Com o surgimento recente e pouco conhecimento sobre a Covid-19, tratamentos experimentais e automedicação com antibióticos foram aplicados contra a doença, porém, sem o aval científico. Atenta à chance de alta nas taxas de resistência de bactérias durante a pandemia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que esse tipo de medicamento não seja fornecido a pacientes com sintomas leves de Covid-19, em casos suspeitos ou confirmados, a menos que haja uma indicação clínica para fazê-lo.
A Covid-19 é causada por um vírus, o coronavírus (SARS-CoV-2), e não por uma bactéria. Por isso não há indicação de tratamento para a doença com antibióticos. Eles não terão efeito. Situações como essa propiciam o fortalecimento de superbactérias e comprometem a saúde pública. Uma evidência da gravidade do cenário é que estudos indicam que, já este ano, a resistência a antimicrobianos somará 130 mil mortes a mais do que a Covid-19 causará”, alerta a médica otorrinolaringologista Elisama Baisch, gerente médica da GSK.
Segundo ela, a administração de antibióticos é prescrita por médicos a pacientes com a Covid-19 somente em casos graves, quando há uma co-infecção bacteriana. Se não, se revelam um tratamento ineficaz, além do risco de poderem não funcionar devidamente numa eventual infecção bacteriana futura, porque a bactéria poderá já ter adquirido resistência àquele medicamento.
Resistência a bactérias mata mais que o câncer
Uma das maiores ameaças à saúde pública contemporânea, tanto em países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos, a resistência antimicrobiana, estima-se, causa cerca de 700 mil mortes todos os anos. O fenômeno ocorre quando bactérias, fungos, vírus e parasitas sofrem mutações genéticas e acabam adquirindo resistência a medicamentos aplicados para combatê-los. Com isso, esses remédios se tornam ineficazes; as infecções, persistentes e até incuráveis; e o tratamento não funciona.
A previsão é de que, até 2050, 10 milhões de óbitos anuais serão atribuídos à resistência antimicrobiana, o que significa mais mortes do que o câncer, e o efeito para a economia global será de aproximadamente US$ 100 trilhões. Por isso, a OMS promove anualmente, entre 18 e 24 de novembro, a Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antibióticos. A campanha global visa sensibilizar o público em geral, trabalhadores da saúde e formuladores de políticas para promover melhores práticas, a fim de evitar o surgimento e disseminação da resistência ao medicamento.
A ascensão da resistência bacteriana se dá pelo uso excessivo de antibióticos, uma das classes de medicamentos mais prescritas e dispensadas para uso terapêutico e profilático em todo o mundo. Algumas causas são a intensificação da prescrição desse tipo de medicamento a pacientes, inclusive em situações em que poderia haver um tratamento alternativo, e a facilidade de acesso da população a eles, diante da ausência de medidas de restrição e controle de receituário em alguns países.
Por outro lado, em países onde o acesso aos serviços de saúde e fornecimento de medicamentos é limitado, a automedicação e o consumo de remédios oriundos do mercado informal, com preservação ou origem suspeita, também é uma ameaça. Diante desses cenários, desenha-se uma era pós-antibióticos, em que infecções comuns e ferimentos leves com tratamentos já dominados pela Medicina moderna podem voltar a matar.
É a bactéria que se torna resistente ao antibiótico e não o indivíduo. O
impacto é sobre toda a sociedade, por isso, é fundamental o engajamento de todos com a causa. Usar antibiótico somente quando o médico recomendar e seguir a prescrição corretamente são medidas que ajudam a evitar que surjam as chamadas ‘superbactérias’”, explica a médica.
Impactos do mau uso dos antibióticos
Pneumonia, tuberculose, sepse, amigdalite, infecções urinária, alimentar, respiratória, sexualmente transmissíveis, entre outras. É extensa a lista de doenças tratadas atualmente com antimicrobianos, mas que podem se tornar intratáveis com aumento da resistência dos agentes causadores.
Tais medicamentos significam ainda otimização da recuperação de pacientes que passaram por transplantes de órgãos, quimioterapia e cirurgias como a cesárea – procedimentos que podem voltar a se tornar mais perigosos. O grande impacto da resistência bacteriana é colocar as conquistas da medicina moderna em risco, uma vez que o fenômeno é mais rápido do que o desenvolvimento de novos fármacos.
No escopo da saúde, as principais consequências de bactérias resistentes são o aumento da morbidade e da mortalidade. As internações hospitalares se prolongam, as terapias profiláticas se tornam menos efetivas, e os custos de tratamento se elevam, gerando impacto financeiro considerável aos sistemas de saúde e às pessoas. Veremos algumas doenças com o tratamento dominado pela Medicina voltarem a afetar a qualidade de vida das famílias e a fazer vítimas”, pontua a Dra. Elisama.
Cuidados para evitar o uso indiscriminado de antibióticos
A médica destaca ainda cuidados simples, mas importantes, que todos podem tomar para prevenir:
- Respeitar a dosagem do medicamento recomendado pelo médico;
- Cumprir os dias de uso prescritos – mesmos que os sintomas tenham
desaparecido, deve-se completar o ciclo;
- Observar validade e estado de conservação do medicamento;
- Atentar para a qualidade do antibiótico;
- Não compartilhar receitas ou medicamentos.
Além da prescrição e uso consciente de antibióticos por parte de médicos e cidadãos para evitar a resistência bacteriana, cuidados de assepsia em hospitais são importantes, já que são locais propícios para esse tipo de fenômeno, onde de 50% a 60% dos medicamentos utilizados são antibióticos.
O cumprimento de medidas de controle de infecção hospitalar – como a lavagem das mãos, uso de EPIs, e esterilização de instrumentos – ajuda a minimizar a emergência de bactérias resistentes. Outras indicações da OMS aos países para evitar a resistência a antibióticos são expandir a rede de saneamento básico; consumir apenas água potável; lavar bem os alimentos; vacinar-se e racionalizar o uso de antimicrobianos no setor agropecuário.
As indústrias farmacêuticas também precisam contribuir na busca por
alternativas aos antimicrobianos já existentes. Temos frentes de pesquisas para desenvolvimento de uma nova geração de antibióticos que possa substituir os que são usados hoje, mas que encontram resistência de algumas bactérias ou outros microrganismos. Na GSK, temos equipes exclusivas para os estudos, que contam com a colaboração de outros cientistas, e desenvolvemos programas de conscientização e monitoramento do uso racional de antibióticos”, indica a Dra. Elisama.
Fonte: GSK