescrição. “O uso inadequado pode causar o agravamento da doença, escondendo, mascarando e evoluindo para uma forma mais grave”, alerta. O consumo deve ser criterioso mesmo para os medicamentos que não precisam de receita.
Medicina de valor preconiza uso de medicação com bom senso
Atualmente, existe um comitê relacionado ao assunto ligado ao Ministério da Saúde, que atua, entre outras frentes, promovendo estratégias para difundir o uso das evidências científicas e conscientizando os profissionais e pacientes sobre o tema. Segundo o oncologista, os médicos também têm responsabilidade no uso irracional de medicamentos, já que 50% das prescrições são inadequadas ou irracionais, conforme aponta a OMS.
“Os prejuízos são enormes para a saúde da população e para o sistema econômico e é por isso que a medicina baseada em valor é fundamental”, reforça Rafael Luís. Ele explica que a medicina baseada em valor prevê o uso de medicação com bom senso, aliando as melhores evidências científicas ao benefício clínico desejado para a população, levando em conta os fatores econômicos para o sistema e para o indivíduo, buscando um equilíbrio entre a eficácia dos tratamentos, seu custo e a vantagem real para o paciente.
Como fazer o uso consciente dos medicamentos?
Algumas dicas para os pacientes são:
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- Seguir a indicação médica
- Tomar o medicamento pelo tempo adequado
- Evitar a automedicação recorrente
- Cuidado ao armazenar os medicamentos
- Descartar corretamente
Com Assessorias