Só em 2024, o Brasil registrou o número de 672 mil pacientes em tratamento com cannabis medicinal, um aumento de 56% em comparação ao ano anterior, segundo levantamento da Kaya Mind. Embora o uso de canabinoides tenha demonstrado eficácia em diversos estudos, um dos maiores desafios enfrentados pelos pacientes e suas famílias é a carência de médicos prescritores dessa terapia.
Para a psiquiatra Ana Caroline Santana, coordenadora da pós-graduação de Medicina Endocanabinoide da Human SA, a falta de profissionais qualificados para prescrever cannabis medicinal significa que há espaço para a atuação de médicos, especialmente aqueles com interesse em tratamentos inovadores e personalizados para pacientes com TEA e outras condições.
Com o aumento da aceitação e do conhecimento sobre os benefícios da cannabis, a tendência é que o mercado continue a expandir, criando novas possibilidades para profissionais da saúde e oferecendo uma alternativa terapêutica valiosa para aqueles que enfrentam os desafios do autismo” afirma a médica psiquiatra.
A regulamentação do uso de cannabis no Brasil ainda é um tema em evolução, e muitos profissionais de saúde ainda têm resistência ou falta de informação sobre o potencial terapêutico da planta. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) de São Paulo já distribua o canabidiol (CBD) para alguns tipos de doença. esse crescimento do mercado de cannabis medicinal apresenta uma oportunidade significativa para médicos que desejam se especializar nesse campo. Segundo ela,
De acordo com o levantamento realizado pela Kaya Mind, o mercado de cannabis medicinal no Brasil tem mostrado um crescimento expressivo. Em 2023, o setor movimentou R$ 699 milhões, e em 2024, esse número subiu para R$ 853 milhões, representando um crescimento de 22%. As projeções para 2025 indicam que o mercado pode superar a marca de R$ 1 bilhão, refletindo o aumento da demanda por tratamentos à base de cannabis.
A procura aumenta não apenas para pessoas com autismo, mas também para outras condições como epilepsia, dor crônica e doenças neurodegenerativas. Esse cenário tem gerado uma grande demanda por médicos qualificados e dispostos a prescrever o tratamento com cannabis.
A evolução do mercado e o crescente número de pacientes em busca dessa terapia mostram que a inclusão de novos profissionais e o apoio a esse tipo de tratamento podem proporcionar benefícios reais para aqueles que vivem com o autismo, melhorando a qualidade de vida e trazendo uma nova esperança para muitas famílias”, afirma a médica.
Novas regras propostas pela Anvisa podem mudar prescrição de cannabis
Mudanças sugeridas visam melhorar o acesso aos pacientes e ampliar as opções terapêuticas disponíveis, aumentando o rigor técnico que garante a segurança e qualidade dos produtos
Mudanças relacionadas à prescrição de cannabis medicinal são um dos destaques da proposta de revisão da RDC 327/2019, que promete redefinir os rumos do mercado de cannabis medicinal no Brasil. O prazo para contribuições na consulta pública aberta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 4 de abril de 2025, encerrou no último dia 3 de junho de 2025, considerando os 60 dias corridos conforme a publicação. Durante esse período, qualquer cidadão, profissional de saúde ou empresa pôde enviar contribuições à minuta regulatória.
A nova proposta traz ajustes que propõe a ampliação de possibilidades de registros de novos tipos de produtos, beneficiam o acesso dos pacientes, além de permitir novos prescritores. Ao mesmo tempo, fortalece o controle sanitário sobre a produção e comercialização de produtos à base da planta. A expectativa do setor é que, com a aprovação das novas diretrizes, o país possa se consolidar como uma referência em qualidade e conhecimento científico sobre as moléculas, no cenário global da cannabis medicinal.
Produtos com até 0,2% de THC – que antes exigiam a notificação de receita B (azul) – poderão ser prescritos com receita branca de controle especial em duas vias, o que demonstra que o produto tem se mostrado seguro e efetivo. Além disso, dentistas também poderão prescrever, ampliando o escopo de profissionais envolvidos no cuidado com produtos de Cannabis e beneficiando ainda mais pacientes.
Ao possibilitar o registro e comercialização de novos produtos e viabilizar novas opções de tratamento, o órgão favorece o acesso seguro para os pacientes e potencializa o crescimento do mercado. Nesse cenário, o Brasil vem se destacando como uma referência no setor globalmente. Isso porque as evoluções regulatórias observadas nos últimos anos, demonstram grande sofisticação e vanguarda, impulsionando um mercado baseado na garantia da qualidade e incentivo à ciência e inovação”, afirma Gustavo Palhares, co-CEO da Ease Labs, farmacêutica especializada em produtos de Cannabis.
Formas de administração da cannabis devem aumentar
Outro ponto relevante está na ampliação das vias de administração permitidas. A nova proposta inclui a sublingual, bucal, inalatória e dermatológica (como cremes, géis e pomadas, por exemplo), além da já autorizada via oral. Essa variedade pode beneficiar diretamente os pacientes, como aqueles que têm dificuldades de deglutição ou que necessitam de absorção mais rápida dos compostos. A mudança também tende a impulsionar a inovação e a diferenciação de produtos no mercado.
Para os fabricantes, a regulamentação proposta também impõe maior rigor técnico na avaliação das empresas e dos produtos. Com a nova revisão da RDC 327, as exigências documentais da Anvisa para obtenção da autorização sanitária (AS) passarão a ser mais criteriosas, demandando maior detalhamento do desenvolvimento farmacotécnico e do racional científico das características dos produtos de Cannabis.
A exigência, por sua vez, aumenta a credibilidade do processo e protege o consumidor final, especialmente diante do crescimento do mercado. A movimentação brasileira pode potencializar o crescimento do setor. Cabe ressaltar também que, em novembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou à Anvisa e à União que regulamentassem o cultivo de cannabis no Brasil este ano. A exigência deve fomentar ainda mais o mercado e trazer os holofotes para novas possibilidades dentro do setor.
Com Assessorias